domingo, 30 de setembro de 2018



NEOLIBERALISMO E XENOFOBIA SE ESPALHAM PELO PLANETA

Imigrantes - centro de Estocolmo/Suécia

Quanto estive na Suécia há quatro anos era visível no semblante dos habitantes da capital Estocolmo certo ar de insatisfação dos cidadãos suecos frente ao crescimento vertiginoso do fluxo de imigrantes pobres espalhados por todos os cantos da cidade. Muitos cidadãos, especialmente os nacionalistas, responsabilizavam os governos pela situação. A preocupação com o aumento do fluxo migratório também era sentida nas vizinhas, Noruega e Finlândia, que juntas com a Suécia, “integram” o grupo dos países nórdicos com excelentes níveis IDH, porém ameaçados pela fúria neoliberal.  
É claro que a presença de estrangeiros no país aguça ainda mais a insatisfação de grupos extremistas, vinculados em partidos direitistas, dos quais defendem posturas mais austeras dos governos para controlar as fronteiras. Mas não é somente a imigração a causa da exacerbação de grupos extremistas xenófobos na Suécia. As reformas estruturais em curso, com cortes em investimentos sociais tendeu a intensificar o ódio conforme ia se intensificando as desigualdades sociais. Resultado foi o que já era de se esperar no último pleito eleitoral, com 17,5%, dos votos para os candidatos da extrema direita.
De acordo com pensador norte americano Neon Chomsky, o modelo econômico neoliberal teve a sua origem no começo da década de 1970, como reação do capitalismo aos avanços de categorias sociais até então desassistidas como mulheres, LGBT, negros, etc, que reivindicavam direitos. Como forma de frear tais ameaças, o mercado teve que se reordenar adotando políticas restritivas, rebaixando salários e reformulando sistemas de ensino público.
A participação do FMI e do BANCO MUNDIAL foi decisiva à formatação desse novo modelo de ensino ajustado à ordem produtiva descartável, com sujeitos dóceis e maleáveis. Com a concretização desse modelo produtivo altamente excludente, os lucros no mercado cresceram mais de 1000%, enquanto que os salários declinaram vertiginosamente.
Com a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, a economia seguiu um caminho tortuoso aumentando a leva de trabalhadores precarizados. Entre 2005 a 2015, a força de trabalho temporária na América do Norte atingiu 95%. O que se vê hoje é uma pulverização desse modelo de trabalho informal para além das fronteiras dos Estados. O capital financeiro especulativo vem agindo com força nos países periféricos e centrais, afrouxado relações formais de trabalho e enfraquecendo democracias. As reformas neoliberais em curso no Brasil na hipótese de vitória de candidatos não comprometido com investimentos sociais, a tendência é o agravamento do quadro de exclusão social.
 Temos experiências de sobra que comprovam que regimes autoritários não foram suficientes para solucionar problemas sociais históricos. O que se fez foi reprimi-lo, fechando sindicatos, censurando jornais, prendendo e torturando, como forma de tornar o caminho livre à aplicação dos programas desenvolvimentistas, que gerou um dos maiores endividamentos do Estado brasileiro. Mais uma vez é importante deixar claro que as causas do desarranjo das estruturas do Estado brasileiro têm como uma das origens a histórica cultura da corrupção, associada à forte dependência aos fluxos de capital especulativo externo.  
Uma gigantesca parcela da população desassistida em educação e saúde tenderia mais cedo ou mais tarde descambar no atual quadro de insatisfação e aversão as instituições republicanas. Se há insatisfação pelo modo como certos políticos se comportam, nosso dever de cidadão é expurgá-los da vida pública.
Por isso a necessidade de eleições em quatro em quatro anos. Uma democracia que se deseja ideal, deve ser construída por todos, a partir dos erros e acertos. Todas, até mesmo na Grécia, berço desse sistema, passaram por situações conflitantes.  Se houve erros cometidos por quem esteve à frente do poder, cabe a nós puni-los, escolhendo candidatos comprometidos com verdade, ética.
Há cerca de uma semana das eleições, o que se vê é um cenário de tensões gigantescas diante do fortalecimento da polarização de forças antagônicas. Num momento como esse, é necessário ter bom senso e capacidade de discernimento dos discursos, muitas vezes contraditórios, preconceituosos, que apregoam o ódio e a violência. Nosso futuro, dos nossos filhos e netos está em nossas mãos.
Na democracia quando elegemos um mau governo, podemos expurgá-lo na eleição seguinte. Agora, quando uma sociedade inteira tem esse direito suprimido, a exemplo do fascismo, nazismo e tantos outros regimes totalitários ainda hoje presentes em muitos países, nossa liberdade, nosso direito de ir e vir, de criticar, de reclamar, de falar, tudo isso deixa de existir. O medo, a dúvida e a desconfiança se tornam regras.  Quem quiser saber mais sobre esse terrível momento da história brasileira, basta ler Brasil Nunca Mais, da Editora Vozes, cujo prefácio foi escrito por Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arms.
Prof. Jairo Cezar
     

Um comentário:

  1. Creio que estamos muito proximos do surgimento de um estado totalitario no Brasil. Tiraram a Dilma, prenderam o Lula, não vão deixar a esquerda entrar pelas urnas novamente. Acredito que poderá acontecer 2 situações, ou golpe militar, ou mudança no regime de governo para o parlamentarismo. O pasSado voltara a se repetir.

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