segunda-feira, 29 de junho de 2015

Até quando pais, mães e responsáveis permanecerão indiferentes às políticas de desmonte da escola pública patrocinadas pelo governo do estado de Santa Catarina

Depois da maior greve ocorrida na Rede Pública Estadual de Ensino de Santa Catarina com duração de 73 dias, o que chamou atenção foi que durante todo o tempo de paralisação, parcela expressiva de pais, mães, entre outros, se mantiveram apáticos, indiferentes, à situação, não exteriorizando qualquer manifestação a tal ponto que deixasse o governo em uma condição de desconforto perante a opinião pública. Nade disso. O modo como os pais, a sociedade como um todo estão se posicionando diante do explícito descaso das autoridades com a educação pública, saúde, segurança, saneamento básico, cultura, etc., é preocupante.  Não é possível que depois de tantas e tantas denúncias de escolas aos pedaços, muitas já interditadas, outras em vias de execução, não se verificaram nos mais de 290 municípios do estado, mobilizações ou formação de grupos, ocupando os espaços das rádios, das SDRs ou mesmo se dirigindo à capital do estado invadindo os andares da secretaria da educação, o Hal da assembléia legislativa, até mesmo a sede administrativa do governo do estado.
O estranho é o fato que próximo de 80% da população jovem em idade escolar no estado estudam em escolas públicas estaduais. Contudo são os mesmos pais desses estudantes, os protagonistas dos resultados das eleições que são eleitos os ocupantes dos postos importantes dos poderes legislativos e executivos em âmbito municipal, estadual e federal, cuja realidade dos sérvios públicos oferecidos é reflexo do modo como esses representantes atuam. O problema da precarização, especialmente nos sérvios oferecidos pelo Estado, não está exatamente na falta de recursos, isso porque o estado de Santa Catarina é um dos maiores arrecadadores proporcionais de impostos da federação.
O centro da crise está no modo como os impostos são utilizados, sendo que parcela expressiva destina ao pagamento de salários e de outras despesas das SDRs, muitas das quais consideradas cabides de empregos que acomodam milhares de apadrinhados políticos. Para não resultar em risco de processo por injúria e leviandade acerca das afirmações relativas ao funcionamento das secretarias regionais, tal posicionamento está fundamentado no relatório apresentado pelos auditores do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que expõe em detalhes pouca transparência administrativa de inúmeras secretarias regionais[1].
Como integrante da executiva regional do Sinte, nas várias visitas aos municípios da regional de Araranguá é visível, nas obras construídas, escolas, ginásios, etc., evidências de que há irregularidades na execução dos projetos. O que dizer de uma escola orçada em mais de quatro milhões de reais, que embora não tenha sido inaugurada, já apresenta fissuras nas paredes, sendo a tinta e o reboco em elevado estágio de deterioração.  Em qualquer sociedade um pouco mais avançada culturalmente que a nossa, havendo suspeitas de irregularidades em obras financiadas com dinheiro dos contribuintes, a resposta da sociedade é imediata, execrando através do voto o candidato ou o partido acusados de improbidade administrativa, ou seja, agir de forma desonesta.
 No caso brasileiro ou catarinense estamos ainda longe da maturidade política. Há décadas o estado tem sido governando pelos mesmos partidos que integram arcos de alianças históricas, que jamais dedicaram atenção exclusiva à educação. Pois se assim o fizessem não teria o magistério nos últimos trinta nos enfrentado quase vinte greves, aproximadamente uma paralisação por ano. Durante os dias sem aulas não houve visitas de pais à sede do sindicato dos professores, muito menos qualquer publicação nos jornais impressos da região notas de protestos ou solidariedade a favor ou contra o governo, pelo fato do seu filho estar fora da sala de aula. Não, nada disso.  Escolas públicas, denúncias, passeatas, protestos, são ações ainda de exclusividade dos/as professores/as.
Por que razão que quando se trata de passeata de interesse religioso, as dificuldades para sua organização são bem dizer nulas. Refiro-me a Caminhada para Jesus realizada no último sábado, 27 de junho, reunindo centenas de pessoas que não hesitaram em sair de suas residências para expressar palavras de louvor.  Até mesmo integrantes do poder legislativo e executivo municipal participaram apoiando o momento. Não estamos aqui criminalizando o ato, muito pelo contrário, pois todos têm direito de cultuar suas crenças. Refiro-me ao fato, de não ter ocorrido ato semelhante pelas ruas da cidade reivindicando educação, saúde, com qualidade. Convém destacar que o próprio legislativo de Araranguá não moveu uma palha se quer em apoio aos professores da rede estadual. Diferentes de outras câmaras municipais como do Sombrio que dedicaram quase uma sessão para falar de educação e elaboração de uma moção de apoio à classe.     
Acreditem pais/mães, enquanto vocês não assumirem as escolas que seus filhos passam parte do tempo, interagindo na construção do projeto político pedagógico, as expectativas de uma nova hegemonia política de base popular, de uma escola libertadora, transformadora e não estatal/partidária/manipuladora, é uma utopia distante. No distante horizonte do oceano social alguns sinais dessa utopia estão se evidenciando. As três reuniões ocorridas nas dependências do colégio castro Alves, com a presença de integrantes das APPs (Associação de Pais e Professores) das escolas estaduais da região da 22ª GERED, para discutir educação, pode ser interpretado como o início de um processo verdadeiramente transformador da educação no futuro.
 A esperança é despertar o sentimento de comprometimento da sociedade com a educação pública, tomando consciência acerca dos impostos pagos, que devem retornar em forma de serviços públicos de qualidade. É imprescindível que se recupere a credibilidade da escola pública catarinense, hoje concebida como aparelho ideológico e eleitoreiro controlado pelo Estado, para além da formação de mão de obra barata. Não é esse o modelo de escola pública desejado pelos filhos dos trabalhadores catarinenses. Uma escola pública deve ser acolhedora, atraente, que estimule a solidariedade, a colaboração mútua para o sucesso de todos. Lutar por uma escola com tais características ainda hoje é uma utopia, mas deve ser insistentemente almejada por todos.    
Prof. Jairo Cezar                        




[1] morrodosconventos-jairo.blospot.com.br

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