sexta-feira, 7 de junho de 2024

 

DIA MUNDIAL DO  AMBIENTE: DATA PARA REFLETIR SOBRE O MODELO PRODUTIVO QUE ESTÁ COLAPSANDO O PLANETA

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Como de costume, todos os anos na data do dia 05 de junho os jornais escritos e outras tantas dezenas de publicações digitais, reservam paginas e páginas de seus diários focando o dia mundial do meio ambiente. O que mais se publica são palestras, atividades culturais/artísticas e a tradicional distribuição de mudas de árvores nativas envolvendo escolas, universidades, tendo sempre o apoio do poder público, fundações ambientais e demais secretarias. O que se constata é que mesmo com tantas atividades alusivas a data, os problemas relacionados aos ecossistemas vêm se agravando progressivamente.

Não há como negar essa triste realidade, pois a resposta está aqui pertinho de nós, no nosso estado e no vizinho RS. Somente no estado gaúcho foram mais de duzentos mortos, vítimas das enxurradas do começo de maio que devastaram mais da metade dos municípios, que levarão meses, anos para se refazerem. Que essa semana dedicada à discussão ambiental, o tema crise climática tenha prioridade das prioridades, pois somente assim será possível repensar nossos equivocados hábitos comportamentais,  enfim, todo o conjunto produtivo nada sustentável, visto como a causa das tragédias.

Claro que pouquíssimos serão os jornais que ousarão fazer menção ou reflexões acerca do modelo produtivo, que se nutre da exploração exacerbada dos recursos naturais, bem como da espoliação da força de trabalho. Energia limpa e “transição energética verde”, voltada ao carvão mineral, são os assuntos que mais destacados ultimamente nas páginas dos jornais, sites, blogs e redes sociais da região sul de Santa Catarina, não é mesmo? A impressão que se tem é que agora com o “carvão verde”, adeus resíduos tóxicos, adeus poluição.  

Municípios como Capivari de Baixo onde está instalada a antiga termoelétrica Jorge Lacerda, acredita-se que agora, com a transição verde, perderá o título de a cidade mais poluída do Brasil, será? Quanta ilusão. Distribuir árvores nativas e frutíferas no dia 05/06 ou durante semana alusiva ao ambiente se tornou quase que uma obrigação dos gestores públicos e seus órgãos ambientais, dando a impressão que estão profundamente contagiados, sensibilizados com a respectiva causa. De fato não estão, com raras exceções, é claro. Pressionados por forças econômicas vinculadas ao agronegócio, segmentos industriais e imobiliários, governos e gestores municipais vêm promovendo profundos desmontes de suas legislações ambientais, entre eles os códigos ambientais, tudo isso para facilitar ou beneficiar grupos de interesses.

Nossos rios, lagos e lagoas, a legislação de 2012 que criou o novo código florestal brasileiro, determinou que a distância mínima de APP, Mata Ciliar, obrigatório ao longo das suas margens, seguirão critérios em conformidade aos respectivos biomas correspondentes. Para o bioma Mata Atlântica, onde se encontra a Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, o mínimo exigido de APP, mata ciliar, no trecho correspondente ao município de Araranguá, não poderia ser inferior a 50 metros em todo o seu curso. Quem já transitou pelas margens do respectivo rio, deve ter constado que são raros os pontos onde a mata ciliar supera os 5 metros. Portanto esse seria um tema relevante para ser debatido nessa semana, principalmente nas escolas, porém, dificilmente vai acontecer.

E sobre os lagos e lagoas do município, ambas terão espaços garantidos nos debates, rodas de conversas e na imprensa? Também penso que não. Há, de fato, um consenso pouco inteligente no município e região em acreditar que por possuirmos quatro mananciais hídricos jamais teremos problemas com a escassez de água. Observando atentamente o comportamento desses mananciais, podemos admitir que ambos dão mostras de saturação, principalmente durante estiagens um pouco mais longas.

O Lago Dourado, manancial que abastece o Bairro Morro dos Conventos e comunidades do entorno, e que durante o verão atende cerca de 10 mil pessoas, suas margens vem sendo colapsadas por projetos imobiliários. O risco é que muitos desses projetos, loteamentos, estão ameaçando importantes nascentes que promovem a recarga do manancial.  O agravante é que tanto o poder público, bem como o seu órgão ambiental, ambos estão sendo cúmplices dessas tragédias anunciadas.

Poucas são as pessoas que deram credibilidade aos ambientalistas, pesquisadores, acerca do manancial hídrico Lagoa do Caverá, alertando as autoridades de que era urgente a adoção de medidas para impedir que a lagoa viesse a secar com brevidade.  Um complexo manancial de água doce, essa era a Lagoa do Caverá, que enchia de orgulho os moradores do sul e de seu entorno por ser ela a maior de Santa Catarina em extensão. Agora, só traz tristeza a esses mesmo moradores, pois sabem que o manancial está com os dias contados para morrer, desaparecer, dez anos no máximo.

 Secando esse manancial, a lagoa do Sombrio também deixará de existir, pois ambas estão conectadas, formando o complexo lagunar do sul de Santa Catarina.  Afinal, por que tanto descaso com esse manancial, quem, de fato, serão os beneficiários com a extinção da mesma? É obvio que se conhecem os responsáveis. Mais uma vez as autoridades locais e estaduais teriam que dar explicações à sociedade, pois também são cúmplices.

Sempre foi assim, concluídas as programações alusivas ao dia mundial do meio ambiente, nada mais se ouvira sobre o assunto até o dia cinco de junto do próximo ano, com os mesmos rituais programáticos: distribuições e plantios de árvores, palestras, passeios, tudo isso e, claro, sem tocar na ferida, ou seja, na raiz de todos os problemas, que é o atual modelo produtivo, que está consumindo todas as energias do planeta ao ponto de estar colapsando.

Prof. Jairo Cesa                 

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