quarta-feira, 27 de maio de 2020


O RITMO ACELERADO DA EUGENIZAÇÃO (SELEÇÃO NAS COLETIVIDADES HUMANAS) EM TEMPOS DE CORONA VÍRUS.

Desde o período pré-eleitoral e depois já como presidente eleito, Bolsonaro vem provocando arrepios no campo acadêmico, principalmente entre os historiadores, com sua retórica apologética ao conflito, onde faz despertar o ódio adormecido de uma sociedade forjada sob a névoa da tolerância, cordialidade e igualdade racial. Diante desse cenário nada confortável, nossos pensamentos são tomados por um turbilhão de imagens de acontecimentos terríveis no passado cujos desdobramentos resultaram à morte de milhões de pessoas vítimas do holocausto e de ditaduras sanguinárias.  
O nazifascismo foi um desses trágicos episódios que deve ser relembrado como sendo o modo mais insano do comportamento humano na condução de uma sociedade. O que não faltam são fontes bibliográficas disponíveis sobre o tema a disposição do público, para compreenderem e repudiarem qualquer manifestação pela defenda desses valores repugnantes. A ideia de superioridade racial dominou as mentes doentias de governos psicopatas, onde o povo, cegado pelo medo e incerteza do futuro, cultuava como mitos irreparáveis, que se colocavam acima do bem e do mal.
Inúmeras produções literárias do gênero, das quais serviram de roteiros para filmes e documentários memoráveis, alguns dos quais geraram perplexidade aos expectadores quando compreenderam o modo brutal como regimes fascistas manipulavam a opinião pública para fazer valer seus propósitos insanos.  
Um dos filmes produzidos com clareza narrativa sobre a perversidade desse regime foi Salòn ou 120 dias de Sodoma, dirigido por Pier Paolo Pazzolini, cineasta italiano que  produziu cenas impactantes de indivíduos tomadas por sentimentos de sadismo. Os documentários, cegonha negra; homo sapiens 1900 e outros trabalhos como os longa metragens Nunca Deixe de Lembrar, O Ovo da Serpente e Meninos do Brasil, completam o rol de produções imperdíveis e necessárias para poder deter qualquer sinal de recrudescimento de tais regimes sanguinários.
É presumível que muitos devem lembrar-se do medico nazista Josef Mengele no qual foi responsável pelas experiências macabras com seres humanos durante o regime de Hitler.  O filme Os Meninos do Brasil, traz alguns recortes de sua trajetória na America do Sul, onde fixou residência na Argentina, Paraguai e Brasil com identidades falsas.  Seu propósito na região foi fugir da justiça alemã, onde foi oferecido um resgate de mais de três milhões de dólares para quem desse alguma pista de seu paradeiro. Na região manteve contato com simpatizantes nazistas, principalmente na Argentina, onde se encarregou de lançar os fundamentos para o quarto reich.  
O filme, considerado uma produção ficcionária, mostra suas experiências realizadas com crianças, como os 94 clones de Adolf Hitler que foram distribuídos em várias partes do mundo. O fato de querer discorrer dessa contundente temática tem relação com inúmeros episódios protagonizados pelo atual presidente, dos quais denota fortes similaridades com os ocorridos na Alemanha pré-nazismo. A elucidação dos discursos do presidente, repletos de elementos preconceituosos e eugênicos é revelada a partir do texto escrito em 1995 por Umberto Eco, Uma lição de Umberto Eco contra o fascismo eterno, considerado uma crítica séria para rechaçar qualquer forma de inserção de projeto de governo similar.
Umberto Eco destaca quatorze elementos que caracterizam um discurso ou uma cultura pré-fascista em formação. Dentre as que mais chamaram a atenção destacamos: a recusas a modernidade, o culto a tradição, o irracionalismo, repudio ao diferente e a xenofobia.   A escolha desses conceitos, sem menosprezar os demais listados por Umberto Eco, se deve ao fato de ambos estarem presente no modo como o presidente Bolsonaro conduz o governo e o projeto de sociedade pretendida. 
A ideia de eugenização no Brasil é antiga, data do final do século XIX quando o pensamento científico estava em franca expansão na Europa, fortemente influenciada pelas teorias Lamarckiana, Mendeliana, entre outras. Tanto uma quanto a outra, seus seguidores procuraram por meio delas justificar suas experiências na tentativa de comprovar a superioridade genética de um grupo social frente aos demais. Com base nesses estudos eugênicos, chegou-se a conclusão insana que as sociedades constituídas por grupos mestiços, tenderiam a se degenerar ao longo do tempo.
O Brasil do final do século XIX, cuja população era constituída na sua maioria por negros ex-escravos, era necessário promover o branqueamento racial. Sendo assim, a monarquia colocou em prática seu plano estimulando a imigração de europeus, na sua maioria italiana e alemã.    Já no século XX, a proposta de melhoria da raça humana dominava os discursos dos integrantes das sociedades científicas, intelectuais e nas instâncias políticas. Foi na década de 1930, no governo de Getúlio Vargas que o movimento de eugenização tomou mais impulso. Um dos fatores foi à aproximação de Vargas com a Alemanha, cujas idéias defendidas por Hitler lhe serviram de inspiração para serem adotadas no Brasil.
