quarta-feira, 22 de junho de 2011

A RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL PADRE ANTÔNIO LUIZ DIAS DO BAIRRO MORRO DOS CONVENTOS – ARARANGUÁ, ENTRE OS ANOS DE 1963 a 1990

INTRODUÇÃO

A recuperação da memória cultural dos habitantes do bairro Morro dos Conventos proporcionará as atuais e futuras gerações  a compreensão de que o espaço que habitam foi construído através das relações entre os seus moradores e o ambiente natural. As dificuldades sociais e econômicas enfrentadas pela comunidade atualmente não pode ser compreendida a partir de uma abordagem fatalista, naturalista. São os aspectos naturais – ambiente, e os meios de produção, que intercederam na construção da cultura local. E esse processo de construção é dinâmico e ao mesmo contraditório, e a educação se constituirá em mola mestra, capaz de idealizar um novo ambiente mais próspero e humanizado.
Todas as sociedades, das mais simples as complexas, tem sua história sedimentada na infra-estrutura econômica, no caso do Bairro Morro dos Conventos, foi a agricultura de subsistência a responsável pela construção dos sujeitos. São os recursos econômicos os responsáveis pela construção da cultura local, ou seja, os elementos simbólicos e ideológicos – escola, igreja, partidos políticos, sindicatos, etc, que darão direcionamento ao grupo social ali existente.

