O
GOVERNO BOLSONARO: A METÁFORA ENTRE A CRIATURA E SEUS CRIADORES
O
cinema produziu obras espetaculares e marcantes no gênero terror/ficção
científica, dentre elas o filme Frankenstein, produção diversas vezes adaptada
ao cinema e inspirada na obra escrita pela Suíça Mary Shalley, em 1818. A
história de ficção descreve o desejo de maluco de um cientista obcecado em
criar um ser humano aproveitando fragmentos de cadáveres humanos.
No
entanto, depois de dois anos já extasiado e arrependido pelo esforço empregado,
o cientista Viktor perde interesse e deixa de lado a monstruosa criatura. Frankenstein,
nome dado a criatura, começa a ter entendimento das suas limitações que lhe
frustram com profundidade. Um turbilhão de sensações negativas toma conta de sua
mente. Sai para vingar o seu criador,
matando as pessoas próximas de Viktor, inclusive da sua noiva.
Se
prestarmos atenção no contexto da obra, perceberemos que muito do que está
escrito tem algum nexo com o atual governo brasileiro. Durante as eleições
presidenciais, são incalculáveis os escritos alertando a sociedade do perigo de
estar fabricando uma criatura que mais tarde perseguiria os seus criadores.
Em
pouco mais de um ano à frente do poder, os índices de satisfação da população
ao governo Bolsonaro caíram substancialmente. E os motivos dessa rejeição são
perceptíveis aos olhos de todos, menos para uma fração de ideológicos fanáticos
apoiadores, que insistem em defender a criatura, usando-se de todos os
artifícios possíveis para mantê-lo no poder. Parte da imprensa conservadora
brasileira prestou um excelente serviço na condução do candidato do PSL ao
posto de presidente.
Na
época, durante o segundo turno eleitoral, transformaram o candidato opositor de
Bolsonaro, Fernando Hadadd, em um monstro a ser expurgado a todo custo à chance
de vitória. Mesmo não participando de
nenhum debate promovido por uma das principais emissoras de TV brasileira, a
ausência não foi suficiente para que a população visse no candidato a chefe da
nação, atributos negativos à função dos quais seriam conferidos no decorrer de dois
anos de governo. Foram muitos os atos inconseqüentes do presidente e de seu
ministério, que estão produzindo ressentimentos e dúvidas sobre o futuro de
milhões de brasileiros que hoje reconhecem que foram iludidos e enganados.
Será
que alguém ainda duvidava que fosse diferente no poder, alguém que reverenciava
figuras desprezíveis como, por exemplo, o militar Brilhante Ustra, que durante o
regime militar atuou na perseguição e tortura de pessoas que se opunham ao
regime? O ataque à imprensa, ao STF e ao Congresso Nacional, esse último
composto majoritariamente por representantes das poderosas e tradicionais
oligarquias, é um demonstrativo de que a criatura completou sua metamorfose,
transformando-se num monstro, devorando qualquer um que o ameace.
Os
fragmentos ou pedaços que compõem o conjunto do “corpo” do qual recebeu vida
são membros doentes, alguns já necrosados que atuam produzindo atos
irresponsáveis que alimentam o ego da criatura. São incontáveis os desarranjos
administrativos cometidos pela turma do planalto, no entanto, nada disso
consegue conter o ímpeto de crueldade da criatura, que se sente mais fortalecido
diante do caos, da desordem, da crueldade.
Durante
a campanha à presidência da república, uma das possíveis causas que levaram à
vitória do candidato fabricado pela mídia e transformado em personagem mítica, foi
à desesperança da população com o modelo político tradicional vigente. Na realidade
essa população desassistida, desesperançosa, foi mais uma vez transformada em
massa de manobra das elites dominantes, como é de praxe.
A
elite sempre adotou historicamente instrumentos sórdidos para manter o status
quo econômico e político. Para essa camada privilegiada da sociedade é
inconcebível imaginar rupturas de regimes. Uma sociedade constituída por mais
de 80% de analfabetos estruturais, é muito fácil manipulá-las, e a vitória do
candidato fabricado pela elite é um bom exemplo dessa arquitetura construída.
Era
necessária a todo custo impedir qualquer possibilidade de um candidato à
esquerda ter alguma chance de vitória ao posto de presidente. Quem assistiu os
debates dos candidatos presidenciáveis, mesmo as pessoas com o mínimo de
instrução, tinham clareza de quem propalava discursos alinhados aos verdadeiros
ensejos da sociedade. A pouca clareza e o medo proliferado de que o Brasil
poderia ser governado por comunistas, fez a mídia e as elites econômicas
prepararem o terreno para dar posse àquele que mais tarde agiria contra os seus
criadores, reivindicando vida eterna.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário