terça-feira, 18 de junho de 2024

 

A ERA DA PÓS VERDADE QUE CONVERTE SUJEITOS EM MANADAS GUIADAS POR IDOTAS.

Vai e volta e mais uma vez o mundo é sacudindo pelo fantasma do nazifascismo, movimento político extremista que causou tantos estragos e mortes no passado. Parece que aquelas teorias positivistas difundidas durante os finais do século XIX e começo do XX afirmando que a ciência, o progresso econômico, geraria prosperidade e bem estar à humanidade, tem demonstrado aos críticos ser um tremendo fracasso teórico. Afinal onde estão exatamente os erros de todo esse desarranjo civilizatório? O erro pode estar sim, quase consenso, nos intelectuais da modernidade que romantizaram o progresso humano, creditando-o todas as fichas na revolução industrial, na evolução das técnicas como instrumentos capazes de gerar fartura e maior tempo livre.  

Os acontecimentos futuros, os conflitos nacionalistas na Europa e as duas grandes guerras mundiais colocaram em xeque qualquer expectativa de um futuro repleto de prosperidade e igualdade social. Até mesmo a revolução russa que apregoou a possibilidade de uma nova ordem, fundamentada no princípio da solidariedade, da coletividade, também teve o seu revés histórico. Dentre as ciências gestadas no período das guerras nacionalistas, certamente a psicologia, mais tarde a psicanálise, devem ser consideradas como antídoto àquilo que Tomas Hobbes profetizava no século XVIII, que o homem seria o lobo do próprio homem.

A figura de Freud, pai da psicanálise e Nietzsche, o homem bomba da existencialidade, ambos provocaram uma profunda reviravolta na forma de pensar o mundo contemporâneo. O primeiro, entendendo que a humanidade é guiada pela pulsão inconsciente de vida e morte, já o segundo, admitindo que os dogmas, a moral religiosa, são arquétipos conscientes e inconscientes de domínio, que escraviza e submete os desiguais a uma cega racionalidade produtiva. As democracias modernas, criadas para ordenar e disciplinar as forças políticas em frequentes disputas pelo controle hegemônico do Estado perde sua eficácia com a ascensão dos regimes totalitários na Europa.  Claro que a crise das democracias tem um ingrediente chave, o colapso do próprio regime de produção capitalista, responsável pelo crescimento do desemprego e das frustrações contra os governos eleitos.

O que se vê a partir da ascensão do nazifascismo é à saída do cativeiro dos demônios/domínios aprisionados nas profundezas do inconsciente, sim, são as pulsões de morte sublimadas num falso amor, numa falsa solidariedade. Sem um freio racional, as instituições republicanas, para barrar as pulsões inconscientes de ódio e morte, o alvo desses lideres carismáticos, psicopatas, são os diferentes, os negros, os ciganos, os gays, os judeus, todos entendidos como bodes expiatórios de uma crise que solapou a economia planetária. Com a neutralização do totalitarismo, não o seu fim, o mundo viveu período de aparente estabilidade econômica e institucional, claro que mediado por um sistema de poder polarizado entre os EUA, capitalista e URSS, comunista.

O fim do socialismo soviético acarretou mais combustível para projetar o sistema capitalista, agora como sistema produtivo hegemônico, único capaz de garantir a sobrevivência da civilização. Será? Os acontecimentos futuros mostraram que com o fim do mundo bipolar houve o acirramento das crises econômicas e, por consequência, o acirramento dos conflitos, pipocando com intensidade nos quatro cantos do planeta.

Frente às instabilidades estavam os Estados Unidos e demais potencias industrial, com funções estritas de controlar os fluxos incessantes de capitais que financiariam as economias dos países não alinhados, dentre eles o Brasil. O Brasil após ter experimentado um ciclo curto de estabilidade econômica, isso durante os governos PT, o golpe institucional de 2016, abriu as porteiras para a ascensão da extrema direita odiosa, até então tendo as pulsões de morte neutralizada pelo superego das instituições.

Para a sua ascensão as hastes do Estado era imprescindível forjar um líder, que pudesse representá-los institucionalmente. De repente uma figura caricata, sem qualquer lastro intelectual e moral surge do submundo da política, se credenciando como um sujeito não sistêmico a representá-los. Quatro anos de mandato foi suficiente para torná-lo um dos principais párias no cenário internacional. Para os seus seguidores, a voz do líder Bolsonaro reverberava mais valor que a própria constituição, motivo pelo qual os constantes ataques advindos do congresso, majoritariamente ultraconservador, a todo um arcabouço de conquistas sociais.  

Incrível como a figura abjeta de um líder forjado por um extrema direita acéfala pode atrair tantos adeptos, tantos seguidores, a ponto de se comportarem como manadas humanas. O que se viu foi o assustador aumento da idiotização de sujeitos, impulsionados por uma crença negacionista, negando a ciência e exaltando as verdades manipuladas. No século XV, XVI, por exemplo, o conceito de verdades provinha das crenças metafísicas, de um deus masculino, fato pelo qual sempre se buscou desqualificar a mulher, lhe atribuindo inferioridade intelectual, uma figura sempre a espreita as tentações do mal. Parece que esse tipo sórdido de desqualificação foi reconfigurado no Brasil durante o ultimo governo, seguindo uma visão de distopia social, onde passou a incluir nesse conjunto, além das mulheres, também os negros, os índios, os gays, etc.

Quando se tentou insistentemente criminalizar a ciência, ou seja, todo o conhecimento construído pela civilização, por trás dessa violência havia um projeto embrionário de sociedade, com propósito claro de fomentar uma visão de mundo denominada de pós verdade. Isso mesmo, até parece algo insano, mas ocorreu de fato, os “idiotas” passaram a acreditar que de fato verdade era aquilo que os avôs, os pais, falavam no passado, por exemplo, que os brancos são superiores aos negros; que o ódio e o preconceito são justificáveis, etc, etc.  

Portanto, para a consolidação do projeto neoliberal seria importante fazer as pessoas questionarem o óbvio, tudo aquilo que foi aprendido como inquestionável, indissolúvel, lhes atribuído outras versões, por exemplo, que a meritocracia deve ser aceita, pois transforma positivamente o processo de gestão e produção de qualquer instituição.  É esse vazio existencial o alvo predileto dos espertos arautos, os representantes diretos do sacro/cívico/militar poderes encarregados de plantar no cérebro dos desatentos, outro tipo de saber não convencional, acreditando em uma colheita farta e duradoura.

Prof. Jairo Cesa     

 

          

 

                 

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