quinta-feira, 25 de junho de 2015

Municípios que integram o Comitê da Bacia do Rio Araranguá sofrem descasos quanto as políticas de monitoramento e prevenção de eventos climáticos extremos.

Na visita do secretário estadual da defesa civil na região de Araraguá ouvindo atentamente o que falou em entrevista concedida a uma rádio do município, o que chamou atenção foi o modo otimista como abordou as demandas para o vale do Araranguá, região que nos últimos anos tornou-se palco de fenômenos climáticos extremas, cujas ações preventivas e mitigatórias prometidas comprovam o descaso das autoridades políticas locais e do próprio governo estadual à região. Tal afirmação está fundamentada em relatos divulgados pela própria equipe executora do comitê da bacia do rio Araranguá, onde participo como representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Educação da Rede Estadual e membro do conselho consultivo.
Nos últimos dez anos, depois da região sofrer os efeitos do Furacão Catarina e de outras anomalias climáticas extremas como enchentes e estiagens prolongadas, diversas foram as promessas de planos para a região como a aquisição e fixação de equipamentos para o monitoramento climático, bem como a capacitação de gestores municipais, treinamento e educação ambiental à população para atuarem na hipótese de eventos extremos do tempo. O que se vê no vale do Araranguá são políticas ainda paliativas, de pouco impacto social e sem qualquer garantia de sustentação. Para justificar a pouca eficácia dos planos previstos para a área da defesa civil da região, em 2008 foram obtidos recursos para a compra de 33 estações meteorológicas com tecnologias de ponta sendo que desse total apenas três estão em funcionamento.
É importante ressaltar que os respectivos fundos adquiridos não vieram do orçamento do Estado como fora prometido, mas graças ao empenho da equipe do Professor Daniel da Silva, do curso de engenharia ambiental da UFSC, com o projeto tecnologias sociais da água vinculada ao programa TSGA I (Tecnologias Sociais de Gestão da Água). O projeto atendeu algumas bacias do estado dentre elas a do Araranguá fomentado com recursos provenientes da Petrobras e executado pela EPAGRI e EMBRAPA. Na oportunidade quando o projeto foi apresentado na sede da CENTRAR/EPAGRI – Araranguá, representantes de organizações vinculadas ao governo do estado discursaram admitindo que com a instalação dos equipamentos a região de Araranguá seria referência estadual no preciso monitoramento do clima local assegurando informações que garantiriam à defesa civil e aos gestores públicos tomadas de decisões rápidas para amenizar os impactos provenientes dos eventos climáticos extremos.
Na última reunião do Conselho Consultivo do Comitê da Bacia membros da executiva fizeram desabafo relatando o descaso do governo com as estações meteorológicas, cujo funcionamento é deficitário pelo fato das baterias que alimentam o sistema estarem queimadas. São dados importantes que não são coletados e que compromete desse modo o acompanhamento diário dos índices de chuva, temperatura, vento, pressão atmosférica, entre outros indicadores. Para se ter uma idéia do tamanho da aberração, o custo orçado para a instalação de cada estação foi de 30 a 40 mil reais. Acontece que essas mesmas estações de alta precisão estão com o seu funcionamento comprometido devido a falta de baterias orçadas entre 70 a 100 reais. É isso mesmo, um valor que comparado com o custo da estação, é irrisório. Como conseguir tal recurso, o jeito é mendigar, solicitar apoio financeiro de entidades como vem fazendo os integrantes do comitê. 
Outro problema que combinado com escassez de recursos para reparo das estações é a falta de profissionais para a manutenção dos equipamentos. O governo em inúmeras oportunidades se manifestou prometendo, no entanto, ficou só na promessa e os problemas persistem. Talvez esse seja um dos motivos que levaram os governos a criação dos comitês das bacias, para se ver livres dos compromissos e transferir as responsabilidades financeiras e de gestão aos próprios comitês. Postura um tanto quanto irresponsável do Estado com os membros do comitê que se reúnem periodicamente e de modo voluntário, para deliberar ações que muitas vezes deixam de ser executadas por falta de recursos.
O governo recentemente divulgou através dos meios de comunicações que estão previstos instalações de novas estações meteorológicas pelo estado totalizando 67. Quanto as estações já fixadas em Araranguá os equipamentos comprovadamente danificados, quase todos, vão ser recolhidos e cujas peças em bom estado de conservação servirão para repor outras que estão funcionando. Há casos bizarros de estações como do bairro barranca, que foi danificada pelo fato de ter servido de alvo para armas de fogo. No próprio Iate Clube, morro dos conventos, o equipamento que tinha sido instalado também deixou de receber manutenção e desapareceu, possivelmente caiu no rio.
O que é estarrecedor é o fato que entre os anos de 2011 e 2012, datas historicamente comprovada as mais secas já registradas no estado de Santa Catarina, não houve o monitoramento eficiente dos índices pluviométricos na região que congrega a Bacia do Rio Araranguá. Na época, das 35 estações instaladas, apenas 10 ou 12 estavam funcionando. Em 2013 o problema persistiu. Somente em 2014 depois de tantas insistências foi possível a contratação de uma técnica para fazer o reparo dos equipamentos. No entanto os resultados das inspeções não foram satisfatórios pelo fato da técnica contrata ter de atender as estações distribuídas nas bacias do rio Tubarão a Araranguá.  Uma pessoa apenas não conseguiria atender tanta demanda e com o agravante da profissional estar residindo em Porto Alegre dificultando sua presença na região de forma mais efetiva. Para tornar mais eficiente as ações seria necessária a contratação de profissionais com atuação permanente.
