ENSINO
VIRTUAL OU REMOTO, A QUEM INTERESSA?
Nos
últimos anos a falta de políticas consistentes e permanentes do Estado para
educação pública de nível básico transforma esses ambientes em campos
minados, onde converge toda a tensão, revolta, desesperança, vivida
pela sociedade. Uma das enormes dificuldades enfrentadas pelos docentes no
cotidiano escolar é despertar a atenção dos estudantes para o trabalho
educativo. Dar conta de múltiplas tarefas diárias, muitas vezes utilizando ainda
quadro/giz, todo esse esforço descomunal dos/as trabalhadores/as em educação consegue
assegurar resultados satisfatórios em avaliações como do Enem.
Esse
fosso abissal que atinge as escolas públicas brasileiras tem sim responsabilidade
direta e indireta no modo como os gestores públicos gerenciam esse segmento. Não
bastam apenas bons projetos e planos educacionais mirabolantes, é preciso maior
aporte de investimentos em infraestutura, qualificação profissional e salários
justos. Sem isso jamais nos livraremos do ciclo de atraso histórico, onde eleva
ano a ano o percentual de sujeitos desprovidos de instrução.
Todo
o problema relatado acima já era observado em uma conjuntura social dita
normal, agora tende a se agravar quando milhões de estudantes permanecem fora
da sala de aula diante da pandemia do Corona vírus. É difícil, portanto,
vislumbrar no horizonte um cenário pior do que está a educação pública. Para não comprometer definitivamente o ano
letivo, estados e municípios promovem ações “paliativas” como o ensino remoto e
outras metodologias não presenciais.
O
fato é que o acesso à internet entre os estudantes das escolas públicas é
imensamente desigual em comparação aos estudantes das escolas particulares. Outro
dato preocupante é o desequilíbrio entre os estados em termos de acesso das
famílias à internet. Em nível de comparação, no distrito federal 78% dos
domicílios possuem rede de banda larga. Já o estado do Pará, somente 29% dos domicílios
tem esse serviço assegurado.
Mesmo
sabendo que milhões de estudantes estão desprovidos de tais suportes
tecnológicos necessários, governos como do estado de São Paulo e Santa Catariana,
determinaram o recomeço das atividades de forma não presencial. Para atender o
público desprovido de internet, os professores terão que desenvolver atividades
e posteriormente encaminhadas às escolas para serem fotocopiadas e entregues
aos estudantes.
As
organizações sindicais ligadas aos professores alertam que poderá haver o aglomero
de pessoas nas escolas durante o recolhimento dessas atividades, com risco até
de contrair o corona vírus. Em vários estados brasileiros, muitas ações foram
encaminhadas à justiça pedindo o cancelamento do calendário letivo ou pedindo a
anulação da exigência de que as aulas remotas sejam computadas como hora aula.
As
alegações são várias, dentre a mais importante é o que está descrito no artigo
205, da constituição federal: “A educação, direito de todos
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Mas
é necessário fazer reflexões mais profundas acerca dessa nova realidade
envolvendo a educação brasileira. Há consenso de que tais iniciativas possam
até serem mantidas, porém, sem que sejam concebidas como determinantes no
processo aprovação ou reprovação docente.
Não
há dúvida que tanto o ensino remoto quanto outras metodologias que excluem a
necessidade de professores presenciais, ambas servem de laboratório para
grandes conglomerados no setor de tecnologia digital como Google, Facebook,
entre outras, que controlarão esse poderoso e bilionário marcado educacional no
futuro. Com essas novas modalidades de ensino em execução, escancara um cenário
ainda mais preocupante, a violenta exclusão das classes menos abastadas do
direito a uma educação de qualidade.
Outro
aspecto que também preocupa é quanto ao papel do professor diante desse cenário
digitalizado. Para os governos será muito mais barato contratar empresas que
fornecerão plataformas para o ensino remeto ou a distância. Claro que tal
estratégia atingirá em cheio as escolas públicas, com a redução do quadro de
profissionais. Mas nem tudo está perdido. Um aspecto positivo que a pandemia do
corona vírus deixará é a compreensão por parte da sociedade do grande e
complexo papel exercido pelo professor no ensino dos seus filhos.
Mesmo
com ferramentas tecnológicas disponíveis, ambas não são suficientes para
suprimir dúvidas durante as atividades não presenciais dos estudantes. Se
desejarmos uma sociedade mais solidária, fraternal ou mais humanizada, jamais
poderemos imaginar a aquisição desses adjetivos sem a existência do espaço
escolar. É lá que se constroem laços de solidariedade, vínculos afetivos,
amizade, entre outros pontos importantes, o sentimento de pertencimento da
mesma aldeia global, o planeta terra.
Prof.
Jairo Cezar
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