domingo, 15 de julho de 2018


OS ENSINAMENTOS DA PAQUISTANESA MALALA YOUSAFZAI, PRÊMIO NOBEL DA PAZ, EM VISTA AO BRASIL



Exceto em uma breve aparição no Rio de Janeiro, quando da realização de manifesto em favor da prisão dos assassinos de Marielle Franco, em nenhum outro momento, telejornal ou jornal de circulação em massa, fizeram reportagem ou menção destacando a presença no Brasil da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai, onde participou de um evento em São Paulo para tratar sobre educação e o empoderamento das mulheres. É claro que é mais garantia para tais emissoras o retorno publicitário de reportagens sobre copa do mundo na Rússia e tragédias humanas que de ativistas, especialmente de uma paquistanesa, que defende o direito à educação para milhões de crianças mulheres no mundo inteiro.
Em seu país e de outros do mundo inteiro, Malala é uma referência, uma espécie de celebridade, símbolo vivo às crianças e autoridades que tem a educação como principal plataforma de governo. No Brasil, se fosse realizada enquete, possivelmente uma centena ou mais de indivíduos diriam que a conhecem ou ouviram falar. Um país cujos heróis são forjados diariamente pela elite e incorporados no imaginário coletivo através da mídia, por que torná-la mito das crianças se há figuras grotescas fazendo esse papel como Neymar, Titi, entre outras. A “pátria da chuteira no pé”, como diz uma propaganda de cervejas. O resultado disso todos já sabem, uma nação que compartilha as últimas posições no ranque mundial em educação.  
Malala nasceu no Vale do Swat, norte do Paquistão em 12 de julho de 1997. Seu pai, professor e dono de uma escola, desde muito cedo incentivava a estudar. No entanto, o governo do Talibã restringia esse direito às mulheres. Em 2008 cerca de 150 escolas para meninas no país foram destruídas. Malara, porém, todos os dias quando ia para a escola levava o uniforme escondido na mochila. Embora muito jovem, não se intimidava as ameaças do talibã, participava de reuniões, concedia entrevistas para divulgar a causa a qual defendia e até mesmo escrevendo num blog.
Entretanto, em outubro de 2008, quando estava indo para a escola de ônibus, foi alvejada por três tiros na cabeça, atentado reivindicado por militantes integrantes do Talibã. Para se recuperar dos ferimentos, Malala foi enviada junto com sua família para Inglaterra, onde lá permanecem exilados até hoje. Em 2013, com 15 anos de idade, discursou para mais de 100 estadistas na reunião anual da ONU em Nova York, onde falou sobre sua militância em defesa da educação.
Pela sua luta, dedicação e coragem, em 2014, a Academia de Oslo, a escolheu junto com o indiano Kailash Satyarthi, para receberem o prêmio Nobel da Paz, tornando se a mais jovem na história a receber uma premiação tão importante. No mesmo ano que Malala foi agraciada com o prêmio, em agosto eu estava em viagem por Oslo, que por coincidência o museu da capital, o Nobel Peace Center, naquela semana estava homenageando os dois contemplados com exposições de fotos, documentários, etc, sobre a vida de ambos.  Por cerca de uma hora visitei as vários cômodos do museu com vasto material retratando a vida particular e social da paquistanesa e do indiano.   O que chamou atenção no momento que circulava os corredores do antigo salão era a enorme presença de curiosas crianças e adolescentes no local.


 A vinda de ganhadora do prêmio Nobel ao Brasil se deu depois de ter recebido centenas, milhares de solicitações de ativistas e simpatizantes brasileiros pelo seu trabalho em prol da educação. Ela e o seu pai criaram uma fundação que passou a ser chamada Rede Gulmakai, que movimenta cerca de dez milhões de dólares todos os anos para projetos cujo foco é a educação de crianças, principalmente meninas em países com elevado risco social.  No Brasil três projetos foram contemplados totalizando 2, 700 milhões de reais.
Tanto na palestra quanto nas várias entrevistas que concedeu, algumas frases e mensagens de efeito chamaram a atenção do público. Uma delas foi quanto ao tabu enfrentado pelas mulheres do seu país em estudar. Disse que: “se hoje ela está onde está foi graças ao incentivo que teve do seu pai que jamais a impediu de ir à escola”. Relatou também que quando alguém tenta passar uma mensagem com raiva, violência, que a recebe não consegue assimilar, fica perdida.


A melhor maneira das pessoas absorverem mensagens é quando é transmitida com amor. “Tentaram silenciar minha voz disparando tiros contra mim, mas não conseguiram. O que realmente conseguiram foi fazer com que milhares de vozes se levantassem a meu favor e a causa a qual defendo”. Sobre sentir desejo de vingança àqueles que tentaram tirar sua vida respondeu: “a minha melhor vingança será educar a todos, inclusive filhos e irmãs daqueles que me atacaram”.[1] Tem real clareza que a atitude dos militantes Talibãs e querer tirar a sua vida foi pelo fato do tremendo medo do empoderamento das mulheres, que tem a var com a emancipação. Quanto mais engajamento, participação das mulheres na educação, maior o fortalecimento da economia, das democracias, pois a educação é o maior investimento sustentável em longo prazo, afirmou.


Em 2017 Malala foi incluída no seleto grupo dos aprovados para estudar filosofia, política e economia, na renomada Universidade de Oxford, reconhecidamente uma das melhores do planeta. Lá estudaram personalidades importantes da literatura como Oscar Wilde, Lews Carrol. Malala agora considerada celebridade, isso garantiu credenciais para estreitar contatos com pessoas influentes no mundo todo, especialmente chefes de estados, que tiveram que ouvir suas mensagens e pedidos para que dedicassem atenção especial a educação da população.
Depois de ter sofrido o atentado em 2012, Malala retornou pela primeira vez à sua cidade natal, Mingora, no vale do Swat, norte do Paquistão. Mesmo estando em casa, teve de receber todo um aparato especial de segurança, pois parcela expressiva da população ainda a vez com certa malevolência pelo fato de ter desobedecido a regras morais tradicionais.
 O Paquistão ainda hoje é considerado um dos mais violentos do mundo.  São ações terroristas quase que diárias que vitimam dezenas de civis, sempre tendo o envolvimento de militantes pró islâmicos disputando o controle de territórios, como a região de Caxemira, norte do país, disputada com a índia. O que é mais estarrecedor é ouvir notícias dando conta da participação de forças armadas paquistanesas apoiando grupos militantes tanto no país quanto no Afeganistão.
Fora os problemas de difícil solução na região e que continuarão ocupando os espaços dos noticiários diários do mundo inteiro, o que deve ser considerado e lembrado por todos/as é o importante desafio e compromisso reservado à ativista Malala, como porta voz da esperança para milhares de crianças violadas de seus direitos à educação. Os Brasileiros devem se sentir lisonjeado por ter tido a felicidade de ouvir suas mensagens e ensinamentos, que embora ainda muito jovem, carrega consigo experiências e ensinamentos de uma anciã.
Prof. Jairo Cezar                  


[1] https://www.cartacapital.com.br/diversidade/frases-inspiradoras-de-malala-yousafzai-no-brasil          


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