terça-feira, 21 de junho de 2011


Reconstrução da Memória e Identidade cultural  do Bairro Morro dos Conventos
                                                                            

Diante da necessidade de construir novos caminhos que possibilitem de forma  interdisciplinar o desenvolvimento de instrumentos que despertem novas habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras, envolvendo tanto o corpo discente como o docente, o presente trabalho, cujo tema proposto “Reconstrução da Memória Local do Bairro Morro dos Conventos”, tem por finalidade proporcionar alternativas pedagógicas, criativas e motivadoras visando o estudo da problemática ambiental do bairro, ou seja, sua complexidade geográfica, econômica e social.
As metas propostas, certamente, não serão simples de serem alcançadas, pois exigirá empenho dos participantes, através do levantamento das fontes bibliográficas específicas para  fundamentar as atividades e o apoio permanente dos participantes, em especial dos coordenadores, que atuarão junto com os demais na solução de eventuais dúvidas que surgirão no decorrer das atividades.
A Reconstrução da Memória Local do Bairro Morro dos Conventos iniciará com um estudo minucioso do conjunto infra-estrutural e superestrutural na qual a comunidade está alicerçada. Sendo assim, para sua viabilização será necessário que os envolvidos no projeto, professores e estudantes, tenham noção de como a comunidade foi e é organizada, ou seja, sua constituição sócio-espacial.
A utilização do mapa geográfico da comunidade, obtido através do programa Google Earth, será imprescindível para a concretização dos objetivos propostos. Após a elaboração do mapa do bairro, os estudantes farão duas maquetes: a primeira, representará a área central do bairro, verificando a distribuição e a ocupação do espaço, suas construções, vegetação, áreas de preservação, etc. A segunda maquete terá como finalidade explicitar de forma minuciosa o complexo ecossistema do bairro que envolve falésias, dunas e a vegetação restinga.
Cada profissional, envolvido no projeto, construirá seus programas de ensino, levando em consideração as informações obtidas no mapa.

Objetivo Geral

>Compreender a realidade sócio espacial do bairro Morro dos Conventos, cuja finalidade será a reconstrução da memória local, que proporcionará aos seus habitantes, possibilidades de idealizar um novo imaginário social baseado nos princípios de sustentabilidade.

Desenvolvimento

O projeto “Reconstrução da Memória Local do Bairro Morro dos Conventos” será desenvolvido primeiramente através de um estudo minucioso acerca da estrutura geoespacial local. Para que o referido estudo possa ser concretizado deverá ser construído um mapa físico  e duas maquetes da região em que o bairro está inserido, tendo como documento norteador a imagem de satélite obtido através do programa “google earth”.
Após a construção do mapa e das maquetes, irá se desenvolver um estudo interdisciplinar do bairro, objetivando aprofundar o saber acerca dos aspectos geográficos (geologia – solo, relevo; vegetação – espécies nativas, exóticas; hidrografia – oceano, rio, lagos, lagoas, aqüíferos; (demografia – população, etnias; econômicos (indústria, comércio, agricultura, pesca, turismo); sociais (população, etnias, festas, costumes).
Com a concretização da primeira etapa, os participantes iniciarão a etapa posterior, abordando o tema específico do projeto que é a Reconstrução da Memória Local do Bairro, destacando os primeiros habitantes, origem do nome do bairro, construção do hotel, formação das furnas, Fundação do camping, construção da primeira capela, instalação do cinema, construção dos edifícios Erechim e Araranguá, construção da E.E.F Padre Antônio Luis Dias, instrumentos de trabalho dos pescadores artesanais, conflitos como a guerra dos Farrapos e a Revolução Federalista, abertura da estrada que liga o hotel à praia, construção do farol, construção do porto para o transporte de carvão mineral às indústrias siderúrgicas do sudeste.

Considerações Preliminares

Durante o ano de 2008, os estudantes da sétima e oitavas séries da Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luis Dias, acompanhados pelas professoras de língua portuguesa, Lisiane Vandressen e Cenira da Silva Patrício, de história, visitaram a comunidade de Ilhas, com o intuito de entrevistar os moradores mais antigos e conhecer suas histórias, ou seja, seus costumes, festas, religiosidades, gastronomia, etc. É importante ressaltar que o referido povoamento foi um dos primeiros espaços a serem ocupados no sul de Santa Catarina por uma população cuja suas raízes sofreram forte influência das etnias  açoriana e portuguesa, e que tiveram a pesca e o artesanato como um dos principais meios de subsistência.
A reconstrução da memória da escola básica do bairro se transformou em um novo desafio para estudantes e professores.  Através de entrevistas constatou-se que anterior ao espaço da atual escola houve outra duas, sendo que a primeira estava localizada nas proximidades da balsa e a segunda, de forma provisória, no salão da antiga capela, situada no interior do Camping Morro dos Conventos.

A atual escola, fundada no início da década de 1940, recebeu a designação de Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luis Dias, em homenagem ao pároco do município que exerceu além da função sacerdotal, durante as décadas de 1920 – 1930 e 1940, atuou também como coordenador educacional municipal na gestão do prefeito Rui Stokcler.
Além da realização de pesquisa escrita, principalmente com a utilização da ata de fundação da escola, foi realizada outras atividades como a palestra com professor Orivalde Pereira, que abordou  aspectos acerca da trajetória da educação em Araranguá e a contribuição do Padre Antônio Luiz Dias para engrandecimento da mesma.
Ressaltando as questões ambientais do bairro, no dia 05 de junho de 2009, os estudantes e professores da escola, divididos em dois turnos, participaram de um passeio em comemoração ao dia mundial do ambiente.

Antes da realização do evento, os estudantes se dirigiram à sala de informática para conhecerem antecipadamente o trajeto a ser realizado com a utilização de imagens de satélite obtidas através  do programa Google Earth.
Durante o passeio foram observadas as condições de preservação do ambiente e constatou-se a existência de pontos de degradação nas imediações do farol, na descida da trilha e principalmente no entorno da restinga, em decorrência das práticas de jeepcros e motocros.
Depois da realização do passeio, os alunos da terceira e quarta séries, com a coordenação da professora Milena Baldessar, produziram atividades lúdicas enfatizando os aspectos que mais chamaram a atenção durante percurso.

