terça-feira, 27 de dezembro de 2016

EUA, RÚSSIA E CHINA AS VOLTAS DE REEDITAREM UMA NOVA GUERRA FRIA



Depois do término da segunda guerra mundial o planeta ficou sob a órbita de tuas superpotências nucleares os EUA e a URSS, que disputaram sistematicamente e entre si a hegemonia geopolítica e econômica global. Esses quase quarenta anos de polarização política e ideológica, de 1954 a 1989, foram conhecidos como o período da guerra fria. A corrida armamentista, disputas aeroespaciais, conflitos regionais, golpes militares como os que se sucederam na América do Sul nas décadas de 1970, ambos, de um modo ou de outro, tiveram alguma influência tanto do pensamento capitalista norte americano como do socialismo russo.
O fim da polarização leste oeste, protagonizada pela célebre queda do Muro de Berlim, não significou o “fim da história” ou das guerras, idéias amplamente disseminadas na época por um respeitado intelectual economista representante da vertente ideológica vencedora e agora hegemônica, o capitalismo. Se o capitalismo ocidental financiado pelas grandes potências, bem como o socialismo soviético russo se nutriam das desgraças alheias, que lhes rendiam supremacia ideológica e financeira na indústria de armamentos e tecnologias durante a guerra fria, era necessário, portanto, forjar novos inimigos, novas guerras, para manter ativa a fabulosa e bilionária máquina destrutiva bélica.
Na concepção das grandes potências ocidentais, paz é sinônimo de desgraça, de desemprego e ruína econômica. Somente através das guerras é que se consegue alavancar os empregos de milhões de cidadãos e cidadãs dessas potências. Lembra do plano Brenton World, programa bilionário dos patrocinado pelos estados unidos para recuperação dos países afetados pela segunda guerra mundial. De onde se originaram esses bilhões para alavancar as economias dos países destroçados? É claro que foi com a venda de armamentos e mantimentos para alimentar uma guerra sanguinária que durou seis anos.    
Quem acreditou que o fim da “cortina de ferro” ocidente oriente proporcionaria o fim da história, ou seja, a supressão definitiva das contradições e ideologias, deu com os burros n’água, segundo a gíria popular. Jamais o mundo viveu nos últimos anos tantas guerras, tanta destruição, tanta exploração e violência contra milhares de cidadãos e cidadãs, que por fatalidade ou desgraça divina, habitam palcos onde hoje é o epicentro de uma nova reedição da guerra fria, o oriente médio. O conflito na Síria, como outros tantos que o antecederam, a exemplo da guerra do Kuait, a invasão do Afeganistão, Iraque, a primavera árabe, o crescimento do terrorismo e do fluxo migratório na Europa e nos Estados Unidos, têm como elementos motivadores os EUA, Rússia e China, que disputam suas hegemonias sobre a região e o resto do planeta.
  Atualmente, somente o uso de armamentos convencionais não é suficiente para vencer uma guerra. É preciso também ter o domínio sobre os instrumentos responsáveis pela formatação da opinião pública, ou seja, das mídias, das poderosas agências de comunicação que divulgam imagens e informações que chegam as residências de bilhões de pessoas diariamente. O genocídio na Síria e seus desdobramentos têm relação acerca do modo como essas informações são reproduzidas e repassadas pelas mídias oficiais.
Forjar demônios e santos são uma das estratégias. Quem acompanha diariamente os noticiários dos telejornais acerca dos conflitos no oriente médio se tem a sensação de que o principal responsável pelo massacre de sírios e a destruição de cidades históricas como Aleppo é do presidente sírio Bashar Al-Assad, visto pela mídia como um ditador e inimigo do ocidente. Suprimi-lo do poder ou eliminá-lo proporcionaria a retomada da paz e a redemocratização da região.  Na realidade, tanto a Síria como o Iraque e o Kuait, Irã, Palestina, entre outros, foram e são a ponta de um enorme iceberg cujas potencias procuram ofuscar acerca dos verdadeiros objetivos sobre a região. 
Afinal o que se esconde por traz desse conflito? Por as potências ocidentais como os EUA, a própria Rússia, China e o Irã têm relação direta e indireta com o que está ocorrendo lá? O poderio bélico de ambos, comparado com o da Síria, seria suficiente para por um fim imediato no horror que assombra aquela região. Quanto aos demais países árabes ou a famosa liga árabe de apoio mútuo, por que vem se mantendo alheias diante da brutalidade contra a população civil.