Contexto Sócio-Político de Araranguá entre as Décadas de 1960 e 1990

Para compreendermos parcialmente a realidade sócio econômica do bairro Morro dos Conventos no início da década de 1960, se faz necessário refletir o ambiente conjuntural municipal, estadual e federal nesse período e suas influências no cotidiano do bairro  em especial  no campo da educação.
Em âmbito federal, o Brasil vivia um período de agitações políticas, pois estava chegando ao fim a administração de Jucelino Kubstschek, que foi marcada por transformações infra-estruturais significativas, que resultaram na atração do exterior de diversas empresas multinacionais principalmente ligadas ao campo automobilístico.
Esse boom econômico contribuiu para transformações estruturais significativas no Brasil como o aumento do fluxo migratório populacional do interior brasileiro em direção as regiões industrializadas gerando enormes impactos sócio-ambientais  que ainda são sentidas até o momento.
A candidatura de Jânio Quadros para o governo federal seria a garantia de que a política desenvolvimentista do governo anterior continuaria em andamento. No entanto, embora o candidato situacionista tenha obtido expressiva parcela dos votos, oito meses após sua posse, a população brasileira é pega de surpresa com a renúncia de Jânio Quadros.
Com a renúncia, a vaga é ocupada pelo seu vice João Goularte, considerado na época um defensor dos ideais socialistas. Assumindo o governo, Goulart iniciou a implantação de um programa de reformas estruturais radicais, que gerou desconfianças por parte das elites econômicas que viam ameaçadas sua soberania política e econômica secular.
As políticas reformistas de Goulart, que foram consideradas radicais tanto pela elite nacional como internacional, resultaram em um golpe em 31 de marco de 1964, quando o governo de João Goulart foi destituído e no seu lugar se instalou um novo regime, controlado pelos militares, que se manteve durante 20 anos.
O município de Araranguá, no período correspondente a década de 1950, as políticas modernistas adotadas pelo governo federal começaram a ser presenciadas no cotidiano dos moradores locais. A pavimentação das ruas, a construção de escolas, do hospital Bom Pastor, a construção do aeroporto, são alguns dos empreendimentos infra-estruturais da época que contribuíram para que o município perdesse sua feição provinciana e abrindo suas fronteiras para a modernidade.
Mesmo com essas melhorias, Araranguá mantinha sua tradição econômica herdada desde sua origem, ou seja, município agrícola de pequenos e médios proprietários   cuja produção com destaque à mandioca, o milho e o feijão tinham como consumidores a própria região.
 No campo político, o município de Araranguá no final da década de 1950, como vinha ocorrendo em todo território brasileiro, estava sendo  marcada por agitações populares, pois o município, mais uma vez, estava as vésperas de eleger seu novo representante para o executivo e, concomitantemente, os novos membros da câmara de vereadores.
A União Democrática Nacional (UDN) lançou, para concorrer ao cardo de prefeito, Norberto Gomes, que foi apoiado por um grupo de políticos reconhecidos em âmbito regional e estadual, sendo eles: Walter Belinzoni, Artur Campos, Rubens Rabelo, Ermenegildo Bozza, Tranqüilo Magagnin, Manoel Costa Filho, Aduci Machado, Lauro da Cunha Carnerio, Jose Jovelino Costa, Antônio de Favaro, Laudelino dos Santos.
O partido de oposição, formado pela coligação PSD, PTB e PRP lançaram José Rocha, cidadão natural de Maracajá, que era prestigiado pelos representantes do comércio e da indústria do município. Entre seus apoiadores destaca-se o Dr. Arno Duarte e Américo Rabello.    
Além da mobilização para a escolha dos candidatos à vaga ao executivo municipal, as disputas também foram acirradas entre aqueles que disputavam as cadeiras para o legislativo municipal, estadual e federal. Para a câmara de Araranguá, a UDN lançou seus nomes, cada qual representando suas comunidades.
Para a comunidade de Itoupaba, o candidato escolhido foi Antônio Abedeno da Rocha; Maracajá, Antônio Rocha; Canjicas, Antônio Lauro da Silva, Antônio Caetano de Souza, Antônio Severino de Souza e Arnaldo Copetti; Campinho, Artur Espíndola e Abdus Oscar Réus; Barranca, Eugênio José Pereira; Rio dos Porcos, Felipe Bacha Neto e Domingos A. Gabriel; Sanga da Toca, Hipólito M. da Silva; Morro dos Conventos e Manhoso, Hilário Freitas; Centro de Araranguá, Manoel Costa, Otávio de Oliveira, Severo Scaini e Urivaldi Grechi.
Como era comum na época, as festividades alusivas aos padroeiros e padroeiras das comunidades do município se transformavam em palcos de acirradas disputas entre candidatos que garimpavam os votos dos eleitores.
Fazia parte da cultura da época, em certos eventos religiosos, como ocorreu na comunidade do Manhoso, quando das comemorações ao padroeiro São Roque, no ano de 1962, a reunião de 18 candidatos a vereador. Era de se esperar que o candidato com enorme influência no município, o empresário Hilário Freitas, proprietário do Camping Morro dos Conventos, abarcaria expressiva parcela dos votos nas comunidades limítrofes ao Bairro Morro dos Conventos, Hilário Freitas. Além deste, outros, não menos expressivos, teriam também votos na comunidade, como: Ivo Machado, João Kraes Campos, Luiz Hahn, Arnaldo Copetti.      
A campanha eleitoral foi lançada e as disputas pelos votos geraram como era de se esperar desentendimentos entre os candidatos das três forças partidárias em Araranguá.  Na verdade, como se verificou nos documentos pesquisados foram duas forças políticas, pois PTB e PSD haviam formado alianças.
Como conquistar os votos que seriam imprescindíveis à vitória? Cada partido ou cada candidato se organizaria montando estratégias objetivando conquistar o voto, principalmente daqueles que continuavam indecisos. Quanto mais apoio, principalmente de lideranças de renome, maior seriam as chances de galgar o principal posto do executivo municipal.
Uma das armas adotada pelos candidatos, tanto para o executivo quanto para o legislativo municipal, foi vincular seus nomes às personalidades importantes tanto estadual como federal. Os candidatos ao legislativo municipal pertencentes a UDN se aproveitavam de nomes como Diomício Freitas e Martinho Ghizzo, considerados como os representantes das forças econômicas e políticas do sul. Desbancá-los do pleito seria, na época, uma missão, para muitos, quase impossível. Pois, no caso de Diomício Freitas, além de sua influência no que tange as forças econômicas locais, convergiam para o seu entorno outros segmentos, tais como a imprensa falada e escrita que atuavam como porta vozes no processo de campanha.
Um fato marcante na época e que podemos, sem nenhuma sombra de dúvida, interpretá-lo como uma eficiente estratégia de propaganda política e divulgada em um dos principais jornais em circulação da época, foi a carta escrita por um cidadão não identificado e encaminhada ao comitê de propaganda da UDN.
O mesmo afirmava que era um cidadão do interior, ou seja, do sul catarinense. Que o mesmo tinha vindo das coxilhas gaúchas e por estas bandas residia  há algum tempo. Tinha no negocio de gado e cereais sua principal atividade. Dizia que de político pouco entendia. Mas, no entanto, sabia julgar os homens pelas palavras. Quando iniciaram as campanhas das eleições, procurou permanecer afastado. Seus amigos, seus peões, que, segundo o mesmo,  não eram poucos, quiseram sugestões sobre quais os candidatos que deveriam votar.
Depois de muito refletir, resolveu dizer aos seus amigos que votassem em quem a sua consciência ordenasse. Muitos, como afirmava, preferiam o candidato do PSD, outros da UDN. Quando andou por aqui o Senador Konder Reis, sua palavra, causava empolgação, pois o consideravam um cidadão sincero, que não atacava seus adversários. Ele mesmo dizia que tinha resolvido votar no mesmo. Mas, mesmo assim, o mesmo pediu aos seus amigos e aos peões para votarem em quem preferissem.
Agora, como relata, a coisa tinha mudado. Pois tinha passado pela comunidade pessoas ligadas ao PSD com seus candidatos a senador e deputado. Começaram a meter o pau nos seus adversários, taxando-os de ladrões. Isso só causou bate-palmas e muito bem aos pessedistas de cruz na testa, como se dizia. Para ele e seus companheiros continuavam o mesmo, que tinham preferência, foi um tiro. Ficaram até enojados. A falta de educação daquela gente mostrava que quem chamava era que é. Desta maneira, agora passaria a mover campanha contra os candidatos do PSD, fazendo ver aos seus amigos ( e são em grande número) que deveriam votar nos candidatos vinculados a UDN.
É notório, observando a forma como o cidadão acima se expressava, expressando com todo fervor seu apoio aos candidatos da UDN, que sua atitude era uma demonstração clara do modo como a política na região era tratada, ou seja, a enorme influência de cidadãos ligados a determinados segmentos da sociedade, no caso em questão, pecuaristas e comerciantes, que, segundo seu relato, mantinham enorme poder sobre um vasto contingente populacional, muitos dos quais, segundo ele, seus “amigos”, que somente votariam nos candidatos que o mesmo indicasse.
É importante frisar, que o relato apresentado acima, foi publicado, na íntegra, em um dos jornais de circulação no município, no espaço reservado a UDN. Portanto, tais informações merecem ser analisadas com precaução, pois quando o mesmo diz que, num comício, ouviu dos candidatos do PSD, expressões que denegriam as imagens dos adversários, acreditamos que, talvez, tal denúncia não correspondesse com a verdade, tendo a mesma sido manipulada, visando confundir os eleitores, fazendo votar nos candidatos de sua legenda.
Após meses de campanha, é chagado momento de conhecer os novos nomes que iriam assumir os principais postos dos executivos e legislativos federais, estaduais e municipais.
De acordo com os dados verificados, a eleição para Presidente da República como se imaginava, o resultado em Araranguá e no país não causou surpresa. Jânio Quadros, da UDN, vence as eleições, enquanto que seu vice foi, João Goulart, do PTB.
Para o governo do estado, embora Irineu Bornhausen tenha vencido as eleições em Araranguá com uma pequena margem de votos, 89 apenas, de seu concorrente direto, Celso Ramos, a vitória ficou com Celso Ramos, da aliança PTB-PSD com 261.752 a 241.724 para Irineu Bornhausen, uma diferença de apenas 20.028 votos.
Na disputa da vaga para o executivo municipal, como tinha ocorrido no estado, após a contagem do último sufrágio, com uma diferença de 223 votos, o vitorioso foi José Rocha, também da aliança PTB-PSD.
Candidato a Vice-Governador do Estado em 1962

Candidatos a Vice-Governador
Votação
Situação
Armíndio Marcílio Doutel de Andrade
238.664
Eleito
Carlos Gomes de Oliveira
215.598
Não/eleito
Martinho Callado Júnior
16.015
Não/eleito
Brancos
7.216

