sábado, 20 de julho de 2024

AS GIGANTESCAS ILHAS DE LIXOS FORMADAS NOS OCEANOS: O QUE TEMOS A VER COM TUDO ISSO?

Foto Jairo - Lixo na Foz do Rio Araranguá 

Há pouco tempo postei no meu blog texto discorrendo sobre as inúmeras ilhas gigantes de lixo que se formaram em vários pontos dos oceanos. São ilhas que estão mudando ecossistemas inteiros com impactos irreparáveis a vasta biodiversidade marinha. A ocorrência desses verdadeiros arquipélagos de entulhos oceânicos está também relacionada aos modelos econômicos em curso, que se nutrem da exploração irracional dos recursos naturais.

Quase tudo o que se produz atualmente, os resíduos como plásticos, vidros, entre outros rejeitos, tem como destino os aterros. Em algumas cidades brasileiras é tanto lixo produzido que os aterros quase alcançam a altura das pirâmides do Egito. O problema é que nem todo o lixo produzido é recolhido ou reciclado, parcela expressiva é lançada deliberadamente nos rios ou transportada pelas chuvas/enxurradas. Claro que tudo que chega aos rios são transportados pelas forças das águas em direção aos estuários, deltas, que por sua vez vão se depositar no fundo dos oceanos ou ficam flutuando nas águas, como os plásticos. 

Engana quem pensa que o problema do lixo nos oceanos é uma realidade distante da nossa cidade, Araranguá.  Quem caminha ou caminhou pela nossa orla já deve ter se deparado com grande quantidade de lixo acumulado na faixa de praia ou sobre as dunas. Tudo que é lançado, descartado nesse perímetro tende a ser sugado pela força das marés ou levado pelos ventos para dentro dos oceanos.  Muitos animais marinhos, tartarugas, golfinhos, botos, baleias, até mesmo pássaros, são as principais vítimas desses resíduos.

Mas o Rio Araranguá continua sendo um dos principais agentes de difusão dessa tragédia marinha, contribuindo, progressivamente, no aumento do tamanho das ilhas de lixos distribuídos pelos oceanos. Mesmo com todas as campanhas já realizadas, muitas delas, com o apoio direto do poder público, a cada nova enxurrada são toneladas de descartáveis que chegam a sua foz. Em uma das campanhas de coleta de resíduos ocorridas nas margens do rio Araranguá até a sua foz, o chefe do executivo local havia proposto em uma entrevista concedida que a instalação de uma grande rede a ser fixada entre as duas margens do rio. A proposta seria  para segurar o lixo e evitar que chegasse ao oceano.

O fato é que nem essa e nem outra proposta mitigatória foram executadas. É importante aqui ressaltar que não é somente o lixo sólido que é trazido pelas águas do rio Araranguá, toneladas de esgotos, agrotóxicos, resíduos de carvão também passam diariamente pelo nosso rio, vindos de todos os afluentes que integram a bacia hidrográfica do rio Araranguá. São, portanto, passivos ambientais que todos os municípios da bacia deveriam ser responsabilizados, buscando soluções para os seus resíduos.

A execução das políticas municipais de saneamento básico seriam uma das alternativas plausíveis, principalmente no item que trata sobre reciclagem. Parece que nem reciclarem e muito menos tratamento de esgotos são demandas prioritárias dos nossos governantes. O sul de Santa Catarina tem um dos piores indicadores de saneamento básico do estado, não chegando nem a 20% de esgoto tratado somando todos os municípios que compõem a bacia hidrográfica do Araranguá.

Não é de se estranhar que no final do início da próxima temporada de verão, a administração junto com o seu órgão ambiental venham promover mais uma campanha de limpeza do rio Araranguá até a sua foz. Vão aparecer em fotos e vídeos o prefeito, autoridades e um monte de voluntários bem intencionados transportando sacas e sacas de lixos, sendo recolhidos e posteriormente transportados para os aterros. O agravante disso é que o município de Araranguá é um dos principais responsáveis por toda essa sujeira que chega até a barra e orla marítima. O esgoto tratado no município não chega nem a 15% do total produzido. 

Não há também no município programa de coleta seletiva de resíduos sólidos e nem expectativa de que possa ser implantado por essa administração cuja gestão expira no final de 2024. A pergunta que não quer calar é a seguinte, por que tanta resistência em programas tão importantes, tão necessários, como o da coleta e reciclagem de materiais sólidos, que poderiam resultar em emprego e renda para centenas de pessoas.

Prof. Jairo Cesa            

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