domingo, 2 de abril de 2017

PRESIDENTES DONALD TRUMP E MICHEL TEMER O QUE AMBOS TEM EM COMUM EM RELAÇÃO AOS ACORDOS SOBRE A REDUÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL



Se os acordos sobre o clima assinados em Paris em 2015, durante a COP-21 (Encontro das Partes) e ratificados em 2016 em Marrakesh, no Marrocos, não forem cumpridos pelos países que integram a cúpula do clima, principalmente os mais industrializados que mais poluem, o planeta terra e expressiva parcela das espécies vivas existentes desaparecerão ou sofrerão efeitos devastadores em decorrência das mudanças climáticas e que já são perceptíveis. O que mais incomoda é que mesmo com todas as conferências e encontros realizadas a partir das últimas décadas do século XX, o planeta continua aquecendo em proporções alarmantes. Somente em 2016 a temperatura da terra foi 0,98° mais alta que toda a temperatura média registrada no século XX, superando os recordes registrados em 2014 e 2015. 
Quem acompanha os debates ou tem acesso aos relatórios e protocolos referendados pelos mais de cem países nas últimas reuniões de cúpula sobre o clima, percebe que os avanços de um encontro para o outro, sempre são muito tênues, discretos, cujos efeitos são quase que imperceptíveis no clima. Muitas das alegações ou desculpas apresentadas pelos integrantes das comitivas participantes das reuniões são de que os custos de adequação das tecnologias limpas nos sistemas produtivos são excessivamente altos. O fato é que são ínfimos ou até mesmo desconhecidos os países cujos governantes estabeleceram suas diretrizes macroeconômicas embasadas no princípio ético da resiliência ou sustentabilidade. Entretanto, na lógica do mercado, sustentabilidade nada mais é que estratégias articuladas pelos donos do poder para minimizar ou retardar o desgaste do planeta.
Para o capital, produção e consumo sustentável são incompatíveis e repletos de contradições. Não há como o sistema capitalista se sustentar se as etapas que norteiam a sustentabilidade forem aplicadas. Seria sua própria ruína, implosão. Portanto, o capital se realimenta a partir das contradições do marcado, exploração do trabalho, da natureza, do lucro exacerbado, etc. Se for prestar a atenção nos noticiários diários dos telejornais, o que mais se exibem são relatórios, gráficos ou estatísticas relativos ao crescimento ou redução do PIB. Não é mesmo?
 Também é dito: “é preciso elevar as taxas de crescimento para obter “superávit primário” para que as pessoas tenham emprego e renda”. Pura mentira, porque superávit primário é sinônimo de recessão, desemprego.  Já se viu alguma vez nos telejornais noturnos das principais redes de TV, sociólogos convidados para comentar as crises? Sempre são economistas e das correntes de pensamento mais conservadoras, não é mesmo? E por que será? O economista sempre procura explicar o momento social, as estimativas futuras, se utilizando de números. O sociólogo, é claro que de correntes mais progressistas, abordaria o campo histórico social, mostrando os vários contextos, as contradições envolvendo o modelo de produção capitalista.
Seria possível país ou países se sustentarem crescendo 7% ou 8% do PIB anualmente? Veja o caso da China, país com mais de um bilhão e duzentos milhões de pessoas. Se esse volume gigante de pessoas passarem a consumir na mesma proporção da população norte americana, seriam necessários quatro a cinco planetas terras. Mas parece que a meta do país asiático é realmente essa, crescer, crescer, a todo custo. A insustentabilidade é tamanha que a população da capital, Pequin, em diversas ocasiões esteve em estado de alerta máximo devido a fumaça das indústrias que cobriu a cidade.[1]  Um aspecto que chama atenção quando o assunto é emissão de gases estufa são as posições tomadas pelos Estados Unidos durante os encontros de cúpula sobre o clima. 
Desde os primeiros protocolos assinados a partir de Kyoto, Japão, em 1997, todos os governos que transitaram pela Casa Branca assumiram posições de resistência a quase todos os acordos. A exceção foi o governo Barack Obama, com uma postura um pouco mais flexível e sensível quanto às questões relacionadas ao clima no planeta. Ele mesmo assumiu compromisso de reduzir em 26% a 28% os gases dos efeitos estufa até 2025, em relação a 2005. É claro que com essa posição a tendência inicial do crescimento do PIB é caminhar de forma mais lenta. Isso não significa estagnação econômica, mas o estabelecimento de um ritmo de crescimento sintonizado com o próprio movimento da natureza.