Nulos
4.374


Res. eleit., Fpolis., ed.hist., nov.2001

Para o Senado, o resultado demonstrou que a máquina eleitoral funcionou e foi imprescindível para dar a vitória a Antônio Carlos Konder Reis da UDN, tanto em Araranguá quanto em âmbito estadual.
Como vinha ocorrendo na campanha, Konder Reis, possuía na região uma enorme legião de apoiadores, em especial a força política e carismática de um dos principais caciques políticos da região, Afonso Ghizzo. Embora tenha conquistado a segunda vaga para o senado, Atílio Fontana, em âmbito local, perdeu com uma diferença de 430 votos, índice considerado grande em comparação com as outras disputas. Doutel de Andrade, para muitos foi considerado a maior decepção, o resultado das urnas demonstraram sua fraca aceitação no município.
As disputas nos municípios do vale, pelas duas vagas do senado ficaram também acirradas entre Konder Reis e Atílio Fontana. Após a contagem dos votos, o resultado proporcionou a vitória, com uma pequena margem de 528 votos, ao candidato da UDN, Konder Reis. Como aconteceu na eleição para o legislativo estadual e câmara federal, no município de São João do Sul, a vantagem sempre ficou para os candidatos do PSD.  
Em comparação as eleições para o senado e assembléia legislativa, a UDN, mais uma vez, demonstrou sua força para a câmara federal. Diomício Freitas, candidato que representava as forças econômicas do sul, principalmente vinculadas a indústria carbonífera, marcou presença, garantindo vaga a uma das cadeiras da câmara. No entanto, sua expressiva votação no vale, 6.085 votos, foram conquistados graças a sua aproximação a Afonso Ghizzo
Quando candidato, uma das principais promessas de Deomício Freitas era  a construção de uma usina siderúrgica no extremo sul do estado e a abertura de um porto em Araranguá no qual serviria para transportar carvão e derivados para o sudeste do Brasil. Findada as eleições, as promessas feitas pelos dois principais candidatos da UDN, Afonso Ghizzo e Diomício Freitas, não se concretizaram. Mais uma vez, o povo araranguaense foi ludibriado. Nem usina e nem porto foram construídos.
Embora considerados as principais forças políticas do sul, Diomício Freitas, atuando na câmara federal, e Afonso Ghizzo, na assembléia legislativa, ambos não tiveram forças suficientes para a efetivação de tais planos. Deixando o povo, caso desejasse a “ver navios”, pois o porto foi instalado no município de Imbituba.    
No que tange a uma das vagas para a Assembléia Legislativa, como já era esperado, Afonso Ghizzo obteve uma expressiva votação, principalmente no seu principal reduto, o município de Araranguá. Dos 4.763 votos lançados nas urnas, 2.518, foram para Ghizzo, da UDN. Em relação a votação no estado, totalizaram 8.363. A segunda vaga ficou para Lecinan Slovinski, do PSD, que na somatória geral dos votos obtidos nos cinco municípios do vale: Araranguá, São João do Sul, Meleiro e Turvo, totalizaram 3.899.
Afonso Ghizzo, como podemos constatar, analisando atentamente os números, obteve algumas derrotas, especialmente nos municípios de São João do Sul e Turvo. Nesse último, Lecian, venceu Ghizzo por uma diferença de apenas um voto, 1.117 a 1.118.  Totalizando os votos apurados nos principais municípios do vale, Lecian, recebeu 3.899, enquanto que  Ghizzo, ficou com 4.066. A diferença, portanto, de votos entre os dois principais candidatos foi inexpressiva, 167 votos pró Ghizzo.
O resultado do pleito eleitoral, para o legislativo estadual, no vale do Araranguá, nos faz concluir que embora Afonso Ghizzo fosse uma personalidade carismática no município, fato esse constatado nas urnas, nos outros municípios do vale não pode ter a mesma certeza. São João do Sul e Turvo, onde fora derrotado, nos faz crer que não é o reduto dos udenistas.
E o que resultou dos demais candidatos ao legislativo estadual. Danilo Schmidt em Araranguá obteve 376 votos e no sombrio foram apenas 137. Nos demais municípios, pesquisados, não recebeu um só sufrágio. Portanto, sua votação totalizou 513, ficando muito atrás dos dois primeiros. Severiano de Souza, candidato a deputado estadual pelo município de Araranguá, sua votação foi decepcionante. Somente no município, dos 4.763 votos apurados, obteve apenas 140, números que demonstraram a fraca penetração entre os eleitores. Além da baixa votação conquistada em sua terra natal, Severiano recebeu 48 votos em Sombrio e 120 em São João do Sul, totalizando 308 votos. Outro candidato que não decolou foi Lauro Trichês. Seus votos, no vale, totalizaram apenas 23.
Para a Câmara Municipal o Partido Trabalhista Brasileiro de Araranguá também lançou candidatos, cada qual com uma plataforma de ação tentando conquistar os votos das comunidades na qual representavam.
Com a realização das eleições, o quadro de vereadores para a câmara municipal de Araranguá ficou assim distribuído: Antônio da Rocha – 381 votos; Artur Francisco Espíndola – 365 votos; Hilário Aciollo Freitas – 330; Arnaldo Copetti – 305 votos; João Kraes Campos – 267; Otacílio Bertoncini – 267; Darci Lindolfo Gomes – 261 votos; Otávio B. da Costa – 234; Hipólito Manoel da Silva – 232; Mauro Cardoso de Souza – 222; Arno Matos – 209; Manoel Costa Filho – 180; Antônio Abedeno da Rocha – 169 votos.
Um fato marcante nessa eleição ocorreu com o candidato Luiz Hanh que por pouco não lhe incluiu a uma das vagas do legislativo. Na eleição anterior, empatou com seu concorrente, sendo a vaga decidida pela idade. Ficou de fora, pois seu oponente era mais velho. Nessa eleição, por pouco não ficou fora novamente. Por uma diferença de um voto, 142 a 143, a vaga ficou para Luiz Hahn.

O Contexto sócio econômico do Bairro Morro dos Conventos entre as décadas de 1920 a 1980

