sábado, 1 de setembro de 2018


ARMADILHAS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC) PARA IMPOR MUDANÇAS QUE IRÃO RETROCEDER O ENSINO MÉDIO PÚBLICO


Foto - acervo - Jairo

A fala do ministro da educação num dos telejornais de grande audiência nacional na noite do dia 30 de agosto, comentando os resultados da avaliação de proficiência no ensino público brasileiro, cuja média, segundo ele, chegou a “fundo do poço”, não surpreendeu quem vive o cotidiano de uma escola de ensino médio no sul de Canta Catarina. O resultado da avaliação pipocou também nas várias mídias convencionais e eletrônicas, como a revista Veja e o Diário Catarinense, esse último, edição n. 11.663, de 31 de agosto de 2018. Na página eletrônica da Veja, o ministro Rossieli Soares, procurou dar explicações a algo que estão tentando explicar há anos, porém, sem qualquer solução efetiva.[1]
Disse que a realidade do ensino médio brasileiro é catastrófica, que o mesmo chegou ao fundo do poço. Essa observação extremista do ministro deve ser interpretada com muito cuidado, pois, está oculto no seu discurso a intenção de capitanear o máximo de apoio da sociedade à implantação da nova reforma do ensino média, considerada mais excludente de todas. Mencionou o ministro que os péssimos resultados no ensino médio apresentados pelo Sistema de Avaliação da Educação (SAED), são porque o mesmo não é atrativo, que os estudantes não vêem sentido no que estão aprendendo.  Continuou afirmando que  “temos uma fórmula velha, que se pretende inclusiva, mas que, na verdade, é uma grande produtora de desigualdades”.
Mas essa é a estratégia das políticas educacionais em curso no Brasil, promover e expandir as desigualdades, pois é dessa maneira que se consegue perpetuar um sistema de poder reacionário, controlado por oligárquicas regionais históricas. Imaginamos uma escola pública que, de repente, passa  receber investimentos bilionários a exemplo das escolas dos países com níveis melhores de escolaridade. Num prazo de cinco ou dez anos, estaríamos colhendo os primeiros frutos desses investimentos, certamente com resultados melhores que os atuais nessas e outras áreas do conhecimento. É chover no molhado quando o ministro afirmou que: “precisamos trabalhar cada vez mais em cima de evidências científicas e parar de querer agir na base da adivinhação”.
Esse argumento é uma demonstração clara que o ministro, talvez também os demais membros do ministério, não conhecem ou jamais leram  as 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que abordam questões relacionas a pesquisa e a um ensino mais voltado à realidade dos estudantes, que isso motivaria sim a permanência na escola, gerando expectativa de futuro. O ministro também ressaltou que é necessário oferecer caminhos distintos para a aprendizagem, que é uma maneira de trazer mais jovens às salas de aula.  A pergunta que não quer calar: Nas escolas básicas particulares como essa proposta do ministro de caminhos distintos de aprendizagem seria interpretada pela comunidade escolar.  É óbvio que nenhuma área do conhecimento seria  rechaçada do currículo, muito pelo contrário, tentariam ampliar suas cargas horárias.
Nessas redes os estudantes desde os anos iniciais são estimulados a experimentar habilidades e conhecimentos que persistirão até anos finais do ensino médio. Não há currículo flexível como se pretende aplicar no ensino médio. Na realidade o que pretende o governo é promover um profundo desarranjo no currículo do ensino médio, focando na formação técnica, facultando estudantes de estudarem áreas importantes do conhecimento. Em termos comparativos ao buraco abissal no se encontra a educação pública brasileira, Santa Catarina se desponta entre os primeiros dos 27 estados em proficiência em português (3,22) e matemática (5,11), nas sérias finais do ( 9 ano) do ensino fundamental. Isso significa que de cada 100 estudantes que concluem essa série, apenas 3 apresentam suficiência em português e 5 em matemática.
Em escala nacional, os números apresentados pelo SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) revelam que de cada 100 estudantes que concluem o 3° ano do ensino médio em matemática, apenas três apresentam nível satisfatório de proficiência. A catástrofe se mostra maior em língua portuguesa, o índice chega a 1,7% !!!!. E olha que o Brasil é considerado a 8ª economia do planeta. De acordo com o coordenador  do observatório do Ensino Médio em Santa Catarina, Professor da UDESC, Norberto Dallabrida, segundo ele “a radiografia é muito negativa e não há perspectiva positiva. O ensino médio tem que entrar na pauta, é um gargalo muito grande”. Para o professor da UDESC,  o mesmo aponta algumas saídas para reverter o atual quadro crítico que é “focar na carreira docente, melhorar a infraestrutura das escolas, do currículo e da gestão”.
O professor Norberto tem toda razão quando afirma que sem investimento na profissão docente e em infraestrutura dificilmente o país sairá desse cenário pantanoso onde se encontra a educação. No entanto, a realidade mostra que governos que passaram e os que estão à frente da administração pública, jamais dedicaram atenção necessária à educação, embora o tema fosse ou prioridade nas plataformas de campanha. Os atuais candidatos que representam os partidos situacionistas ou base governistas vêm apresentando os mesmos discursos de outrora: educação, saúde, segurança com qualidade para todos/as. Afinal, quem acredita nessas balelas?
Quando o ministro da educação afirmou que precisamos trabalhar mais com evidências científicas, isso subtende que as escolas teriam que apresentar condições infraestruturais mínimas para estimular o gosto pela investigação, pesquisa. Não é mesmo? São raras as unidades de ensino públicas brasileiras que se encaixam nos padrões mínimos de eficiência estrutural e pedagógica. Muitas delas estão funcionando de forma precária, com ambientes interditados por não oferecer segurança. Laboratórios de informática, de ciências, quadras esportivas polivalentes, espaços para se proteger da chuva e do sol, nada disso existem ou quando existem, são precários. Vale a pena mais uma vez ressaltar o que foi escrito em artigo passado sobre o tema educação: se os níveis de proficiência em matemática e português foram melhores no estado catarinense que dos demais, isso se deveu a coragem e a ousadia dos educadores/as de conseguirem “tirar leite de pedra”.
E exatamente essa a metáfora que mais se encaixa a realidade catarinense, como dos demais estados brasileiros. Se dependesse exclusivamente dos recursos repassados pelo estado, nenhuma escola pública estadual estaria hoje funcionando. Quem garante o funcionamento são as contribuições voluntárias da comunidade através das promoções realizadas com periodicidade para arrecadar dinheiro. Não adianta pensar que revisando os livros didáticos “para moldar a novo fórmula”, como afirma o ministro, ira resolver o problema no ensino.
Na realidade a revisão do livro didático é mais uma fórmula sorrateira do governo para “engordar” as editoras de plantão, que irão faturar milhões de reais na comercialização desses materiais, entre outros. Todos/as sabem que somente elegendo governos e parlamentares comprometidos/as com educação, saúde, segurança, etc, será possível dar início a transformação que todos almejam. Claro que temos inúmeras opções entre os milhares de candidatos inscritos, basta pesquisarem. Mais uma vez não poderemos repetir erros antigos, elegendo ou reelegendo figuras carimbadas que tanto mal fizeram e farão para a educação, saúde e segurança do estado.
Prof. Jairo Cezar




[1] https://veja.abril.com.br/educacao/o-ensino-medio-esta-no-fundo-do-poco-diz-ministro-da-educacao/


Nenhum comentário:

Postar um comentário