sexta-feira, 2 de dezembro de 2016


 O LONGO E DIFÍCIL DESAFIO DE TORNAR ESCOLAS PÚBLICAS AUTOSSUFICIENTES EM PRODUÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL

Depois de oito meses de ter iniciado o Projeto Sustentabilidade na EEBA, com o titulo “Atitudes Simples que Auxiliam na Contenção dos Desperdícios de Energia na EEBA”, é importante fazer uma breve exposição e reflexão das ações executadas, das dificuldades ocorridas durante o percurso e dos contatos e ações previstas para as próximas etapas. Não há dúvida de que as pretensões relativas ao projeto são  um tanto quanto ousadas quando se tem diante dos olhos escolas cujo cenário estrutural  é preocupante. Querer trabalhar no imaginário dos (as) nossos (as) jovens a concepção de escolas sustentáveis, do uso eficiente dos recursos naturais, do não desperdício, do reaproveitamento da água, da reciclagem do lixo, etc, é algo ainda quase inimaginável. Isso ocorre pelo fato de nossas escolas, com raras exceções, apresentam estruturas depredadas que não oferecem  as mínimas condições para o satisfatório desempenho das atividades pedagógicas.


A EEBA, conhecido por muitos araranguaenses pelos tradicionais nomes Colégio Normal e Estadual, que no passado recente foi uma das principais referências da educação no sul de Santa Catarina, quem transita pelos corredores, salas de aula e demais cômodos do educandário consegue ter um parcial noção o modo como os governos vêm tratando a educação pública catarinense. A expectativa em relação ao projeto sustentabilidade é de ir além da mera aplicação de ações visando a contenção dos desperdícios de energia e instalações de placas fotovoltaicas. A intenção, todavia, é romper com os paradigmas tradicionais de uma educação funcionalista, conteudista, competitiva e excludente, que muito pouco do que se aprende no dia a dia em sala de aula tem real utilidade para o bem estar de milhares de estudantes e suas famílias.


Na eventualidade de querer fazer uma enquete com estudantes que concluíram o ensino médio sobre a aplicabilidade do que  aprenderam  nas escolas com o cotidiano de suas vidas, não há de se surpreender se as respostas da maioria forem negativas. É justamente o que se pretende com o projeto sustentabilidade, a reformulação substancial do (os) currículo (os), dando significado prático as disciplinas concebidas pelos estudantes como tediantes, sem vida, com conteúdos exclusivamente voltados para o cumprimento de formalidades oficiais, como provas bimestrais e exames nacionais como o ENEM. A Proposta Curricular de Santa Catarina, sancionada em 2014, caminha nessa direção, de uma educação transformadora.


A contenção dos desperdícios de energia na EEBA, talvez seja compreendida por muitos (as) professores (as) e demais profissionais como uma proposta pouco atraente e possível de se concretizar. Durante as duas últimas semanas de novembro, nas dezenas de exposições da proposta feitas às turmas da unidade de ensino, realimentou as expectativas de que o colégio está caminhando no rumo de uma grande transformação cultural e que refletirá no dia a dia das famílias e de toda a sociedade. Quando se afirmou nos debates que o que se pretende com o projeto necessitará de tempo, paciência e persistência de todos, (as),  isso pode ser evidenciado pelo simples motivo das escolas publicas estaduais estarem absolutamente desalinhadas com a vida das famílias dos estudantes, por não verem na instituição qualquer perspectiva de  transformação  de  sua realidade.

A parceria  com o curso de Engenharia de Energia da UFSC e com a CELESC, deu outra dinâmica ao projeto pelo fato das duas instituições  estarem engajadas num mesmo objetivo voltadas à sustentabilidade. O contato feito com o professor Luciano, da UFSC, teve resposta positiva e imediata, cujo aceite sucedeu no primeiro encontro na EEBA, no dia 25 de maio de 2015, onde foram discutidas a tratativas da palestra para  estudantes e demais profissionais que ocorreu no dia 26 de junho de 2016. Por cerca de uma hora  aproximadamente, o professor  expôs aos (as) estudantes do ensino médio, período matutino, o que é realmente o curso de engenharia de energia, onde atuam e quais as perspectivas de carreira do (a) profissional da área de energia.  Destacou os projetos que o curso vem coordenando na região, dentre eles a instalação de geradores nas pilastras da plataforma de pesca no Município de Arroio do Silva para obtenção de energia proveniente das ondas do oceano.


