DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE: MOMENTO
PARA REFLETIR O DRAMA AMBIENTAL NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA
As
mudanças climáticas globais já repercutem com certa freqüência e intensidade no
território brasileiro. A região sul, no entanto, os efeitos são mais visíveis,
pois há um ano os estados de Santa Catarina, Paraná e vasta área do território
do Rio Grande do sul sofrem com a estiagem, com forte repercussão na
agropecuária e o abastecimento público. Estudos comprovam que fenômenos
extremos do clima, como as progressivas estiagens no sul do Brasil são reflexos
dos desmatamentos da região amazônica.
As
florestas são responsáveis pela evapotranspiração, onde posteriormente se
transformarão em nuvens carregadas de umidade. Esse sistema batizado de rios
voadores se desloca em direção oeste da América do sul. Quando as nuvens
alcançam a cordilheira dos Andes, toda essa umidade é empurrada para o sul do
continente, favorecendo o ciclo das chuvas na região sudeste e sul do Brasil. É
um erro admitir que a destruição da floresta amazônica seja a única responsável
pelo desarranjo climático no território brasileiro e global.
Outros
biomas como o Serrado e a Mata Atlântica se somam ao bioma amazônico no
desequilíbrio climático. Estão nos biomas do serrado e mata atlânticas as
nascentes dos principais rios brasileiros, o São Francisco, o Paraíba do Sul, o
Rio Doce, o Rio Araranguá, o Mampituba, entre outros tantos. O que se ouve nos
noticiários diários são reportagens exibindo o aumento do desmatamento e
queimadas nesses biomas, afetando a recarga dos aquíferos que depois irão repor
a água dos rios.
No
estado de Santa Catarina, mais precisamente na região do extremo sul do estado,
está se tornando rotina os ciclos cada vez mais curtos de estiagem. Os efeitos
da escassez de chuvas estão forçando produtores do setor da rizicultura a
substituírem variedades que consomem o mínimo de água. No entanto essas
mudanças não estão conseguindo impedir conflitos envolvendo rizicultores, o
seguimento agroindustrial e a população, na disputa pela água.
Nos
últimos dez anos essa região do sul do estado já enfrentou duas ou três longas
estiagens, com fortes impactos principalmente no abastecimento humano. Cada vez
mais esses episódios climáticos extremos levantam o debate sobre a necessidade
de construção de novas barragens para o armazenamento dá água. Além de serem
obras caras, ambas trazem certo risco de segurança a população. Exemplos de tragédias
envolvendo barragens são inúmeras para exemplificar no Brasil.
Em
vez da construção de barragens dispendiosas, há outros meios eficientes e
sustentáveis e de baixo custo para minimizar o problema da falta de água na
região. A recuperação do passivo ambiental como o reflorestamento das margens
dos rios e nas nascentes asseguraria a recarga dos aquíferos que alimentam tais
mananciais. O município de Araranguá, os atuais reflexos da falta de chuva já
revelam um cenário atípico, não observado nas estiagens passadas.
O
esgotamento de alguns açudes particulares e a visível redução do volume dos
dois principais mananciais de abastecimento público, lago dourado e lagoa da
serra, comprovam que a atual estiagem é a mais severa que as anteriores. Em termos comparativos, entre junho de 2018 a
maio de 2019, o volume de chuva precipitado em Araranguá foi de 2.317 mm. Somente
o mês de maio de 2019, o índice pluviométrico alcançou os 529 mm, volume
atípico, superior a todas as medições realizadas no passado, exceto em setembro
de 2009, quando choveu 594 mm.
Depois
de ter ocorrido enxurrada que provocou transtorno no sul do estado em maio de
2019, a região experimentou e vem experimentando a falta de chuva, cujos
volumes precipitados no intervalo de um ano, ou seja, entre junho de 2019 a
maio de 2020, foram parcos 837 mm, quase três vezes inferior ao mesmo período
anterior. Conforme o gráfico abaixo se constata que foram somente dois meses,
entre 2019-2020, que o volume de chuva superou os demais meses do intervalo
anterior.
Foto - Jairo |
A
atual estiagem está sendo superior a de 2011 e 2012. Em termos comparativos, de
janeiro a dezembro de 2012, a quantidade de chuva que caiu na região do extremo
sul de santa Catarina, foi de 1114 mm. Agora avaliando o período inicial da
estiagem, setembro de 2011 e o término, agosto de 2012, conforme o gráfico
abaixo, o volume total de chuva nos 12 meses foi de 938 mm, muito abaixo dos
volumes normais para a região que são acima de 1500 mm.
Foto - Jairo |
Está
se tornando regra algumas comunidades do interior ter de recorrer ao
abastecimento de água por meio de carro pipa, pelo fato de muitos poços e
ponteiras terem secado. O município de Araranguá, bem como do Arroio do Silva,
os impactos no abastecimento público não estão ainda sendo sentidos como em
outros municípios da região, a exemplo de Turvo, que depende da água do rio
Amola Faca, afluente do rio Araranguá, para suprir a população.
