sexta-feira, 23 de março de 2018


DIA MUNDIAL DA ÁGUA TEM DE SER TODOS OS DIAS


Já é habitual o dia 22 de março quase todas as mídias brasileiras se aproveitarem do momento para dedicar atenção especial ao tema água e os problemas envolvendo esse recurso finito. O que se ouve ou lê nas páginas desses veículos noticiosos são reportagens geralmente repetitivas ou cópias dos anos anteriores, com denúncias sobre o aumento da degradação dos mananciais hídricos; das dificuldades dos governos e comitês de bacias em concretizar seus planos de gestão de recursos hídricos, etc, etc. Tornou-se também hábito, jornais trazerem cadernos especiais sobre a água, reportando situações calamitosas de mananciais ou um conjunto de bacias hidrográficas afetadas por diversos agentes poluidores.
Se crianças, por ventura, forem questionadas sobre a situação da água no planeta ou no seu bairro, rapidamente responderá que o cenário é bastante crítico. Dirá também que é preciso preservar, se consciência de que, por ser um recurso finito, vai faltar muito antes do que se imagina.  Nos últimos tempos quais são as noticias que mais ocuparam o tempo nos teles jornais diários, além, é claro, da violência? Aqui estão alguns exemplos: estiagem; racionamento de água; volume morto nas hidrelétricas; desmatamento irregular; esgoto contaminando mananciais; rompimento de barragens contendo produtos tóxicos; etc, etc. Não é mesmo? Portanto, são todos problemas previsíveis e que estão se repetindo a todo instante. Afinal todos esses problemas citados têm alguma relação antrópica, ou seja, influência humana?  
Não bastam apenas atos isolados de sensibilização sobre preservação da água, reunindo professores, estudantes, autoridades municipais, entre outros. Isso já virou quase um condicionamento, ato instintivo, tanto na semana do meio ambiente, dia da árvore, dia da água e outras datas significativas. Por que se faz necessária a critica? Durante os demais dias do ano, tem-se a sensação de que tudo que foi discutido ou desenvolvido nessas datas especiais não alterou em nada as atitudes depredatórias no ambiente escolar e fora dele. São necessários anos para construir hábitos de comportamento saudáveis. A escola tem um papel importante e desafiador, porém, essa tarefa deve ser compartilhada com toda a sociedade.
A razão pela qual os problemas ambientais relacionados aos recursos hídricos estarem se avolumando a cada ano, tais patologias estão associadas ao modelo mercantilista que esse produto assumiu e vem assumindo ultimamente. Pelo ponto de vista de algumas culturas como as indígenas, a água é concebida como um elemento sagrado, cuja proteção garante a harmonização com as forças da natureza. Para as demais culturas secularizadas, a água nada mais é que um produto disponível no mercado, na relação oferta e procura. Aqui pode estar a resposta que explica por que 4,1% (12 rios) possuem qualidade boa, entre os 230 diagnosticados nos 17 estados que integram a mata atlântica.    São 222 rios, ou seja, 75,5%, com qualidade regular, e 60 rios, (20%), cuja água não apresenta qualidade insuficiente todo tipo de uso, sendo rios considerados quase que mortos.  O rio Araranguá ou a bacia do Rio Araranguá pode estar inserido nesse patamar dos 20%.
Diante desse quadro quase catastrófico relativo aos recursos hídricos, a região que congrega as bacias do rio Araranguá, Urussanga e Mampituba/lado catarinense, vem se empenhando para reverter às demandas ambientais que tornam o extremo sul de santa Catarina uma das mais críticas do Estado. Além dos resíduos oriundos do carvão mineral, todo o complexo hídrico da região, superficial e subterrâneo, sofre outros efeitos contaminantes provenientes do esgotamento sanitário, extração de seixos, desmatamento e o uso abusivo de agrotóxico. A agricultura/rizicultura, também, vem se revelando como um dos pivôs de freqüentes conflitos pela disputa dá água com outros seguimentos da economia regional.
Do volume total dos 54% da água utilizada na agricultura em todo o estado, na região do extremo sul de Santa Catarina o índice destinado à atividade agrícola ultrapassa os 41%. Se não houver o equilíbrio da demanda de água na região do extremo sul, bem como o cumprimento de todos os dispositivos descritos no plano de gestão de recursos hídricos do Comitê da Bacia do Araranguá, é quase certo que num futuro bem próximo os integrantes do comitê, terão que se dedicar quase que exclusivamente em apaziguar conflitos envolvendo disputas por esse recurso.
As expectativas relacionadas à água para a região não são nada otimistas para os próximos anos, estando o líquido, a cada dia, se tornando mais limitado e com pouca qualidade para o consumo. Estão sendo cada vez mais freqüentes os ciclos de estiagens prolongadas com efeitos negativos nas recargas dos aqüíferos que alimentam o complexo hídrico da região. O descuido com os mananciais de abastecimento público, bem como dos reservatórios superficiais de água doce, como as lagoas da Serra, Caverá e Sombrio, que continuam sendo antropizadas, poderá levar Araranguá e os municípios que integram todo esse complexo hídrico a seguirem o mesmo caminho de cidades como São Paulo e outras do restante do Brasil que estão sob os efeitos de uma política de racionamento de água.
Prof. Jairo Cezar

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