segunda-feira, 22 de junho de 2020


MP 910/19 E PL 2.633/20 PROPOSTAS QUE VISAM LEGALIZAR A GRILAGEM DE TERRAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA

É sabido que o problema do desmatamento no Brasil faz parte dos noticiários nacionais e internacionais há muito tempo. Nos freqüentes encontros de cúpulas sobre o clima, a exemplo da COP, encontro das partes, o Brasil, em especial a região amazônica, sempre é citada como área ameaçada do planeta. Diante das mudanças climáticas que está alterando os ciclos meteorológicos e com impactos violentos na dinâmica de frágeis ecossistemas, muitos governos, pressionados pela fúria do capital estão flexibilizando ou destruindo suas políticas ambientais.
Os reflexos da ação irresponsável do homem sobre frágeis ambientes vão além do clima. O aspecto saúde humana tende a ficar cada vez mais fragilizada e ameaçada pelo aparecimento de doenças endêmicas e cujos vetores disseminadores são animais silvestres que habitam densas florestas. A AIDS, EBOLA, ZIKA VÍRUS, MALÁRIA, GRIPE ESPANHOLA, FEBRE AMARELA, H1N1, até mesmo o CORONAVÍRUS, são exemplos de doenças oriundas de ambientes antropisados.
A pandemia do Corona Vírus, deve ser encarada como um alerta à humanidade, fazendo refletir que é necessário repensar o modo como se está agindo sobre o planeta. Pesquisadores acreditam que uma nova pandemia, talvez mais devastadora que o Corona Vírus, poderá surgir num futuro próximo e cujo epicentro deverá ser o Brasil. Por que o Brasil? A resposta está no fato de o país possuir uma das maiores florestas tropicais do planeta, onde contém uma rica e complexa biota ainda desconhecida.
É quase certo que nesse caudal de seres há alguns que carregam patógenos, que em contato com animais confinados, suínos, bovinos, sofreram mutações significativas. Os alertas relativos à proteção da floresta amazônica, serrado, mata atlântica, entre os demais biomas, têm também essa finalidade, impedir que outros surtos de doenças causem tantos estragos e mortes a exemplo do Corona Vírus. Para a ciência, as florestas são vistas como laboratórios importantes a céu aberto.
A existência de medicamentos que combatem doenças foi possível graças às pesquisas em plantas e animais. A preservação das comunidades indígenas e quilombolas da Amazônia e de outras regiões são imprescindíveis para que os ricos acervos de conhecimentos empíricos das florestas não desapareçam. Entretanto, a forte obsessão por lucros rápidos ameaça a sobrevivência dessas comunidades, sufocada pelas invasões e grilagem das terras que ocupam.
As legislações em vigor, bem como a própria constituição federal, garantem o direito de usufruto das terras públicas da Amazônia pelas populações tradicionais. Uma das principais reivindicações dos tradicionais ocupantes dessas áreas é a sua demarcação, ou seja, a delimitação da área onde possam exercer suas atividades de subsistência e culturais com segurança.  Por serem áreas ricas em minerais, ouro em especial, as invasões por garimpeiros, madeireiros, colocam em risco frágeis ecossistemas como cursos de água devido à contaminação por metais pesados, como mercúrio.
A grilagem é outra terrível manobra cartorária dos invasores para a apropriação das terras públicas na Amazônia. O que causa estarrecimento é o fato de saber que as irregularidades constatadas na Amazônia têm o aval do próprio governo federal com políticas que redução do fiscalizador dos crimes ambientais atreves de órgãos como o IBAMA. Os incêndios que devastaram extensas áreas de florestas até o momento não há informações de que teriam sido punidos os autores das queimadas. Finalizando o ano de 2019 como um dos mais terríveis e devastadores na área ambiental nos últimos anos, 2020 começou assolado por uma pandemia que impactou e impacta a vida de milhões de pessoas no mundo inteiro.
O governo brasileiro frente à pandemia vem adotando uma postura contrária aos protocolos estabelecidos pela agência de saúde internacional como OMS. A atitude do presidente é avaliada como uma das mais inconsequentes na condução da pandemia, superando até a do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. Desde o momento que os primeiros casos de contaminação pelo Corona Vírus tiveram notícias, a imprensa brasileira direcionou todo o seu aparato jornalístico para cobrir os desdobramentos da pandemia no Brasil e no mundo. Alguns temas importantes que foram manchetes na imprensa em 2019 como os desmatamentos e as queimadas passaram quase que despercebidos pelos noticiários.
Esse respiro não significou que o problema das queimadas e dos desmatamentos haviam sido solucionados. Muito pelo contrário, de janeiro a abril de 2020 houve um crescimento de 62% dos desmatamentos na Amazônia comparado ao mesmo período do ano anterior. Somente no mês de maio, o desmatamento foi 34% superior ao mesmo mês anterior.  Nada disso acorreria com tamanha proporção se o governo e seu ministério do meio ambiente não escancarassem explícito apoio às invasões ilegais em terras públicas na Amazônia.
Essa certeza ficou ainda mais clarificada em 22 de maio de 2020 em reunião ordinária ocorrida no palácio do planalto entre o presidente e seus ministros. Na ocasião o ministro do meio ambiente relatou aos presentes que era necessário aproveitar a crise da pandemia para “passar a boiada”. Ou seja, levar a frente às políticas de flexibilização e desregulação das legislações ambientais para facilitar ainda mais o acesso às terras públicas ocupada por indígenas e outros grupos tradicionais.
A MP 910 encaminhada pelo governo brasileiro foi uma prova do comportamento pernicioso de um estadista que não demonstra sentir qualquer constrangimento com proposições tão nefastas ao meio ambiente. Em âmbito comparativo, em 2012, com a promulgação do código florestal brasileiro, o mesmo apresentava dispositivos que assegurava anistia a todos que desmataram antes de 2008. Esses criminosos ambientais, portanto, estariam isentos de recuperaram tais áreas destruídas. A MP 910 apresentava dispositivos muito parecidos a do código florestal, ou seja, tornar legal as ilegalidades cometidas até então.
Essa MP tornava legais as grilagens em terras públicas na Amazônia ocorridas até um determinado momento. Esse absurdo não tardou para receber uma saraivada de críticas de entidades defensoras desses ecossistemas. Entretanto, por ser uma MP, a mesma teria um tempo estabelecido de validade, 17 de maio de 2020. A não regulação levaria na sua imediata extinção, como de fato aconteceu.
O que não fez o governo recuar a sua maléfica investida contra os povos tradicionais da Amazônia. Para substituir a caduca MP 910, o presidente agora havia lançado a PL 2.633/2020, levando a diante o seu compromisso de campanha com os setores do agronegócio e outros segmentos desejosos em explorar os recursos minerais e vegetais lá existentes.
A intenção da PL, também conhecida como PL da grilagem, é legalizar áreas já ocupadas irregularmente. Para dar um caráter de constitucional, a PL determina que os ocupantes terão de para ter direito a titulação dos terrenos ocupados. Outra crítica lançada a esse ponto é quanto aos valores das propriedades, que são muito abaixo dos de mercado. E por que será? Outro item polêmico acerca da PL é o risco de haver titulação de áreas em conflitos, aguçando ainda mais a violência na região. A preocupação dos movimentos organizados e de parlamentares contrários a PL é que a proposta, caso seja aprovada, provocará o aumento das invasões de novas áreas, com a expectativa da obtenção de titulação. 
Prof. Jairo Cezar

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