domingo, 31 de maio de 2020


A MATA ATLÂNTICA E OS DEMAIS BIOMAS NA MIRA DOS DEPREDADORES E CAPITANEADO PELO GOVERNO FEDERAL

Enquanto toda a atenção da sociedade em 2019 esteve direcionada às queimadas que destruíram parcela significativa do bioma amazônico, na mesma ocasião, o frágil ecossistema mata atlântico vinha perdendo parte do pouco do que resta da floresta por desmatadores e outros criminosos. O que é preocupante é o fato do bioma mata atlântica ser tão ou mais importante ecologicamente que todos os biomas por se tratar de área onde nascem os principais rios que abastecem cidades importantes e super povoadas como rio de janeiro e são Paulo. 
Depois de longos anos com taxas de desmatamentos elevadas, que fizeram com que restassem apenas 12,4% da mata atlântica, entre 2015 a 2017, os estados e o governo federal adotaram políticas que contribuíram para uma sensível redução da supressão de espécies nativas desse ecossistema. Entretanto, de 2018 a 2019 voltou a crescer o desmatamento, foram 14.502 hectares de florestas destruídas, um crescimento de 27,2% comparado com o mesmo período anterior. Outra vez o estado de Minas Geral foi o campeão em desmatamento, vindo em seguida, Bahia, Paraná, Piauí e Santa Catarina, esse último estado com 22%, que soma 710 hectares.
Não há duvida que os promotores desse terrível desastre ambiental tenham nome e endereço, o presidente Bolsonaro e o ministério do meio ambiente. Desde que assumiu a pasta ambiental foram dezenas de ações coordenadas dos quais resultaram em um dos maiores retrocessos nessa área nas últimas décadas. Os ataques aos órgãos encarregados da proteção ambiental como IBAMA e ICMBio, são alguns exemplos da explícita intenção de fragilizar ao máximo tudo que dificultasse a ocupação ilegal de grileiros, garimpeiros e desmatadores de áreas protegidas e indígenas na Amazônia.  
A progressiva redução da cobertura vegetal amazônica, do serrado e atlântica podem estar motivando a baixa precipitação pluviométrica na região sul do Brasil. Tanto o Paraná como Santa Catarina estão enfrentando uma das maiores estiagens já registrada pelos órgãos de monitoramento climático. Muitas cidades estão sofrendo com a falta d’água cujo abastecimento é feito com carro pipa. Diante desse cenário nada animador, o governo federal e seu ministério do meio ambiente insistem em desrespeitar legislações incluindo a própria constituição no que tange a proteção ambiental.
Antes de assumir a presidência, Bolsonaro fazia comentários de que fundiria o ministério do meio ambiente com o da agricultura. As reações contrárias à proposta nada conveniente para o meio ambiente foram rechaçadas pelas entidades ambientais e científicas que encaravam a medida como um real desastre para o segmento ambiental. O próprio Ministério da agricultura não via a decisão com satisfação, pois poderia comprometer o mercado das exportações do agronegócio.  A comunidade européia tem um posicionamento muito rígido no que tange as políticas de proteção ambiental. A extinção do ministério do meio ambiente levaria ao boicote de produtos do agronegócio. Atualmente, mesmo com a manutenção desse ministério, os países importadores ameaçam impor sanções ao Brasil, se medidas de contenção dos incêndios e desmatamentos das florestas não forem implementadas.  
O governo voltou atrás à decisão de compactação dos dois ministérios, porém, escolheu para chefiar a pasta uma alguém sem o mínimo de afinidade com as questões ambientais. Duas semanas antes de assumir a cadeira do ministério do meio ambiente, o futuro chefe da pasta havia sido condenado pela justiça por Fraude Ambiental na gestão do governador Geraldo Alckmin, no estado de São Paulo. Mesmo com essa mancha no seu currículo, Ricardo Salles, já como ministro, deu início, junto com o Bolsonaro, o macabro plano de devastação do que ainda restava dos biomas brasileiros.
A primeira malandragem cometida pelo Ministro na tentativa de enganar a todos foi informar que havia estudado na Universidade de Yale, nos Estados Unidos e que conhecia bastante de meio ambiente. A máscara do ministro caiu quando foi revelada a farsa, que sua formação era em direito, que advogava prestando serviços para o agronegócio. Já como ministro, o apoio aos setores do agronegócio continuou a todo vapor.