 No início do século XX, com referência as entrevistas feitas pelo padre Dall’alba com moradores locais, expressivas áreas de terras em que atualmente se localiza o bairro Morro dos Conventos pertenciam ao cidadão Bento Cecílio de Sousa, cuja residência estava fixada na comunidade de Canjiquinha. No entanto, as terras adquiridas, muitas delas áreas devolutas, ou seja, públicas, não possuíam escrituras de posse. As áreas de terras pertencentes a Bento Cecílio, alcançavam  aproximadamente duzentas braças de frente e mil braças de fundo.
De acordo com os entrevistados, mais tarde, essas terras foram sendo adquiridas por outros indivíduos que se estabeleceram na comunidade. Entre eles destaca-se André Tomé; Manoel Ramos; Ponciano Alves e João Zeferino; Manoel Flor; João Flor; Joaquim Cecílio e Leonora Cecílio. Os últimos da lista eram irmãos de Bento Cecílio, proprietários de extensas áreas do Morro. Foi, certamente, a partir da década de 1950 que essas terras foram sendo regularizadas, quando o município passou a ser administrado por Afonso Ghizzo, proprietário do único cartório da região.
Com a fixação dessas famílias, a comunidade começou se expandir tendo como principal economia, a agricultura, com destaques as culturas da mandioca, milho, cana e feijão.
Através da mandioca, foram construídos na região engenhos para o beneficiamento desse produto e da cana, que resultavam na farinha e no açúcar. A farinha, em comparação aos outros produtos produzidos na região, foi o que mais se destacou, sendo responsável pela subsistência de expressiva parcela da população. Além disso, o excedente era exportado para outras regiões tanto do estado como do restante do Brasil.
Para transportar a farinha de mandioca e outros gêneros produzidos na região como banha, carne, couro e cereais, a única forma possível na época eram através de carros ou carretas puxadas a bois. Os carreteiros, quando retornavam, traziam fazendas, enxadas, arados e outros produtos para abastecer o pequeno comércio local.  Esse sistema de transportes pode ser comparado com o que existe hoje feito por caminhões que levam e trazem cargas. É importante ressaltar que as condições de trabalho dos antigos carreteiros como a dos atuais caminhoneiros são semelhantes. Além de serem mal remunerados, trabalhavam muito. Para transportar uma carga de aproximadamente 15 sacas de farinha, totalizando 50 arrobas, até Garopaba, que levava mais ou menos 10 dias, recebiam pelo trabalho um pouco mais de 50 mil réis.
Se compararmos o valor recebido pelos carreteiros em relação ao valor pago por alguns gêneros de primeira necessidade como o açúcar, cujo quilo era o equivalente a 200 réis, seus vencimentos eram irrisórios.
Como poderia ser tão alto o valor pago pelo quilo do açúcar se a região produzia em larga escala. A resposta, certamente, estaria no elevado custo para sua produção, ou seja, o preparo da terra e o plantio, a construção do engenho, a aquisição da mão de obra, na sua maioria, escrava, o armazenamento e o transporte.
Sendo assim, podemos afirmar que as condições de sobrevivência da população residente nas imediações do bairro e que trabalhavam na agricultura eram precárias. Como plantar, se o custo dos equipamentos como enxadas e outras ferramentas utilizadas no campo eram tão altos. Para sobreviver, esses pequenos agricultores adotavam uma estratégia muito freqüente na época, trabalhavam como empregados nas propriedades de maior porte e cujo pagamento ocorria sob a forma de espécies, não em dinheiro.
Em uma das entrevistas proferidas por Dall’Alba, podemos constatar o grau de miserabilidade na qual se encontrava a população local. Isso é percebido em relação a família de Miguel Cândido Silveira, morador da Lagoa da Serra. Segundo ele, já com 75 anos de idade, em entrevista no ano de 1985 dizia: “Naquela época se passava miséria. Meu pai trabalhava durante a semana, e sábado e domingo ia para praia arrancar marisco branco. ...Carne a gente comia quando ganhava de presente dos vizinhos que carneavam. Comprava sal, açúcar e até farinha. Arroz naquela época era para se tomar café. As vezes eram pãezinhos de mandioca na grelha. Tinha que assar na grelha por falta de banha. Peixe frito era muito raro, para não gastar banha”.pg – 166.
Em relação ao sistema de transportes da época baseado na tração animal, havia uma forte estrutura em volta desse sistema. Na comunidade de Morro dos Conventos eram inúmeros os proprietários de carros de bois que os utilizavam para o transporte desses produtos até Garopaba, que ao chegar eram colocados em barcos cujo destino era o município de Laguna.
Entre os proprietários de carros de bois podemos destacar:  Manoel Faustino; Argemiro Ramilo do Canto; Neco Bento; Felinto Baldino Bento; José Antônio; Angelim Tomás e Marco Bento.
Para facilitar a vida desses trabalhadores, na comunidade havia uma espécie de oficina de carros pertencente a Manoel Zeferino, que além de construir carretas, fornecia peças para o reparo das carretas.
O município de Araranguá sendo cortado por um rio, oferecia boas condições para o transporte hidroviário. Sendo assim, desde o final do século XIX, o transporte de produtos, além de terrestre, passou a ser feita por embarcações que chegavam até a Barranca. Esse sistema beneficiava não somente os produtores mas em especial os atravessadores, conhecidos como negociadores que compravam o produto no engenho a um certo valor e revendia a valores bem superiores.
Já que a farinha era principal atividade da época, algumas pessoas não produtoras obtiveram enormes vantagens com o produto, chegando ao ponto de se adquirirem pequenas fortunas como Antônio Maciel, Brígido Joaquim Almeida, João Almerindo da Costa e Bernardino Machado. A função dos mesmos era intermediar o produtor e o comprador principal. Normalmente, como era freqüente nas décadas de 1970 e 1980, entre os produtores de cebola da Canjiquinha, pagavam valores irrisórios pelo produto e revendiam nos mercados do sudeste pelo dobro ou triplo do valor comprado.
Nas décadas de 1930 e 1940, com o crescimento da população do município e região, são instalados em Araranguá alguns estabelecimentos comerciais que permitia aos habitantes do bairro, comercializar seus produtos no próprio município. Não havia mais necessidade de adquirir produtos para o manejo agrícola em outras regiões, cujos preços pagos eram exorbitantes, principalmente, pás, enxadas e arados, todos de ferro. As casas comerciais mais importantes do município da época pertenciam a Severino Melo, Jaime Wendhausen e Antônio Machado.
   Durante as décadas de 1960 a 1980 a economia do bairro  acompanhou as transformações estruturais que se sucediam no estado e no município. Com base nos registros de matrículas dos estudantes da escola, às profissões dos pais, nos primeiros anos da década de 1960, a agricultura desempenhou um papel preponderante na vida dos habitantes do bairro.
 Sendo a agricultura a principal atividade de subsistência, com destaque à mandioca, milho, cana, feijão, cebola, amendoim, batata-doce, fumo, etc, era comum nessa região, na qual integravam as comunidades de Canjiquinha e Manhoso, a incidência de estudantes que durante o período que não estavam na escola, ajudavam os pais na roça.
Segundo Francisca A. Correia Cesa, antiga moradora da comunidade de Canjiquinha, a mesma afirma que entre as décadas de 1960 a 1970, residiam na comunidade aproximadamente 50 famílias, com a média de 5  pessoas cada, que totalizavam em média 300 pessoas. Outro fato que marcou a comunidade e, certamente, foi um dos principais fatores da  incidência de pessoas na Canjiquinha foi da existência de um via terrestre de ligação com o distrito de Hercílio Luz, feita através de uma balsa.
Outro ex-morador do Bairro, senhor Zeferino Francisco da Costa, conhecido por Lino, hoje residente em Sapucaia do Sul, RS, o mesmo ressalta a incidência de engenhos de farinha e açúcar no entorno do bairro. Embora nem todos os habitantes tivessem condições de construir seu empreendimento, era comum, o dono do engenho, alugar o estabelecimento para terceiros para beneficiar seu produto, pagando para o proprietário do mesmo, uma parcela do que era produzido. Esse também era um procedimento comum na agricultura. Muitos, não proprietários, arrendavam as terras e pagavam o aluguel com o que produziam, não havendo a necessidade de moedas. Grande parte da produção dessa região eram consumidas pelas próprias famílias.
Para constatarmos a forte incidência de agricultores na região, analisando o registro de matrículas dos estudantes da escola entre os anos de 1963 a 1979, chegou-se a seguinte conclusão: no ano de 1963 dos 123 estudantes matriculados na escola, não havia estudantes matriculados cujo pai não fosse agricultor. Em 1974, esse índice começou a diminuir, do total matriculados, 74 continuavam sendo agricultores. Em 1975, doze anos após a primeira matrícula como escola reunida, percebe-se que o bairro vem adquirindo uma nova configuração, ou seja, adota uma característica não rural mas urbana, principalmente após a construção do Camping. Nesse período, dos 95 estudantes matriculados, 18 pais eram agricultores, havendo também 11 pescadores, 12 pedreiros, 18 operários e 9 comerciantes.
Se somarmos os pais pedreiros, operários, construtores e outros, superam em muito a de agricultores.
No ano de 1978, haviam 119 estudantes matriculados e a média de pais agricultores se manteve, com 18, no entanto aumentaram outras profissões como pedreiros, com 16, operários, com 17 e comerciantes. Surgiram outras profissões como: encanador, barbeiro, motorista, zelador, doméstica, pintor, mineiro, garçom, etc.
Em decorrência das dificuldades que tinham as famílias para se deslocarem à cidade para a aquisição de gêneros de primeira necessidade, e também em decorrência da falta de recursos financeiros, cabiam a elas produzirem o que fossem necessários para sua subsistência. Criavam vacas para obtenção do leite, porcos para extraírem a banha e carne, galinhas para extrair os ovos. As roupas que usavam, eram confeccionadas pelas próprias famílias em decorrência do alto preço da fazenda. Cada residência possuía uma máquina de costura para confecção das roupas. Cabe frisar que o tecido utilizado no preparo das roupas eram elaborados na própria residência, com a utilização de algodão e da lã de carneiro proveniente da região serrana.
A partir do final da década de 1970 iniciou na região um fenômeno que vinha se repetindo no resto do país denominado de êxodo rural. Parcela da população, tanto da comunidade do Manhoso como da Canjiquinha, se deslocaram para as periferias do centro urbano do município. Com o crescimento da oferta de trabalho em decorrência da fixação de empresas do setor calçadista, expressiva parcela dessa mão-de-obra foi absorvida pelas empresas.
O aumento do fluxo populacional do bairro, no início dos anos de 1970, foi influenciado pela implantação de um Camping, que durante duas décadas se transformou em um dos principais atrativos de turistas especialmente do Rio Grande do Sul. 
Cresceram as opções de trabalho temporário na região, principalmente na temporada de verão. Além do hotel, com uma arquitetura com características coloniais, que atraía  turistas tanto do Brasil como dos países do cone sul como Uruguai e Argentina, outros empreendimentos começaram a ser instalados na região como mercados, pequenos campings, lanchonetes, restaurantes, pousadas, armazéns, padarias, bares, etc.
Com esses novos empreendimentos abriram diversos postos de trabalhos como garçons, guardas noturnos, zeladores, faxineiras, balconistas, atendentes, cozinheiros, etc.
A pesca jamais se constituiu como atividade base do bairro que pode ser constatado pela fraca presença de estudantes matriculados em que os pais fossem pescadores. Os motivos podem ser diversos como a fraca ocupação do bairro ou, o mais provável, a falta de compradores. Segundo Domingos Pires, antigo morador do bairro, nas décadas de 1960 e 1970, além da falta se consumidores, as dificuldades para a conservação do pescado era imenso, a saída mais apropriada era a secagem do peixe ao sol. Com a carne bovina também se adotava o mesmo procedimento, transformando-a em charque.
Na comunidade da povoação, cujos moradores se dedicavam exclusivamente à pesca, era comum os próprios pescadores comercializarem os peixes com os próprios consumidores. O pescado era depositado em carroças, que pela manhã, antes do sol nascer, eram transportados e vendidos em casa em casa. Essa prática os possibilitava a adquirirem uma renda extra que auxiliava na subsistência dos mesmos.

