sábado, 16 de maio de 2020


MP-910 (MEDIDA PROVISÓRIA) DA GRILAGEM, DA DESTRUIÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA E DOS POVOS INDÍGENAS

Depois de uma das maiores tragédias ambientais onde foram queimadas, criminalmente, milhares de hectares de florestas na Amazônia, a região continua sendo alvo de outras ações que ameaçam de destruição o que ainda restam das florestas e das centenas de comunidades indígenas que lá habitam. As ações adotadas pelo atual governo sobre o meio ambiente são compatíveis com o seu discurso de campanha.
A escolha de um ministro para a pasta do meio ambiente, que respondia por crime de improbidade administrativa quando ocupou o cargo de secretário do meio ambiente no governo de Geraldo Alckmin, já escancarava o desejo do presidente de concretizar seu maléfico desejo de transformar a Amazônia em terra arrasada. Flexibilizar e fragilizar organismos ambientais como o IBAMA que é responsável pela fiscalização em áreas ambientais federais contribuiu para o aumento desenfreado da grilagem em áreas protegidas e em territórios indígenas. 
Desde o início do mandato o governo vem tomando decisões equivocadas sobre a Amazônia e o clima, demonstrando total desinteresse quanto aos protocolos assinados pelo Brasil em reuniões como as COP, a exemplo da 23, realizada em Paris, em 2015. Na realidade a posição contrária do governo a tudo que se refere à proteção de ecossistemas como o bioma da Amazônia, tem relação com grupos econômicos e bancadas de parlamentares, a ruralista, por exemplo, que dão sustentação política nas ações do governo federal.
O que mais vem sendo noticiado pela imprensa nos últimos meses são as invasões criminosas de garimpeiros, desmatadores, grileiros, em áreas públicas ocupadas por florestas na Amazônia. O que as organizações ligadas ao meio ambiente e em defesa das comunidades indígenas vêm alertando é que com as invasões os indígenas estão sendo contaminados pelo Corona Vírus, situação que pode levar ao genocídio definitivo dos povos remanescentes que resistiram à tomada de suas terras há mais de quinhentos anos.
 As previsões de um possível genocídio dos povos tradicionais que habitam as florestas da Amazônia cada vez se tornam mais real quando nos deparamos com atitudes insanas do governo, como a medida provisória 910 que autorizar a regularização de terras públicas ou indígenas ocupadas por grileiros. Legalizar o crime cometido por grileiros em terras invadidas na Amazônia é um péssimo exemplo do governo, pois abrira precedentes para novas invasões e o crescimento do desmatamento.
Somada a essa medida provisória insana está a IN n. 9/2020, da FUNAI, na qual permitirá que mais de 237 Territórios Indígenas pendentes de homologação, poderão ser vendidos, loteados, desmembrados e invadidos. Causa estranheza uma medida absurda vir de um órgão que teria por função constitucional, a defesa dos territórios e costumes indígenas. Porém, a pouca esperança que resta aos povos indígenas na defesa de seus territórios e costumes estão presentes no art. 231 da CF e na lei n. 6001/1973, que trata sobre o estatuto do índio.
No artigo 231 da CF, está descrito, entre outros itens, que terras indígenas são consideradas inalienáveis e indisponíveis, ou seja, é assegurada a ocupação por quem lhes são de direito, os próprios índios.[1] Já o estatuto do índio estabelece os povos indígenas tem o direito de posse independente de estarem demarcadas ou não.  
Quem achou que o desmatamento poderia cessar ou diminuir abruptamente com a pandemia, se enganou. Muito pelo contrário, nos primeiros quatro meses de 2020, foram destruídos 1.319 hectares de florestas em terras indígenas. Um aumento de 60% em comparação ao mesmo período de 2019. Uma das comunidades mais afetadas pelos desmatamentos foi a da etnia Ituna-itatá, com 397,4 hectares. O que é mais preocupante é o fato de 94% do território da etnia Ituna-Itatá, as terras estão registradas em nomes de particulares a partir do sistema CAR (Cadastro Ambiental Rural).
Se tal Medida Provisória for aprovada no congresso o governo brasileiro estará abrindo definitivamente as portas para a tomada criminosa da Amazônia. Atualmente cerca de cem grupos indígenas vivem em situação de isolamento na região, ou seja, são populações que não tiveram ainda contato com as populações brancas. As políticas hoje em vigor no Brasil vetam o acesso às terras habitadas por esses povos. No entanto as legislações e normativas em vigor não são suficientes para barrar as invasões. O receio das entidades de proteção aos povos indígenas como a CIMI (Conselho Indigenista Missionário) é que havendo o contato, os grupos isolados poderão ser acometidos por doenças como a Corona vírus.
Os estudos sobre as florestas da Amazônia confirmam que as mesmas são responsáveis pela dispersão das chuvas para o sudeste e sul do Brasil, sob a forma de rios voadores. Com a progressiva redução das áreas de florestas, a tendência é a diminuição do fluxo de chuvas no norte e demais regiões brasileiras. O próprio agronegócio será violentamente afetado pelo desmatamento, pelo fato da redução das chuvas. As estiagens que atualmente atingem a região sul do Brasil, com mais intensidade os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, não há dúvida que o respectivo fenômeno climático deve tem relação com a pressão do agronegócio sobre as florestas na Amazônia.
Além dos impactos diretos sobre o clima global, as agressões sobre o bioma da Amazônia podem resultar no aparecimento de futuras pandemias tão ou mais agressivas que a Corona Vírus. Do mesmo modo que as epidemias ou pandemias conhecidas como AIDS, H1N1 e COVID 19, tiveram como vetores disseminadores ao ser humano, animais silvestres, é quase que certo que nas entranhas da floresta amazônica animais guardam em seu organismo vírus que poderão matar em pouco tempo a espécie humana.
O corona vírus, A1N1, DENGUE, ZICA VIRUS, AIDS, EBOLA, estão diretamente relacionados a problemas ambientais, ou seja, ação equivocada do ser humano sobre ecossistemas frágeis. É preciso tomar muito cuidado no manejo de ecossistemas como o bioma da Amazônia e a Mata Atlântica. A leitura que temos que fazer do corona vírus é como um sinal de alerta, um aviso, que temos que mudar nosso modo como estamos tratando o planeta terra.
Prof. Jairo Cezar

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