Desde 08 de janeiro de 2019 até 03 de dezembro do mesmo ano foram computados 62 intervenções envolvendo o ministro ou o presidente em ações que trouxeram algum dano ao meio ambiente.[1] Quem possuía alguma dúvida que Ricardo Salles, na função de ministro do meio ambiente, beneficiaria o agronegócio na desregulamentação dos obstáculos à investida desse setor em áreas protegidas, ficou claro na reunião ministerial de 22 de abril, no palácio do planalto, quando expressou opinião mostrando como o seu ministério está se portando desde que assumiu em 2019.
 A fala do ministro provocou indignação de setores ligados à proteção ambiental. Disse o ministro que: “nesse momento de tranqüilidade de cobertura da imprensa, porque só se fala de Covid 19, é passando a boiada e mudando todo o regramento, simplificando normas de Iphan, Ministério da Agricultura, meio ambiente. Agora é hora de unir as forças pra dar de baciada a simplificação de regulatória”. Cada trecho de sua fala carrega desejos maléficos à área ambiental. Defender a simplificação de normas ambientais, quando se tem um código florestal extremamente permissível, que beneficiou e beneficia infratores ambientais, é o extremo da ganância e perversidade humana.  
Na continuidade da fala ministro defendeu que os demais ministérios deveriam agir promovendo reformas infralegais, sem a aprovação do congresso.  Um exemplo de projeto infralegal, que infringe dispositivos constitucionais e a MP 910 (MP DA GRILAGEM) que tramita no congresso que visa regulamentar terras públicas ocupadas por grileiros. Imagina dar título de posse de terra a alguém que adquiriu de forma irregular. Isso abre precedente para novas ocupações e conflitos com indígenas.
 O que confirma a suspeita de que a Mata Atlântica sofre também a ação de madereiros criminosos e do setor imobiliário predador, a exemplo da Amazônia, foi o que falou o ministro Salles sobre um despacho assinado em maio sobre esse bioma. Relatou que: “essa semana assinamos uma medida a pedido do Ministério da Agricultura para simplificar a lei da mata atlântica, no lugar usar o código floresta. Que hoje já está nos jornais que vão entrar com ação civil pública em todo o Brasil para cancelar a medida. Para isso precisamos estar com a artilharia da AGU ( Advocacia Geral da União) preparada para que a cada linha que a gente avança, segurá-la”. Em abril de 2020 o Ministério do Meio Ambiente assinou o despacho n. 4.410/2020, que visa limitar o poder da lei da mata atlântica sobre áreas protegidas. No lugar dessa lei passa valer o código florestal que é mais flexível.
Essa proposta do despacho foi um pedido solicitado pelo ministério da agricultura. O que isso tem haver com o agravamento do bioma da mata atlântica? Quando foi sancionado o código florestal em 2012, foram anistiados todos que cometeram algum crime ambiental anterior a 2008. Esses proprietários não precisariam agora reparar as áreas destruídas. O despacho do ministro do meio ambiente determina que a Lei da Mata Atlântica (11.428/2006) não valerá para áreas consolidadas ou ocupadas, como topos de morros e margem de rios.
O fato é que essas áreas são consideradas APPs, cuja lei da mata atlântica desautoriza qualquer ocupação tanto agrícola quanto imobiliária.  Se a Ação Civil Pública impetrada pelo MPF contra o despacho for derrubada, não há dúvida que no próximo ano, 2021, as notícias sobre o aumento do desmatamento da mata atlântica novamente tomará espaço das mídias em todo o Brasil. Santa Catarina, certamente entrará no rol dos estados desmatadores, com taxas muitos maiores que as apresentadas atualmente.
A desestruturação de todo o aparato legal de proteção dos frágeis biomas está chegando ao limite suportável. O que é estarrecedor é quando se percebe que todo esse desmando dá qualquer sinal de recuo ou prisão dos responsáveis delinqüentes. O governo federal há poucos dias investiu sobre o ICMBio, entidade responsável pela gestão de todas as Unidades de Conservações federais, entre outras funções importantes. Além de reduzir o número de coordenações, trocou diretorias, substituindo profissionais altamente capacitados por militares. Na realidade, o ICMBio, que é uma entidade eminentemente civil, tornou-se militarizada. O risco é que projetos importantes coordenados por profissionais experientes possam sofrer algum tipo de interferência e prejuízo.
Se o ICMBio está sendo alvo de desmontes de graves repercussões ambientais, o que dizer do IBAMA e da FUNAI, no sancionamento da GLO (Garantia da Leia e da Ordem) na Amazônia, com a finalidade de conter as ações de criminosos sobre terras públicas.  Com esse dispositivo tais instituições federais passam a se submeterem aos ditames do exército, perdendo sua autonomia constitucional.
Prof. Jairo Cezar        

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