Até
quando pais, mães e responsáveis permanecerão indiferentes às políticas de
desmonte da escola pública patrocinadas pelo governo do estado de Santa Catarina
Depois
da maior greve ocorrida na Rede Pública Estadual de Ensino de Santa Catarina com
duração de 73 dias, o que chamou atenção foi que durante todo o tempo de
paralisação, parcela expressiva de pais, mães, entre outros, se mantiveram apáticos,
indiferentes, à situação, não exteriorizando qualquer manifestação a tal ponto
que deixasse o governo em uma condição de desconforto perante a opinião pública.
Nade disso. O modo como os pais, a sociedade como um todo estão se posicionando
diante do explícito descaso das autoridades com a educação pública, saúde, segurança,
saneamento básico, cultura, etc., é preocupante. Não é possível que depois de tantas e tantas
denúncias de escolas aos pedaços, muitas já interditadas, outras em vias de
execução, não se verificaram nos mais de 290 municípios do estado, mobilizações
ou formação de grupos, ocupando os espaços das rádios, das SDRs ou mesmo se
dirigindo à capital do estado invadindo os andares da secretaria da educação, o
Hal da assembléia legislativa, até mesmo a sede administrativa do governo do
estado.
O
estranho é o fato que próximo de 80% da população jovem em idade escolar no
estado estudam em escolas públicas estaduais. Contudo são os mesmos pais desses
estudantes, os protagonistas dos resultados das eleições que são eleitos os ocupantes
dos postos importantes dos poderes legislativos e executivos em âmbito municipal,
estadual e federal, cuja realidade dos sérvios públicos oferecidos é reflexo do
modo como esses representantes atuam. O problema da precarização, especialmente
nos sérvios oferecidos pelo Estado, não está exatamente na falta de recursos,
isso porque o estado de Santa Catarina é um dos maiores arrecadadores
proporcionais de impostos da federação.
O centro
da crise está no modo como os impostos são utilizados, sendo que parcela
expressiva destina ao pagamento de salários e de outras despesas das SDRs, muitas
das quais consideradas cabides de empregos que acomodam milhares de
apadrinhados políticos. Para não resultar em risco de processo por injúria e
leviandade acerca das afirmações relativas ao funcionamento das secretarias
regionais, tal posicionamento está fundamentado no relatório apresentado pelos
auditores do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que expõe em detalhes pouca transparência
administrativa de inúmeras secretarias regionais[1].
Como
integrante da executiva regional do Sinte, nas várias visitas aos municípios da
regional de Araranguá é visível, nas obras construídas, escolas, ginásios,
etc., evidências de que há irregularidades na execução dos projetos. O que
dizer de uma escola orçada em mais de quatro milhões de reais, que embora não
tenha sido inaugurada, já apresenta fissuras nas paredes, sendo a tinta e o reboco
em elevado estágio de deterioração. Em
qualquer sociedade um pouco mais avançada culturalmente que a nossa, havendo
suspeitas de irregularidades em obras financiadas com dinheiro dos
contribuintes, a resposta da sociedade é imediata, execrando através do voto o
candidato ou o partido acusados de improbidade administrativa, ou seja, agir de
forma desonesta.
No caso brasileiro ou catarinense estamos
ainda longe da maturidade política. Há décadas o estado tem sido governando
pelos mesmos partidos que integram arcos de alianças históricas, que jamais
dedicaram atenção exclusiva à educação. Pois se assim o fizessem não teria o
magistério nos últimos trinta nos enfrentado quase vinte greves, aproximadamente
uma paralisação por ano. Durante os dias sem aulas não houve visitas de pais à
sede do sindicato dos professores, muito menos qualquer publicação nos jornais
impressos da região notas de protestos ou solidariedade a favor ou contra o
governo, pelo fato do seu filho estar fora da sala de aula. Não, nada disso. Escolas públicas, denúncias, passeatas,
protestos, são ações ainda de exclusividade dos/as professores/as.
Por que
razão que quando se trata de passeata de interesse religioso, as dificuldades
para sua organização são bem dizer nulas. Refiro-me a Caminhada para Jesus realizada
no último sábado, 27 de junho, reunindo centenas de pessoas que não hesitaram em
sair de suas residências para expressar palavras de louvor. Até mesmo integrantes do poder legislativo e
executivo municipal participaram apoiando o momento. Não estamos aqui
criminalizando o ato, muito pelo contrário, pois todos têm direito de cultuar
suas crenças. Refiro-me ao fato, de não ter ocorrido ato semelhante pelas ruas
da cidade reivindicando educação, saúde, com qualidade. Convém destacar que o
próprio legislativo de Araranguá não moveu uma palha se quer em apoio aos
professores da rede estadual. Diferentes de outras câmaras municipais como do Sombrio
que dedicaram quase uma sessão para falar de educação e elaboração de uma moção
de apoio à classe.
Acreditem
pais/mães, enquanto vocês não assumirem as escolas que seus filhos passam parte
do tempo, interagindo na construção do projeto político pedagógico, as
expectativas de uma nova hegemonia política de base popular, de uma escola
libertadora, transformadora e não estatal/partidária/manipuladora, é uma utopia
distante. No distante horizonte do oceano social alguns sinais dessa utopia
estão se evidenciando. As três reuniões ocorridas nas dependências do colégio
castro Alves, com a presença de integrantes das APPs (Associação de Pais e
Professores) das escolas estaduais da região da 22ª GERED, para discutir
educação, pode ser interpretado como o início de um processo verdadeiramente
transformador da educação no futuro.
A esperança é despertar o sentimento de comprometimento
da sociedade com a educação pública, tomando consciência acerca dos impostos
pagos, que devem retornar em forma de serviços públicos de qualidade. É
imprescindível que se recupere a credibilidade da escola pública catarinense,
hoje concebida como aparelho ideológico e eleitoreiro controlado pelo Estado, para
além da formação de mão de obra barata. Não é esse o modelo de escola pública desejado
pelos filhos dos trabalhadores catarinenses. Uma escola pública deve ser acolhedora,
atraente, que estimule a solidariedade, a colaboração mútua para o sucesso de
todos. Lutar por uma escola com tais características ainda hoje é uma utopia,
mas deve ser insistentemente almejada por todos.
Prof.
Jairo Cezar
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