A professora Eliete Mercedes, de Educação Física, assessorou os estudantes no levantamento dos esportes radicais praticados no bairro, aproveitando a geografia local: falésia, dunas, oceano e vegetação abundante que possibilita a prática dos mesmos.
Com a pesquisa, verificou-se que esportes como Surfe, Parapente, Rapel, Sambord, Trilhas e caminhadas, muitos dos quais são praticados inadequadamente, exigindo aos praticantes, maiores informações de como tais esportes devem ser praticados sem que provoquem impactos ao ecossistema local.
Buscando enfatizar a pesquisa sobre esportes radicais, os estudantes com a assessoria da professora, construíram maquetes demonstrando como tais esportes são praticados. Os trabalhos, que continuam em execução, serão apresentados aos alunos da escola, demonstrando como devem ser praticados de forma sustentável.
Além dessas atividades lúdicas, serão promovidas palestras e Work Shopings, com os praticantes desses esportes, visando a promoção dos mesmos e a conscientização da necessidade do cuidado com a preservação do ecossistema local.
Com o propósito de divulgar os fatos que marcaram a comunidade e a escola, os estudantes da escola, inicialmente com a coordenação da professora Raquel Ramos de Língua Portuguesa, participaram da elaboração de um jornal escolar. Após discussões em relação ao título do jornal, o nome escolhido foi “Jornal SOS Ecologia”.

Algumas divergências ocorreram acerca do título do jornal escolhido, pois o mesmo, segundo a maioria dos estudantes não se adequava ao propósito do projeto. Com o retorno da professora titular da disciplina língua portuguesa, Lisiane Vandresen, foi realizado novo concurso para a escolha do nome definitivo do jornal. O título escolhido foi “Correio do Morro”.
A professora de Artes, Tessa Pereira de Souza, desenvolveu  atividades para auxiliá-los a observarem suas residências, ou seja, seu formato geométrico, suas dimensões, etc. Após essa etapa, as mesmas seriam representadas tridimensionalmente, com o uso de isopor e papel. Para trabalhar as cores, a professora desenvolveu com os estudantes técnicas que objetivam a utilização de uma única cor, transformando-as em várias tonalidades. Essa técnica é conhecida como monocrômica.  
Como trabalhar a matemática nas produções artísticas desenvolvidas na escola. Aproveitando a iniciativa da disciplina de artes, a professora de matemática, Santina de  B Castelan solicitou que seus estudantes trouxessem para a escola plantas baixas de suas residências, observando suas medidas e convertendo centímetros em metros. Esse conhecimento matemático auxiliará os estudantes na construção de maquetes.
A professora Milena Baldessar, da quarta série, na sua aula de matemática, distribuiu seus alunos em dois grupos e os auxiliou na confecção de um desenho da escola, verificando sua localização no entorno do terreno que a mesma está construída. Com esse trabalho, a professora não exigiu que os mesmos respeitassem as dimensões matemáticas da mesma. Um dos grupos ficou encarregado de desenhar a escola do futuro. 
A produção de alimentos orgânicos fará parte do projeto memória. O objetivo dessa atividade é conscientizar os estudantes da forma como certas culturas eram praticadas no passado e quais as mudanças que ocorrem no tempo e que influenciou o seu cultivo.
A horta orgânica da escola, coordenada pela professora de ciências, está possibilitando aos estudantes a terem uma alimentação mais saudável e nutritiva e, além do mais, conscientizá-los dos riscos tanto à saúde como ao ambiente o cultivo de alimentos através do emprego de substâncias químicas.

A Escola de Educação Fundamental Padre Antônio Luis Dias é classificada em feira de ciências em Araranguá

Entre os dias de do ano de 2009, a escola participou da feira de ciências realizada nas dependências da Gered. Diversos projetos foram apresentados, abrangendo  ensino fundamental e médio. A escola do morro dos conventos participou na categoria ensino fundamental, tendo como tema “A Reconstrução da Memória Local do Bairro Morro dos Conventos”. 

Escola Padre Antônio Luis Dias do Bairro Morro dos Conventos é premiada na segunda etapa da Feira de Ciências realizada em Rio do Sul


Exposição no centro cultural de Araranguá procura reconstruir história e identidade dos moradores do Bairro Morro dos Conventos

Durante os dias 24 a 12 de abril de 2010, ocorreu nas dependências do Centro cultural de Araranguá, a primeira amostra cultural referente ao projeto Memória local, desenvolvido pelos (as) estudantes da Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luis Dias, localizada no Bairro Morro dos Conventos.

Procurou-se, durante esse período, mostrar à população visitante, em especial aos e as estudantes, um pouco da história\memória da cultura do bairro. A exposição contou com um documentário, de dez minutos, produzido pelos éestudantes da sétima e oitava séries, onde, através de entrevistas, realizadas com moradores do bairro, procurou-se conhecer um pouco mais acerca da história, dos mitos, das lendas, que ainda hoje são repletas de mistérios.

Além do documentário, foram apresentadas fotografias, das décadas de 1950 em diante, mostrando, entre outros, os principais atrativos do bairro como: farol, sua construção e finalidade, hotel morro dos conventos, abertura da estrada do hotel, construção do edifício Erechim, etc.  A amostra de duas maquetes, da parte de baixo e de cima do bairro, confeccionada pelos (as) estudantes da quarta série  também chamou atenção dos visitantes.

O objetivo da amostra foi apresentar para a comunidade araranguaense e de outras regiões, além de ser o berço do surgimento do município, com a construção do caminho dos conventos em 1728, toda riqueza cultural e ambiental presentes naquele bairro, conscientizando a todos de que a reconstituição da memória local como as  construções antigas, festas, ritos, lendas entre outros, restabelecerá a auto-estima da população local, estimulando em cada sujeito  o desejo de proteger tanto o patrimônio cultural como o paisagístico, considerado como um dos mais belos do Brasil.  
Foi possível perceber, durante a exposição, que muitos dos presentes conheciam o bairro, mas desconheciam a complexidade e a fragilidade do ecossistema local, como as falésias - sua formação, as dunas, as restingas, entre outros. 


