domingo, 25 de dezembro de 2016

PROFESSOR NILDO OURIQUES, DA UFSC, EM ENTREVISTA ANALISA A ATUAL CONJUNTURA SOCIAL E POLÍTICA E DEFENDE A REVOLUÇÃO BRASILEIRA COMO SAÍDA ÀS CRISES ESTRUTURAIS  

A entrevista concedida pelo professor Nildo Ouriques da área de economia da UFSC à Rádio Faixa Livre, proporcionou ao público que o ouviu momentos de apreensão e reflexão acerca da atual conjuntura política e econômica brasileira. Durante sua fala insistiu em reafirmar que o modo como a política e a economia estão sendo geridas no Brasil não tenderá a reverter a crise que se abate sobre milhões de cidadãos (ãs) que perderam seus empregos nos últimos meses. Discordou das várias opiniões quase consensuais onde tentam reiterar categoricamente que a crise atual não tem precedentes na história recente do Brasil. Para o professor, o período que antecedeu ao golpe de 1964, esteve mergulhado em um dos momentos mais tensos em comparação ao atual.
Havia, portanto, no começo da década de 1960 um processo revolucionário embrionário prestes a eclodir, sendo que os setores dominantes do capital tinham consciência disso.  As várias iniciativas protagonizadas pelo governo João Goulart, como a reforma agrária, conferiam um tom esperançoso à população em relação ao futuro. No entanto, na contramão do processo de possíveis rupturas estruturais, as elites locais e internacionais apoiadas pelos generais se articularam e outorgaram o golpe de 31 de março de 1964.
A partir desse episódio fatídico foram 20 anos de censura e terror imposto pelos governos militares, para viabilizar a ferro e foto o projeto desenvolvimentista do Estado brasileiro. Diferente do modelo de sindicalismo construído no ciclo anterior ao golpe de 1964, que propunha solução às contradições do capital e que conduziu à burguesia brasileira a articulação de um plano de resistência, o atual modelo de organização, seus representantes não possuem memória histórica, muito menos modelo de projeto de sociedade que alimente as esperanças da classe trabalhadora. Seguindo na mesma esteira do desenvolvimentismo combinado ou dependente dos anos 1970 a 1990, o estado brasileiro tem hoje na mineração e na exploração da terra os únicos suportes do establishement liberal.
São gigantescas corporações multinacionais vinculadas aos seguimentos do mercado de commodities que controlam o jogo quase irracional da economia e política. Gravitando na orbita desses seguimentos está a burguesia empresarial brasileira a exemplo da FIESP, cujo seu principal membro o ex-candidato a prefeito do município de são Paulo, Paulo Skaff, está as voltas com a justiça, também denunciando por envolvimento por crime de corrupção. Essa mesma federação também protagonizou a fixação de um enorme pato inflável na avenida paulista contendo a seguinte mensagem: “não vou pagar o pato”.
Intensificam-se também por todo território nacional ramificações de ações repressivas do Estado contra manifestações que se opõem as políticas de supressão de direitos. Isso reflete o grau de insatisfação da população e a reação quase irracional, fascista, de quem tenta manter as massas trabalhadoras acuadas através da força. A esperança de uma ruptura pacifica institucional se esgotou, segundo o professor.  A saída, portanto, deve ser o fortalecimento dos movimentos, das massas populares para o que chamamos de a Revolução Brasileira. O processo já se sucede espontaneamente com a ocupação de escolas públicas, universidades, entre outros.
Essas manifestações contribuem para o amadurecimento político crítico dos ativistas que resistem aos ataques do capital contra direitos conquistados e a própria existência.  Informou também que expressiva parcela da riqueza brasileira está indo para fora do país, sendo, portanto, um dos vários motivos do nosso subdesenvolvimento. São trilhões de reais depositados lá fora, dinheiro que poderia estar financiando educação, saúde e toda infraestrutura necessária. Sem contar, é claro, a dívida faraônica dos grandes proprietários de terras que somam um trilhão de reais, dinheiro suficiente para assentar mais de 200 mil famílias. Governo federal e proprietários devedores estão tentando encontrar caminhos para uma possível anistia dessas dívidas. Método semelhante ao que ocorreu em 2012, com a aprovação do código florestal brasileiro, que anistiou todos que praticaram crimes ambientais até 2008.  
Não há dúvida que a corrupção envolve o Estado brasileiro e que tal patologia quase crônica vem contaminando os diversos seguimentos da sociedade, atravessando agremiações partidárias tradicionais, PSDB, PMDB, PT, grandes corporações do setor de mineração, empreiteiras, contaminando até mesmo a própria sociedade. Se há uma força tarefa do MP chancelada pelo Juiz Sérgio Moro para limpar o Brasil, ou seja, caçar as bruxas enraizadas nos interstícios dos partidos e organizações, porque razão que as investidas não seguem a mesma proporção no Banco Central e Ministério da Fazenda, que também são órgãos suspeitos de estarem contaminados com o vírus da corrupção.
