quarta-feira, 12 de abril de 2017

AS PREVISÕES PESSIMISTAS DE UM MUNDO CONTURBADO E VIOLENTO NA OBRA “1984” (O GRANDE IRMÃO) ESCRITA POR GEORGE ORWELL EM 1948


Das muitas obras literárias escritas que marcaram gerações e que estão de volta como verdadeiros Best seller de vendas como Vigiar e Punir de Michael Foucault e o Príncipe de Maquiavel, sem qualquer sombra de dúvida a obra 1984 de George Orwell, publicada em 1949, é disparadamente um dos mais procurados, um dos mais lidos atualmente no mundo inteiro. Não se exclui também da lista dos mais procurados, A Revolução dos Bichos, outra obra futurista de Orwell.  E os motivos são inúmeros a começar pela eleição inesperada do controvertido Donald Trump à presidência dos EUA, a grande Revolução Cultural global provocada pela internet e os fracassados regimes comunistas/socialistas (Rússia, China, Koréia do Norte) e petista, no caso brasileiro.
Na realidade o autor da obra fictícia 1984 de Orwell, cujo nome verdadeiro é Eric Arthur Blair, foi procurar mostrar o seu pessimismo do mundo pós- conflito mundial que seria dominado pela tecnologia em detrimento da liberdade. Entretanto, a obra também serviu para criticar os sangrentos regimes fascistas e comunistas da época, cujos lideres para satisfazer seus insaciáveis egos de poder se muniam de todos os artifícios possíveis, manipulando, vigiando, perseguindo e punindo qualquer suspeito de traição ou conspiração.
Era necessário, portanto, induzir o povo a acreditar nos discursos dos líderes. A propaganda seria uma das ferramentas imprescindíveis desse maléfico plano de dominação. Sua aplicação se daria nos mais diversos espaços, como forma de tornar os lideres personagens míticas, onipresentes, acima do bem e do mal. Tal estratégia se constituiu como uma das metáforas aplicadas por Orwell para representar esses regimes.
No entanto o autor da obra, cujo nome também era fictício, criou metáforas invertidas para retratar os principais ministérios com suas respectivas nomenclaturas: ministérios da fartura, do amor, da paz e da verdade. Ambos, a partir do uso intensivo da propaganda, mídias sociais, produziria extraordinária “purificação” mental, fazendo acreditar que tudo que fosse dito e mostrado pelo grande irmão, era fidedigno.
O uso de telas ou “teletelas” (TVs), divulgando permanentes imagens do grande líder e dos seus feitos faria com que todos o temessem e ao mesmo tempo o amassem. Uma espécie de auto-hipnose seria desencadeada toda vez que o líder fosse visto ou sua voz ouvida. Era o instante do delírio, da catarse coletiva, dos movimentos cadenciados por impulsos quase que instintivos.


