ENTÃO
OS “ECOCHATOS” ESTAVAM COM RAZAO?
O
governo anterior nos deixou feridas sociais expostas que poderão levar anos
para serem cicatrizadas. Além dos desmontes em setores primordiais ao
desenvolvimento como ciência e educação, também não mediu esforços para
avacalhar tudo o que se referia a proteção do meio ambiente. Foi sim nesse
segmento que o mesmo, junto com os seus asseclas de plantão, escancararam todo
o sadismo, destilando ódio e ataques contra quem assumisse posições críticas ao
desmonte do arcabouço legal ambiental. O fato é que o terror dos extremistas contra
ambientalistas e profissionais do IBAMA, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ICMBio se espalhou pelos quatro
cantos do território brasileiro, como um vírus letal, sendo-o até incorporado aos
discursos de uma legião de simpatizantes, apoiadores, na sua maioria membros dos
legislativos e executivos municipais.
Era
necessário, portanto, consolidar um consenso nacional, afirmação de que o “progresso
econômico” se daria com legislações mais flexíveis na área ambiental, permitindo
que florestas, topos de morros, margens de rios, lagos, dessem lugar à
agricultura, ocupações urbanas e outros projetos de infraestrutura. Porém,
essas propostas de flexibilizar regras ambientais, etc, omitiam interesses
escabrosos, como o que foi revelado em uma reunião com a cúpula ministerial do
governo anterior nas dependências do palácio do planalto. No encontro o ministro
do meio ambiente Ricardo Salles escancarou o macabro segredo de que era
necessário “derrubar” definitivamente as porteiras do escopo ambiental para que
a boiada pudesse passar.
Como
um rastilho de pólvora, o discurso do ministro caiu como uma luva no gosto da
bancada ruralista do congresso, demais parlamentares das duas casas
legislativas e centenas de vereadores e prefeitos que viam no discurso do
ministro a oportunidade de também colocar abaixo as “porteiras” das suas
legislações ambientais. Maldosamente, para fazer valer suas políticas
desenvolvimentistas a todo custo teriam que “limpar o trecho”, ou seja, tirar
do caminho os ambientalistas, os “Ecochatos”, amaldiçoados e transformados em algozes
do progresso, ou seja, cúmplices dos vários embargos em licenciamentos advindos
dos órgãos fiscalizadores do meio ambiente, dentre eles o MPF.
Foram
os "ecochatos", odiados, amaldiçoados por governos extremistas de plantão, grupos
econômicos e políticos negacionistas, que vinham alertando que algo de muito
ruim, devastador ocorreria sobre o território brasileiro se o regime de
devastação dos biomas da Amazônia, Serrado, mata atlântica, etc, não fossem
cessados imediatamente. Sugiro que prestem atenção nos locais que foram mais
impactados pelas últimas enxurradas que por pouco não devastaram literalmente
todo o território do Rio Grande do Sul. Sem exceção todos os locais que foram
mais atingidos, no passado serviam como “caminho das águas”, em decorrência da sua
peculiar geomorfologia.
Embora
não fosse possível desocupar toda essa área considerada de riscos à cheias e deslizamentos
de encostas de morros, os problemas poderiam ser minimizados se não fossem
alterados ou suprimidos pela assembleia legislativa e sancionado pelo
governador Eduardo Leite, importantes artigos e dispositivos do código
ambiental do RS. Ações como o afrouxamento de licenciamentos ambientais e o
desmonte do código florestal do estado gaúcho foram um desses ataques desferidos
pelo legislativo e o executivo gaúcho. Três anos depois de o estado gaúcho ter
desmontado o seu código ambiental, o Santa Catarina seguiu essa mesmo ritual fragilizando
ainda mais o seu já débil código ambiental.
Tendo
no posto máximo do executivo federal e no ministério do meio ambiente figuras
que demonizavam as normatizações ambientais em vigor, bem como todos que
ousassem defendê-las, ficou muito cômodo para os gestores municipais e câmara
municipais desfigurarem suas normatizações, pois somente assim alcançariam o dito
“desenvolvimento”, principalmente no segmento turístico. Foi exatamente isso o
que ocorreu e vem se sucedendo em Araranguá. Após a execução do Projeto Orla,
em 2016, quase todo o arcabouço aprovado pelos delegados, cerca de 200
demandas, vem sendo paulatinamente desfigurada ou desconsiderada pelos gestores
que se sucedem no paço municipal.
De
2017 até o momento, 2024, quase sete anos, foram várias as intervenções do MPF
aos sucessivos governos municipais por suspeitas de ilicitudes em atos de
licenciamentos de projetos de infraestrutura tanto na parte superior como
inferior do balneário Morro dos Conventos. A abertura da rua que faz ligação
entre o balneário ao loteamento Paiquerê é um desses projetos recheados de
dúvidas quanto a sua licitude. O fato é que não foram cumpridas as
recomendações descritas no PGI (Plano de Gestão Integrada) que recomendada três
estudos de viabilidade para averiguar o traçado menos impactante
ambientalmente.
Claro
que os “ecochatos” atentos a tudo estavam com razão quando presumiam haver alguma
ilicitude envolvendo o licenciamento do traçado onde ocorreu a abertura da rua.
As noticias divulgadas dão conta que o município de Araranguá foi sentenciado
pelo MPF por suspeita da irregularidade no projeto. Decisões como essa o
primeiro alvo dos ataques desmoralizantes do poder público e parte da impressa
mercenária são os ecologistas, que historicamente vem se colocando como bodes
expiatórios às irresponsabilidades dos gestores municipais.
Essa
decisão, do possível embargo da via de ligação, gerou forte revolta junto ao poder
público, onde depositaram a culpa mais
uma vez aos “ecochatos” por acreditarem estar por traz da decisão do órgão federal. Na
sequência, o legislativo e a parte da imprensa mercenária do município
assumiram a função de fomentar junto à opinião pública sentimentos de revolta e
ódio contra ambientalistas e alguns moradores alegando quererem o Morro dos Conventos
somente para si. O ápice do absurdo do poder público foi ter patrocinado ridículo
slogan contendo a seguinte frase: “o morro é de todos”. É óbvio que o slogan está
subtendido como sendo um ataque aos ambientalistas e demais moradores que lutam
bravamente pela preservação desse frágil ecossistema. Deixar explico que se o
morro é de todos como quer apregoar o poder público, deve ser considerado nesse
todo os demais elementos vivos que compõem a flora e a fauna do balneário,
imensamente ameaçados pelo dito “desenvolvimento”.
Em
uma república séria onde a divisão dos poderes ocorre de fato, por exemplo, o
legislativo fiscalizando as atribuições do executivo, a existência e atuação dos
ecologistas seria por si só discreta ao olhar da sociedade, não é mesmo? Se os ecologistas são tão evidenciados, como
de fato acontece em Araranguá, certamente é porque os princípios da república
estão sendo desconsiderados, o legislativo e o judiciário, portanto, não estão
cumprindo com suas atribuições constitucionais que é fiscalizar as estariam
fazendo vistas grossas às muitas barbaridades cometidas pelo executivo
municipal, assessorado pelo seu órgão ambiental?
Prof.
Jairo Cesa
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