FÓRUM
MUNDIAL DA ÁGUA: A ARTICULAÇÃO DE UM PLANO PARA A MERCANTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS
DA ÁGUA E A FRAGILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS
No ano passado, setembro de 2017,
ocorreu na UNIVALI (BALN. CAMBORIU) o IX Fórum Brasileiro de Educação Ambiental.
Além das inúmeras mesas redondas, palestras e oficinas que discorreram sobre temas
diversos relativos à problemática ambiental e possíveis alternativas. o Fórum
Mundial da Água, que ocorrerá em Brasília, entre dias 17 a 23 de março, teve
também ampla divulgação. Representantes do governo federal presentes em Baln.
Camboriu informaram que todas as escolas brasileiras deveriam promover suas
conferências infanto-juvenis durante o último semestre de 2017 em preparação
ao evento em Brasília.
O que não foi dito pelos porta-vozes
dos governos, durante a jornada, é que o Fórum terá como objetivo central articular
estratégias para a privatização das fontes naturais e dos serviços públicos envolvidos
no tratamento e distribuição da água. Convencidos das manobras que afetarão
bilhões de pessoas no mundo inteiro, entidades sociais, instituições de
pesquisas, representantes de comunidades tradicionais, se reuniram em
fevereiro de 2017 e criaram a FAMA (Fórum Alternativo Mundial da Água), que
atuará paralelamente ao FMA, para se contrapor as políticas entreguistas dos
recursos hídricos.
Na realidade há dados suficientes que
confirmam a remunicipalização ou reestatização dos sistemas abastecimento de
água e saneamento em muitas cidades no mundo inteiro, pelo fato das concessionárias
ou empresas terceirizadas não cumprirem com as metas estabelecias com o poder
público. E os motivos são os mais óbvios: tarifas abusivas;
descumprimentos de contratos, etc. No entanto, o capital continua
sua insistente jornada de apropriação dos recursos hídricos no mundo inteiro.
A cada ano meio trilhão de metros cúbicos de água são absorvidos por grandes
empresas. O fato é que hoje 90% desse volume são destinados para o abastecimento
agrícola, pecuária, bicombustíveis e especulação financeira.
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O Brasil hoje, 316 municípios, ou seja,
5,6% são atendidos por companhias particulares, que administram os serviços de
abastecimento de água e saneamento. São seis grandes empresas que controlam 95%
dos serviços de saneamento no Brasil. Entretanto, quando o assunto é água e
saneamento, na concepção do capital, o Brasil é visto como uma mina de ouro ainda
inexplorada. Com o progressivo problema da escassez
de água no planeta, a tendência é a elevação vertiginosa dos valores das
tarifas do setor, bem como do setor elétrico, que no caso brasileiro, depende
quase que exclusivamente da água das hidrelétricas. Para elucidar, nas últimas
décadas o consumo de água no Brasil cresceu duas vezes mais que a população. A
tendência é que até 2050 a demanda por água no Brasil crescerá 55%.
Há previsões nada otimistas de que em
2030 o planeta irá enfrentar um dos maiores colapsos de abastecimento de água.
O que preocupa é que a população não demonstra preocupação desse perigo, sendo
necessária intensa campanha de esclarecimento sobre hábitos corretos de consumo
e políticas públicas para a expansão do saneamento básico. Entretanto tais medidas se consideram
paliativas, pois não ataca à raiz do problema, que é o atual sistema de
produção que se nutre dessas contradições, das crises cíclicas do mercado.
O Fórum Alternativo Mundial da Água, em
Brasília, tem exatamente essa prerrogativa, trazer para a população a real
situação da água no planeta e denunciar a rapinagem do mercado, principal
protagonista da degradação das reservas existentes. O cenário da água e dos
demais recursos naturais é tão ameaçador, que o próprio Papa Francisco, em
2016, lançou encíclica “Louvado Seja” – O Cuidado da Casa Comum, uma
contribuição das igrejas cristãs voltada à sensibilização das pessoas sobre
os perigos que corre o planeta terra. É a água contaminada que mata hoje mais
de quinhentas mil pessoas por ano no mundo. O que é espantoso é que no planeta
80% dos países, as metas que vem sendo aplicadas sobre os recursos hídricos
são extremamente frágeis.
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A própria UNECEF defende que a questão
da água se constitui como um problema de gênero, que evolve mulheres e
crianças. Ambas consomem cerca de 200 milhões de horas coletando água todos os
dias. Ao mesmo tempo a feminização da pobreza vem crescendo progressivamente no
mundo inteiro. A ONU lançou relatório afirmando que 70% das pessoas em situação
de pobreza no mundo são mulheres, negros, latinos, indígenas e imigrantes. A não
realização das conferências preparatórias ao fórum nos estados e municípios se
esquivaria ou se esquivou de revelar tamanha brutalidade contra as mulheres devido
à escassez de água, bem como de possíveis denúncias contra o governo brasileiro
de estar articulando com grandes conglomerados do seguimento hídrico e de
saneamento, plano de privatização como ocorreu no seguimento elétrico, aeroportos,
portos, pré-sal e tantos outros.
O Brasil, que concentra as maiores
reservatórios de água doce do mundo, também concentra os terríveis descasos
quanto aos cuidados com esse recurso. Ao mesmo tempo em que 83,3% da população
brasileira estavam sendo atendidas por água encanada em 2015, apenas 50,3% dos
domicílios possuíam rede de esgotos. O que é mais grave é que apenas 42,7% de
todo o esgoto coletado é tratado. As populações mais afetadas pela falta de
saneamento são as que ocupam áreas irregulares e as comunidades tradicionais,
quilombolas e indígenas. Se a proposta do Fórum é discutir políticas de
mercantilização dos serviços da água, que sirvam de exemplo os municípios e
estados que terceirizaram tais serviços, cuja população teve baixa qualidade nos
serviços e a violenta degradação das relações trabalhistas daqueles/as que
atuam na atividade vinculada ao abastecimento hídrico.
Prof. Jairo Cezar
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