Estrutura Educacional do Bairro Morro dos Conventos

Para a comunidade do Morro dos conventos, a educação, embora em condições precárias, exerceu papel preponderante na construção da identidade local. Sua origem data da década de 1930, quando, nas proximidades da “Povoação” foi construída uma pequena escola para atender a demanda local.
Na década de 1940, com o crescimento demográfico, o bairro Morro dos Conventos reivindicava a construção de uma unidade escolar. Antes de sua construção no espaço atual, a mesma funcionou, provisoriamente, no salão de festas da capela São Judas Tadeu, situado onde hoje é o Camping.
Quando a escola foi inaugurada, em 1940, a mesma recebeu o nome de Escola Isolada Padre Antônio Luís Dias. A escolha do padre como patrono da escola foi motivada por serviços prestados à comunidade  durante sua  permanência como pároco do município e especialmente por ter o mesmo exercido a função de secretário municipal de educação na gestão do prefeito Ruy Stocler.
Em 01 de maio de 1963, a antiga escola isolada, com apenas uma sala, é convertida em Escola Reunida Padre Antônio Luis Dias, agora com duas salas de aula.
Nesse estabelecimento de ensino, exerceu a função de diretora, a professora Elvira Galvanir Pestalose, natural de Nova Veneza, município de Santa Catarina. Segundo Benta Maria Ribeiro, agente de serviços gerais da escola, a professora Elvira, antes de atuar como diretora da unidade de ensino lecionava na antiga escola.
A professora Elvira, segundo Domingos Pires, um dos primeiros alunos da escola reunida, era considera enérgica com os estudantes do estabelecimento, utilizando-se com frequência de práticas punitivas para os indisciplinados. Após ter atuado alguns anos como diretora do estabelecimento, a professora Elvira obteve sua aposentadoria, sendo a vaga ocupada pela professora Maria da Silva, natural na época de Araranguá.      
Com a inauguração da escola, foram abertas matrículas de primeira a quarta série.