No final da palestra o professor informou que o projeto sustentabilidade da EEBA  que está em execução poderá ser enviado à Celesc, para o Programa de Eficiência Energética ANEEL/CELESC.[1] A expectativa é de que o projeto da EEBA possa ser selecionado, lhe assegurando recursos  em dinheiro para aplicação na escola e comunidade. Depois da realização da palestra com o professor Luciano, no  mesmo mês os estudantes do PIBID, coordenado pelos professores Cássio e Karen, também se inseriram na proposta fazendo o levantamento completo do número de lâmpadas, modelos e potência existentes na EEBA. Do mesmo modo como ocorreu com o professor do curso de engenharia de energia da UFSC, com o envio de cópia do projeto, a Celesc, Regional de Criciúma, também teve o projeto protocolado nas suas dependências.

De imediato tivemos resposta também com o aceite do Engenheiro de carreira da estatal, Célio Bolan. No dia 17 de julho, também nas dependências do auditório do educandário, o engenheiro Célio promoveu importante palestra  discorrendo sobre as políticas da estatal vem desempenhando no campo da sustentabilidade. Esclareceu que a regional de Criciúma promovendo ações conjuntas com alguns municípios, como Criciúma e Imbituba,  com vistas a substituição de todo sistema de iluminação pública antigo por equipamentos novo e mais eficientes. No jornal informativo da Celesc editado no mês de novembro de 2016, traz na sua capa a respectiva manchete: Iluminação Pública: Boas Práticas em Iluminação Pública Rendem Esforços no Faturamento. O programa da CELESC vai além da simples troca de lâmpadas. A campanha ultrapassa a esfera pública atingindo as residências das famílias com a substituição de equipamentos, lâmpadas e eletro domésticos de baixo consumo de energia.

Segundo o professor e também engenheiro, o problema do desperdício de energia é um dos principais entreves à atração de novas empresas em  municípios no estado como os que estão situados da região do sul do estado.  Com intenção de despertar ainda mais a atenção dos (as) estudantes, professores (as) e a comunidade, na feira multidisciplinar ocorrida no dia 26 de agosto de 2016 nas dependências do educandário, o tema que tratou sobre o desperdício de energia foi bem apreciado pelo público. Vários experimentos foram apresentados pela equipe de estudantes envolvidos no projeto. Uma das atrações foi a maquete de uma residência emprestada pela Celesc, onde exibia os cômodos de uma casa, seus principais equipamentos elétricos e quantidade de consumo em kW/h, de cada um deles.

A exposição das lâmpadas também foi outro destaque. Um suporte de madeira foi montado e sobre ele fixado três bocais contendo três lâmpadas: uma incandescente, uma florescente e uma Led. O professor de física da EEBA se prontificou em construir uma equação onde matematicamente demonstrou que o consumo de energia elétrica com Lâmpadas Led é imensamente inferior as demais, especialmente comparado com lâmpadas incandescentes.  No pátio, o professor de engenharia de energia, Dr. Luciano, fez vários demonstrativos utilizando equipamentos por ele trazidos como uma placa foto voltaica, pequenos ventiladores movidos a energia solar, protótipo de um automóvel movido por hidrogênio e um luxímetro, aparelho para medir a luminosidade dos ambientes.


 No mês de setembro de 2016 outro encontro ocorreu nas dependências da biblioteca da  EEBA, agora para discutir os preparativos para a V Feira Cultural Multidisciplinar Regional, evento que ocorreu no dia 16 de setembro de 2016 nas dependência da EE Dolvina Leite de Medeiro, no Bairro Urussanguinha. Na feira, o projeto Sustentabilidade da EEBA tornou-se conhecido por um público maior, que embora não tivesse sido classificado para as  etapas seguintes, os (as) estudantes que estiveram envolvidos no desafio, representaram com extrema desenvoltura a unidade de ensino na qual estudam.

