sexta-feira, 5 de junho de 2020


DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE: MOMENTO PARA REFLETIR O DRAMA AMBIENTAL NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA

As mudanças climáticas globais já repercutem com certa freqüência e intensidade no território brasileiro. A região sul, no entanto, os efeitos são mais visíveis, pois há um ano os estados de Santa Catarina, Paraná e vasta área do território do Rio Grande do sul sofrem com a estiagem, com forte repercussão na agropecuária e o abastecimento público. Estudos comprovam que fenômenos extremos do clima, como as progressivas estiagens no sul do Brasil são reflexos dos desmatamentos da região amazônica. 
As florestas são responsáveis pela evapotranspiração, onde posteriormente se transformarão em nuvens carregadas de umidade. Esse sistema batizado de rios voadores se desloca em direção oeste da América do sul. Quando as nuvens alcançam a cordilheira dos Andes, toda essa umidade é empurrada para o sul do continente, favorecendo o ciclo das chuvas na região sudeste e sul do Brasil. É um erro admitir que a destruição da floresta amazônica seja a única responsável pelo desarranjo climático no território brasileiro e global.
Outros biomas como o Serrado e a Mata Atlântica se somam ao bioma amazônico no desequilíbrio climático. Estão nos biomas do serrado e mata atlânticas as nascentes dos principais rios brasileiros, o São Francisco, o Paraíba do Sul, o Rio Doce, o Rio Araranguá, o Mampituba, entre outros tantos. O que se ouve nos noticiários diários são reportagens exibindo o aumento do desmatamento e queimadas nesses biomas, afetando a recarga dos aquíferos que depois irão repor a água dos rios.
No estado de Santa Catarina, mais precisamente na região do extremo sul do estado, está se tornando rotina os ciclos cada vez mais curtos de estiagem. Os efeitos da escassez de chuvas estão forçando produtores do setor da rizicultura a substituírem variedades que consomem o mínimo de água. No entanto essas mudanças não estão conseguindo impedir conflitos envolvendo rizicultores, o seguimento agroindustrial e a população, na disputa pela água.
Nos últimos dez anos essa região do sul do estado já enfrentou duas ou três longas estiagens, com fortes impactos principalmente no abastecimento humano. Cada vez mais esses episódios climáticos extremos levantam o debate sobre a necessidade de construção de novas barragens para o armazenamento dá água. Além de serem obras caras, ambas trazem certo risco de segurança a população. Exemplos de tragédias envolvendo barragens são inúmeras para exemplificar no Brasil.  
Em vez da construção de barragens dispendiosas, há outros meios eficientes e sustentáveis e de baixo custo para minimizar o problema da falta de água na região. A recuperação do passivo ambiental como o reflorestamento das margens dos rios e nas nascentes asseguraria a recarga dos aquíferos que alimentam tais mananciais. O município de Araranguá, os atuais reflexos da falta de chuva já revelam um cenário atípico, não observado nas estiagens passadas.
O esgotamento de alguns açudes particulares e a visível redução do volume dos dois principais mananciais de abastecimento público, lago dourado e lagoa da serra, comprovam que a atual estiagem é a mais severa que as anteriores.  Em termos comparativos, entre junho de 2018 a maio de 2019, o volume de chuva precipitado em Araranguá foi de 2.317 mm. Somente o mês de maio de 2019, o índice pluviométrico alcançou os 529 mm, volume atípico, superior a todas as medições realizadas no passado, exceto em setembro de 2009, quando choveu 594 mm.  
Depois de ter ocorrido enxurrada que provocou transtorno no sul do estado em maio de 2019, a região experimentou e vem experimentando a falta de chuva, cujos volumes precipitados no intervalo de um ano, ou seja, entre junho de 2019 a maio de 2020, foram parcos 837 mm, quase três vezes inferior ao mesmo período anterior. Conforme o gráfico abaixo se constata que foram somente dois meses, entre 2019-2020, que o volume de chuva superou os demais meses do intervalo anterior.
Foto - Jairo
A atual estiagem está sendo superior a de 2011 e 2012. Em termos comparativos, de janeiro a dezembro de 2012, a quantidade de chuva que caiu na região do extremo sul de santa Catarina, foi de 1114 mm. Agora avaliando o período inicial da estiagem, setembro de 2011 e o término, agosto de 2012, conforme o gráfico abaixo, o volume total de chuva nos 12 meses foi de 938 mm, muito abaixo dos volumes normais para a região que são acima de 1500 mm.