Em 1963, foram 132 estudantes matriculados na primeira série. O que chamou atenção acerca dos números, foi, sobretudo, a supremacia de estudantes do sexo masculino matriculados, que totalizaram  47; enquanto que no sexo feminino foram 23.
Na segunda série, deste mesmo ano, houve certo equilíbrio nas matrículas, dos 30 estudantes matriculados, 14 foram do sexo feminino e 16 do masculino. Na terceira série, dos 23 matriculados, apenas 16 indicaram suas datas de nascimento. Portanto, desses 16 estudantes, 5 eram do sexo feminino e 11 do masculino. A quarta série, em comparação a primeira série onde as matríçãoculas foram expressivas, apenas 11 alunos matriculados, sete eram mulheres e cinco homens.
Diferente dos dias atuais em que legislação exige que crianças de seis anos estejam matriculadas na primeira série, na época  pesquisada, não havia tal obrigatoriedade. No entanto a legislação 4.020-61 obrigava que todas as crianças em idade escolar fossem matriculadas. A não realização de matrículas, incorreria aos pais sansões. A própria lei abria algumas exceções que eximiam os pais dessas penalidades. Uma delas era a comprovação de pobreza dos mesmos.
Sendo assim, como se verificou mediante a pesquisa acima, expressiva parcela da população estudantil estavam enquadradas nesse perfil de carência.
Outro fato marcante em relação as matrículas de estudantes da primeira série em 1967, foi em relação a média de idade dos mesmos que atingiam 10 anos. Tarde em comparação aos dias atuais em que a legislação obriga os pais matricularem a partir dos seis anos.
Acredita-se que um dos motivos das matrículas tardias, estaria na expressiva incidência de pais e mães dos estudantes trabalharem na agricultura, portanto, os filhos tinham que ajudar seus pais, retardando desse modo ou impedindo o ingresso à educação. Era comum nesse período, de acordo com o relatório, o elevado índice de abandono, principalmente de estudantes de terceira e quarta séries. Para termos noção desse fenômeno, dos 35 matriculados em 1963, oito abandonaram a escola.
A distância entre as residências dos estudantes e a unidade escolar poderia ser um fator determinante no retardamento das matrículas no período pesquisa. Com referência aos registros de matriculas, se constatou que em 1963, a distância entre as casas e a escola chegaram a aproximadamente 1000 metros. 15 anos depois, essa distância diminuiu significativamente, dos mil metros verificados em 1963, reduziram para 340 metros, ou seja, a população estudantil, estavam residindo mais próximas a escola. 
Outro motivo das reprovações e dos abandonos poderia estar no despreparo dos professores para exercerem suas funções e a falta de uma política tanto de formação como de remuneração aos educadores.
Para elucidarmos melhor a precariedade na qual estava submetida a educação primeira metade do século XX, descreveremos o relato de Antônio Francisco da Rosa, com 85 anos, morador da comunidade da Lagoa da Serra, quando foi entrevistado em 1985 pelo padre Dall’Alba. Segundo ele: “No meu tempo tinha escola, mas particular. Eu aprendi na escola do meu padrinho, Manoel Francisco Martins. A escola era aqui na Lagoa da Serra. Não era de grande sabedoria, mas o  pouco que aprendi foi dele. No tempo de meus filhos aí já apareceu escola municipal. O mestre ganhava um mil réis por mês de cada aluno. Éramos uns trinta alunos. Aprendíamos a ler, escrever, fazer contas. Ele trabalhava na roça, perto de casa, e dava lição para nós, duas vezes por dia”. P-169
No relato, diz o entrevistado da existência de escola particular. Não haviam, portanto, regras claras que determinassem o funcionamento da educação. Poderia, quem tivesse um mínimo de conhecimento utilizar-se de sua própria residência e lecionar, cobrando, pelo trabalho, uma mensalidade, que na época equivalia a mil réis. Mas quem poderia pagar, é claro que uma pequena fração da população.
Essa ação ocorrida na época pesquisada pode ser comparada com os programas de alfabetização adotados pelo governo federal. De acordo com o programa, basta, para ser alfabetizador, ter o segundo grau e utilizar-se das dependências de uma unidade de ensino, tendo no mínimo de 7 alunos. Durante oito meses, duas vezes por semanas e  um salário de 250 reais, pago ao “educador”, os indivíduos matriculados sairão alfabetizados.
Em relação a aprovação e reprovação de estudantes ocorrida na escola durante período pesquisado, constatas-se que a incidência de reprovados é muito maior. Somente em1963, dos 47 estudantes masculinos matriculados na primeira série, apenas quatro foram aprovados para a série posterior. Dos 43 reprovados, 13 repetiram a primeira serie no ano seguinte. Em relação ao sexo feminino, das 26 matriculadas na primeira serie, 4 foram aprovadas e 16 repetiram a primeira série.

Um dado surpreendente em relação aos 72 estudantes da primeira série matriculados na primeira série em 1963 é que desse total apenas 18 concluíram o ensino primário em 1967, sendo 5 do sexo masculino, que na época eram 47 e 13 do feminino, que totalizavam na época 23.
O índice de abandono também foi alto, principalmente entre os estudantes do quarto ano. Dos nove matriculados em 1963, seis abandonaram nesse mesmo ano.
A situação de reprovação na escola continuou se repetindo no ano seguinte, principalmente na primeira série. Dos 34 alunos do sexo masculino, 16 foram reprovados, sendo que apenas 10 seguiram para a segunda série. A ocorrência de estudantes repetindo a mesma série era freqüente. Em uma turma da terceira série em 1964, dos vinte dois alunos matriculados, 16 estavam repetindo  pela segunda, terceira ou quarta vez a mesma série.

Religiosidade da População do Bairro Morro dos Conventos no Período Pesquisado.
Em 1963, como vinha ocorrendo no restante do país, a predominância  de famílias que cultuavam o catolicismo, com base nos registros de matriculas de estudantes da escola eram superiores aos de cultos evangélicos.  Dos 134 estudantes matriculados, apenas três pais e três mães não eram católicos. Foi a partir do ano de 1968 que esse quadro começou a mudar, surgindo mais famílias evangélicas. No entanto continuava forte a presença de católicos. Dos 90 pais e 90 mães pesquisados, nesse mesmo ano, haviam 11 do sexo masculino e 13 do sexo feminino evangélicos.
Um elemento marcante na época, entre os anos de 1963 a 1979, embora em maior ou menor grau, o culto evangélico era praticado mais por indivíduos do sexo feminino do que o masculino.
Para elucidar, podemos citar como exemplo o ano de 1970, das 129 famílias registradas, haviam 11 pais e 18 mães evangélicas.
Outro problema grave enfrentado pela comunidade no período em que a escola foi elevada condição de reunidas, foi o expressivo índice de pais e mães analfabetos. Em 1965, dos 145 pais e 145 mães dos estudantes matriculados, 78 do sexo masculino e 91 do sexo feminino eram analfabetos, ou seja, um pouco mais da metade dos pais eram alfabetizados, sabiam escrever seus nomes e fazer alguns cálculos matemáticos.
Do sexo feminino, a situação era mais crítica, apenas 54 sabiam ler e escrever.
É notório afirmar que tais índices de analfabetismo entre os habitantes da comunidade têm como uma das principais causas, o desinteresse dos pais em matricularem seus filhos, isso porque, por ser os mesmos agricultores, necessitavam de auxílio nos afazeres da roça. Outro fator que também contribuía para o elevado analfabetismo era  a distância entre suas residências e a escola.
Em todas as análises de dados que foram pesquisadas, percebe-se que o analfabetismo é mais elevado entre as do sexo feminino. Novamente, se verifica que a mulher, especialmente as agricultoras, sofriam  discriminação. Muitas delas tinham suas vidas já pré-determinadas, casavam-se cedo e possuíam muitos filhos, pois precisavam de muitas mãos para a lavoura.

