Secretário
da Educação de Santa Catarina se utiliza de Mídia Pública para coagir diretores
e ameaçar trabalhadores da educação em greve
Depois de ter participado de reunião
convocada pela direção de uma escola estadual do Vale do Araranguá, onde a
mesma explanou aos/as professores/as o que relatou o secretário da educação, na
web conferência, acerca do projeto de Plano de Carreira e as ameaças aos
grevistas, me predispus a assistir integralmente o vídeo e propor algumas
considerações. Fiquei estarrecido o modo como o secretário conduziu sua fala, que
além de discriminatória e provocativa, sempre mesclada de ironia e ameaças
contra aqueles que desobedecessem a suas ordens.
Quem conhece um pouco da história
mundial e brasileira recente, têm na lembrança os discursos e ações declaradas
por estadistas, que para impor suas “verdades” sobre os demais, adotavam
práticas autoritárias como o fechamento do congresso, o controle do judiciário
e a censura à imprensa. Tomando essas medidas, o regime munia-se de
dispositivos como decretos e Atos Institucionais para impor a ordem social. O governo
do estado de Santa Catarina, através de seu secretário da educação, numa
situação clara de desespero diante da derrota acachapante na Comissão de Constituição
e Justiça, se refugia no interior de uma sala na capital, e usa como arma, a
mídia pública, para coagir diretores a agirem arbitrariamente contra trabalhadores
que estão em greve.
O vídeo divulgado da web conferência
deixa transparecer tal desespero do poder executivo, pois bem sabe o secretário
que na terça feira, 07 de abril, se o índice de paralisação no estado continuar
aumentando, os deputados, principalmente os da base aliada do governo, poderão
impor mais uma derrota ao executivo, colocando o secretário e a sua equipe em
uma situação escandalosa frente a sociedade catarinense. O abalo das estruturas
entre o poder executivo e o legislativo é tão nítido que pode ser conferido na
resposta do secretário quando afirmou que: “a
Assembleia Legislativa tomou uma decisão ouvindo apenas 10% da categoria, em
detrimento do professor efetivo. Ainda mais... o Sinte se equivoca quando
defende a valorização de quem ganhou mais, os que possuem nível médio.”
Em vários momentos, o discurso do
secretário se contradizia admitindo que o governo estava destinado duzentos
milhões de reais, dinheiro novo, para melhoria da carreira do magistério, e parte
desse montante para a recuperação e construção de setenta escolas novas e a
instalação de ar condicionados, que estão ainda nas escolas. Ao mesmo tempo em
que julgava importante investir em educação, sem distinção de categorias,
sustentava a opinião de que não seria possível “dar
um monte para todos/as, que isso não se sustentava que não havia recursos, que
a economia não estava reagindo”.
Em várias oportunidades lançou
advertência aos diretores que acionassem o Ministério Público e o Conselho
Tutelar, para que agissem com severidade contra qualquer um que obstruísse o
acesso de professores/as e estudantes no interior das escolas, bem como àqueles
que promovessem movimentos ou passeatas em prol da greve. Manifestou que não é
inadmissível que esse exemplo de educação, usando o estudante como “massa de
manobra” não seria tolerado pela sociedade. Que tal conduta não coaduna com a
construção de uma educação de qualidade no estado de Santa Catarina.
Quando leu a pergunta enviada por uma
das Gereds, que tratava sobre o risco do/a professor/a ACT, com 18% de triênio,
vir a perdê-lo com a aprovação do novo plano, sua resposta foi de indignação. “Como que esse professor ainda não foi
aprovado em concurso público?
Citou o último concurso realizado pelo estado, ocorrido há pouco tempo. A
tonalidade da voz do secretário irradiando surpresa diante do fato deixou
subtendida que o mesmo indagava a capacidade desse profissional, que há 18 anos
atua como ACT, sem ter tido sucesso nos concursos realizados. Quanto aos demais
benefícios assegurados aos concursados, como triênio, licença prêmio, etc.,
garantiu que não serão mexidos na nova carreira. No entanto, não pronunciou que
esses benefícios são assegurados por leis gerais para outras categorias de
servidores públicos. Entretanto, no pacote que trata sobre a reforma administrativa
prevista pelo estado, a tendência é atacar também esses direitos.
A respeito das aulas excedentes, que
permite ao professor completar sua carga horária, recebendo 5% a mais por aula,
o Sinte defende que o governo promova concursos cujas aulas excedentes poderão
ser preenchidas pelos novos concursados. Para o governo de estado, torna-se
mais econômico disponibilizar tais aulas excedentes aos efetivos ou contratar
novos ACTs. Com a efetivação, cujos concursos vêm se tornando cada vez mais escassos,
os custos com a folha de pagamento tornam-se mais dispendiosas para o
estado. Observe o que relatou o
secretário, como forma de desviar o foco em relação às aulas excedentes. Declarou
que Sinte “quer
que acabemos com a aula excedente porque quer colocar mais Até na escola”. Nada
disso, o que o Sinte quer é que ocorram mais concursos de acesso. Que não se
repita o mesmo episódio ocorrido no último concurso, quando o governo
descumpriu o regimento, permitindo aos aprovados o direito de acessar apenas 10
horas, não 20, 30 ou 40 horas, vagas existentes em muitas unidades escolares.
