ENSINO REMOTO EM TEMPO DE CORONA
VÍRUS EXPÕE A TRISTE REALIDADE DE MILHÕES DE BRASILEIROS
Imagino
que muitos brasileiros/as devem estar incomodados/as com a repedida propaganda
veiculada nas principais mídias abertas onde quatro indivíduos jovens,
provavelmente bem pagos, expressam opiniões convergentes estimulando estudantes
a fazerem as inscrições para o Enem. Os/as mesmos/as expressam tons de
entusiasmo nas suas falas, admitindo que mesmo diante das dificuldades que ora
afligem a sociedade afirmam que a “vida não pode parar”, “que é preciso ir à luta”,
“se reinventar”, “superar”.
São
frases meticulosamente elaboradas das quais verbalizam o pensamento de um grupo
específico que defende a meritocracia, o esforço individual, como caminho para
o sucesso. Penso também, que muitos/as não discordam dessas premissas, porém, é
claro que num momento onde houvesse o equilíbrio no acesso do saber. Não no
caso brasileiro, em que milhões de jovens estão fora das salas de aulas devido a
pandemia, cuja parcela significativa das residências que habitam não possui água
potável, muito menos rede de esgoto.
Diariamente,
integrantes dos órgãos da saúde e da imprensa em geral vêm insistentemente
recomendando às pessoas a permanecerem em suas casas para evitar o contagio ou
disseminação do vírus. Outra recomendação é que lavem bem as mãos e usem
máscaras. Para cerca de cinquenta milhões de indivíduos, o simples ato de lavar
as mãos diariamente é um hábito quase que impraticável, pois estão desprovidas/os
dessem recurso natural.
Imaginemos
agora essas milhares de famílias desprovidas dessas mínimas condições para
sobrevivência, onde cinco, dez ou mais indivíduos dividem um pequeno cômodo
apertado e ainda por cima apavorados com medo de serem contagiados pelo corona
vírus. Como essas pessoas, principalmente as crianças e adolescentes terão
equilíbrio psicológico para estudarem. Se durante a normalidade, anterior a
pandemia, o processo de aprendizagem já era difícil devido as fragilidades estruturais
das escolas públicas, quiçá agora, com a adoção do sistema de ensino remoto.
Se
não há água para lavar as mãos nas milhares de residências espalhadas pelo
território brasileiro, agora pensemos outros recursos adicionais como
computadores, internet, consideradas ferramentas essenciais à prática dessas
metodologias não presenciais oferecidas pelas redes de ensino públicas. No
Brasil, dados de 2018, revelavam que 20% dos domicílios, dos quais reúnem 17
milhões de unidades residenciais não possuíam conexão com a internet. Na
propagando relativa ao Enem são expressas frases com tom otimista, reafirmando
o pensamento de um governo que desconhece a realidade da sociedade brasileira.
“A
vida não pode parar”; “é preciso ir à luta”; “se reinventar, superar”; “estudem
de qualquer forma”, “de diferentes formas”; “seu futuro já está aí”. É claro
que esse futuro desejado jamais poderá ser alcançado por vasta gama de
estudantes brasileiros, que já estão passando fome, pois seus pais estão
desempregados e sobrevivem graças a doações.
É notória a falta de sensibilidade do governo com os estudantes das
escolas públicas, que mesmo aqueles que apresentam condições mínimas para o
acompanhamento das aulas não presenciais, não são suficientes para adquirir uma
base satisfatória de conhecimento.
Em
contato com colegas professores/as de escolas públicas, as opiniões de ambos/as
são quase consensuais quando ao modelo de ensino não presencial. Ambos/as relataram
que os estudantes têm muitas dificuldades para resolver individualmente questões
simples das atividades encaminhadas. Há exemplos de estudantes que necessitam
se deslocar por longas distâncias para acessar a internet de um parente, pois
na sua casa não há conexão, que dirá banda larga.
Tem
exemplos de famílias onde há apenas um celular pré-pago, geralmente
compartilhado entre os membros da casa. “Estudar de qualquer forma” soa de modo
agressivo, mortal em muitos casos, para milhares de famílias que são forçadas saírem
de casa para ir à escola dos filhos buscarem ou entregar as atividades
encaminhadas. A pergunta que não quer calar é por que essa
obsessão do governo em querer realizar o Enem num momento tão adverso como o
atual?
As
respostas são diversas, mas o ponto central da decisão é político, uma atitude
que soa revanchismo às posições contrárias de órgãos como o Ministério Público
que encaminhou ação pedindo transferência ou adiamento do Enem. Era o memento
do governo, nesse caso do ministro da educação, semanalmente, fazer pronunciamento
à nação, transmitindo calma aos estudantes, bem como se solidarizar com as
famílias que perderam algum anti-querido com o vírus.
Ao
mesmo tempo, deveria comunicar o adiamento do Enem para esse ano, bem como
criar estratégias como a criação de um canal de TV com transmissões diárias de
informações sobre o vírus, os cuidados e outros temas de relevância à
sociedade. É obvio que jamais acontecerá em um governo, onde o ministro da
educação se mostra despreparado para o exercício do cargo. Desde o inicio,
quando assumiu a pasta da educação, esteve envolvido em polêmicas com
professores e estudantes, achincalhando ou ameaçando-os em redes sociais. Sua
postura sempre foi de criar confusões, até chegar ao limite de ser denunciado
por crime de racismo contra chineses.
Outro
aspecto importe a ser considerado nessa modalidade de ensino a distância ou
remoto, são as pressões advindas de organismos como o Banco Mundial, fundações
e poderosas corporações do setor de tecnologia que estão aproveitando o momento
de crise para faturar vendendo seus produtos. Com a Pandemia, o Banco Mundial
admitiu que o processo educacional no mundo inteiro terá um expressivo
retrocesso. Para o capital, o impacto no ensino afetará profundamente o
processo produtivo devido a escassez de profissionais habilitados,
principalmente de trabalhadores com formação técnica.
Diante
dessa crise no sistema educacional, o Banco Mundial e outros organismos como a
UNISEF, OMS, UNESCO, OCDE, entre outras, vem coordenado um programa de coalizão
global de educação durante a pandemia, com objeto de dar suporte para que o
processo de ensino tenha continuidade. Entretanto, o modelo pensado por esses
organismos segue uma agenda empresarial, onde empresas de tecnologias,
fundações assumem o papel de financiadores e definidores dos programas e
metodologias que deverão ser adotadas nas escolas. Dentre os organismos
envolvidos nessa agenda, podemos destacar a GOOGLE e a FUNDAÇÃO LEMANN, cujo modelo
de ensino dessa fundação está distribuído em vinte estados da federação.
A
proposta encaminhada pelo Banco Mundial tem a aceitação de muitos países,
dentre eles o Brasil. Porém, tudo isso tem um custo enorme que afeta
diretamente a classe trabalhadora, principalmente os profissionais ligados a
educação. A recomendação do organismo financeiro é que os estados que adotarem
essa agenda terão que acatar algumas recomendações, como a flexibilização de
contratos e na organização do trabalho dos professores. A pandemia,
portanto, está servindo de laboratório para a experimentação dessas novas
ferramentas que tenderá a permanecer mesmo depois da crise alterando
profundamente as relações de convívio e trabalho.
Prof.
Jairo Cezar
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