EM
DEFESA DA HISTÓRIA MATERIAL E IMATERIAL DE ARARAUGUÁ
A
decisão tomada pela 5ª Câmara de Direito Público, do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina, que impediu que se fizessem mudanças na estética da fachada da
Igreja Matriz de Araranguá, foi uma importante vitória para a história, para a
memória da sociedade araranguaense, bem como do estado catarinense e,
sobretudo, do país como um todo. Essa conquista se deve sim ao empenho
incansável e permanente de um grupo pessoas que viam na proposta intransigente
da cúria católica, uma violação à memória de milhares de famílias que tiveram
suas vidas e de seus antepassados construídas a partir desse símbolo sagrado.
Quando
integrantes da cúria afirmaram que a igreja ou as igrejas são edificações
particulares, que cabem somente aos membros dessa instituição milenar decidir
como gestá-las, acredito que muitos devem concordar comigo, o alto escalão
dessa instituição cometeu um tremendo equívoco. Penso que talvez tenha sido
esse insano equívoco, o estopim necessário para levantar tantas vozes, ecoando
revolta, indignação por todos os cantos do município, contra uma fração do clero,
setores da imprensa, do comércio e apoiadores/as, ambos/as ávidos/as em fazer
valer seus poderes de influência.
Ficou
mais do que evidente, a exemplo da decisão pela manutenção da fachada da
igreja, que a mobilização da sociedade em defesa das causas de interesse
coletivo pode trazer resultados promissores. Penso que muito do que já perdemos
da nossa memória arquitetônica e paisagística tiveram como motivos a
desarticulação da própria sociedade civil. O que espanta é saber que Araranguá
um dos municípios mais antigos do estado não possui ainda uma política de
preservação dos seus casarios, dos seus monumentos naturais, dos seus sítios
arqueológicos, enfim de sua historia material e imaterial.
Já
expressei minha opinião para membros que integram o grupo Sacrossanta em certa ocasião
da necessidade de se criar uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público) na área da cultural. Uma Oscip tem dispositivos jurídicos que
lhe garante forte ressonância juntos a órgãos como Ministério Público Estadual
e Federal, IPHAN, entre outros. Essa proposta de OSCIP pode ser similar a que foi
criada no Morro dos Conventos em 2011, com o propósito de salvaguardar todo o
patrimônio natural, flora, fauna, lá existente. Nos 13 anos de existência a OSCIP
PRESERV’AÇÃO extrapolou seus limites da atuação, se enveredando para outras
instâncias como da preservação da memória paisagística, histórica e
arqueológica.
Na
hipótese de se criar uma OSCIP CULTURL em Araranguá, uma das primeiras demandas
da organização deverá ser o levantamento minucioso de todo o potencial
histórico e cultural do município. Conhecer todo o arcabouço legal sobre o tema
disponível nas instâncias do legislativo e executivo municipal se mostra também
relevante. Quanto a história material e imaterial do município, com destaque ao
Balneário Morro dos Conventos, um encontro com os membros da Oscip preservação
pode se mostrar salutar, pelo fato de terem acumulado muitas experiências no
assunto. A escola do bairro, Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luiz
Dias tem um extraordinário know-how em trabalhos desenvolvidos, como oficinas, documentários
retratando os povos originários da região e a memória local, com destaque o boi
de mamão.
É
preciso pensar a historia de Araranguá, anterior a chegada dos portugueses,
anterior até mesmo aos povos guaranis. Trabalhar com um corte cronológico mais
longo, de quatro, cinco mil anos atrás. Isso mesmo, nossa história é muito
antiga e isso pode ser comprovada a partir dos sítios arqueológicos existentes,
que são muitos distribuídos pelos quatro cantos do município, porém, sem
qualquer proteção. A preservação desses sítios poderá nos assegurar respostas de
como era a nossa fauna, flora, nosso clima, há três, quatro, cinco milênios. Quem
foram esses grupos humanos, de onde vieram e o que levou de fato ao seu
desaparecimento?
Em
2015, o Professor Dr. Juliano Bitencourt defendeu sua tesa, que teve como tema Arqueologia
entre Rios e a Gestão Integrada no Extremo Sul de Santa Catarina, Brasil. A
pesquisa do professor contemplou o município de Araranguá, onde foram inseridos
no texto sete sítios, descritos como ARA-047; ARA-48; ARA-49; ARA-50; ARA-51;
ARA-52; ARA-53. Cada um desses sítios, suas características e potencialidades estão
distribuídos abaixo para a compreensão do leitor. Convém relembrar que embora
existam legislações que os protegem, todos estão sobre forte ameaça de ações de
vandalismo, cuja descaracterização impossibilitará estudos mais consistentes
desses raros tesouros da nossa memória milenar.
Prof.
Jairo Cesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário