sexta-feira, 24 de junho de 2022

 

CORRUPÇÃO NO MEC APROFUNDA AINDA MAIS O FOSSO DA TRAGÉDIA NA EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Para quem trabalhou na educação pública por quase quarenta anos sabe exatamente as dificuldades que é executar um programa de ensino com qualidade em escolas sem as mínimas condições de infraestruruta. Certamente esse deve ser o trigésimo texto que escrevo nesses onze anos de blog, abordando o tema educação pública, onde passa ano entra ano os problemas se repetem. Não há dúvida que, com raras exceções, a educação pública jamais foi prioridade de qualquer governante nesses últimos cinquenta anos nas esferas federal, estaduais e municipais.

Lembro da campanha encabeçada pelo CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), no governo do PT, para que parcela dos royalties do pré-sal, no mínimo 10%, fosse destinada ao financiamento da educação brasileira. Proposta essa que morreu na casca. Se essa proposta fosse realmente concretizada, com certeza o Brasil estaria hoje em melhor posição no ranque educacional entre os países da OCDE. Ou será que não? Em um país contaminado pelo vírus da corrupção e politicagem escancarada, ninguém duvida que esses bilhões vindos do pré-sal teriam sido solapados pela corrupção.

Os ajustes estruturais pressionados pelos agentes financeiros internacionais para assegurar o pagamento da dívida pública, forçavam os governos a promoverem cortes nos orçamentos públicos. Incrível que os setores mais visados nessa política de cortes sempre foram educação, cultura, saneamento básico, meio ambiente, etc. Mas foi exatamente após o golpe que derrubou Dilma Rousseff do cargo de presidente que o cenário da educação brasileira degringolou literalmente.

Primeiro vieram os ataques ao currículo do ensino médio no governo Temer, que teve continuidade no governo seguinte, Jair Bolsonaro, onde não mediu esforços para retroceder a qualidade da educação em quase duzentos anos no tempo. O retrocesso é bem real, basta conferirmos a competência intelectual e administrativa dos ministros que transitaram pelos corredores do MEC nesses quase quatro anos de desgoverno Bolsonaro. Não há registros na nossa história recente de ter havido um governo onde quatro ministros da educação ocuparam a pasta do MEC em três anos de governo. Cada um desses quatro ministros a frente da pasta protagonizou cenas patéticas semelhantes aos filmes pastelões de quinta categoria.

Tivemos ministro falastrão; falsificador de currículo e que transformou o MEC em um “caixa eletrônico” para beneficiar apadrinhados políticos. O que espanta é o fato desse ministro da educação, preso pela política federal no dia 22 de Junho, ser  um pastor da Igreja Presbiteriana. Isso mesmo, um religioso, cujo comportamento durante o tempo que esteve à frente do MEC foi de fazer cagada. Todas as vezes que discursava esboçava seu lado moralista, homofóbico, conservador. Ficou conhecido no Brasil por ter esboçado frases do tipo: é impossível a convivência com crianças com deficiência; homossexualismo é fruto de famílias desajustadas. Mas o que causou mais turbulência foi sua interferência no ENEM querendo suprimir conteúdos não condizentes com seu pensamento conservador.

Mas não ficou restrito somente a esses surtos esquizofrênicos, pouco tempo depois, o Ministro foi acusado de ter criado dentro do próprio MEC uma espécie de gabinete paralelo, ou seja, um espaço onde recebia políticos pastores aliados, que eram favorecidos com a liberação de recursos do FNDE. Diante desse escândalo, o ministro pede demissão. O fato é que gravações foram realizadas, das quais mostram o Ministro falando que os favorecidos com dinheiro da educação seriam esses pastores a pedido do presidente da república.  Quando o presidente soube da demissão do ministro, disse em sua Live semanal que botaria a cara no fogo pelo Milton e que era uma covardia o que estavam fazendo.

Deu o que poucos esperavam, principalmente em período pré eleitoral, na manha de quarta feira, 22 de Junho, todos os noticiários publicavam a notícia de que o ex-ministro e dois pastores teriam sido levados a prisão pela Polícia Federal. Foi exatamente o que aconteceu, gerando um rebuliço em Brasília, principalmente no palácio do planalto, pelo fato de o presidente ter dito que no seu governo não havia corrupção. Esse acontecimento bombástico poderá abrir caminho para a instalação de uma CPI no congresso contra irregularidades praticadas no MEC.  

Não há como excluir da ação de prisão o próprio presidente Bolsonaro um dos pivôs dessa roubalheira no ministério da educação. O que poderá salvá-lo até as eleições será a sua imunidade política por ser presidente da república. Após isso, será muito difícil permanecer livre diante de tantos processos impetrados contra ele, inclusive esse de tamanha gravidade no MEC.

Enquanto milhões de reais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional) são desviados para compra de bíblias e construção de igrejas para aliados de pastores amigos do ministro da educação, centenas de escolas não possuem água encanada, muito menos internet. Outro escândalo envolvendo o governo foi à distribuição de kits robóticas para escolas com valores superfaturados. Nesse esquema, empresas chegaram a lucrar mais de 420% em cada kit. É o fundo do poço para a educação brasileira, agravado mais pela pandemia, onde milhares de crianças abandonaram os estudos por não poder acompanhar de forma remota as atividades.

Mais do que nunca era o momento do governo federal ter adotado um plano emergencial envolvendo os entes federados para recuperar o tempo perdido nos três anos de pandemia que afetou em cheio a educação. Nada disso aconteceu. O que fez o governo foi afundar ainda mais o fosso da tragédia com os cortes de 19 bilhões, somado com o "bolsolão" do MEC, considerado o maior escândalo de corrupção na educação brasileira em todos os tempos.

Prof. Jairo Cesa

 

 

https://revistaforum.com.br/politica/2022/6/22/como-governo-bolsonaro-aparelhou-destruiu-ministerio-da-educao-119110.html

 

 

            

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