A
ERA DA PÓS VERDADE QUE CONVERTE SUJEITOS EM MANADAS GUIADAS POR IDOTAS.
Vai
e volta e mais uma vez o mundo é sacudindo pelo fantasma do nazifascismo,
movimento político extremista que causou tantos estragos e mortes no passado. Parece
que aquelas teorias positivistas difundidas durante os finais do século XIX e
começo do XX afirmando que a ciência, o progresso econômico, geraria
prosperidade e bem estar à humanidade, tem demonstrado aos críticos ser um
tremendo fracasso teórico. Afinal onde estão exatamente os erros de todo esse
desarranjo civilizatório? O erro pode estar sim, quase consenso, nos
intelectuais da modernidade que romantizaram o progresso humano, creditando-o
todas as fichas na revolução industrial, na evolução das técnicas como
instrumentos capazes de gerar fartura e maior tempo livre.
Os
acontecimentos futuros, os conflitos nacionalistas na Europa e as duas grandes
guerras mundiais colocaram em xeque qualquer expectativa de um futuro repleto
de prosperidade e igualdade social. Até mesmo a revolução russa que apregoou a
possibilidade de uma nova ordem, fundamentada no princípio da solidariedade, da
coletividade, também teve o seu revés histórico. Dentre as ciências gestadas no
período das guerras nacionalistas, certamente a psicologia, mais tarde a psicanálise,
devem ser consideradas como antídoto àquilo que Tomas Hobbes profetizava no
século XVIII, que o homem seria o lobo do próprio homem.
A
figura de Freud, pai da psicanálise e Nietzsche, o homem bomba da
existencialidade, ambos provocaram uma profunda reviravolta na forma de pensar
o mundo contemporâneo. O primeiro, entendendo que a humanidade é guiada pela pulsão
inconsciente de vida e morte, já o segundo, admitindo que os dogmas, a moral
religiosa, são arquétipos conscientes e inconscientes de domínio, que escraviza
e submete os desiguais a uma cega racionalidade produtiva. As democracias
modernas, criadas para ordenar e disciplinar as forças políticas em frequentes disputas
pelo controle hegemônico do Estado perde sua eficácia com a ascensão dos
regimes totalitários na Europa. Claro
que a crise das democracias tem um ingrediente chave, o colapso do próprio
regime de produção capitalista, responsável pelo crescimento do desemprego e das
frustrações contra os governos eleitos.
O
que se vê a partir da ascensão do nazifascismo é à saída do cativeiro dos demônios/domínios
aprisionados nas profundezas do inconsciente, sim, são as pulsões de morte
sublimadas num falso amor, numa falsa solidariedade. Sem um freio racional, as instituições
republicanas, para barrar as pulsões inconscientes de ódio e morte, o alvo desses
lideres carismáticos, psicopatas, são os diferentes, os negros, os ciganos, os gays,
os judeus, todos entendidos como bodes expiatórios de uma crise que solapou a
economia planetária. Com a neutralização do totalitarismo, não o seu fim, o mundo
viveu período de aparente estabilidade econômica e institucional, claro que
mediado por um sistema de poder polarizado entre os EUA, capitalista e URSS,
comunista.
O
fim do socialismo soviético acarretou mais combustível para projetar o sistema
capitalista, agora como sistema produtivo hegemônico, único capaz de garantir a
sobrevivência da civilização. Será? Os acontecimentos futuros mostraram que com
o fim do mundo bipolar houve o acirramento das crises econômicas e, por consequência,
o acirramento dos conflitos, pipocando com intensidade nos quatro cantos do
planeta.
Frente
às instabilidades estavam os Estados Unidos e demais potencias industrial, com funções
estritas de controlar os fluxos incessantes de capitais que financiariam as
economias dos países não alinhados, dentre eles o Brasil. O Brasil após ter
experimentado um ciclo curto de estabilidade econômica, isso durante os
governos PT, o golpe institucional de 2016, abriu as porteiras para a ascensão
da extrema direita odiosa, até então tendo as pulsões de morte neutralizada
pelo superego das instituições.
Para
a sua ascensão as hastes do Estado era imprescindível forjar um líder, que
pudesse representá-los institucionalmente. De repente uma figura caricata, sem
qualquer lastro intelectual e moral surge do submundo da política, se credenciando
como um sujeito não sistêmico a representá-los. Quatro anos de mandato foi
suficiente para torná-lo um dos principais párias no cenário internacional. Para
os seus seguidores, a voz do líder Bolsonaro reverberava mais valor que a
própria constituição, motivo pelo qual os constantes ataques advindos do
congresso, majoritariamente ultraconservador, a todo um arcabouço de conquistas
sociais.
Incrível
como a figura abjeta de um líder forjado por um extrema direita acéfala pode atrair
tantos adeptos, tantos seguidores, a ponto de se comportarem como manadas
humanas. O que se viu foi o assustador aumento da idiotização de sujeitos,
impulsionados por uma crença negacionista, negando a ciência e exaltando as
verdades manipuladas. No século XV, XVI, por exemplo, o conceito de verdades provinha
das crenças metafísicas, de um deus masculino, fato pelo qual sempre se buscou
desqualificar a mulher, lhe atribuindo inferioridade intelectual, uma figura
sempre a espreita as tentações do mal. Parece que esse tipo sórdido de desqualificação
foi reconfigurado no Brasil durante o ultimo governo, seguindo uma visão de distopia
social, onde passou a incluir nesse conjunto, além das mulheres, também os
negros, os índios, os gays, etc.
Quando
se tentou insistentemente criminalizar a ciência, ou seja, todo o conhecimento construído
pela civilização, por trás dessa violência havia um projeto embrionário de
sociedade, com propósito claro de fomentar uma visão de mundo denominada de pós
verdade. Isso mesmo, até parece algo insano, mas ocorreu de fato, os “idiotas”
passaram a acreditar que de fato verdade era aquilo que os avôs, os pais, falavam
no passado, por exemplo, que os brancos são superiores aos negros; que o ódio e
o preconceito são justificáveis, etc, etc.
Portanto,
para a consolidação do projeto neoliberal seria importante fazer as pessoas
questionarem o óbvio, tudo aquilo que foi aprendido como inquestionável,
indissolúvel, lhes atribuído outras versões, por exemplo, que a meritocracia
deve ser aceita, pois transforma positivamente o processo de gestão e produção
de qualquer instituição. É esse vazio
existencial o alvo predileto dos espertos arautos, os representantes diretos do
sacro/cívico/militar poderes encarregados de plantar no cérebro dos desatentos,
outro tipo de saber não convencional, acreditando em uma colheita farta e
duradoura.
Prof.
Jairo Cesa
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