sábado, 31 de julho de 2021

 

PITAYA, FRUTA QUE ESTÁ TRANSFORMANDO A VIDA DE CENTENAS DE FAMÍLIAS NO SUL DE SANTA CATARINA



A cultura da pitaya está se notabilizando no sul de Santa Catarina como uma excelente alternativa às culturas tradicionais como o tabaco. Centenas de produtores conseguiram finalmente se libertar das amarras de grandes companhias fumageiras, que por décadas os tornaram reféns das políticas altamente impactantes aos ecossistemas e a saúde humana.  Em pouco mais de 10 anos a área de pitaya cultivada na região cresceu mais de cem por cento. Hoje são mais de duzentos hectares de área cultiva, trazendo rendimento capaz de garantir a subsistência das famílias envolvidas.

De uma ou duas variedades cultivadas no início da atividade, hoje já superam seis, reconhecidas e aprovadas pelos órgãos classificadores, a exemplo da Branca Comum, Golden Israelense, Vietnamesse white, Rabelonga, Pink, etc. As pesquisas nesse segmento evoluíram ao ponto de os produtores estarem cultivando em seus pomares variedades alto férteis, ou seja, aquelas que dispensam polinização manual. Por ser uma cactácea de clima tropical, originária da América Central, a pitaya é de fácil manejo, exigindo solos ricos em nutrientes, incidência de sol e temperaturas amenas.

Foto Jairo - mudas de pitaya de diversas variedades

A fruta está progressivamente conquistando o gosto da população, a cada safra mais e mais pessoas passam a conhecer e consumir a fruta. O que chama atenção nessa atividade é a radical transformação promovida às familiares de agricultores habituadas ao manejo diário de insumos químicos e técnicas mecânicas de cultivo. De repente começaram a compreender que é possível cultivar o solo sem impactá-lo. Dia após dia mais e mais agricultores se lançam a praticas sustentáveis de cultivo orgânico, agregando qualidade e valor.


Foto Jairo - Cobertura verde do solo

Com a obtenção da certificação orgânica, além de assegurar um preço mais compensador ao produtor, proporciona ao consumidor a certeza de estar adquirindo um produto saudável, livre de aditivos químicos. A organização dos produtores em cooperativas são iniciativas bem sucedidas para evitar práticas exploratórias dos atravessadores, pagando preços excessivamente baixos ao produtor.

A pitaya, no entanto, é uma fruta que se distingue de outras como a banana, mamão, que embora sejam colhidas prematuramente, o processo de maturação continua ocorrendo. A pressão do mercado e o desejo de obter mais lucros fazem com que o produtor de pitaya colha a fruta antes de sua completa maturação. Esse procedimento incorreto compromete a expansão da atividade, pois o consumidor ao experimentá-la irá reprová-la acreditando que o sabor ácido, típico da fruta ainda verde, é o padrão.

Parcela significativa da pitaya produzida no sul de santa Catarina abastece os mercados consumidores do sul e sudeste brasileiro. É incrível que ainda hoje são milhares de pessoas na região produtora que desconhecem ou nunca experimentaram a fruta. Outra constatação, os poucos locais que comercializavam a pitaya em Araranguá e Balneário Arroio do Silva, ambos possuíam em s suas gôndolas frutas inadequadas para o consumo.

Foto Jairo - Produção orgânica de pitaya - solo rico em nutrientes

Diante desse cenário nada favorável à atividade, a solução foi criar estratégias para elevar a taxa de consumidores, que por sua vez reverteria em preços mais compensadores. Usar as novas tecnologias de comunicação disponíveis se caracterizou como importantes ferramentas para divulgar a fruta. O sistema delívery, entrega em domicílio, se mostrou muito eficiente e que pode ser adotado em pequenas propriedades. 

Agregar valor à cultura da pitaya também vem se mostrando bem rentável. Além do consumo in-natura, a cactácea proporciona a elaboração de outros derivados como sorvetes, cervejas, pães, licores, vinhos, kumbuchas, vinagres, etc. Além do engajamento com cooperativas, os produtores de pitaya são assistidos pela EPAGRI de Santa Catarina. Profissionais da empresa agropecuária vêm oferecendo apoio técnico não só para a obtenção de frutos de elevado padrão comercial, mas também auxiliá-los na busca de mercados com preços mais justos. 


Foto Jairo - entrega de garrafas de Vinagre de Pitaya

 

A cada dia tanto os técnicos envolvidos no acompanhamento do ciclo produtivo quanto os produtores, ambos vem aprendendo juntos os segredos dessa rústica fruta tropical. Variedades mas resistentes e produtivas, melhor preparo do solo, tipos de doenças e pragas oportunistas são os desafios de toda uma equipe que atua nos bastidores. Os frequentes encontros, cursos, palestras, oferecidos aos produtores de pitaya lhes da garantia de empoderamento sobre o modo correto de lidar durante o ciclo produtivo dessa fruta.


Foto Jairo - algumas pragas que incidem sobre o pomar de pitaya

Depois de quase dois anos de encontros no formato remoto, no dia 27 de julho um pequeno grupo de produtores de pitaya tiveram reunidos no CETRAR/ARARANGUÁ onde participaram de um curso promovido pelo SENAR em parceria com a EPAGRI. Durante o período da manhã foi aprofundado os conhecimentos sobre práticas agroecológicas, incidências de doenças, pragas e estratégias de controles.

Foto Jairo - palestra sobre cultivo de pitaya orgânica

Sobre o manejo de doenças e pragas na cultura da pitaya, não há no Brasil nenhum agrotóxico autorizado para ser aplicado. Nesse sentindo o que resta ao produtor é a adoção de práticas alternativas. Para torná-las produtiva é imprescindível a compreensão do complexo conjunto ecossistêmico onde está inserida cactácea.


Foto Jairo - pitaya orgânica sem controle químico de doenças e pragas

O uso de adubação orgânica, como cobertura verde, por exemplo, são práticas com resultados promissores. Saber os fatores pelos quais favorecem a maior ou menor incidência de doenças e pragas no pomar é também importante.  Como tudo isso acontece na pratica foi verificada no período da tarde do dia 27 de julho quando grupo visitou um pomar de pitaya no município de Içara.

Foto Jairo - visita ao pomar de pitaya em Içara/SC

O município ainda é atualmente uns das líderes no estado no cultivo do tabaco. Alguns produtores, a exemplo dessa família na qual visitamos fez a transição da cultura do tabaco para a pitaya. Por anos ininterruptos o solo com cultivo de tabaco recebeu grande quantidade de insumos químicos e agrotóxicos. O resultado disso foi a impactação de todo o ecossistema, que necessitará de muito tempo para a revitalização do seu ciclo natural.  Um dos problemas enfrentados pelo produtor no solo ocupado anteriormente por tabaco é a incidência de nematoides no pé de pitaya. Nematoides são endoparasitas ou vermes, que permanecem grande parte do seu ciclo de vida dentro das raízes das plantas.

Foto Jairo - Cultivo de pitaya em área antes ocupada por tabaco

Recuperar esses solos degradados por práticas mecânicas repetitivas requer muita perseverança e conhecimento da dinâmica química, física e biológica dos solos. Isso  será possível estudando, pesquisando, dialogando, que é exatamente o papel desempenhado pelos profissionais da EPAGRI com os produtores de pitaya. O fato é que a pitaya ou fruta dragão está protagonizando uma extraordinária revolução no campo, provando que é possível, sim, com práticas de manejo sustentáveis do solo, obter resultados satisfatórios na produção e melhor qualidade de vida aqueles que produzem.

Prof. Jairo Cesa

           

  

 

 

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