Foto - Jairo
Está se tornando regra algumas comunidades do interior ter de recorrer ao abastecimento de água por meio de carro pipa, pelo fato de muitos poços e ponteiras terem secado. O município de Araranguá, bem como do Arroio do Silva, os impactos no abastecimento público não estão ainda sendo sentidos como em outros municípios da região, a exemplo de Turvo, que depende da água do rio Amola Faca, afluente do rio Araranguá, para suprir a população.
Reportagem publicada no site 4oito, em 30 de 12 de 2019, relatou que o respectivo afluente do rio Araranguá, que abastecia o município de Turvo, havia secado por completo. Os estudos realizados por meteorologistas e outros pesquisadores sobre o tempo para a região do sul de Santa Catarina não são tão otimistas para no que tange a normalização do ciclo das chuvas.
A tendência é a intensificação das estiagens e o aumento dos conflitos pela concorrência da água. A EPAGRI, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina, vem incentivando os rizicultores e demais produtores rurais do extremo sul de Santa Catarina a construírem açudes para o armazenamento da água da chuva. Uma soída paliativa que pode ajudar os agricultores nos períodos mais críticos de falta de água.
O município de Araranguá embora possua três mananciais de abastecimento público, não está isento de vir a sofrer com o racionamento de água no futuro. Os dois principais mananciais Lagoa da Serra e Lago Dourado são visíveis os efeitos dos impactos da estiagem. Entretanto pouco se comenta que parcela expressiva do baixo volume está relacionada a fatores socioambientais, como a ocupação desordenada das margens dos respectivos mananciais e o elevado desperdício por parte da população.
Da totalidade de água tratada pelo SAMAE ofertada à população, mais de 50% é desperdiçada ou por vazamentos ou por uso indevido. Se os índices de chuvas se mantiverem abaixo da normalidade, a tendência é o agravamento da crise hídrica no município em um futuro muito próximo.  Diante desse cenário nada promissor não há no município de Araranguá qualquer programa de monitoramento dos mananciais, bem como a existência de uma política de educação ambiental à população, conscientizando-as sobre a gestão eficiente da água.
O descaso com esse recurso é tamanho que corre o risco de perder definitivamente uma de suas principais reservas de água doce para as futuras gerações, o manancial Lagoa do Caverá. Há décadas vêm se discutindo um programa de salvamento do respectivo manancial, que acompanhado com a lagoa do Sombrio se caracterizavam até pouco tempo o maior manancial de água doce do estado.
Inúmeras foram as audiências, reuniões, viagens ao DEINFRA (Departamento de Infraestrutura de Santa Catarina) em Florianópolis, a FATMA (Fundação Ambiental de Santa Catarina), hoje IMA, em Criciúma, entre tantos outros eventos com vistas a discutir saídas aos impactos sofridos pelos dois mananciais. Há cerca de cinco anos foi elaborado um plano de estudo para tentar resolver o problema da lagoa do Caverá. O plano consumiu dos cofres públicos do estado mais de um milhão de reais. Esse estudo foi questionado no que tange sua relevância e os valores exorbitantes que foram cobrados. No entanto, até o momento, nada foi concretizado e a lagoa continua agonizando
  Para solucionar o problema da perde de água da lagoa do Caverá a saída é simples, basta a construção de um dique para a contenção da água. Essa ação, de baixo custo, fará com que cerca de cem metros no entorno da lagoa sejam novamente ocupados pela a água, restabelecendo parcela dos limites tradicionais da lagoa. O fato é que há interesses econômicos envolvendo a solução do problema da perda de água da lagoa.
Empresas da região vêm explorando há anos a terra turfa, mineral que vai se formando à medida que a o manancial vai secando. É possível que em um futuro bem próximo não tenhamos mais a nossa disposição essa preciosa reserva de água. Ainda há tempo para salvar a lagoa, basta força de vontade das autoridades políticas regionais e estaduais.
Prof. Jairo Cezar    

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