O que é digno de nota é que somando
todas as vagas excedentes disponíveis no estado, seria possível abrir milhares de
vagas para concurso público, reduzindo drasticamente a quantidade de
trabalhadores ACTs disponíveis. O secretário desdenhou o próprio Sinte
sugerindo que fosse substituído o nome Sinte por SINTACT (Sindicato dos
Trabalhadores de Caráter Temporário), devido ao excesso de selo concedido aos
de caráter temporário. Quanto ao segundo
professor, se o mesmo poderia atuar na falta de outro trabalhador, no caso do
professor que está em greve, disse que se tiver disposição na escola será bem
vindo.
Novamente, com referência aos salários
dos diretores reiterou que receberão os maiores vencimentos entre os demais servidores.
Portanto, “do
mesmo modo que o Sinte não admite sindicalistas pelegos do governo, o governo
não admitirá diretor pelego no sindicato”,
comentou o secretário. Essa postura de indignação tem relação com as denúncias publicadas
de que diretores estariam se escamoteando dando apoio à greve dos professores.
Diante de tais indícios, defende que o diretor tem de se posicionar
politicamente, o bem é gestor ou é sindicalista, e que deve se fazer respeitar
como diretor. Que o cargo de diretor, embora sendo escolhido pela comunidade,
ainda é de confiança do governador. Quando expressou que os/as diretores/as
atualmente são escolhidos pela comunidade, essa mesma comunidade se reduz aos
trabalhadores que atuam na escola, não aos pais/responsáveis, trabalhadores/as
em educação e estudantes como defende o Sinte. A proposta de gestão democrática
proposta pelo governo através de decreto assinado em 2013, é criticado pela
categoria porque ainda mantém preceitos conservadores que não elimina
definitivamente a relação de subserviniência
entre a escola e o poder constituído. No decreto, um dos critérios a ser
observado é de que o candidato deve comprovar curso de capacitação de 200 horas
de gestão. A proposta do Sinte, entre outras, é de que a capacitação seja
obrigação somente a partir escolha do gestor. O processo de eleição nas escolas
ainda terá desdobramentos polêmicos nos próximos meses, isso pelo fato da sua
decisão ter ocorrido por via decreto, não por legislação específica.
Discorreu também sobre a publicidade
divulgada pelo Sinte nos horários nobres da televisão expondo sobre os motivos
da paralisação da categoria. O secretário comentou que o sindicato está com
muito dinheiro. Valeu-se dessa situação para, mais uma vez, disparar críticas
contra o sindicato, na tentativa de insuflar a população e os demais
professores contra o movimento. O argumento utilizado é de que o dinheiro que
patrocina tais publicidades provém dos descontos da “contribuição sindical”,
mesmo para aquele que não são sindicalizados. O governo, na sua fala quando diz que o
dinheiro que patrocina a propaganda do Sinte é oriundo do imposto sindical, está
agindo de má fé. Não é verdade. O Imposto Sindical é um instrumento de
atrelamento dos trabalhadores ao estado criado na era de Vargas.
São recursos descontados
involuntariamente da folha de pagamento de todos os trabalhadores, uma vez a
cada ano, onde financiam sindicatos ou confederações sem qualquer histórico de
luta. O Sinte sempre se colocou contra essa política de desconto autoritário. O
processo de filiação no Sinte se dá de forma voluntária, sendo opção dos
trabalhadores. A cobrança desse imposto na iniciativa privada iniciou em 2009,
já em âmbito estadual, ocorreu a partir da revisão da lei trabalhista.
Conforme decisão tirada no IX Congresso Estadual do SINTE/SC, realizado em
junho de 2009, no município de Chapecó “É de responsabilidade do Governo
Estadual promover o desconto do Imposto Sindical da folha dos servidores;
é dele também a responsabilidade de distribuir esses valores conforme os
valores serão devolvidos aos trabalhadores em educação que comprovarem na
época a filiação e o desconto da contribuição sindical ao SINTE/SC, o
sócio poderá solicitar a restituição mediante requerimento especifico”. http://sinte-sc.org.br/trabalhadores-da-educacao/esclarecimentos-sobre-a-devolucao-do-imposto-sindical-2012-e-2013/
Continuou criticando a ALESC pela votação
da inadmissibilidade da MP 198, na terça feira passada, ratificando que os
deputados ouviram mais os ACTs que os efetivos. Que os riscos da proposta de
plano de carreira ser rejeitada pelos deputados é grande, que os legisladores
receberam abaixo assinado por 10% dos ACTs capitaneados pelo Sinte. Afirmou que
“hoje
na Alesc, o Sinte está ganhando tudo”.
Outro questionamento foi em relação aos professores em estágio probatório,
disse que quem está em greve, se constitui como servidor fragilizado, passivo
de demissão, que isso é uma decisão legal. Portanto, é necessário que a escola
esteja funcionando com normalidade, porque se a lei não for cumprida, quem
estar cometendo irregularidade é o próprio governo.