VESTÍGIOS DA PRESENÇA GUARANI  NO MORRO DOS CONVENTOS
 Fonte: Museu Histórico de Araranguá

No ano 1994, no Bairro Morro dos Conventos, quando da escavação para a colocação de uma fossa residencial, trabalhadores se depararam com um objeto um tanto quanto desconhecido. Quando o retiraram da terra, perceberam que o artefato em muito se assemelhava a um enorme vaso cerâmico. No entanto, o artefato nada mais era do que uma das grandes descobertas históricas da região, ou seja, uma urna cerâmica construída pelos povos guaranis que habitaram a região muito antes da chegada dos colonizadores portugueses e espanhóis.
Naquele dia em diante a história da comunidade e do próprio município teria que ser novamente reinterpretada, demonstrando que a memória local assumiria outra configuração, agora levando em consideração os povos indígenas que tinham o bairro Morro dos Conventos e região como pátria mãe.
Quando se estuda a história do Brasil ou a da América Latina num todo, os próprios livros didáticos e paradidáticos procuram dar maior ênfase ao processo de colonização, ou seja, a partir da chegada dos portugueses e espanhóis, desconsiderando a riqueza da cultura dos povos que habitavam essas terras há muitos séculos. No entanto, alguns livros didáticos,  quando abordam a temática indígena, trazem no seu bojo certas verdades que em nada confere com a realidade.  Um exemplo é o que aborda o livro As Belas Mentiras – a ideologia subjacente aos textos didáticos, da editora Moraes, 10ª edição, escrito por Maria de Lourdes e Chagas Deiró Nosella, que transcreve texto de um livro didático, 4ª série, que faz o seguinte exposição a respeito o “índio”:
Quem Habitava o Brasil
“Os índios viviam em tribos, formados por tabas ou aldeias, que eram agrupados em ocas (choupanas) dispostos em círculo. Os índios andavam nus ou seminus. Geralmente pintavam o corpo, enfeitavam-se com penas, dentes de animais, etc. alimentavam-se de caça, pesca, raízes e frutas. As mulheres indígenas cultivavam o milho e a mandioca. Fabricavam utensílios de barro, cordas e canoas. Apreciavam a dança e a música”.

Percebe-se nesse texto que a preocupação do autor foi caracterizar o índio como um povo único, homogêneo, desconsideração as centenas de nações, com línguas e costumes próprios que, embora em menor número, ocupam o território brasileiro, muitos dos quais vivendo em pequenas reservas demarcadas. Supõe-se também que, por ingenuidade ou intencionalidade, o autor do texto não mencionou o impacto que foi a presença do colonizador com os primeiros habitantes das terras brasileiras.
  Sabe-se que muitas dessas reservas demarcadas pelo governo, são insuficientes para que os mesmos supram suas necessidades básicas. É de conhecimento de todos, que inúmeros agrupamentos indígenas foram totalmente aculturados aos costumes do “homem branco” e que muitos desses vêm desenvolvendo atividades econômicas como a agricultura e a pecuária para fins comerciais.
Ainda se tratando de textos que procuram representar as culturas indígenas, em especial o cotidiano das crianças no interior do grupo, é importante citar outro absurdo retirado de um livro didático da 2ª série, presente no livro As Belas Mentiras. Assim relata o texto:

O Indiozinho do Paraná
“Reinava a alegria na aldeia. Todas as crianças desciam para o rio. Paraná ia sempre com outras crianças, ria sem parar, atirando água em todo mundo. Mas ninguém brigava, porque as crianças nunca são más”.

Como se percebe, é um texto profundamente romantizado, admitindo a pureza angelical da criança indígena que não apresenta maldade e estando sempre feliz. O que o texto omite é como ser feliz em áreas cada vez menores, ocupadas por projetos agroindustriais que de forma indiscriminada desmatam extensas áreas de terras para implantação de projetos agroindustriais, colocando em xeque a sobrevivência dessas comunidades que necessitam das florestas e dos rios para sua sobrevivência. Como banhar-se nos rios se suas águas estão quase que totalmente sem vida em decorrência da contaminação por agrotóxicos, mercúrio e esgotos domésticos e industriais.
A presença humana em terras brasileiras, através de estudos realizados, data de aproximadamente 20 mil anos. Em santa Catarina é um pouco mais recente, há vestígios de sociedades que datam de 6.500 Ac conhecidos como povos dos sambaquis, cuja cultura, hábitos alimentares, estava diretamente vinculada ao mar, através da pesca e da coleta de moluscos. O que comprova sua existência são os acúmulos de casqueiros – situados nos municípios de Laguna e Jaguaruna. O que é mais surpreendente é que nesses casqueiros foram encontrados fragmentos de carvão vegetal e fosseis humanos, demonstrando que a história/memória dos mesmos foi constituída nesse ambiente.  
Pesquisas arqueológicas mais recentes, afirmam que viveram em território catarinense outras sociedades muito mais antigas cujos materiais encontrados datam de aproximadamente 9.000 a.C, e referem-se  a caçadores-coletores da Tradição Umbu e Humaitá que habitavam o planalto.
De acordo com vestígios indígenas encontrados nas proximidades das comunidades de Ilhas, Morro Agudo, Morro dos Conventos, ambas pertencentes ao município de Araranguá e no próprio município de Arroio do Silva, é possível que nessa região habitassem esses  povos.
Pouco se sabe sobre sua cultura, acredita-se que, com a realização de estudos mais específicos brevemente seremos forçados a rever mais uma vez conceitos acerca da nossa história/memória local, que se acredita ser bem mais antiga do que se espera.
Mas, com o achado da urna funerária guarani no bairro Morro dos Conventos, não deixa dúvidas que essas terras pertenciam não somente aos guaranis, conhecidos por Carijós, mas também aos demais povos, dizimados por completo a partir da chegada dos colonizadores. O que resta, portanto, são apenas vestígios que resistiram ao tempo como pontas de flechas e objetos cerâmicos. 
Como viviam, como era sua alimentação, suas habitações, suas festas, seus rituais de nascimento, casamento e morte, são dúvida que ainda pairam e que necessitam  ser mais bem estudados.