Atualmente os serviços de previsões meteorológicas do estado e da região prestados pela EPAGRI/SIRAN e profissionais particulares, se utilizam, dentre outras meios como satélites, das informações colhidas diariamente dessas estações. Deve ser ressaltado que das 26 que foram restauradas, três repassam informações um tanto quanto confiáveis, como as estações do CENTRAR/EPAGRI, em Araranguá, do IPAT/UNESC e da barragem do rio São Bento, monitorada pela CASAN. Com toda precariedade infraestrutural comprovada, é digno de reconhecimento a competência profissional dos meteorologistas que ainda conseguem oferecer à comunidade, à defesa civil e aos gestores públicos, informações com mínima margem de erro sobre as manifestações do tempo.
Imaginamos agora se toda essa estrutura hoje deficitária estivesse funcionando com eficácia. Para suprir essa demanda, no vale do Araranguá as estações meteorológicas deficitárias foram substituídas por equipamentos alternativos, como pluviômetros, que embora não ofereçam resultados completos, proporcionam aos agricultores e demais profissionais ligados ao setor agrícola, dados importantes para se planejar acerca do momento do plantio e a quantidade de chuvas previstas para aquela estação. Os resultados embora não suficientes pela pouca precisão garante, por outro lado, dados que ajudarão no monitoramento das manifestações do tempo da região do extremo sul do estado.
               No discurso do secretário convém destacar alguns pontos que estão concisos com a política adotada pelo governador do estado em relação às defesas civis dos municípios catarinenses.  Disse que a preocupação é ajudar as prefeituras, garantindo a elaboração de plano de contingência municipal e o melhoramento das estruturas que permitem o monitoramento do clima através da instalação de equipamentos tecnológicos, e de modelagem hidrológica com informações mais confiáveis à população.
Sobre esse assunto o secretaria deveria saber que em 2011 esse assunto foi discutido em uma das assembléias ordinárias do comitê da bacia, quando da apresentação do projeto “sistemas de previsão hidrológica para a bacia hidrográfica do rio Araranguá”, cujo objetivo seria: “disponibilizar um sistema de monitoramento da rede hídrica e previsão de eventos extremos a partir do ajuste de modelos matemáticos hidrológicos e do acompanhamento quali-quantitativo da bacia do rio Araranguá” [1]. O que se sabe é que embora tenha havido posicionamentos favoráveis à proposta na época, a mesma não vigorou, o motivo talvez, como de outras tantas propostas abortadas, seria pela indisponibilidade de recursos, bem como o frágil empenho do Estado como agente motivador.  
Também prometeu que será disponibilizada uma plataforma web em que a população poderá baixar no computador ou smart-fone para receber informações e alertas de possíveis eventos climáticos extremos. Sobre esse sistema digital que munirá as pessoas com informações e alertas sobre possíveis eventos extremos, no mesmo projeto citado acima o autor destaca que a proposta apresentada visa monitorar a distribuição de precipitação e nível de rio na bacia do rio Araranguá; determinar níveis de referência (normal, alerta, atenção e emergência) e correlacionar com o monitoramento contínuo; diagnosticar e monitorar a qualidade da água do rio Araranguá; calibrar e validar um modelo hidrológico para estudos na bacia hidrográfica e ampliar a rede de monitoramento hidrológico e disponibilizar as informações via web[2]   
Destacou que o estado de santa Catarina em relação às políticas de prevenção de eventos climáticos extremos é referência no Brasil. O deputado que o acompanhou na entrevista, do mesmo partido do governador, disse que não são necessários investimentos caros para soluções complexas, que é só dotar a comunidade com informações necessárias. O secretário afirmou que as bacias deverão elaborar seus planos diretores com capacidade de promover estudos hidrológicos dos rios verificando a disponibilidade de água. Disse também que em 2013 todos os municípios que tiveram problemas decorrentes de enchentes e outras manifestações do clima foram atendidos com recursos do estado. Quanto ao questionamento acerca dos motivos de não ter sido realizado, entre 2004 a 2015, nenhum programa de treinamento à população para o enfrentamento de eventos extremos, a resposta do secretário foi de que o estado irá fazer. Para isso estão disponibilizados recursos orçados em três milhões de reais para eventualidades climáticas, capacitação, treinamento. Para a compra de novos equipamentos de alta tecnologia, os valores chegam a 25 milhões de reais. É preciso criar uma nova cultura, afirmou, de proteção do cidadão catarinense.
Outro aspecto que chamou atenção na entrevista foi de não ter em nenhum momento mencionado o problema da lagoa do caverá. Oportunidade importante para interrogar o secretário acerca dos últimos encaminhamentos da secretaria da defesa civil e do próprio governo estadual para o salvamento desse importante manancial. Estranho não estar essa demanda na agenda do secretário em visita à região, por não ser prioridade.  
Prof. Jairo Cezar      




[1] http://www.sirhesc.sds.sc.gov.br/sirhsc/conteudo_visualizar_dinamico.jsp?idEmpresa=18&idMenu=1445&idMenuPai=521
[2] Idem.

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