A obsessão por uma raça pura que dominara os circos dos debates políticos vanguardistas de Vargas chegou ao extremo de incluir um artigo sobre o tema na constituição de 1934, no qual impôs responsabilidade do Estado e da família na fomentação da educação eugênica. Um dos defensores desse projeto foi Monteiro Lobato, que alimentava admiração e prestígio a tais idéias de superioridade racial. Para fomentar valores eugênicos a toda sociedade teria que partir de um projeto mais ousado, ou seja, a elaboração de um currículo escolar que fosse capaz de disseminar idéias e conceitos superdimensionando a população branca em detrimento das demais etnias.      
  Quem acha que são devaneios ou atos conspiratórios de intelectuais a afirmação de haver um projeto de eugenização em curso no Brasil, fatos recentes poderão dar maior credibilidade a tal afirmação.  No começo de 2020, um integrante do ministério da cultura gravou vídeo expressando trechos do discurso proferido pelo ministro da propaganda nazista de Hitler, que foi assim descrito: “a arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional (...) ou não será nada”.
Outro momento impactante no qual levantaram suspeitas dos interesses do governo Bolsonaro em apregoar uma ordem política fascista foi quando defendeu a proposta de isolamento vertical diante da pandemia do corona vírus. Esse modelo de quarentena permite que jovens e pessoas fora do grupo de risco voltem ao trabalho ou a normalidade.
O fato é que expressiva parcela dessa população que seria excluída da quarentena dividem os mesmos cômodos dos grupos de riscos. A probabilidade de contaminação dessa população é enorme. Na ocasião, quando defendeu essa proposta de quarentena, o presidente da república lançou opinião afirmando que tais pessoas vão morrer mesmo, sendo que os sobreviventes serão os jovens e os atletas, que resistirão ao vírus.
Diante da postura inconsequente do presidente no enfrentamento da pandemia, que deveria ser responsabilizado pelo aumento vertiginoso nos números de contaminados e mortes no Brasil, ficou evidenciado que existe um projeto velado de “pureza racial” em curso. Esse plano macabro de “limpeza étnica” afetará principalmente negros e imigrantes hispânicos nos Estados Unidos, representando quase a metade dos cem mil mortes já contabilizadas naquele país. No caso brasileiro, os negros, indígenas, idosos e pessoas com morbidade estão sendo as principais vítimas fatais.
A ideia de supervalorizar a economia em detrimento das vidas ceifadas pela doença traz à reflexão teorias clássicas como a evolução das espécies, de Charles Darwin. Com o agravamento da crise econômica que limitará cada vez mais a oferta de recursos à população, na visão do mercado, haverá a necessidade de selecionar quem primeiro será atendido e quem ficará a mercê da sorte. Durante o caos da pandemia que se abateu sobre a Itália, a oferta de respiradores disponíveis nos hospitais foram insuficientes à forte demanda de contaminados pelo vírus.  
Os médicos, portanto, tiveram que tomar decisões extremas escolhendo quem usaria primeiro os equipamentos. Nos Estados Unidos, bem como no Brasil, parcela significativa das vítimas fatais pelo vírus integram o grupo dos marginalizados socialmente. No caso brasileiro, a letalidade é maior às pessoas que habitam bairros de comunidades pobres, onde há baixa oferta de saneamento básico como água potável e rede de esgoto.     
Enquanto no mundo inteiro cresce o número de universidades e instituições de pesquisas na busca da vacina para combater a corona vírus, no Brasil, intensificam-se as correntes ideológicas fundamentalistas que desprezam valores relativos à pesquisa, à ciência.  Os ataques desferidos contra universidades públicas, bem como a escolha de um ministro da educação desprovido de competência mínima ao cargo que exerce, fazem parte da agenda regressista social do atual governo.   
É necessário que medidas urgentes sejam executadas para deter a disseminação desse maléfico vírus chamado Bolsonaro, que já é reconhecido mundialmente como um dos líderes mais inconsequentes na atualidade na condução da pandemia. Um dos poucos alentos reservados à população capaz de frear o desejo insano do presidente de levar o Brasil ao abismo social são as instituições republicanas, congresso e o STF, esse último palco de freqüentes ataques de apoiadores bolsonaristas.
Parece que estamos longe de ver cessar as acrobacias homicidas desse governo, que continua se comportando como um déspota, mandando jornalistas calarem a boca, ministros chamando ministros do supremo tribunal federal de vagabundos, governadores e prefeitos de estrumes, bostas, etc., etc. É claro que tais peripécias produzidas pelo elenco desse circo protagonizado por Jair Bolsonaro têm um público seleto que lhes dão respaldo, que vibram na mesma intensidade doentia de cada integrante desse governo.
São pessoas pervertidas que sentem relativo prazer por situações mórbidas, por coisas macabras. Em uma manifestação ocorrida na avenida paulista em abril contra a quarentena, um grupo de pessoas carregavam uma caixão simbolizando a ditadura do corona vírus. Em um momento onde os casos fatais pelo vírus no Brasil ultrapassavam mil mortes, a cena do caixão na avenida passou a ser vista como um deboche, uma afronta as famílias que perderam seus ati-queridos pela doença.
Prof. Jairo Cezar         

Um comentário:

  1. Diante desse quadro, não consigo achar um solução que resolva isso de forma pacífica, se o congresso não intervir e impedir a continuidade deste governo, teremos a volta de uma nova ditadura na América latina.

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