segunda-feira, 15 de julho de 2024

 

EM DEFESA DA HISTÓRIA MATERIAL E IMATERIAL DE ARARAUGUÁ

A decisão tomada pela 5ª Câmara de Direito Público, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que impediu que se fizessem mudanças na estética da fachada da Igreja Matriz de Araranguá, foi uma importante vitória para a história, para a memória da sociedade araranguaense, bem como do estado catarinense e, sobretudo, do país como um todo. Essa conquista se deve sim ao empenho incansável e permanente de um grupo pessoas que viam na proposta intransigente da cúria católica, uma violação à memória de milhares de famílias que tiveram suas vidas e de seus antepassados construídas a partir desse símbolo sagrado.

Quando integrantes da cúria afirmaram que a igreja ou as igrejas são edificações particulares, que cabem somente aos membros dessa instituição milenar decidir como gestá-las, acredito que muitos devem concordar comigo, o alto escalão dessa instituição cometeu um tremendo equívoco. Penso que talvez tenha sido esse insano equívoco, o estopim necessário para levantar tantas vozes, ecoando revolta, indignação por todos os cantos do município, contra uma fração do clero, setores da imprensa, do comércio e apoiadores/as, ambos/as ávidos/as em fazer valer seus poderes de influência.

Ficou mais do que evidente, a exemplo da decisão pela manutenção da fachada da igreja, que a mobilização da sociedade em defesa das causas de interesse coletivo pode trazer resultados promissores. Penso que muito do que já perdemos da nossa memória arquitetônica e paisagística tiveram como motivos a desarticulação da própria sociedade civil. O que espanta é saber que Araranguá um dos municípios mais antigos do estado não possui ainda uma política de preservação dos seus casarios, dos seus monumentos naturais, dos seus sítios arqueológicos, enfim de sua historia material e imaterial.

Já expressei minha opinião para membros que integram o grupo Sacrossanta em certa ocasião da necessidade de se criar uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) na área da cultural. Uma Oscip tem dispositivos jurídicos que lhe garante forte ressonância juntos a órgãos como Ministério Público Estadual e Federal, IPHAN, entre outros. Essa proposta de OSCIP pode ser similar a que foi criada no Morro dos Conventos em 2011, com o propósito de salvaguardar todo o patrimônio natural, flora, fauna, lá existente. Nos 13 anos de existência a OSCIP PRESERV’AÇÃO extrapolou seus limites da atuação, se enveredando para outras instâncias como da preservação da memória paisagística, histórica e arqueológica.

Na hipótese de se criar uma OSCIP CULTURL em Araranguá, uma das primeiras demandas da organização deverá ser o levantamento minucioso de todo o potencial histórico e cultural do município. Conhecer todo o arcabouço legal sobre o tema disponível nas instâncias do legislativo e executivo municipal se mostra também relevante. Quanto a história material e imaterial do município, com destaque ao Balneário Morro dos Conventos, um encontro com os membros da Oscip preservação pode se mostrar salutar, pelo fato de terem acumulado muitas experiências no assunto. A escola do bairro, Escola de Ensino Fundamental Padre Antônio Luiz Dias tem um extraordinário know-how em trabalhos desenvolvidos, como oficinas, documentários retratando os povos originários da região e a memória local, com destaque o boi de mamão.  

É preciso pensar a historia de Araranguá, anterior a chegada dos portugueses, anterior até mesmo aos povos guaranis. Trabalhar com um corte cronológico mais longo, de quatro, cinco mil anos atrás. Isso mesmo, nossa história é muito antiga e isso pode ser comprovada a partir dos sítios arqueológicos existentes, que são muitos distribuídos pelos quatro cantos do município, porém, sem qualquer proteção. A preservação desses sítios poderá nos assegurar respostas de como era a nossa fauna, flora, nosso clima, há três, quatro, cinco milênios. Quem foram esses grupos humanos, de onde vieram e o que levou de fato ao seu desaparecimento? 

Em 2015, o Professor Dr. Juliano Bitencourt defendeu sua tesa, que teve como tema Arqueologia entre Rios e a Gestão Integrada no Extremo Sul de Santa Catarina, Brasil. A pesquisa do professor contemplou o município de Araranguá, onde foram inseridos no texto sete sítios, descritos como ARA-047; ARA-48; ARA-49; ARA-50; ARA-51; ARA-52; ARA-53. Cada um desses sítios, suas características e potencialidades estão distribuídos abaixo para a compreensão do leitor. Convém relembrar que embora existam legislações que os protegem, todos estão sobre forte ameaça de ações de vandalismo, cuja descaracterização impossibilitará estudos mais consistentes desses raros tesouros da nossa memória milenar.

Prof. Jairo Cesa


      










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