Chegando a década de 1980, constata-se que os índices de reprovação continuaram elevados na escola. No entanto podemos observar algumas mudanças significativas quanto a presença de estudantes do sexo feminino que muitas vezes ultrapassa ao do sexo masculino. Além do mais, embora a presença feminina seja superior a masculina, os índices de aprovação são maiores também entre os estudantes do sexo feminino.
No ano de 1980, tínhamos 23 estudantes do sexo feminino e 20 do sexo masculino. Quatro anos depois, desses 23 estudantes matriculadas, apenas 12 conseguiram concluir a quarta série. Já, do sexo masculino, dos 20 matriculados em 1980, sete foram aprovados em 1984. Nos anos posteriores, esses índices foram sendo mantidos, com exceção ao ano de 1989, quando das 11 estudantes matriculadas na primeira série, apenas 3 foram aprovadas. Em relação ao sexo masculino, o resultado foi bem diferente. Dos 11 matriculados em 1985, os mesmos 11 concluíram a quarta série quatro anos depois.
Em 1988, a escola reunida Padre Antônio Luis Dias, se transforma em escola básica, com a criação da quinta série, sendo que 19 matrículas foram do sexo feminino e 18 do sexo masculino. Quatro anos depois, em 1993, formou a primeira turma ginasial, sendo seis do sexo feminino e 16 do sexo masculino.
Novamente constatamos altos índices de abandono entre os estudantes do nível ginasial. Em 1992, das 19 estudantes matriculadas em 1989, apenas 9 concluíram o ginasial. Entre o sexo masculino não foi diferente. Dos 16 matriculados em 1989, apenas 6 foram aprovados.

Etnias Luso-Açorianas na construção da identidade cultural do Morro dos Conventos.

O Bairro Morro dos Conventos passou a ser habitado por sujeitos descendentes de europeus a partir do final do século XVIII, quando foram construídas as primeiras habitações nas proximidades do caminho aberto pelos tropeiros cujo objetivo era transportar animais – mulas gado para a região das minas gerais. 
Aproveitando-se das boas condições infra-estruturais da região, clima propício, terra fértil e água em abundância, no início do século XX, chegaram ao morro dos conventos as primeiras famílias cuja descendência étnica, na sua esmagadora maioria, foram de luso-açorianos.
Vale ressaltar que as famílias descendentes de açorianos imigraram para o Brasil, especialmente nos estados do sul, por volta do ano de 1748.
Por habitarem em um arquipélago, tinham sua cultura moldada em atividades como a pesca e a agricultura, especialmente na cultura do trigo.
Devido as condições impróprias para o cultivo desse produto no litoral catarinense, os açorianos herdaram dos povos guaranis que povoavam a região litorânea, o cultivo da mandioca, produto que se tornou essencial na alimentação da população brasileira.
Entre os anos de 1963 a 1979, se constata que do total dos alunos analisados, ambos pertenciam a setenta e seis famílias, ou seja, setenta e seis sobrenomes. Sendo eles: Assis; Bento; Caetano; Cordova; Costa; Dias; Canto; Damásio; Espanhol; Esteves; Ferreira; Gonçalves; Henrique; Martinho; Machado; Martins; Maciel; Nazário; Pereira; Plácido; Patrício; Perraro; Pacheco; Pires; Rodrigues; Santana; Silvério; Santos; Souza; Silva; Tomas; Tavares; Teixeira; Trajano; Valentim; Viana; Vieira; Florentino; Ventura; João; Amaro; Leopoldino; Coelho; Neto; Cristovão; Juvenal; Marciano; Tertuliano; Bitencourt; Cardoso; Assunção; Felintro; Joaquim; Freitas; Rocha; Alexandre; Fortunato; Aires; Ávila; Matias; Emerêncio; Gomes; Custódio; Pedroso; Medeiros; Homem; Clemes; Francisco; Bauer; Miguel; Inácio; Oliveira; Rosa; Zeferino.
Embora o volume de famílias com seus respectivos sobrenomes fossem grande, 16 foram as que se destacaram no bairro entre 1963 a 1979, sendo elas: , Canto, com 173; Caetano, com 166; Costa, com 114; Vieira, 107; Silva, 99; Santana, 92; Souza, 86; Silvério, 77; Tavares, 62; Dias, 54; Tomas, 43; Valentim, 35; Fortunato, 27; Homem, 26; Teixeira, 24; Nazário, 24.
    Através de uma pesquisa mais detalhada, pois a intenção era conhecer as etnias das quais essas 65 famílias descendiam, o resultado foi surpreendente. 99 por cento desse total de famílias pertenciam as etnias luso-açorianas. Apenas duas famílias não se enquadravam nas etnias citadas acima, sendo elas a Bauer e a Her.
Sabendo que a comunidade do Morro dos Convetos, tem suas raízes vinculadas as etnias luso-açoriana, é importante conhecer melhor as histórias de cada família, por que as mesmas receberam os respectivos sobrenomes.
De 1980 até 1994, houve um crescimento substancial de novas famílias na comunidade. Das 65 verificadas entre os anos de 1963 a 1979, em 1994, haviam no bairro mais 115 famílias aproximadamente. É plausível destacar, que o cálculo utilizado na qual resultaram nos 115 sobrenomes, foram mediantes as somas dos sobrenomes dos pais e das mães dos estudantes. Sendo assim, as novas famílias residentes no bairro nesse período foram as seguintes:
Adílio; Alves; Anastácio; Araújo; Batista; Becker; Borges; Borba; Belmiro; BONACINE; Batista; BOTION; Capela; Chagas; Correa; Cassão; CANONI; CESA; Cortês; Camargo;  Cipriano; CIOFF; DOM; DULLIUS; Elias; Euzébio; Estevam; EVALDT; Farias; Fernandes; Florêncio; Fonseca; Fabris; FANTIN; Freitas; Galvão; Geremias; GERDINO; Guimarães; GRIEBERT; HEME; HER; Januário; KULIK; Lima; Limões; LIBERATO; Leopoldino; LESSA; Lorenço; lorentino; Laurino; LENTZ;  Marcelino; MARETTI; Maia; Melo; Mendes; Miranda; Manoel; Machado; Mota; Medeiros; Morais; MARENCO; MAFFIOLETE; MAFFIO; Nunes; OTTO; Patrício; Paulino; Pacheco; Pedro; Pinto; POLLA; PERCUCH; PRUDÊNCIO; Quintino; Raul; RAUPP; Resende; Ribeiro; ROSETT; ROSSI; Soares; SOMENSI; SCARPARI; Serafim; Santana; TROMBIM; TRICHES; VANIER; Vargas; Valério; WODZIK.
A presença dessas novas famílias no bairro revela algo que não observado no período entre 1963 a 1979, a presença significativa de famílias não vinculadas as etnias luso-açoriana. Mas de certa forma muitas dessas famílias com sobrenomes italianos ou alemães, estavam de uma forma ou de outra, ligadas afetivamente tanto do lado do marido ou da esposa
Observando o primeiro caderno de registros de matrículas, observa-se que, durante os 16 anos, duas famílias não luso açorianas constavam nos registros. No entanto, de 1980 até 1994, esse índice cresceu de maneira significativa. Das 115 famílias pesquisadas, 34 correspondiam ao grupo cuja origem pertencem as etnias italianas, alemãs, polonesas e outras.
Embora sabendo que inúmeras famílias que ocuparam a parte alta, próxima ao hotel e a área da praia, no início da década de 1950 e 1960, eram, na sua maioria, originárias do Rio Grande do Sul, não se verificou nas matriculas da escola presença de estudantes fora do bairro.
Naquele momento, acredita-se que o bairro não oferecia condições infra-estruturais, emprego, para atrair pessoas de outras regiões para se fixarem aqui.
Por ser um balneário, o bairro atraia apenas turistas e veranistas na época da temporada de verão. Enquanto que durante o restante do ano, continuavam no bairro apenas os moradores permanentes.
No início da década de 1980, o bairro passou adquirir uma nova configuração, ou seja, perde sua condição de região rural, transformando-se em espaço urbanizado, com investimentos em infra-estrutura, como saneamento básico e melhorias das estradas.
Essas melhorias contribuíram para o aumento de fluxo de famílias de outras comunidades ou bairros pertencentes ao próprio município, de  cidades de Santa Catarina e de outros estados que migraram para o bairro definitivamente.  
Nos anos de 1992 a 1994, verificou-se a presença de estudantes matriculados na escola procedentes de municípios catarinenses como: Abelardo Luz; Siderópolis; Nova Veneza; Criciúma; Içara; Orleãs; Maracajá; Timbé do Sul; São José; São Lourenço do Oeste; Florianópolis; Meleiro; Abelardo Luz; Joinville. Do Rio Grande do Sul, haviam famílias de Porto Alegre; Alvorada; Novo Hamburgo; Nova Prata; São Francisco de Paula; Sapucaia do Sul; São Leopoldo; Guaíba; Caxias do Sul; Tramandai; Passa do Sabão; Cambará do Sul. De São Paulo; de Paranavaí, estado do Paraná; Manaus, estado do Amazonas e Porto Velho, capital de Rondônia.
Profissões dos pais e mães dos estudantes da escola


