sábado, 31 de março de 2018


AS REDES SOCIAIS E O UNIVERSO PERIGOSO DA COMUNICAÇÃO ILIMITADA



Não é conveniente ao ser humano julgar fatos ou lançar opiniões quando sua mente estiver contaminada por sentimentos de ódio e raiva. Diferente das demais espécies vivas, o ser humano tem na sua constituição bio-psíquica elementos que o capacita às atitudes de livre arbítrio, negando ou escolhendo caminhos que queira seguir. No entanto, embora consiga canalizar parte de sua pulsação instintiva, lhe assegurando o convívio social, os desequilíbrios ambientais, crises econômicas, etc., podem resultar no aumento das pulsações involuntárias do cérebro, ativando latejos odiosos, raivosos. Foram necessário milhares de anos para que espécies hominídeas, caçadores e coletores, aprimorassem suas habilidades cognitivas e afetivas ao ponto de poder conviver em sociedade.
Como não poderia ser diferente, um complexo conjunto de regras escritas foram elaboradas, tornando possíveis o convívio entre indivíduos que apresentam sentimentos, comportamentos e concepções de mundo tão diversos. Entretanto, a vasta gama de ordenações normativas foi insuficiente para suscitar conflitos quase que intermináveis, muito dos quais motivados pelo desejo ofuscante de poder. As guerras, portanto, podem estar nelas as explicações do grau de humanização que a espécie sapiens sapiens ainda não atingiu. São evidentes os indicativos de que a espécie humana não terá tempo suficiente para completar seu ciclo evolutivo, pois, sua casa, o planeta terra, não irá proporcionar meios para completar o ciclo existencial.
Não há dúvida de que nos estágios cada vez mais curto de estabilidade econômica, os índices de conflitos sociais são bem mais discretos. O crescimento vertiginoso do desemprego, do desencadeamento violento de desastres ambientais e dos baixos níveis de escolaridade, associados às inovações tecnológicas, estão sendo hoje os vetores propulsores do ódio que, como um vírus, se espalha rapidamente. A tolerância que por milênios foi apregoada por correntes religiosas tradicionais, (cristianismo, islamismo, budismo, judaísmo, etc), vem, paulatinamente, perdendo forças, pelo fato de lideranças de tais agremiações estarem sendo contaminados pelo intolerante vírus do mercado.
Restabelecer a harmonia, o equilíbrio com os elementos da natureza e com o próprio eu existencial são atitudes que devem ser exercitadas incondicionalmente por todos e todas. Pode até ser um tanto piegas, démodé, aconselhar tais valores num momento de terrível instabilidade social e emocional que atinge o conjunto da humanidade. Não se deve esquecer que a espécie humana passou e passará por ciclos de instabilidade e estabilidade durante sua trajetória. O que preocupa é que nos quase quatro milhões de anos, momento do surgimento do primeiro hominídeo, a espécie hoje vive o seu desafio civilizatório máximo, reprogramar sua conduta existencial ou continuar a caminhada cega no planeta que resultará na sua própria extinção.   
A sociedade brasileira como outras sociedades que carecem de serviços essenciais, principalmente educação, serão as mais impactadas pelos frutos da modernidade. Para uma população onde mais de 80% apresenta baixos níveis de escolaridade, ou seja, não consegue ler interpretar o que escreve, ferramentas modernas como facebook, whatsapp, entre outras, se constituem como armas letais de destruição em massa.  Atualmente quais os conceitos lançados acerca dessas ferramentas tecnológicas? Que estão sendo utilizadas indevidamente, disseminando notícias falsas e apregoando o ódio entre indivíduos e grupos sociais.   
Será que esse comportamento odioso manifestado através das redes sociais são reações isoladas de uma pequena fração da sociedade acometida de algum tipo de patologia emocional, ou são reações espontâneas de um povo realmente violento, que por séculos foi forjado ou acobertado pelo mito do brasileiro cordial? Penso que aqui está a resposta às manifestações de hostilidade, rancor, destiladas contra pessoas que apresentam opiniões divergentes às suas.
Jamais o povo brasileiro pode ser concebido como pacífico, ordeiro, gentil, tolerante, como sempre se apregoou. A lista de justificativas que corroboram a favor dessa afirmação não muitas, com destaques a violência contra mulheres, negros, indígenas, homossexuais, etc. O Brasil é um dos primeiros do ranque em homicídios.  Morrem no Brasil mais pessoas vítimas de armas de fogo por ano que todas as mortes ocorridas na da guerra da Síria, desde o seu início.
O número de mortes não é ainda maior pelo fato de prevalecer à lei do desarmamento. Imaginemos agora centenas de milhares de pessoas saindo de um estádio de futebol ou dirigindo seus automóveis, todas munidas de arma de fogo, onde, de repente, se vêem envolvidas em atos de violência. Portanto, as redes sociais são pequenos lampejos refletidos da complexa conjuntura que tem no seu topo o Estado e todo seu aparato burocrático como desencadeadores da barbárie social.  
Como combater tudo isso? Não há receitas milagrosas para solucionar problemas enraizados na nossa cultura há séculos. Promover campanhas ou programas de auto-ajuda para difundir a tolerância e o amor ao próximo não vem se mostrando tão eficiente como se deseja. É claro que tudo isso se mostra ineficaz quando se tem no bojo da estrutura de poder elementos que incitam a desagregação, fracionando ou individualizando mais e mais os sujeitos ao ponto de terem de viver como reclusos nas suas cavernas existenciais. A internet e sua infinidade de opções interativas vêm transformando sujeitos passivos em anônimos monstros raivosos.  
Teclados de computadores, em mãos erradas, rapidamente podem se transformar em gatilhos de armas poderosas, onde através de simples toques com os dedos, produz estragos como se fossem batalhas em trincheiras. Informações ou notícias falsas, mal intencionadas, em minutos transformam pessoas ou grupos até então amados, idolatrados, em verdadeiros demônios. Qualquer assunto que se escreve principalmente temas relativos à política, futebol ou religião, que são comuns atualmente, dependendo como é escrito e quem a escreve, vira pretexto para o desencadeamento de uma guerra. Tem-se a sensação de que as pessoas permaneceram gerações aprisionadas dentro de casulos, que de repente, rompem-se a fechadura e surge à luz ofuscante, que cega, confunde. Estando libertos das mordaças, todos tendem a se sentir donos da verdade, juízes ao ponto de querer julgar e sentenciar quem quer que seja quando não estiver compatível aos perfiz desejados.
Prof. Jairo Cezar  

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