PITAYA,
FRUTA QUE ESTÁ TRANSFORMANDO A VIDA DE CENTENAS DE FAMÍLIAS NO SUL DE SANTA
CATARINA
A
cultura da pitaya está se notabilizando no sul de Santa Catarina como uma
excelente alternativa às culturas tradicionais como o tabaco. Centenas de
produtores conseguiram finalmente se libertar das amarras de grandes companhias
fumageiras, que por décadas os tornaram reféns das políticas altamente impactantes
aos ecossistemas e a saúde humana. Em
pouco mais de 10 anos a área de pitaya cultivada na região cresceu mais de cem
por cento. Hoje são mais de duzentos hectares de área cultiva, trazendo rendimento capaz de garantir a subsistência das famílias envolvidas.
De
uma ou duas variedades cultivadas no início da atividade, hoje já superam seis, reconhecidas e aprovadas pelos órgãos classificadores, a exemplo da Branca Comum,
Golden Israelense, Vietnamesse white, Rabelonga, Pink, etc. As pesquisas nesse
segmento evoluíram ao ponto de os produtores estarem cultivando em seus pomares
variedades alto férteis, ou seja, aquelas que dispensam polinização manual. Por
ser uma cactácea de clima tropical, originária da América Central, a pitaya é
de fácil manejo, exigindo solos ricos em nutrientes, incidência de sol e
temperaturas amenas.
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Foto Jairo - mudas de pitaya de diversas variedades |
A
fruta está progressivamente conquistando o gosto da população, a cada safra
mais e mais pessoas passam a conhecer e consumir a fruta. O que chama atenção
nessa atividade é a radical transformação promovida às familiares de
agricultores habituadas ao manejo diário de insumos químicos e técnicas
mecânicas de cultivo. De repente começaram a compreender que é possível
cultivar o solo sem impactá-lo. Dia após dia mais e mais agricultores se lançam
a praticas sustentáveis de cultivo orgânico, agregando qualidade e valor.
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Foto Jairo - Cobertura verde do solo |
Com
a obtenção da certificação orgânica, além de assegurar um preço mais
compensador ao produtor, proporciona ao consumidor a certeza de estar
adquirindo um produto saudável, livre de aditivos químicos. A organização dos
produtores em cooperativas são iniciativas bem sucedidas para evitar práticas exploratórias
dos atravessadores, pagando preços excessivamente baixos ao produtor.
A
pitaya, no entanto, é uma fruta que se distingue de outras como a banana,
mamão, que embora sejam colhidas prematuramente, o processo de maturação
continua ocorrendo. A pressão do mercado e o desejo de obter mais lucros fazem
com que o produtor de pitaya colha a fruta antes de sua completa maturação.
Esse procedimento incorreto compromete a expansão da atividade, pois o consumidor
ao experimentá-la irá reprová-la acreditando que o sabor ácido, típico da fruta
ainda verde, é o padrão.
Parcela significativa da pitaya produzida no sul de santa Catarina abastece os mercados consumidores do sul e sudeste brasileiro. É incrível que ainda hoje são milhares de pessoas na região produtora que desconhecem ou nunca experimentaram a fruta. Outra constatação, os poucos locais que comercializavam a pitaya em Araranguá e Balneário Arroio do Silva, ambos possuíam em s suas gôndolas frutas inadequadas para o consumo.
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Foto Jairo - Produção orgânica de pitaya - solo rico em nutrientes |
Diante
desse cenário nada favorável à atividade, a solução foi criar estratégias para
elevar a taxa de consumidores, que por sua vez reverteria em preços mais
compensadores. Usar as novas tecnologias de comunicação disponíveis se
caracterizou como importantes ferramentas para divulgar a fruta. O sistema delívery,
entrega em domicílio, se mostrou muito eficiente e que pode ser adotado em
pequenas propriedades.