Diante das dificuldades de qualquer escola com três turnos, como acontece com a EEBA, de querer envolver todo o corpo discente em atividades como o que está se pretendendo, o recurso foi utilizar uma sala de aula desativada, reunir os equipamentos e materiais produzidos durante os oito meses de execução do projeto. O objetivo da montagem do ambiente  foi oportunizar todo público docente e discente para  melhor compreender as reais finalidades da proposta que direta e indiretamente interferirá na vida de cada um e do planeta num todo.  Durante três semanas aproximadamente, cuja data de inicio foi o dia 09 de novembro, todas as turmas do colégio estiveram no local acompanhada por seus/suas respectivos/as professores/as.  Além de obterem informações importantes sobre estratégias para economizar energia tiveram oportunidade para dialogar com a equipe organizadora.

Muitas foram as contribuições trazidas pelos estudantes, principalmente quanto ao cotidiano de suas casas relativas ao uso adequado de equipamentos elétricos e informações relativos aos gastos mensais de energia. Despertaram a atenção algumas ações que as famílias dos/as estudantes vêm aplicando nas suas residências para minimizar ao máximo a conta de luz mensal. Às trocas de lâmpadas de elevado consumo de energia por outras mais econômicas foram algumas das atitudes tomadas pelos seus familiares repassados pelos estudantes.  Relataram que tiveram visitas de profissionais da Celesc oferecendo, gratuitamente, lâmpadas e chuveiros alternativos, cujo consumo de energia é relativamente menor que os convencionais.

Em relação ao uso dos chuveiros, o que se constatou, na fala dos estudantes, é que parcela deles (as) os utilizam diariamente, cujo tempo de banho muitas vezes extrapola vinte a trinta minutos. Um tempo exageradamente elevado pelo fato do alto consumo de energia e água. Diane dessa realidade foi proposto que os estudantes discutissem com os familiares estratégias para reduzir gradativamente os valores mensais da conta de energia elétrica. Uma delas  partiu da professora de sociologia, Karen, sugerindo aos estudantes para estabelecer em suas casas estratégias ou acordos com os pais para redução dos gastos de energia. Sugeriu para que o dinheiro economizado com a conta de energia poderá ser disponibilizado para outros fins como melhorar  a potência da internet, assinatura de TV, etc.

Várias vezes foram evidenciadas que a instalação de equipamentos fotovoltaicos no colégio é um processo que se dará de médio e longo prazo. O primeiro motivo se deve pelo fato do colégio ser público e administrado pelo Estado. Isso se traduz de existir uma burocracia, quando o assunto é gestão dos recursos destinados ao pagamento de energia elétrica e água, que se mantém sob o controle das ADRs (Agências de Desenvolvimento Regionais). O desconhecimento dos valores gestos mensalmente com água e energia os impedem de definir planos de gestão mais consistente. A efetivação do projeto sustentabilidade voltado a contenção do desperdício de energia elétrica na EEBA, irá requerer o agendamento de uma reunião com o representante da ADR e o Gerente Regional de Educação. No encontro será apresentado o projeto e debatido estratégias de como a escola pode ser beneficiada com a redução do desperdício e valores gastos com energia mensalmente.       
A certeza de que o projeto sustentabilidade na EEBA tem reais perspectivas de sucesso e de se tornar referência para outras escolas da região e do estado ficou evidenciado quando a UFSC e CELESC entraram como parceiros. No mês de novembro inúmeras foram as publicações em jornais do estado tratando sobre as políticas da Celesc de incentivo a produção limpa de energia e planos de contenção dos desperdícios. O próprio engenheiro Célio Bolan, da Celesc de Criciúma, já havia mencionado os planos da empresa em palestra ocorrida no colégio no mês de agosto de 2016. Informou que o município de Criciúma teria uma economia substancial na sua conta de energia anual, cerca de 800 mil reais, com a troca das lâmpadas dos postes públicos por Led.
O jornal Diário Catarinense, publicação digital do dia 16 de novembro de 2016, trouxe reportagem informando que Santa Catarina é o maior gerador de energia alternativa da federação por número per capto de habitantes. São vários os fatores por tal transformação. Um deles é cultural, segundo o jornal. Outro se deve a resolução 428/2012 do governo federal que permite ao cidadão produtor de energia renovável, como a fotovoltaica, a injetar o excedente na rede geral e trocar por créditos.   Por não haver o uso de baterias, tornando o custo de instalação mais barato, nos dias nublados ou de chuvas, o consumidor passa a utilizar a energia convencional fornecida pela Celesc. Outro atrativo é que a resolução permite que haja compartilhamento dos equipamentos entre várias residências cujos créditos de consumo poderão também ser compartilhados.