Quando se soube do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, cujo futuro comandante os destinos do país e do resto do mundo seria o republicano Donald Trump, sentimentos de resignação, apreensão e dúvidas passaram pelas mentes de pesquisadores e de integrantes e organizações em defesa do clima global.  Durante a campanha presidencial ele já havia prometendo rever todos os programas favoráveis ao clima assinados pelo seu antecessor. Uma das justificativas de Trump para romper com os programas de combate o   aquecimento global era  de que tal fenômeno não ocorria de fato, pois era uma invenção dos chineses com intuito de frear a indústria americana.
Dito e feito. Passado menos de três meses a frente da presidência, Trump cumpriu o que prometeu. No dia 28 de março apresentou seis resoluções que colocou por terra o que o ex-presidente Obama tinha assinado em cumprimento aos acordos ratificados nas cúpulas sobre o clima.   Dentre as medidas contidas nas resoluções estão a redução orçamentária para a agência norte americana de proteção ambiental e a derrubada do veto do ex-presidente impedindo a construção de um óleo duto que passaria em terras indígenas.
Mas, o principal argumento que embasou suas decisões foi de que o aquecimento global é um blefe, contrariando até o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) vinculado a ONU, que em 2007 recebeu o Prêmio Nobel da paz. O que deve ser destacado é que todos os argumentos contrários do presidente Trump às políticas pró-clima são políticas, que visam atender lobbies de grandes corporações que exploram petróleo nos EUA. Na campanha presidencial o candidato eleito insistiu na tecla de que o fim das restrições à exploração do petróleo aumentaria os salários dos trabalhadores americanos em mais de 30 bilhões de dólares ao longo dos sete anos.
O fato é que a baixa produtividade do petróleo nos últimos anos estados unidos tem relação com a crise global do produto, cujos preços caíram vertiginosamente. Outro fator preponderante à queda dos preços desse produto nos Estados Unidos foi a intensificação da produção de gás de xisto, que comparado ao método tradicional de extração de petróleo, é muito mais prejudicial ao meio ambiente.[2] O que deve ser ressaltado quanto as atitudes atabalhoadas e autoritárias do presidente Trump contra resoluções a favor do clima, é que nos estados unidos, constitucionalmente, cada estado tem autonomia para definir suas políticas internas, dentre elas programas sobre emissão de gases estufa.
As resoluções aprovadas pelo presidente americano poderão sofrer algum tipo de resistência ou retaliação dos próprios estados que já estão adotando programas de redução da emissão gases poluentes. Dentre todos, os destaques são o Texas e Oklahoma, ambos politicamente conservadores, porém, estão investindo vultosos recursos em energias limpas, especialmente a eólica. É de se imaginar que prevalecendo as resoluções de Trump, na próxima reunião da COP, longas e exaltados debates prevalecerão, com possibilidades de outros países romperem com o que foi ratificado nos protocolos de Paris e Marrakesh.
Se a posição do governo americano com as resoluções a favor as energias sujas causou tanto alvoroço e preocupação de analistas do clima global, o caso brasileiro com a floresta amazônica e outros biomas deveria também ser motivo de apreensão das autoridades internacionais. Sobre a participação da delegação brasileira e suas proposições ratificadas na COP-21 de Paris, o texto publicado no blog morrodosconventos-jairo.blogspot, em 22/01/2016, com o título A 21 CONFERÊNCIA DAS PARTES SOBRE O CLIMA EM PARIS E A PREOCUPANTE REALIDADE AMBIENTAL BRASEIRA, explicita as inverdades e contradições ditas pela delegação brasileira presente no encontro e a situação preocupante do bioma amazônico.[3] O que vem acontecendo com as florestas no Brasil após a Cúpula de Paris, também deveria ser motivo de preocupação semelhante à notícia dada que os EUA romperiam com os acordos sobre o aquecimento global.  
Entre os integrantes da comitiva que foram a Paris em 2015 estavam a ministra do meio ambiente Isabela Teixeira e o governador do estado do Mato Grosso, Blário Maggi, atualmente ministro da agricultura. Dentre as propostas apresentas e ratificadas, estava a promessa de reduzir para 43% a emissão de CO2 até 2030, bem como continuar combatendo o desmatamento na Amazônia até o limite zero em 2020. É isso mesmo que está escrito. E olha que quem apresentou essa proposta foi Blario Maggi que na época quando  governo do Mato Grosso, o desmatamento no estado foi expressivo para dar lugar a pecuária e a cultura da soja. Não podemos esquecer que Blário é considerado um dos maiores produtores de suja do mundo.
