sábado, 13 de julho de 2024

  

HARMONIZAÇÃO ENTRE CONSTRUÇÕES E NATUREZA NO BALNEÁRIO MORRO DOS CONVENTOS

Embora eu não seja um arquiteto, muito mesmo uma paisagista de formação, a estética, as formas e os traços harmoniosos sempre me despertaram a atenção. Esses elementos da arte foram em mim se consolidando a partir do momento que comecei a pintar em tela, vindo mais tarde a experimentar outros temas artísticos, como o mosaico em cerâmica e a escultura com raízes de troncos de árvores.  

Algumas viagens nacionais e internacionais fui percebendo que muitas regiões e nações onde o turismo é fonte propulsora da economia, existem uma enorme inquietude dos gestores públicos em manter ou criar harmonização das edificadas com as paisagens naturais. Isso, todavia, tem muito sentido, pois quem visita o Rio de Janeiro, Atenas, Roma, Paris, ou cidades turcas, os turistas têm como propósito conhecer e contemplar os seus principais símbolos: o Cristo Redentor, o Parthenon, o Coliseu, a Torre Eiffel, as Casas em Cavernas, etc.

Aqui, bem perto, também não é diferente, quem vai a Urubicí, Timbé do Sul, Praia Grande, tem a expectativa de contemplar cenários paradisíacos, muitos dos quais oferecidos pelos enormes paredões da serra geral, seus campos, cachoeiras e cânions. Nesses espaços há enorme cuidado para que edificações ali projetadas não descaracterizem as estéticas naturais desses ambientes. Penso que os planos diretores dos municípios que agora integram o Geoparque Caminho dos cânions tenham que passar por mudanças significativas, incluindo no seu arcabouço de leis, aspectos estéticos, artísticos e paisagísticos nos projetos de edificações.

Quanto ao Geoparque, penso que pela sua expressividade e relevância nacional e internacional, os legisladores terão que esboçar olhares mais críticos nos planos municipais, definindo criteriosamente os espaços possíveis e de menor impacto estético e ambiental para ser ocupados. Acredito que haverá maior fiscalização para restringir edificações nas encostas da serra geral.

A harmonização das edificações integradas às florestas e aos monumentos naturais ainda não são regras gerais nos planos diretores dos municípios brasileiros. O aspecto cinza ainda predomina nas cidades, prevalecendo o concreto, o asfalto, em detrimento das árvores, jardins floridos e a presença da fauna. Essa aberração com as formas harmonizadas da paisagem acontece também em várias cidades catarinenses, Balneário Comburiu, por exemplo, tomada por um mar de arranha céus que tem desfigurado toda a estética natural.            

  Mais ao sul do estado, temos Araranguá, município que foi agraciado pela mãe terra por ter ocorrido lá, durante a separação dos continentes americano e africano, o soerguimento do monumento geológico natural Morro dos Conventos, considerado um remanescente da serra geral. Há mais de duzentos milhões de anos esse complexo e frágil fragmento rochoso formado por argilitos, xistos, entre outros minerais, vem  paulatinamente passando por desgastes pela ação do tempo: chuvas, ventos, variações de temperaturas e,  agora mais insistentemente, por fatores antrópicos, ou seja, ação humana. 

Em detrimento desses problemas, o balneário continua sendo um dos mais belos cartões postais do estado, quiçá, do Brasil. Por apresentar tais singularidades estéticas e paisagísticas, o balneário passou a ser muito cobiçado, principalmente pelo segmento imobiliário, que vê o local como uma espetacular mina de ouro a ser explorada. A pressão desse segmento, entre outros, vem ocasionando a flexibilização de legislações, até mesmo supressão de decretos, como o que criou uma APA na faixa costeira do município.

Mesmo com plano diretor determinando que as construções não ultrapassem quatro pavimentos, os arquitetos sempre dão um jeitinho de estender um pouquinho mais para o alto. Além de impactos à dinâmica dos ventos que podem comprometer a existência de dunas no entorno da paleofalésia, tem o aspecto estético do próprio monumento geológico que pode ser seriamente comprometido. Um erro ocorrido durante a elaboração do projeto orla foi não ter estabelecido critérios quanto aos designs das construções que assumissem padrões harmoniosos, que obrigassem os proprietários a pintarem suas residências com cores que não ofuscassem a estética do monumento Morro dos Conventos.

Em uma reunião para tratar sobre o plano de desenvolvimento econômico para a região da AMESC nos próximos dez anos, quando foi para discutir plano para a parte baixa do balneário, um empresário do município propôs que a praia seguisse os padrões de construção do Balneário Camboriú.  Pior é que o empresário tem um monte de adeptos a tal proposta insana. As obras estruturantes, edificadas no topo do monumento entre o mirante e o farol, embora não impacte frontalmente a estética do paredão, abriu caminho para novas edificações.

Tais obras estruturantes, edificadas para aguçar o desenvolvimento turístico provocaram uma extensa especulação no mercado imobiliário local. Uma área do entorno do farol, rente a borda da paleofalésia que, considerando legislações ambientais em vigor, a exemplo do Código Florestal, parte dela estaria inviabilizada para obras de infraestruturas pelo fato de estar situada num platô. O que se viu nos últimos quatro anos da atual administração foi um tremendo ataque aos decretos assinados em 2016, pela gestão PT, que criou a APA – Área de Preservação Ambiental e o MONA – Monumento Natural Área de Conservação Morro dos Conventos.

O golpe mais incisivo do atual governo ao ambiente aconteceu em 2023 com a sansão da Legislação Complementar Municipal 478/2023 reduzindo ainda mais a área do MONA/UC ficando agora com pouco mais de 80 há de extensão. Certamente essa redução se deve as pressões de segmentos empresariais, o imobiliário, por exemplo, para poder viabilizar seus antigos projetos de ocupação dessas áreas altamente rentáveis financeiramente. Portanto, daqui há dois ou três anos quem estiver transitando pela orla do Morro dos Conventos e direcionar o seu olhar para o paredão do monumento, o que verá serão fachadas de residências que se sobreporão ao topo das árvores, ofuscando toda a beleza estética e paisagística daquele raro “oásis” natural.

Prof. Jairo Cesa                

 

https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/

https://revistahaus.com.br/haus/arquitetura/arquitetura-contemporanea-chinesa-uia-2021-rio-zhang-li-cui-kai/

https://revistahaus.com.br/haus/arquitetura/projeto-florianopolis-mansoes-suspensas-vista-lagoa-da-conceicao/

https://revistahaus.com.br/haus/arquitetura/arquitetura-biofilica-conceito-como-e-aplicado-projetos-design-construcao/

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