No último dia 25 de novembro, nova reportagem no DC – Clicrbs trouxe a seguinte manchete: Programa da Celesc vai custear 60% da instalação de sistema de energia solar em residências catarinenses.  Lendo a reportagem se constata que a Celesc vem ampliando seu leque de abrangência disseminando seu programa de incentivo a fontes alternativas em todo o estado.  O projeto é uma parceira entre a estatal e a ENGIE que terá um custo orçado de 11, 9 milhões de reais que atenderá cerca de mil residências. A contrapartida dos consumidores que aderirem o programa será de 6.68 milhões de reais.  Se todas as residências brasileiras fossem instalados equipamentos fotovoltaicos, a produção de energia proveniente do sol seria duas vezes maior que a consumida pelas atuais residências. Sem contar que sistema proporcionaria uma economia de 90 bilhões de reais anuais para as populações.

No entanto, para aderir o programa os interessados deverão cumprir alguns requisitos importantes, além é claro, de desembolsar 6.7 mil reais com os custos dos equipamentos e instalação. A expectativa de duração dos equipamentos será de 25 anos e o retorno dos investimentos em quatro anos. Dentre as condicionantes para ser contemplado com o projeto estão: estar em dia com a Celesc; ter o telhado uma inclinação de 15° a 25°; telhado (lado norte) desvio admitido de +/- 30°; ter internet WIFI; consumo médio de 350 KW/h, último 12 meses; recurso para contrapartida; etc. As políticas governamentais de incentivo as fontes alternativas de energia ainda são discreto em comparação as demais fontes convencionais. O que se deveria fazer para reduzir os atuais 30% de tributos acima dos cobrados com as atuais fontes, seria implantar alguns programas como linhas de crédito subsidiados; uso do FGTS; tributação diferenciada, entre outras medidas.  
Quanto ao projeto sustentabilidade que está em execução na EEBA, o mesmo já é uma realidade e tem tudo para ser um grande sucesso. Exemplos são os que não faltam. Um deles, coordenado pela ONG Greenpeace, foi o projeto pioneiro desenvolvido na Escola Municipal Milton Magalhães Porto, de Uberlândia/MG, coordenado pelo Greenpeace em parceria com a prefeitura do município. No telhado foram fixadas 48 placas fotovoltaicas para gerar energia solar para 700 estudantes. A idéia é transferir para a escola os valores gastos mensais com energia para ser aplicado em programas pedagógicos.
Depois da instalação das placas ocorrida em 13 de abril de 2015, a prefeitura fez o primeiro repasse de 1.3 mil reais para a escola, valor resultante de 75% de energia economizada. O consumo médio/mês da escola com energia elétrica era de 300 reais. A expectativa era de que em um ano a escola teria um repasse de 15 mil reais, chegando a 18 ou 20 mil reais até outubro. Se o programa de placas fotovoltaicas fosse adotado pela prefeitura do município de São Paulo, com a instalação em todas as escolas, o município economizaria cerca de oito milhões de reais por ano na conta de energia. Já o município do Rio de Janeiro, a economia seria maior, alcançando os nove milhões de reais.
Prof. Jairo Cezar





[1] http://site.celesc.com.br/peecelesc/index.php/o-programa















































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