          A RELIGIOSIDADE E A EDUCAÇÃO GUARANI

Há aproximadamente 2.500 anos chegaram ao sul do Brasil, proveniente da região centro-oeste, grupos indígenas do tronco Jê, cuja etnia foi responsável pela introdução da cerâmica de estilo Itararé, no litoral de Santa Catarina.
Os Guarani, chegaram ao sul, um pouco mais tarde, por volta de 900 anos atrás. Em Santa Catarina, de acordo com os achados, a presença guarani data de aproximadamente 300 anos.  Ocuparam áreas habitadas por pessoas pertencentes ao tronco Jê através de guerra de conquista.  Impuseram sua cultura como a organização sócio-política, o manejo agro-florestal, a agricultura e outro estilo de cerâmica. Dentre as várias etnias guarani que se fixaram no sul, o sub-grupo MBYÁ foram os que  resistência a aculturação, conservando até hoje seus traços culturais.
Os povos guarani pertencem à família lingüística Tupi-Guarani. Na America Latina, Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, atualmente, são encontrados aproximadamente 120 mil pessoas falando essa língua. No Brasil, os guarani formam o maior contingente étnico do país, com cerca de trinta mil representantes.
Segundo Clastres, H. (1978) articulando dados de cronistas com dados etnográficos contemporâneos, toma o profetismo Tupi-Guarani como tema central de análise, desenvolvendo a hipótese de que as crenças na “Terra sem Mal” e as migrações em direção a este paraíso são intrínsecas à cultura guarani. Nesse sentido, os guarani, na busca desse mundo perfeito, migravam frequentemente. Atualmente, os guarani, impossibilitados pelo contexto sócio-político, deixaram de ser sujeitos de ação, que migravam em busca do “paraíso” passaram a ser pensadores, tendo a Terra sem Mal como tema essencial de  sua reflexão e de seus discursos nos rituais. Pg-36.
Quando a autora utiliza como justificativa a não migração por uma questão sócio-política, está se referindo as dificuldades que os guaranis possuem em encontrar  espaços que possam vivenciar o jeito guarani. Devido as pressões sociais, ou seja, redução de em decorrência de projetos como vem ocorrendo na aldeia situada no morro dos cavalos, no município de Paulo Lopes, com o projeto de duplicação da BR 101, os mesmos são impedidos de migrarem devido a inexistência de terras para perpetuarem sua cultura.
A religiosidade é a subsistência da sociedade guarani e é a sua relação com os deuses que os mantêm com Eu coletivo. O desejo de abandonar um mundo imperfeito continua a organizar a vida e o pensamento da sociedade. Entre os cultos adotados, desenvolvem rezas noturnas. Há uma linguagem sagrada, crenças nas divindades, utilizada na conversação com NHANDERU e a existência de uma estreita relação entre rezas e medicina.
Quanto às cerimônias fúnebres, vale a pena ressaltar algumas peculiaridades acerca dessa prática entre os Xokleng do tronco Jê e os Guarani, do tronco Tupi-guarani. Os Xokleng, após a cremação, as cinzas do indivíduo é  depositada no interior de um buraco redondo, forrado com cascas e folhas de árvores. O buraco é coberto por terra, sobre o qual é construído um rancho. Entre os guarani do sub-grupo MBYÁ, o cemitério é localizado em meio a uma plantação, e sobre o túmulo são depositados os pertencentes do indivíduo falecido.
A musica entre os MBYÁ representa a comunicação entre os guarani, as divindades e os ancestrais.  É visível as conexões entre música, dança, corporalidade e saúde no xamanismo guarani. Os guaranis acreditam que são portadores de duas almas, uma relacionada aos espíritos celestes e a outra a algum animal, ambas não podem ser corrigidas via educação. Consideram que o gênio da criança é inato e que seu caráter não pode ser melhorado. Há uma descrença na eficácia de métodos de ensino em relação ao desenvolvimento psíquico moral da criança e na possibilidade de intervenção neste processo, e o conseqüente fato de criarem-nas de forma livre, independente e sem repressão.
Os guarani acreditam que a alma já estava pronta, mas que o pajé tem que identificar de que região ela veio e o momento de sua chegada na terra. Para isso dirige-se às potencias celestiais, entoando cantos apropriados a cada uma delas e indaga a procedência de sua alma e qual será seu nome, o que depende do fato de ele ser originária do ocidente, do zênite ou do oriente.
Outro elemento importante acerca da sociedade guarani é em relação ao seu aprimorado conhecimento na arte de produzir cerâmicas. Qual o segredo dos mesmos quando da confecção de artefatos, principalmente urnas funerárias que resistiram séculos e séculos em um clima e solos tão adversos como o litorâneo? Novamente, é importante salientar que esta atividade, ou seja, a produção de cerâmicas era tarefa das mulheres.
Nos últimos anos vem crescendo os achados arqueológicos na região em decorrência de atividades agrícolas ou projetos, como construção de rodovias, fixações de barras, etc, abrangendo áreas ocupadas por sítios indígenas. Um dos grandes avanços da legislação brasileira, no campo da arqueologia, determina que na execução de grandes ou pequenos empreendimentos, caso seja detectado a existência de  sítio, deverá se processar um estudo prévio do mesmo. Sendo comprovada sua eficácia histórica, o empreendimento poderá ter sua execução cancelada definitivamente.
Na região de Araranguá, são inúmeros os possíveis sítios existentes. Acredita-se que a partir do achado do Morro dos Conventos, futuros estudos sobre os povos, tanto os dos sambaquis como os guaranis e outros sejam feitos, esclarecendo um pouco mais os mistérios que cercam essas comunidades que habitaram essas terras em tempos remotos.

Oficina de artefatos cerâmicos guarani no bairro Morro dos Conventos

Com o objetivo  celebrar o dia do  “índio”, a escola E. E. F. Padre Antônio Luiz Dias do bairro Morro dos Conventos, Araranguá SC, promoverá dia 19 de abril uma oficina com artefatos cerâmicos guaranis. A proposta é trazer para a escola um pouco do que resta da história de uma população que habitou essas terras em tempos remotos e que foram totalmente dizimadas com  a chegada dos colonizadores.
Pouco se sabe sobre a história/memória desses povos. Sendo assim a oficina proporcionará aos (as) estudantes e professores (as) um conhecimento das tecnologias e técnicas adotadas pelos mesmos na confecção de artefatos de uso doméstico, a saber: jarros, vasos, urnas, panelas (utensílios utilizados na alimentação, como também urnas, usadas em rituais fúnebres.
Antecedendo a oficina, serão desenvolvidas atividades preparatórias com os profissionais da educação com aplicação de textos objetivando a discussão da temática. Cabe salientar, que a referida oficina está inserida no projeto Memória Local que a escola vem desenvolvendo desde 2008, o que instiga também a busca da pesquisa e a produção do conhecimento.
Com o início o projeto Memória Local na escola, procurou-se delimitar um período cronológico específico  como expoente da história do bairro, ou seja,  a partir da chegada das famílias de açorianos, luso-brasileiros e italianos, esquecendo-se que a história/memória do bairro é muito mais antiga, fato esse comprovado com a descoberta no bairro de uma urna funerária indígena datada entre o século XV e XVI. Além desse artefato, outros elementos, como fósseis e artesanatos foram encontrados na furna do Morro dos Conventos, revelando a presença e riqueza cultural desse grupo no bairro, na história de Araranguá e litoral catarinense.
O objetivo da oficina é tentar romper a visão da tradicional da história ensina na escola, que molda o “índios” como sujeitos homogêneos, descaracterizando sua matriz cultural plural.
Desenfantilizar o conhecimento a cerca desse povo é função da escola, possibilitando reflexões maduras que permite o professor em suas práticas não correr o risco de pintar  o rosto das crianças e colocar cocar para comemorar o dia do índio, acreditando que assim estará contribuindo na divulgação da memória indígena. Como sabemos, muito pelo contrário, na verdade o educador e educadora estarão contribuindo para a deseducação da sociedade em relação a cultura indígena.  
 Para a realização da oficina buscar-se-á no bairro e proximidades os materiais como argila, quartzo para a produção dos artefatos. A finalidade específica da oficina é incorporar em um dia o cotidiano desse povo, observando as habilidades dos mesmos na arte de produzir artefatos. Após a realização da oficina será feita uma exposição dos mesmos na escola e irá se criar um acervo para sua conservação.
Com essas práticas na escola, estamos estimulando a criatividade dos (das) estudantes e exercendo a educação patrimonial, preservando a memória e identidade indígena e dos demais povos que nos antecederam.  