A obra traz, também, a metáfora dos “dois minutos de ódio diário”, ou seja, o momento pela qual os membros do partido, aos gritos, teriam que reverenciar o líder; esternizar sentimentos de ódio ao oponente, ao diferente. A atualidade da obra de Orwell pode ser reconhecida a partir das visões unilaterais; dos ataques a oposição; da xenofobia, da intolerância e das demonstrações de forças de governos como de Donald Trump e da poderosa Inglaterra diante do rompimento definitivo com a União Européia.
O que distingue Trump do grande líder imaginário de Orwell, no caso inglês, é que o primeiro foi eleito democraticamente. Há indícios de ter havido a participação Russa definindo os resultados da eleição a favor de Donald Trump.   Claro que os votos a seu favor foram impulsionados por professas e discursos extremistas, um deles tornar outra vez “grande” a pátria para os americanos. A perseguição e deportação de estrangeiros ilegais, a construção de barreiras físicas (muros) para impedir a entrada de imigrantes, e a autorização para o ataque com mísseis ao território Sírio, com dezenas de mortes, são alguns exemplos de como o “grande irmão do norte” vem demonstrando seu poder, instigando o ódio contra ele, seus concidadãos e aliados. O “ministério da verdade”, citado no livro de Orwell como instrumento ideológico para assegurar paradoxalmente “diversão e instrução”, no mundo contemporâneo assumiu versão mais personalizada, onde os fatos são interpretados segundo versões de quem os vê e transmite.
A cientificidade e a objetividade dos fatos abrem campos para interpretações individualizadas, não necessitando de comprovações. O que é dito se torna o mais importante. A internet e com ela as redes sociais se transformam em potentes ferramentas condutoras de informações fragmentadas que hoje concebidas como pós-verdades. A linguagem que a internet tenta padronizar, abreviada, reduzida a códigos simplificados, limita a comunicação e a compreensão sistematizada da própria identidade cultural.
Outro perigo, quanto ao emprego das redes sociais, é que cada um tenta dar a sua versão acerca dos fatos, prevalecendo aquela com argumentos mais convincentes. Não é mesmo? Lembram o que escreveu Trump na sua página na internet quanto ao Estado Islâmico? Disse que foi Barack Obama, o seu criador. Sobre o aquecimento global, para romper com os acordos de Paris, afirmou que tudo foi invenção dos Chineses para destruir a indústria Norte Americana.
Quem acompanhou a conflitante trajetória que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma, considerado para muitos como um golpe, é testemunha ocular de que as redes sociais e a imprensa rentista assumiram papeis extraordinários na condução e polarização dos discursos e na destilação e difusão do ódio político e partidário. O pensamento maniqueísta, o bom e o mau, davam o tom das narrativas, atingindo o limite do extremismo exacerbado como demonstrado nas manifestações de ruas, tendo de um lado os camisas verde-amarela, “coxinhas”, (o bem) e do outro os “petralhas”, “mortadelas” os representantes do (o mau).
A obra de Orwell, o grande irmão, não se limite apenas no aspecto político. No campo social, cultural e especialmente religioso é possível perceber sua presença tão atual. A intensificação de teletelas (canais de TV) de igrejas diversas com programações ininterruptas e exclusivas para atrair, hipnotizar novos e desatentos fiéis para a adoração ao grande líder, é sem dúvida a versão mais simbólica e próxima daquilo que Orwell apresenta no seu livro 1984.
A exploração do espaço privado pelo big brother vem se configurando em um excelente instrumento de participação e controle público sobre o modo como cada indivíduo deve se comportar. E esses mecanismos de vigilância e controle individual, pelo próprio Estado através de câmaras de vigilância, vêm sendo assimilado pela sociedade como algo natural. Não é por acaso que o programa big brother, exibido pela rede globo de televisão está no ar há 17 anos. Quem fica e quem sai da casa é decidido pelos próprios telespectadores. Trazendo para a vida real, os últimos fatos relacionados à política nacional como o cassação do mandato de Dilma Rousseff e a outros tantos de impacto social, a opinião pública não teria sido influenciada pelas teletelas distribuídas nos milhões de lares brasileiros?
Portanto a fabricação de verdades vem se tornando hábito ultimamente. Ao mesmo tempo em que era função do ministério da verdade revisar jornais ou publicações antigas suprimindo informações subversivas, hoje em dia, uma ou duas agências de notícias internacionais são responsáveis pela filtragem e divulgação de imagens e notícias sobre fatos do dia a dia. O filme o Show de Truman, protagonizado por Jim Carrey, é um exemplo clássico de como as pessoas, territórios, documentos, organizações, são vigiadas ultimamente no planeta. Nossas vidas passam a ser monitoradas desde o instante em que nascemos. A corrida espacial no período da guerra fria se transformaria em um extraordinário laboratório para intensificar ainda mais o poderio bélico de superpotências. A instalação de satélites cada vez mais sofisticados na órbita terrestre permitiria que tudo e todos, mais cedo ou mais tarde, estariam sob os olhos vigilantes dos milhões de big brothers espalhados por todos os cantos do mundo.  
Quando se imaginava que ter o domínio de tais tecnologias de vigilância e comunicação lhes asseguraria mais poder aos seus donos, a realidade mostrou um cenário pouco seguro e otimista. Nem mesmo os “invioláveis” arquivos do governo norte americano contendo informações secretas ficaram imunes aos ataques de Rakers. Portanto, mais do que nunca é necessário a releitura de obras como 1984 e até mesmo a obra fictícia do escritor brasileiro Ignácio de Loiola Brandão, com o título Não Verá País Nenhum, e escrita em 1981, que semelhante a de Orwell desenhou um cenário preocupante em termos ambientais para o Brasil para os anos 2030, 2040.  É sem dúvida um livro obrigatório para todos os educadores e estudantes do ensino médio, com objetivo de sensibilizá-los e dar suporte para a superação das profundas contradições que cercam nosso complexo e frágil planeta.    
Se todos desejam um mundo “admiravelmente novo” é preciso se despir de tudo que os oprime. As novas ferramentas do mundo moderno, TVs, internet, smart fones, whatsapp, facebook, etc, estão aí ao dispor de todos para facilitar e estreitar laços e sentimentos de tolerância entre pessoas e culturas diversas. Não é mesmo? Porém, o que se vislumbra no horizonte é um novo “processo civilizatório”, onde pessoas cada vez mais procuram se isolar em seus minúsculos mundos domésticos, que embora se vanglorie em afirmar que possuem centenas, milhares de amigos virtuais, tentam suportar a solidão lotando consultórios psiquiátricos e ingerindo psicotrópicos na busca incessante de algo que amenize a dor existencial.
Prof. Jairo Cezar                                                

          



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