terça-feira, 10 de julho de 2018


A SUSTENTABILIDADE COMO META PARA A RELIGAÇÃO DO HUMANO COM O COSMOS



O progresso e a abundância preconizados pelos teóricos funcionalistas do século XIX para as futuras gerações estão sofrendo um intenso revés nas últimas décadas do século XXI. Isso se dá no instante que relatórios de agências internacionais estão divulgando dados que comprovam estar havendo picos recordes da temperatura do planeta nos últimos quatro anos.  Os adeptos aos conceitos clássicos de desenvolvimento, podem até refutar tais relatórios, afirmando que os recordes de temperatura da terra ocorrem por fatores cíclicos naturais. Dia após dia esses argumentos estão perdendo a credibilidade, pois regiões até então imune ao aquecimento como as zonas glaciais, sofrem abruptas mudanças com perdas significativas da cobertura de gelo.
Se o que está se sucedendo com o clima do planeta fosse realmente uma falácia de ativistas críticos à economia de mercado, não teria porque gastar milhões de dólares para a realização de tantas conferências e assinaturas de acordos e protocolos envolvendo centenas de países. Claro que os funcionalistas liberais jamais se renderão à realidade do fracasso da ciência clássica, da tecnologia como pressuposto “sagrado” ao bem estar da humanidade. Há centenas de milhares de anos comunidades humanas que habitavam frações inexpressivas do planeta já compreendiam a fragilidade dos vários ecossistemas e a necessidade de cautela no uso dos recursos naturais. O extrativismo vegetal, a caça e o cultivo de espécies vegetais, por exemplo, ocorriam seguindo fielmente rituais sagrados cujo descumprimento impactaria a sobrevivência do grupo.
Não havia certamente na antiguidade uma definição conceitual objetiva para esse modele de organização, porém, era consenso do grupo que avançando os limites toleráveis do consumo necessário diário, de um modo ou de outro, teria que responder junto ao conselho supremo pelo erro cometido. A crença exacerbada à ciência, à tecnologia, vai paulatinamente extrapolando o “ego antropocêntrico” sobre a natureza a ponto de não saber como lidar com o inesperado. A mecanização agrícola, com equipamentos e insumos cada vez mais sofisticados não impede o surgimento de plantas, fungos e insetos, que sem predadores naturais, tende-se a se multiplicar. Semelhante a uma guerra, um plano de ação é montado com o despejo de milhares de quilos de pesticidas, fungicidas sobre o solo. Poucos dias depois, o ciclo se repetirá, com novos e novos lançamentos de venenos.      
Na tentativa de combater o inimigo invasor, novos e poderosos agrotóxicos são aplicados, fortalecendo o ciclo interminável de um sistema produtivo ameaçador e insustentável. A terra é como um organismo vivo, portanto, seu bom funcionamento exige conexões sistêmicas perfeitas e permanentes entre os vários componentes da grande teia viva, a terra. Nesse sentido, ultimamente mais e mais pesquisas vem afirmando que a frágil esfera azul está diariamente sendo mais e mais maltratada que é necessário combater esse modelo produtivo perverso e irracional, substituindo por outro, capaz de recuperar religar o humano com o cosmo. Do ponto de vista mecânico, racional, argumentos desse tipo, quântico, qualquer um estará suscetível a uma avalanche de críticas sem precedentes.
É claro que falar de agroecologia, permacultura, entre outras tantas técnicas de cultivo humanizadas, é muito difícil de compreensão à população condicionada há séculos a certo padrão de plantio convencional. O próprio sistema econômico trabalha diariamente contrário a qualquer proposta de tentativa de realinhamento humano com o cosmo. Os movimentos sociais em prol da natureza são um bom exemplo dessa incessante tentativa de readequação quântica. Entretanto, quando lideranças desses movimentos não são literalmente silenciados, os que sobrevivem são achincalhados, desmoralizados por quem detém ou representa os detentores do poder a ponto de recolherem-se à clandestinidade.
Muito se escreveu e ainda se escreve sobre práticas de desenvolvimento sustentáveis capaz de produzir sem impactar ecossistemas inteiros. Diariamente pessoas no mundo inteiro estão se convencendo da necessidade de mudar hábitos de consumo, adquirindo produtos e derivados compatíveis às práticas sustentáveis. A atividade sustentável não ocorre exclusivamente em nível de consumo, ela se dá também no campo espiritual, religando o humano com o universo. O teólogo e escritor Leonardo Boff, pode ser sim um dos grandes filólogos, que por décadas vem se dedicando, trabalhando insistentemente para sensibilizar ou espiritualizar o homem, redescobrindo como um importante integrante da grande nave mãe terra.
O próprio Papa Francisco, na encíclica lançada em 2017, fez menção à necessidade de todos cuidarem da nossa casa comum, a terra. Parece que os manifestos sobre o cuidado da mãe terra, pouco estão ecoando aos ouvidos de lideranças importantes do mundo globalizado, que escancaradamente descumprem protocolos assinados em defesa do planeta. O Brasil não se exclui dessa aberração comprometedora à sobrevivência das espécies vivas. O aumento sistematizado do desmatamento nos biomas amazônico e cerrado, somada a aprovação de leis esdrúxulas estimulando o uso de agrotóxicos, a liberação da caça e a fragilização da atividade orgânica, são motivos de grande preocupação de que o planeta está trilhando um caminho perigoso e sem volta.
O que nos resta, portanto, é o fortalecimento dos vínculos interpessoais e de comunidades inteiras, compartilhando hábitos de convívio saudáveis e verdadeiramente sustentáveis. Compartilhar experiências inovadoras que promova a cooperação à competição, a coletivização à individualização, elevando o senso de justiça e respeito às diversidades culturais. O tempo necessário para superação dos vícios desumanizadores poderá ser de algumas ou várias gerações, dependendo do grau de politização que se propõe promover à sociedade.
Prof. Jairo Cezar                                                        

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