O cotidiano Guarani Representado na Escola

No dia 19 de abril, a Escola de Educação Básica Padre Antônio Luis Dias, dando continuidade ao projeto memória local,  realizou uma série de atividades em comemoração ao dia do índio.  A idéia de promover o evento intitulado cultura indígena, envolvendo estudantes e professores, ocorreu no período em que a escola participou de uma exposição do seu trabalho, de 24 a 12 de abril, nas dependências do centro cultural de Araranguá
Na abertura da exposição, a escola foi agraciada com um artefato indígena, ou seja, uma urna funerária, encontrada no bairro morro dos conventos no início da década de 1990, quando, na escavação para instalação de uma fossa doméstica, moradores se depararam com o referido artefato.

 No período, quando a urna foi encontrada, o município de Araranguá não possuía um local adequado para sua acomodação. Com a constatação de  que o projeto  “Reconstrução da Memória Local do bairro Morro dos Conventos, no seu texto originário, fazia apenas referência à cultura dos povos de etnia luso-brasileira, açoriana, italiana entre outros, não incluindo os primeiros habitantes da terra como os povos do sambaquis, guaranis, entre outros grupos,  foi necessário que se processasse a urgente reformulação do texto acrescentando, agora, a temática indígena, em especial os povos guaranis, que tinham o litoral sul brasileiro e mais precisamente a região de Araranguá como área de sobrevivência.
A existência dos respectivos grupos indígenas em terras araranguaense somente puderam ser comprovadas através de achados líticos – pontas de flechas, cacos de cerâmica ou em muitos casos, urnas funerárias quase intactas. Não foram encontrados nessas terras remanescente desses grupos, mesmo sabendo que com a chegada do homem branco a população local era relativamente grande e cuja subsistência dependia da pesca, caça e agricultura.
Pode-se acreditar, sem sombra de dúvida, que houve um verdadeiro genocídio em relação aos primeiros habitantes dessas terras. Muitos, ou seja, milhares foram mortos em enfrentamentos com os imigrantes europeus ou capturados para serem comercializados como escravos nas áreas produtoras de cana de açúcar do nordeste. Os que sobreviveram aos ataques dos bugreiros ou os que fugiram dos cativeiros, não tiveram tanta sorte pois foram atacados pelas doenças como a gripe e o sarampo, responsáveis pelo extermínio.
Não eram somente os bugreiros os responsáveis pela caça ao índio, também eram recrutados outras pessoas, como as pobres para tal iniciativa.
Quando ocorriam os ataques nas aldeias, especialmente a noite ou ao amanhecer, quando estavam dormindo, aqueles que não eram mortos de imediato, corriam para o mato, escondendo-se. Crianças e mulheres eram capturadas e encaminhadas às cidades, sendo as crianças, muitas delas ficavam sob  proteção de alguma congregação religiosa, que intermediavam sua doação às famílias interessadas. As crianças, quando adultas, seriam utilizadas como mão-de-obra junto as famílias doadoras. No que tange aos instrumentos empregados para “caçar” índios, o facão era principal arma, que servia também entre outras coisas, para abertura de picadas, etc. Sabe-se que os índios, como os Xoklens, não conheciam o aço, portanto não sabiam confeccionar esse instrumento. Os bugreiros, como os demais caçadores de índios, nas suas investidas na caça, para suportarem as tensões e a extensa permanência no mato, ingeriam muito álcool. Portanto, pode-se ter uma idéia do comportamento dos caçadores quando ao ataque nas aldeias.    
Com a exposição na casa da cultura, muitos dos visitantes que lá estiveram, principalmente estudantes, questionavam sobre o artefato, querendo mais informações sobre o mesmo, sua produção e  finalidade.
Como se sabia que o dia 19 de abril seria comemorado o dia do índio, em reunião com os professores do colégio, decidiu-se que na data específica seria trabalhado o tema em questão, adotando-se uma metodologia que inserisse todos os sujeitos da escola  no projeto.
Era necessário e urgente desconstruir o imaginário que expressiva parcela dos  estudantes e professores tinham acerca dessas culturas, que interpretavam os povos indígenas como um povo homogêneo, que continuam vivendo no mato, sendo selvagens,  possuindo terras abundantes, sem produzi-la, portanto, considerados vadios.
Para elucidar tal afirmação é imprescindível citar fragmentos de um texto encontrado no “Manual do Ensino Primário” de autoria de Miguel Milano, primeira edição, adotado pelas escolas públicas em 1937 - paginas 125 e 126. Segundo o autor, em relação a alimentação e as guerras: “alimentavam-se de fructas, raízes, caça e pesca, havendo alguns que comiam carne humana. Viviam sempre em lucta uns com os outros, sendo a guerra feita de surpreza, em grande desordem e com horrível gritaria”.
A expressão comer carne humana, na citação acima, é uma demonstração clara ou de desconhecimento ou de discriminação acerca dos seus costumes, de que os índios eram verdadeiros selvagens e que precisavam urgentemente serem incluídos no mundo dos “civilizados”; desconsiderava, com esse argumento, o aspecto religioso dos mesmos, no qual o ritual de comer carne humana, prática comum entre os índios do subgrupo tupi-guarani, estava imbuído de profunda religiosidade.  O ritual de “canibalismo”, como é erroneamente conhecido, somente ocorria quando da ocorrência de conflitos entre grupos rivais. Havendo montes nos combates, que na maioria das vezes não ocorriam, o (os) guerreiros, através de rituais, sua carne servia de alimentos para os demais membros do grupo, acreditando que o espírito do mesmo seria absorvido pelos demais membros.
Na mesma frase o autor quando diz que os índios viviam em constante guerra é uma interpretação um tanto quanto simplista, levando a entender de que os mesmos eram como bichos, portanto perigosos, selvagens. Omite o autor, ingenuamente ou propositalmente, a investidas dos caçadores conhecidos como bugreiros, que na calada da noite atacavam aldeias, destruindo-as, matando ou capturando os nativos do sexo masculino. As mulheres e crianças sobreviventes eram adotadas pelas famílias brancas como ato de caridade. No entanto, as crianças sobreviventes aos ataques de bugreiros  sobreviviam, pois morriam assoladas por doenças fatais, em decorrência da inexistência de aticorpos – defesas naturais – para proteger-se de doenças comuns para os brancos, mas para os índios, eram fatais.
Na pagina 126 o autor afirma: “...os índios falavam uma língua muito differente da nossa. Não tinham religião; adoravam animaes, pedaços de páu, o sol, a lua e as estrellas. Tinham grande medo do trovão, que denomiavam tupan ou deus do raio”.
Observa-se nesse parágrafo o profundo desconhecimento ou desrespeito a religiosidade dos índios. Pois, para o homem branco o conceito de religiosidade é atribuída a cristianismo, ao deus único, unipresente, unipotente, responsável pela criação do universo e por todas as coisas existentes e responsável pela salvação da humanidade. No entanto, consideravam os religiosos que vieram com a comitiva portuguesa os povos nativos de impuros, pecadores e que deveriam, urgentemente, serem integrados no mundo civilizado, que os “libertaria da selvalgeria”.  Omite o autor de que foi com a chegada dos religiosos e redentores cristãos, pregando a palavra do deus único, salvador, que proporcionou o verdadeiro genocídio no continente americano.
