sexta-feira, 26 de julho de 2024

 

PARTE EXPRESSIVA DOS RECURSOS DO PLANO SAFRA SÃO PARA FINANCIAR PROPRIEDADES ACOMETIDAS DE IRREGULARIDADES

Pela primeira vez na história das COPs, Conferência das Partes, com a participação de  133 países, incluindo o Brasil, ambos assinaram em Dubai, na Cop 28 uma declaração conjunta para tornar suas agriculturas mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas. A proposta é que essa declaração passe a valer a partir de 2025. Acontece que o Brasil, um dos articuladores dessa proposta,  parece que não levou muito a serio o documento, pois além de já liderar o ranque de maior consumidor de agrotóxicos do planeta, tenta dimensionar ainda mais essa liderança aprovando um pacote de medidas para despejar  mais veneno na comida dos brasileiros.

 Claro que o governo vai se justificar afirmando que a culpa não é dele, mas do congresso, que puxa essa pauta e aprova porque tem uma das maiores bancadas que representa esse segmento, a do agronegócio. Entretanto, até pode ter razão, porém, a decisão final é do executivo, vetando ou não o projeto ou artigos do mesmo. De fato o fez.  Acontece que o congresso derrubou oito dos dezessete vetos governamentais em relação ao PL do Veneno, podendo derrubar até os nove vetos restantes.

A solução final, portanto, para inviabilizar essa barbaridade contra a comida dos brasileiros, é recorrer ao STF, que poderá julgar e dar o seu parecer definitivo, favorável ou não aos vetos.  Independente  de o STF julgar procedente a ação contra o pacote do veneno, mesmo assim o Brasil continuará líder mundial no uso de agrotóxicos. Afinal, qual seria o caminho para que tivéssemos  um mínimo de segurança alimentar? Uma das alternativas seria estimular a agricultura familiar, com ênfase na agroecológica e produção orgânica, assegurando maior volume de créditos por meio do Plano Safra.

Infelizmente o cenário apresentado mostra que os recursos para o financiamento agrícola, a maior fatia de recursos é direcionada para o agronegócio.  Para  o próximo ano, 2025, o montante orçado ao agronegócio terá  um acréscimo de 9,98% em relação ao ano anterior, que passará de 364 bilhões para 400 bilhões de reais.  A agricultura familiar, incluindo a agroecologia e produção orgânica, o reajuste foi de 6,14%, passando de 71 bilhões para 76 bilhões. Engana-se quem pensa que todo esse volume chegará às mãos dos milhares de agricultores familiares. Levantamento realizado pelo IBGE confirmou que somente um pouco mais de 15% de todos os agricultores familiares conseguem acessar ao crédito, e os motivos são inúmeros, um deles é a grande burocracia exigida pelos agentes financiadores.

É importante esclarecer que parcela expressiva do dinheiro destinado ao financiamento agrícola  é oriundo dos impostos arrecadados pelo Estado, portanto, verba pública. Acredito que os bancos, que são entidades financeiras responsáveis pela concessão de créditos, todos os interessados ao financiamento terão que seguir protocolos rígidos para ter direito aos fundos,  não é mesmo?     Deveria, mas não acontece de fato. Em abril último, o Greenpeace publicou relatório com quase 200 páginas denunciando manobras envolvendo bancos públicos e particulares na concessão de recursos do crédito rural para pessoas envolvidas em irregularidades, como desmatamentos em áreas protegidas. O relatório, que está disponível na pagina do Greenpeace tem como titulo de capa - Bancando a Extinção: bancos e investidores como sócios dos desmatadores.

No relatório aparecem 12 instituições envolvidas em irregularidades, cujas denúncias foram protocoladas no MPF. A partir das denúncias, uma das primeiras investidas do MPF ocorreu no ACRE, em 05 de junho de 2024, quando o órgão atuou no cancelamento de um contrato  de financiamento de uma banco particular à uma fazenda, por ter sido embargada por desmatamento ilegal. Com certeza isso é só uma centelha de outras tantas irregularidades praticadas com todo esse montante de dinheiro disponibilizado pelo plano safra.   

Prof. Jairo Cesa

 

https://www.greenpeace.org/brasil/imprensa/plano-safra-valor-destinado-a-agricultura-familiar-ainda-e-muito-abaixo-do-necessario/

https://www.greenpeace.org/brasil/apoie/relatorio-bancando-a-extincao/

https://www.greenpeace.org/static/planet4-brasil-stateless/2024/04/c9bc8bff-bancando-a-extincao-digital-10_4-24.pdf

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/nas-redes-nas-ruas-e-na-justica-cobramos-que-os-bancos-parem-de-financiar-a-extincao/

https://www.greenpeace.org/static/planet4-brasil-stateless/2024/06/284e3763-pram000410882024.pdf

 

 

 

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