Quando assumiu o posto de ministro da agricultura, no governo Michel Temer, seu discurso seguiu em defesa do agronegócio. Sobre o encontro de Paris, em 2015, disse que o que foi proposto ou ratificado foram apenas intenções, pois para a concretização das propostas depende de recursos disponíveis. Esqueceu de informar o ministro que o plano safra disponibilizou para  2016 mais de 202 bilhões de reais para custeio da safra brasileira. Desse total, cerca de 5% do valor emprestado não foram pagos pelos agricultores, totalizando 13,4 bilhões de reais. Dinheiro que seria suficiente para dar início ao programa de redução das emissões de gases do efeito estufa.
No dia 2 de março de 2017 o Greenpeace postou na sua página eletrônica artigo contendo o seguinte título: sinal verde para destruição da amazônica.[4] A pergunta que muitos gostariam de fazer é o seguinte: até que ponto é válido gastar milhões de reais dos contribuintes com viagens de primeira classe, hospedagens, alimentação e outras tantas mordomias, com representantes do governo que participam das COPs, como a 21, em Paris, ratificando acordos de redução de gases poluentes, cujos resultados são o que estamos presenciando na Amazônia, com incentivos governamentais para o desmatamento?
É bem possível que muitos dos relatórios elaborados pelo governo brasileiro sobre desmatamentos e enviados às coordenações das Cops que monitoram o cumprimento dos acordos, são maquiados, excluindo dados como o que foi apresentado pelo Greenpeace, revelando que o Brasil em 2016 registrou a maior taxa de desmatamento desde 2008, com 8,5Km2 de floresta perdida.
Somente na Amazônia legal o índice de desmatamento foi de 54%. É muita floresta desmatada em pouco tempo, para quem prometeu desmatamento zero até 2020. O pior é que a devastação pode aumentar ainda tanto nesse complexo bioma como nos demais. Cedendo a pressão de deputados da Amazônia legal, o governo federal está prestes a tornar nulo, decisão que criou uma unidade de conservação e reduzir em 40% áreas de outras quatro unidades. Isso corresponde a mais ou menos um milhão de hectares ou equivalente a sete cidades do tamanho de São Paulo. Se isso ocorrer o bioma Amazônico sofrerá um violento esquartejamento, ou seja, serão suprimidas espécies situadas no seu núcleo, transformando-a em área descontínua, semelhante ao bioma da mata atlântica, totalmente fragmentada.
A pressão dos grileiros, desmatadores, junto aos parlamentares da bancada da Amazônia Legal, em Brasília, é reduzir ainda mais as áreas de florestas para dar lugar a projetos de hidrelétricas, hidrovias, rodovias, entre outros. Tal insistência e lobbies resultaram em duas medidas provisórias encaminhadas pelo presidente Temer no final de 2016, que reduzirá ainda mais a proteção florestal no Pará. São atitudes como essa que comprovam o tamanho da farsa daqueles que em Paris chegaram até assinar documento ratificando o fim do desmatamento ilegal total até 2020. Hoje o desmatamento no Brasil corresponde a 40% da emissão de gases estufa no planeta. O país é o sexto no mundo que mais emite esses gases.                             
Toda essa pilantragem avalizada pelo Estado pode colocar por terra projetos ou iniciativas independentes de proteção da floresta amazônica financiados com recursos doados de países ou organizações interessados na preservação desse complexo e importante ecossistema para o planeta. São exemplos de iniciativa como a Noruega, que de 2009 a 2016 repassou cerca de dois bilhões de reais para o fundo da Amazônia; a Alemanha, com 60 milhões entre 2010 e 2014 e mais 116 em 2015 para programas de áreas protegidas na Amazônia.
Prof. Jairo Cezar
   




[1] https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8334622275182680372#editor/target=post;postID=5954088314482221856;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=2;src=postname
[2] https://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2013/11/algumasreflexoes-sobre-o-gas-de-xisto.html?m=0
[3] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2016/01/cop-21-encontro-das-partes-sobre-oclima.html
[4] http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Sinal-verde-para-a-destruicao-da-Amazonia/

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