Agregar valor à cultura da pitaya também vem se mostrando bem rentável. Além do consumo in-natura, a cactácea proporciona a elaboração de outros derivados como sorvetes, cervejas, pães, licores, vinhos, kumbuchas, vinagres, etc. Além do engajamento com cooperativas, os produtores de pitaya são assistidos pela EPAGRI de Santa Catarina. Profissionais da empresa agropecuária vêm oferecendo apoio técnico não só para a obtenção de frutos de elevado padrão comercial, mas também auxiliá-los na busca de mercados com preços mais justos.
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Foto Jairo - entrega de garrafas de Vinagre de Pitaya |
A
cada dia tanto os técnicos envolvidos no acompanhamento do ciclo produtivo
quanto os produtores, ambos vem aprendendo juntos os segredos dessa rústica
fruta tropical. Variedades mas resistentes e produtivas, melhor preparo do
solo, tipos de doenças e pragas oportunistas são os desafios de toda uma equipe
que atua nos bastidores. Os frequentes encontros, cursos, palestras, oferecidos
aos produtores de pitaya lhes da garantia de empoderamento sobre o modo correto
de lidar durante o ciclo produtivo dessa fruta.
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Foto Jairo - algumas pragas que incidem sobre o pomar de pitaya |
Depois
de quase dois anos de encontros no formato remoto, no dia 27 de julho um
pequeno grupo de produtores de pitaya tiveram reunidos no CETRAR/ARARANGUÁ onde
participaram de um curso promovido pelo SENAR em parceria com a EPAGRI. Durante
o período da manhã foi aprofundado os conhecimentos sobre práticas agroecológicas,
incidências de doenças, pragas e estratégias de controles.
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Foto Jairo - palestra sobre cultivo de pitaya orgânica |
Sobre
o manejo de doenças e pragas na cultura da pitaya, não há no Brasil nenhum agrotóxico
autorizado para ser aplicado. Nesse sentindo o que resta ao produtor é a adoção
de práticas alternativas. Para torná-las produtiva é imprescindível a compreensão
do complexo conjunto ecossistêmico onde está inserida cactácea.
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Foto Jairo - pitaya orgânica sem controle químico de doenças e pragas |
O
uso de adubação orgânica, como cobertura verde, por exemplo, são práticas com
resultados promissores. Saber os fatores pelos quais favorecem a maior ou menor
incidência de doenças e pragas no pomar é também importante. Como tudo isso acontece na pratica foi
verificada no período da tarde do dia 27 de julho quando grupo visitou um pomar
de pitaya no município de Içara.
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Foto Jairo - visita ao pomar de pitaya em Içara/SC |
O
município ainda é atualmente uns das líderes no estado no cultivo do tabaco.
Alguns produtores, a exemplo dessa família na qual visitamos fez a transição da
cultura do tabaco para a pitaya. Por anos ininterruptos o solo com cultivo de
tabaco recebeu grande quantidade de insumos químicos e agrotóxicos. O resultado
disso foi a impactação de todo o ecossistema, que necessitará de muito tempo
para a revitalização do seu ciclo natural. Um dos problemas enfrentados pelo produtor no
solo ocupado anteriormente por tabaco é a incidência de nematoides no pé de
pitaya. Nematoides são endoparasitas ou vermes, que permanecem grande parte do
seu ciclo de vida dentro das raízes das plantas.
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Foto Jairo - Cultivo de pitaya em área antes ocupada por tabaco |
Recuperar
esses solos degradados por práticas mecânicas repetitivas requer muita
perseverança e conhecimento da dinâmica química, física e biológica dos solos.
Isso será possível estudando,
pesquisando, dialogando, que é exatamente o papel desempenhado pelos
profissionais da EPAGRI com os produtores de pitaya. O fato é que a pitaya ou
fruta dragão está protagonizando uma extraordinária revolução no campo, provando
que é possível, sim, com práticas de manejo sustentáveis do solo, obter
resultados satisfatórios na produção e melhor qualidade de vida aqueles que
produzem.
Prof.
Jairo Cesa