O que dizer de países como Arábia Saudida, Iêmen, que há décadas são administrados por regimes ditatoriais sanguinários cuja imprensa insiste em lançar qualquer menção ou opinião que possa venha denegrir a imagem pudica de seus lideres. Não seria porque esses países fornecem expressiva parcela do petróleo consumido pelo ocidente e seus ditadores apoiados pelas potências ditas democráticas?  
 São um emaranhado de episódios paralelos na região que confundem até mesmo os mais experimentados analistas do assunto, imaginem os demais. Nesse cenário conturbado estão se confrontando, forças rebeldes, forças pró-governo, integrantes do exército islâmico, etc. Quem é quem nessa história e por que essa região continua sendo palco de acontecimentos terríveis para a história da civilização? O fato é que a região sempre esteve em disputa por ser uma rota importante no comercio oriente ocidente, além é claro berço das três principais religiões monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Excluir tais elementos religiosos no contexto político e geopolítico regional, Na época, dominar as rotas asseguraria o controle não só econômico, mas também territorial político e ideológico sobre os povos do entorno.   
O primeiro sinal que resultou no esfacelamento definitivo do socialismo soviético ocorreu no Afeganistão, quando o exército dos mujahideen, financiado pelos EUA, China, Paquistão, entre outros, impuseram derrotas expressivas no exército russo. Mesmo com a retira do exército soviético, o Afeganistão continuou mergulhado em crises e golpes políticos. A ascensão no poder do grupo fundamentalista islâmico Talibã se configuraria em mais uma página triste para história da região. Tudo é claro, ainda reflexo dos resquícios herdados da guerra fria.   
Retornando ao episódio da Síria, em 2012 quando a ONU aprovou resolução para invadir o território e retirar do poder à força o presidente Bashar Al-Assad, o plano esbarrou com o veto da China e da Rússia. A oposição dessas duas potências à resolução inauguraria um novo cenário geopolítico na região, bem como o restabelecimento do poderio russo enfraquecido a partir de 1989. Por que os Estados Unidos agem com tanta veemência para tirar do poder o presidente Assad, enquanto que o Kremlin procura lhe assegurar todo o apoio para sua permanência.
Desde a época soviética, os russos construíram duas bases navais na Síria, no mar mediterrâneo. A presença, tanto a soviética, na guerra fria, como a russa, dias atuais, jamais foi bem digerida pelos estados unidos e demais potências aliadas. A derrubada de Assad para os estados unidos seria uma forma de levar a supressão das bases russas. Isso se daria num possível governo pós Assad, que receberia todo o apoio ocidental. Onde entra a china e o Irã nessa história. A china é hoje um dos principais investidores em tecnologias para exploração de petróleo no mundo. O país tem milhões de dólares investidos na Líbia, cujo governo de Gaddafi foi derrubado apoiado por ações militares da OTAN.
A presença chinesa no mediterrâneo, norte da África e oriente médio, como da própria Rússia, deixam os países que integram a OTAN preocupados.  Portanto, o conflito na Síria nada mais é do que o controle da soberania do mar mediterrâneo. Todos sabem a importância que é o domínio desses lugares. É lá que estão as principais rotas de navios que levam e trazem riquezas, bem como de poços de petróleo que abastecem o ocidente.
A pergunta que não quer calar é: há riscos, do conflito na Síria, se tornar o estopim para um conflito global generalizado nos mesmos moldes da primeira e segunda guerra mundiais? As possibilidades são remotas pelo fato de não haver sistemas de governo polarizados como no passado. Impara entre ambas as políticas de alianças flexíveis, de cooperação e integração mutua. No entanto, 2017, com a ascensão no poder de Trupp, e seu programa de governo conservador, as expectativas não são muito otimistas de que as alianças não possam ser rompidas e as tensões resultarem num conflito generalizado. 
Prof. Jairo Cezar


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