...Os pagés eram indios velhos, que viviam isolados, em furnas escuras, sendo considerados adivinhadores e feiticeiros... Os índios pouco trabalhavam, porque não possuíam os instrumentos necessários para combater a natureza..
Novamente vemos o profundo desrespeito aos indivíduos mais experientes dos grupos indígenas, muitos desses eram dotados de enorme sabedoria e que eram responsáveis pela educação dos mais novos. Por são possuírem uma cultura letrada, a educação se processava e em muitos casos ainda hoje ocorre através da oralidade, da narrativa, dos contos e das lendas.
Quando o autor expressa o termo feiticeiro, deixa explícito sua repulsa aos mesmos, considerando-os sujeitos possuídos por forças malignas, na concepção cristã, demônios. A “libertação” desses “impuros” somente se faria pela conversão dos mesmos ao cristianismo.
Como pode afirmar o autor que os índios não trabalhavam. Se havia no Brasil, anterior a chegada dos portugueses aproximadamente 5 milhões de índios, sua sobrevivência dependeria do seu “trabalho”. Mais uma vez, era de desconhecimento do autor que expressiva parcela dos grupos indígenas brasileiros tinham sua sobrevivência baseada na coleta de frutos, caça e pesca, pois quase totalidade do território brasileiro era ocupado por imensas florestas. Com exceção a certos  povos e especialmente aos guaranis do sul do Brasil que adotavam uma agricultura insipiente de subsistência.
Quando o autor se refere ao combate a natureza, deixa claro sua cultura exploratória, degradadora. Foi realmente o que fizeram quando atingiram o litoral brasileiro, extraído discriminadamente o pau Brasil para ser comercializado na Europa. Hoje não é diferente, tanto a mata atlântica como a floresta amazônica, sua fauna e sua flora, continuam sendo destruídas, para implantação de projetos agrícolas e de usinas hidrelétricas, ameaçando a sobrevivência dos remanescentes indígenas que lá habitam.
 Para abordar toda essa problemática, tratou-se de selecionar textos ou vídeos específicos ao tema, cujo propósito era abastecer os professores e estudantes com informações críticas e das mais variadas possíveis, esclarecendo que a cultura indígena é plural, sendo ela muita vasta e rica. Informá-los, também, que no Brasil, com a chegada dos portugueses habitavam nessas terras aproximadamente cinco milhões de pessoas, falando mais de cento e cinquenta línguas e que atualmente, após de 510 anos de ocupação, são aproximadamente trezentos mil o número de índios existente, falando um pouco mais de 100 línguas.
É importante frisar também, que expressiva parcela desses indivíduos vivem em reservas, demarcadas pelo governo federal, muitas das quais insuficientes para que os mesmos supram suas necessidades básicas. Muitas das reservas estão situadas em áreas de interesse ou de garimpeiros ou de agricultores, sendo o manejo dessas atividades, totalmente insustentável, destruindo a floresta, poluindo os rios, matando os peixes, os espíritos,  colocando em risco todo o ecossistema local.
Além dos vídeos apresentados, foram realizadas narrativas ou contos, interpretando as lendas ou histórias de algumas nações indígenas, sendo elas: lenda da cobra grande, lenda da mandioca, origem das estrelas, história do guaraná, lenda da erva mate, lenda do currupira e lenda do diamante, salientando que a cultura desses povos está repleta de misticismo, cuja sobrevivência depende da preservação desses rituais.  
A dança, como não poderia ficar de fora, também fez parte do evento. É impossível pensar em cultura indígena sem levar em consideração a música e a dança. Esses elementos, incluindo as lendas, estão intrinsecamente repletos e sabedoria. São ritos de agradecimentos, de iniciação, que dão vigor para mantê-los integrados ao grupo.  
Após assistirem os vídeos e as narrativas e compartilharem a dança, os estudantes participaram de uma oficina cerâmica guarani. O objetivo da oficina, era mostrar aos mesmos que esta atividade exigia de seus executores certas habilidades e que dentro da cultura guarani as mulheres eram as que possuíam.
Para a realização dessa atividade, procurou-se seguir todas as etapas utilizadas pelos guaranis até a conclusão dos artefatos. A primeira etapa foi saber o local onde se poderia encontrar e extrair a argila, ou seja, a mesma deveria estar próxima ao local em que foram encontradas os artefatos, como a urna funerária.  O segundo momento seria processá-la, amassá-la,  para a construção dos artefatos desejados.
Percebe-se que durante a confecção dos artefatos cerâmicos, poucos foram os estudantes que realmente demonstraram habilidades, pois imperou entre os mesmos extrema ansiedade de querer concluir rapidamente.   Outro fato que marcou a oficina foi a diversidade de objetos confeccionados pelos estudantes. Já que a temática era cultura indígena, fosse prestada atenção aos objetos dessa cultura. No entanto, após realização da oficina, raras foram as peças significativas ao tema. Havendo uma mistura de cultura nos objetos confeccionados.
Que técnicas adotavam as mulheres guaranis, na confecção das peças cerâmicas, pois, muitas das que foram encontradas, continuam quase intactas, resistindo séculos de adversidades geoclimáticas.  Onde está o segredo, na qualidade da argila utilizada, na forma como a mesma é processada. São dúvidas que muito dos participantes ficaram com a conclusão da oficina.
Com a finalização da oficina cerâmica, os artefatos foram colocados nas dependências da biblioteca da escola para qua, antes do ritual da queima,  ocorra  sua secagem.   
O evento interdisciplinar realizado na escola em comemoração ao dia do índio, contribuirá para que professores, nas suas aulas, aproveitem aquilo que foi desenvolvido no encontro para replanejarem suas atividades. A disciplina arte poderá se utilizar dos artefatos como flechas, adornos, cestos, balaios, canoas, esteiras, objetos cerâmicos e outros, conhecendo com mais profundidade o que representa para grupos indígenas cada elemento produzido. Trabalhará também as músicas e as danças e sua representação nos rituais de celebração e agradecimento. A ciência estudará a importância de certos produtos como o milho, a mandioca, o peixe e da caça na dieta desses povos, e o que representa as ervas no combate de enfermidades. Também estudará a biodiversidade das florestas em especial a atlântica e a Amazônia, conhecendo sua diversidade e os riscos que as mesmas estão correndo com a biopirataria. A língua portuguesa, entre outros temas trabalhará a língua, dando ênfase a oralidade, pois quase a totalidade das culturas indígenas não tinham a escrita como forma de expressão, mas sim, a comunicação oral. A geografia trabalhará o espaço onde essas culturas se constituíram, sua relação com o meio, ou seja, com a fauna e flora. A história trabalhará a evolução dessas culturas, seus processos migratórios até o momento da constituição dos povos atuais. A educação física contribuirá, na sua disciplina, com os rituais da dança e da guerra  e suas representações no desenvolvimento e aprimoramento do sujeito num todo.  