Sobre a ameaça de demissão dos/as
trabalhadores/as que estão em estágio probatório, mais uma vez o secretário
agiu de forma equivocada contra todos/as que estão nessa condição. São inúmeras
as leis que protegem os trabalhadores, especialmente os da iniciativa pública,
quando estão em greve. A primeira delas e a mais importante é a Constituição
Federal no seu artigo nove quando diz que é
assegurado o direito de greve,
competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre
os interesses que devam por meio dele defender. Com a deflagração da greve
pelos servidores, no caso específico o magistério público estadual de Santa
Catarina, é obrigação do governo, negociar, e não vir a público dizer que com
grevista não negocia. O segundo ponto a ser considerado na lei é que não é
possível retornar ao trabalho sem um acordo negociável entre empregador e
servidores. A lei também veta qualquer tipo se pressão do empregador contra o
servidor a não aderirem à greve, ou possíveis represálias como anotações de
faltas e cortes de salários, sobretudo quando o empregador sequer se predispôs
à negociação. http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FTodo-apoio-a-greve-dos-professores-da-rede-publica-do-Estado-de-Sao-Paulo%2F4%2F33160.
Em relação aos
profissionais em estágio probatório o direito de participação de paralisações
ou atos grevistas foi obtido mediante ação encaminhada ao STF pela confederação
brasileira de trabalhadores policiais civis, contra o decreto impetrado pelo
governo de alagoas que exonerou servidor nessa situação que participou de
greve. Embora o ministro e relator do caso Carlos Veloso, em 2005, tenha votado
pela improcedência do caso, ou seja, a favor do governo de alagoas, o julgamento
foi interrompido a pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. A decisão do
presidente da corte foi pelo deferimento da ação, que segundo a constituição
brasileira, não se pode fazer distinção entre servidores e servidores em
estágio probatório, em função de movimentos grevistas. HTTP://www.stf.jus.br/cms/verNoticiasDetalhe.asp?idConteudo=119670
Admito que
jamais imaginei que expressões quase em desuso - sindicato e professor pelegos
- fossem ditas por um cidadão público que está a frente de uma das secretarias
mais importantes da administração pública do estado, a educação. Como professor
da rede pública estadual por mais de trinta anos, sempre me detenho, quando da
abordagem de qualquer fato, levar em consideração os aspectos sociais,
políticos e econômicos do momento em questão. A intenção é mostrar que os fatos
relatados estão intrincados por uma vasta e complexa teia de interesses, tanto
de um lado quanto do outro. No entanto, é função do educador é guiar o estudante
à reflexão acerca dos fenômenos sociais, que consigam ler qualquer texto atento
às entrelinhas, aquilo que não é dito de forma explícita, mas subtendido.
Não foi dessa
forma que o secretario da educação atuou durante seu pronunciamento na web conferência,
onde sempre manteve um discurso parcial, unilateral, cujas perguntas enviadas
pelos expectadores eram rigidamente averiguadas e selecionadas por uma equipe
que o assessorava de tal modo a evitar qualquer constrangimento ao secretário e
ao governo. Quando se pensa e se fala em democracia, muito longe do modo como
se comporta o atual governo, é compreendido que o diálogo deve estar sempre
evidenciado, por ser um instrumento capaz de se chegar ao consenso acerca do
que é pretendido. A inexistência desse recurso, ou seja, a democracia, na fala
do secretário, vem se refletindo no interior de muitas de nossas escolas, onde
diretores, cargos de confiança, estão promovendo verdadeiro terrorismo contra
professores/as ACTs, em especial, com ameaças e assédios passivos de punição.
Para se ter
idéia do grau de repressão nas nossas escolas, que pode ser um dos motivos do baixo
índice de adesão ao movimento de greve, em uma das visitas realizadas pelo
comando de greve na região de Araranguá, a gestora teve a petulância de tentar
impedir que fossem tiradas fotografias no interior da unidade, para mostrar a
sociedade o descaso do governo com nossas escolas. É preciso libertar nossas escolas forças
opressoras indicadas por políticos da própria região, cujo critério na hora da
escolha é exclusivamente política e não capacidade técnica. Leva-se, na maioria
dos casos, apenas a filiação partidária e o número de votos conquistados para o
candidato vereador, deputado, senador, entre outros da base aliada.
É uma forma de
submissão tamanha que chega ao nível de ter que se humilharem, assistindo
caladas/os ameaças, atitudes talvez jamais presenciadas no seu cotidiano
familiar. Tal comportamento/passividade seria pelo fato dos altos salários que
receberão como prometera o secretário? Em uma sociedade pouco mais esclarecida
que a brasileira, essa postura do secretario seria motivo, muito mais que
justo, para uma demandada de todos/as os/as diretores/as, solicitando pedido de
demissão e, em seguida, o encaminhando coletivo de uma ação contra o secretário
da educação, por dano moral.
Prof. Jairo
Cezar
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