Na eleição que levou Lula ao poder em 2000, a expectativa era que o pleito assegurasse a elaboração de um radical programa de governo, que pudesse promover reformas estruturais de caráter popular, no mesmo molde que se sucedeu anterior ao golpe de 1964. Nada disso ocorreu. O comportamento do presidente foi a conciliação de classes, no estilo “paz e amor”, num país desgraçado, afetado pela miséria, fome, escassez de saneamento básico, educação, saúde, ou seja, sem qualquer perspectiva de futuro. 
O que mudou nesses quase vinte anos de governos petistas? Apenas ações paliativas que não atacaram as raízes dos problemas, como os programas assistencialistas e de incentivo ao consumo. As políticas de credito fácil proporcionaram o endividamento ainda maior da população e o vertiginoso enriquecimento do setor financeiro. Não podemos mais admitir que o povo tenha outra vez que passar por tamanha penúria, de políticas entreguistas que estão endividando pessoas e enriquecendo bancos e o sistema financeiro internacional. A dívida pública brasileira deve ser investigada. É necessária uma profunda auditoria dessa dívida para saber quanto que já foi paga e se há ainda dívida a pagar. É preciso romper e decretar o não pagamento, pelo fato de já ter sido paga. O que está se fazendo é crime de lesa pátria.
O episódio de junho de 2013 quando das manifestações que se espalharam por todo território brasileiro deve servir de referências para esquerda brasileira. As expectativas dos seguimentos dos transportes urbanos eram que o aumento das passagens não resultaria em reações da população. Muito pelo contrário, em poucos dias, estudantes e a população indignada invadiram ruas para protestar, tendo como bandeiras de luta, além da oposição ao aumento das passagens, o combate a corrupção. A pressão foi tamanha que o próprio governo ficou acuado tendo que mudar o discurso e se pronunciar em rede nacional o apoio aos movimentos divulgando medidas emergenciais para acalmar as massas.
O crescimento vertiginoso dos movimentos neopetencostais também foi outro item comentado pelo professor Nildo. Disse que o próprio quadro de instabilidade econômica e social tende a estimular o fortalecimento e a expansão desse seguimento religioso, entre outros, a claro. Há uma profunda ramificação das igrejas evangélicas no interior dos espaços de poder como no legislativo. Até mesmo a constituição de bancadas de parlamentares com forte poder de influência nas votações de projetos importantes para quem estão representando.
É exatamente isso o que interessa aos lideres dessas organizações que manipulam milhões de desesperadas incrédulos da política que buscam na fé uma resposta ou saída às suas dores e carências. O que a população freqüentadora desses templos e de outros espaços religiosos, de diferentes crenças deveriam fazer seria investigar como votaram os congressistas que os representam em projetos como a PEC-241 (câmara), PEC-055 (senado); reforma previdência, entre outras.  É claro que não precisa nem investigar, pois, com raras exceções, votaram a favor das reformas. O fato é como tais igrejas se sustentariam tendo uma população satisfeita e feliz com suas condições básicas de subsistência supridas.
Quanto mais perdas sociais, maiores serão as dores, o desespero, que por fim, templos e igrejas cheiros, suscetíveis a uma profunda lavagem cerebral. A contradição é como continuar arrecadando fortunas e a disseminação de templos por todas as partes do país e do planeta se a população tem um Estado que lhe assiste socialmente? Na realidade, existe por traz desse fantasioso poder místico de “remição dos pecados e da dor”, um projeto maior que ultrapassa as paredes dos templos, ocupando as instâncias de decisões políticas. A vitória eleitoral do candidato a prefeito no município do Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, já é o primeiro passo para a concretização desse plano de poder.
O próprio líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus, Bispo Macedo, expõe claramente esse plano na sua obra cujo título é “Plano de Poder: Deus, os Cristãos e a Política”. O que dizer dos inúmeros canais de TV, de propriedade dessas organizações religiosas que ficam no ar 24 horas transmitindo programações cuja finalidade é a oferecer à população palavras de conforto e domínio ideológico. Um exemplo para elucidar como algumas figuras importantes da política brasileira usavam o manto da religião para se esconder dos crimes cometidos com o dinheiro público, foi a do ex-deputado e presidente da câmara Eduardo Cunha. A população que frequenta essas igrejas tem de observar isso e rechaçar todo tido de irregularidade e benefício obtido por tais lideres ao custo da miséria humana. Enquanto a classe média vai para o Divã do Psicanalista, a população desprovida de tudo vai para igreja, que é também serve de catarse, ou seja, uma espécie de Diva Espiritual.
Prof. Jairo Cezer   

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