VISITA AO CENTRO CULTURAL DE ARARANGUÁ – EXPOSIÇÃO DA HISTÓRIA INDIGENA LOCAL.


No dia 18 de maio de 2010, os (as) estudantes da Escola de Educação Fundamental Padre Antônio Luís Dias do Bairro Morro dos Conventos, em continuidade ao projeto Memória Local, acompanhados pelos professores Jairo Cesa e Lucio Vânio, de história, Tessa Souza, de Artes, Daiane, das séries iniciais,  visitaram as dependências do Centro Cultural de Araranguá, para conhecerem a exposição referente as culturas indígenas no sul do estado, mais especificamente na região de Araranguá. 
A apresentação da exposição ficou a cargo do estudante de história da Unisul – Araranguá, Daniel, que com desenvoltura e conhecimento do assunto relatou informações inéditas dos primeiros habitantes da região, obtidas através de escavações arqueológicas recentes. Segundo Daniel, graças as escavações feitas no sul do estado, mais precisamente no município de Rio Fortuna, chegou-se a conclusão de que a presença humana na região data de aproximadamente dez mil anos atrás, povos denominados caçadores-coletores, que habitavam as encostas das serra geral. Foram encontrados vestígios mais recentes desses povos na região de Araranguá, nas proximidades do distrito de Hercílio Luz.
É importante salientar, segundo Daniel, que em Araranguá, são os sambaquianos, os povos que habitaram a mais tempo, ou seja, a aproximadamente oito mil anos atrás. Ainda hoje, são escassos os estudos realizados acerca desse povo, embora já se tenha demarcado possíveis sítios – casqueiros, na região. O que surpreende os pesquisadores são as causas que levaram o seu desaparecimento.
De acordo com observações realizadas pelos professores historiadores Jairo Cesa e Lúcio Vânio, no Morro dos Conventos, mais precisamente nas imediações do Farol, é possível que se estabeleceu um grupo de sambaquiano.
Essa hipótese é quase confirmada em decorrência da presença de grande quantidade de cascas de moluscos ou casqueiros, depositada em uma área semicircular  de aproximadamente 10 metros de diâmetro.
Embora esteja o casqueiro atualmente um pouco distante do mar, mas, de acordo com os estudos arqueológicos, o homem do Sambaqui, viveu a aproximadamente 8 mil anos. A essa data, o nível do mar era mais elevado, atingindo a base da falésia. Sendo assim, os sambaquianos, não precisavam se deslocar a grandes distâncias para buscar os moluscos, tinham apenas o trabalho de descer o morro do farol e coletar.   

É importante salientar que os vestígios encontrados são apenas hipóteses da presença dos sambaquianos no Morro dos Conventos. Cabe agora uma análise minuciosa do casqueiro para confirmar ou não a presença desse povo na região. 
Além dos caçadores-coletores e dos sambaquianos, também passaram por terras araranguaense, embora em menor número, os povos do tronco Jê, conhecidos como Xokleng e Kaygang. Era comum o deslocamento desses povos e possíveis contados de ambos durante o período que antecedeu a ocupação do território pelos portugueses.
Os povos kaygangs, que habitavam os campos de cima da serra, no verão, tinham por hábito migraram para o litoral na busca de alimentos. Esses deslocamentos, muitas vezes, resultavam em conflitos, principalmente com os guaranis que tinham essas terras como território demarcado. 