Lavrador
Pescador
Pedreiro
Operário
Carpinteiro
Construtor
Comerciante
1963
123
 -------
-------
-------
  ------
   2
   3
1964
  74
16
--------
  2
    1
   2
   3
1965
  74
10
--------
  2
    1
--------
   1
1966
  49
10
---------
  6
    4
---------
-------
1968
  47
  7
---------
  6
    2
--------
   2
1969
  47 
  7
   3
  9
    2
----------
   12
1970
  44
14
   5
  9
    2
----------
   11







1971
   6
15
6
6
3
                  10
1972
 13
2
5
13
1
                   4
1973
12
13
8
12
2
                   9
1974
---
---
---
---
---
                   ---
1975
18
11
12
18
2
                  9
1976
21
7
11
21
3
                  6
1977
17
10
16
17
4
1                 5
1978
19
8
13
19
4
4                 8
1979
15
-----
14
15
2
3                 4

Profissões dos pais e mães dos(as) estudantes


Encanador
Barbeiro
Motorista
Zelador
Domestica
Aposentado
Pintor
1963
1
1
1
1
---
----
---
1964
3
3
---
3
4
1
----
1965
3
1
1
5
4
2
1
1966
---
2
2
1
--
2
----
1968
---
2
3
5
3
3
----
1969
---
----
----
---
5
2
2
1970
1
-----
2
1
1
2
----
1971
4
1
2
1
1
3
1
1972
----
----
---
--
3
2
2
1973
----
----
---
2
4
2
3
1974
-----
----
---
----
---
-------
-----
1975
-----
----
2
2
---
1
2
1976
-----
----
3
2
2
6
-----
1977
-----
----
5
---
---
10
------
1978
----
-----
5
---
2
8
--------
1979
1
----
2
----
---
5
--------


Entre os anos de 1963 a 1979, é possível constatar certa inconstância quanto ao número de estudantes matriculados:

1863
132
1964
150
1965
145
1966
137
1967

1868
99
1969
100
1970
129
1971
11
1972
117
1973
125
1974

1975
93
1976
96
1977
113
1978
118
1979
83





Religiosidade dos pais e mães dos estudantes


Pais
MÃE
Evangélico
Evangélica
1963
134
134
3
3
1964
150
150
-
1
1965
145
145
3
4
1966
137
137
3
5
1967


4
4
1968
90
90
11
13
1969
100
100
11
13
1970
129
129
11
18
1971
11
11
10
11
1972
117
117
9
9
1973
125
125
12
10
1974




1975
93
93
14
16
1976
96
96
11
12
1977
113
113
14
16
1978
118
118
12
12
1979
83
83
8
11





81980
81981
81982
81983
81984
81985
81986
81987
81988
81989
91990
91991
91992
91993
9
11-F
223
222
116
117
117
117
111
118
119
113
114
7
115
110

11-M
220
222
223
220
111
8
111
115
330
119
110
115
112
229

22-F
111
115
116
112
115
114
114
8
111
220
9
110
112
111

22-M
99
113
112
115
119
008
009
113
009
225
116
007
111
111

33-F
111
110
113
115
007
112
113
114
606
112
117
008
111
115

33-M
909
111
116
114
113
113
808
112
909
808
221
116
009
114

44-F
707
110
112
115
112
007
909
111
113
303
112
221
114
114

44-M
113
114
118
119
808
110
114
115
111
111
808
222
114
115

55-F








119
119
005
111
112
112

55-M








118
117
112
808
119
111

66-F









117
116
404
113
008

66-M









114
114
111
707
119

77-F










09
008
202
111

77-M










118
114
909
505

88-F











006
009
202

88-M











116
906
-10-





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