Reportagem
publicada no site 4oito, em 30 de 12 de 2019, relatou que o respectivo afluente
do rio Araranguá, que abastecia o município de Turvo, havia secado por
completo. Os estudos realizados por meteorologistas e outros pesquisadores sobre
o tempo para a região do sul de Santa Catarina não são tão otimistas para no
que tange a normalização do ciclo das chuvas.
A
tendência é a intensificação das estiagens e o aumento dos conflitos pela concorrência
da água. A EPAGRI, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina, vem
incentivando os rizicultores e demais produtores rurais do extremo sul de Santa
Catarina a construírem açudes para o armazenamento da água da chuva. Uma soída
paliativa que pode ajudar os agricultores nos períodos mais críticos de falta
de água.
O
município de Araranguá embora possua três mananciais de abastecimento público,
não está isento de vir a sofrer com o racionamento de água no futuro. Os dois
principais mananciais Lagoa da Serra e Lago Dourado são visíveis os efeitos dos
impactos da estiagem. Entretanto pouco se comenta que parcela expressiva do
baixo volume está relacionada a fatores socioambientais, como a ocupação
desordenada das margens dos respectivos mananciais e o elevado desperdício por
parte da população.
Da
totalidade de água tratada pelo SAMAE ofertada à população, mais de 50% é
desperdiçada ou por vazamentos ou por uso indevido. Se os índices de chuvas se
mantiverem abaixo da normalidade, a tendência é o agravamento da crise hídrica
no município em um futuro muito próximo. Diante desse cenário nada promissor não há no município
de Araranguá qualquer programa de monitoramento dos mananciais, bem como a
existência de uma política de educação ambiental à população, conscientizando-as
sobre a gestão eficiente da água.
O
descaso com esse recurso é tamanho que corre o risco de perder definitivamente
uma de suas principais reservas de água doce para as futuras gerações, o
manancial Lagoa do Caverá. Há décadas vêm se discutindo um programa de
salvamento do respectivo manancial, que acompanhado com a lagoa do Sombrio se
caracterizavam até pouco tempo o maior manancial de água doce do estado.
Inúmeras
foram as audiências, reuniões, viagens ao DEINFRA (Departamento de
Infraestrutura de Santa Catarina) em Florianópolis, a FATMA (Fundação Ambiental
de Santa Catarina), hoje IMA, em Criciúma, entre tantos outros eventos com
vistas a discutir saídas aos impactos sofridos pelos dois mananciais. Há cerca
de cinco anos foi elaborado um plano de estudo para tentar resolver o problema
da lagoa do Caverá. O plano consumiu dos cofres públicos do estado mais de um
milhão de reais. Esse estudo foi questionado no que tange sua relevância e os
valores exorbitantes que foram cobrados. No entanto, até o momento, nada foi
concretizado e a lagoa continua agonizando
Para solucionar o problema da perde de água
da lagoa do Caverá a saída é simples, basta a construção de um dique para a
contenção da água. Essa ação, de baixo custo, fará com que cerca de cem metros
no entorno da lagoa sejam novamente ocupados pela a água, restabelecendo
parcela dos limites tradicionais da lagoa. O fato é que há interesses
econômicos envolvendo a solução do problema da perda de água da lagoa.
Empresas
da região vêm explorando há anos a terra turfa, mineral que vai se formando à
medida que a o manancial vai secando. É possível que em um futuro bem próximo
não tenhamos mais a nossa disposição essa preciosa reserva de água. Ainda há
tempo para salvar a lagoa, basta força de vontade das autoridades políticas
regionais e estaduais.
Prof.
Jairo Cezar
FALTA DE CHUVA JÁ PROVOCA
CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA EM VÁRIOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ
PROJETO ESCOLA SUSTENTÁVEL E AS
ETAs (ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA) DE ARARANGUÁ – VISITA A ESTAÇÃO AÇUDE
BELINZONI
DIA MUNDIAL DA ÁGUA:
RECURSO FINITO CADA VEZ MAIS ESCASSO NO PLANETA
Barragem do Rio do Salto/Timbé
do Sul: seus impactos e conflitos socioambientais e as incertezas quanto ao
futuro da região
Manancial Lagoa da Serra/Araranguá,
ameaçado pela ocupação imobiliária.
Audiência Pública
no Sombrio revela a real fragilidade do Complexo Lagunar do Extremo Sul de
Santa Catarina
Algumas das causas
da crise da falta de água na região sudeste do Brasil
UM OLHAR ATENTO ACERCA
DOS PROBLEMAS DA ÁGUA NO BRASIL E NA REGIÃO QUE INTEGRA A BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO ARARANGUÁ
RELATÓRIO
DA COMISSÃO DO COMITÊ DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ QUE DISCORREU SOBRE OS
PROBLEMAS DO MANANCIAL LAGOA DO CAVERÁ
O
BIOMA DA MATA ATLÂNTICA SEGUE AGONIZANDO
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