A presença Kaygang, em Araranguá, é confirmada através de vestígios encontrados no interior de uma furna localizada na base da falésia no bairro Morro dos Conventos.
No início da década de 1990, moradores e estudantes da escola do bairro, encontraram no local, fósseis que, após realização de análises, constatou-se que os mesmos pertenciam ao grupo Kaygang.
São os Guaranis, os povos de maior incidência na região. Sua presença data de aproximadamente novecentos anos atrás. O que diferencia este povo dos demais é sua sedentarização, ou seja, no momento que migravam, escolhiam um local apropriado, perto de um lago, lagoa ou do mar, para se fixarem, desenvolvendo no local o jeito guarani de ser.
Desenvolviam uma agricultura de subsistência, cultivando milho, mandioca, além é claro, da coleta de frutos e a caça de pequenos animais como macacos, capivaras e pássaros. 
O que destaca essa cultura é sua habilidade na confecção de certos e artefatos de barro.  Esses objetos eram confeccionados pelas mulheres e sendo utilizados para diversos fins, tanto domésticos como para rituais funerários.
São inúmeras, segundo Daniel, a quantidade de cacos cerâmicas espalhadas pela região. O Bairro Morro dos Conventos, não fica de fora. Pois em 1994, quando da realização de uma reforma residencial, trabalhadores encontraram uma urna funerária guarani quase intacta.
A mesma, atualmente, encontra-se exposta nas dependências do museu do Centro Cultural de Araranguá.
Além de visitar a exposição que retrata a cultura indígena no município, os estudantes aproveitaram o momento para conhecerem as vestimentas referentes à padroeira do município Nossa Senhora Mãe dos Homens que está exposta na parte inferior do centro cultural.

RECUPARAÇÃO DA MEMÓRIA ALIMENTAR DO BAIRRO MORRO DOS CONVDENTOS

No dia 27 de maio de 2010, a Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luís Dias, em continuidade ao projeto memória local, promoveu na unidade escolar palestra com a participação da Professora pedagoga e extencionista da Epagri, Marley Alborgueti, que abordou tema “Horta Escolar Orgânica e sua contribuição no processo nutricional das crianças”.
Para facilitar o entendimento acerca do tema, Marley, se utilizou de recursos áudio visuais, especificando as etapas de criação da horta, classificação dos alimentos quanto aos nutrientes e preparação do solo para o cultivo.
Durante a apresentação, foi solicitado que levantassem as mãos os estudantes que tivessem em casa uma horta. Constatou-se que, tanto no período da manhã quanto da tarde, o número de famílias com horta eram ínfimas. Portanto, não há na comunidade, e não sabemos exatamente os motivos, de não existir uma cultura voltada à produção e consumo de hortaliças.
Quando a palestrante abordava a forma conveniente de manejar o solo para o cultivo das hortaliças, o professor Jairo Cezar, solicitou permissão para comentar o trabalho realizado pelos estudantes sobre os povos guaranis que habitaram a região no passado. Segundo o professor Jairo,  as pequenas culturas ou pequenas hortas, já eram praticadas pelas populações guaranis que habitavam a região anterior a chegada dos colonizadores, e muitas dessas variedades conhecidas atualmente como o milho, tomate, batata-doce, cará, feijão, amendoim, mandioca, eram plantas selvagens e foram domesticadas pelos guaranis.
O que caracteriza a horta orgânica, entre outros aspectos, segundo a palestrante, é o seu cultivo sem agrotóxico, que proporciona maior teor nutricional.
Com a conclusão da palestra, tanto no período da manhã como da tarde, os estudantes se deslocaram para o local onde há um pequeno espaço destinado a horta, a fim de vivenciarem as informações obtidas na palestra.
No espaço em que se fará a horta, a palestrante aproveitou da existência no local de composteira para explicar como a mesma deve ser preparada corretamente para que produza o adubo de boa qualidade. Foi constatado que no interior da composteria já haviam minhocas, tanto nativas como as californianas. Segundo Marley, as minhocas desenvolvem uma importante função no solo, principalmente na produção de “humos”.
Além da composteira e do minhocário, a palestrante comentou acerca das inúmeras plantas existentes no local, principalmente sobre os canteiros desativados. Esclareceu a palestrante que, de acordo com o solo, compactação e teor nutricional, é possível saber quais as espécies de plantas que se desenvolvem no local.
Após comentários sobre o local que será desenvolvida a horta, a palestrante elaborou um pequeno esquema – mapa-croqui - de como o espaço para o cultivo das hortaliças deverá ser desenvolvida.
Acreditamos que, com a palestra, muitas dúvidas existentes acerca do cultivo e importância da horta orgânica foram superadas pelos presentes em especial pelos professores.
A partir desse momento, a escola junto com os educadores e estudantes participarão de forma interdisciplinar de um planejamento onde cada disciplina se utilizará de suas ferramentas metodológicas para a construção de um conhecimento participativo, envolvendo teoria e prática.   


Ritual guarani é representado na escola através da queima de artefatos cerâmicos

No dia 10 de junho de 2010, nas dependências da escola Padre Antônio Luís Dias, no período da manhã, os(as)estudantes da terceira, quarta, sétima e oitava séries, participaram de ritual de queima de artefatos cerâmicos guarani, confeccionados no dia 19 de abril, dia em comemoração ao indígena.
Antes do ritual da queima, foi aberto um pequeno buraco nas proximidades da escola sendo que no seu interior foi depositada lenha e os artefatos de barro.  
O processo que queima durou aproximadamente uma hora. As peças cerâmicas apresentaram uma coloração avermelhada,  
Com a queima, algumas dúvidas quanto as peças prontas foram sanadas, principalmente em relação a tonalidade escura existente no interior das mesmas e a camada avermelhada externa. Acreditávamos que essa camada avermelhada externa das peças, comparando-as com os fragmentos encontrados na região pela população, era uma espécie de tinta aplicada pelas índias guarani. Com a quebra de uma das peças, constatamos que a fina camada avermelhada externa é a argila que não sofreu o preteamento, que ocorreu no seu interior.   
No período em que os artefatos cerâmicos estavam secando para que fossem queimados, o professor Jairo Cesa, assessorou um grupo de alunos na confecção de uma urna funerária, cujo tamanho se assemelhou as encontradas na região.  
O procedimento adotado pelo professor e pelos estudantes na confecção foi diferente daquela adotada pelos estudantes no dia da oficina guarani. Procurou-se, na confecção da urna, adotar uma técnica que mais se assemelhava aquela adotada pelas mulheres guarani, ou seja, amassar o máximo possível a argila formando uma liga. 

Após a etapa de preparo da massa, foram feitas rosquinhas e colocadas uma sobre a outra até que atingissem o tamanho desejado.
Durante a confecção, constatou-se que, mesmo com laborioso preparo da massa, a urna apresentou pequenas fraturas, sendo as mesmas difíceis de serem sanadas. 

Após a secagem da urna e posterior queima, faremos com os alunos uma pequena simulação de como eram feitos os sepultamentos dos povos guarani.

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