sábado, 14 de outubro de 2023

 

PARA ENTENDER A COMPLEXIDADE GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO E OS DESDOBRAMENTOS ATUAIS

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/08/israel-hamas-conflito-faixa-de-gaza-segundo-dia.ghtml


Não é de hoje que as poderosas mídias coorporativas se utilizam com primazia das informações, fatos,  recortando-as e reproduzindo-as segundo interesses de quem os financia, o grande capital. A ação ocorrida em Israel no último sábado quando centenas de mísseis foram disparados da Faixa de Gaza contra o seu território, além de  ataques por terra e mar, ambos reivindicados  pelo grupo político Hamas, a imprensa ocidental mais uma vez se encarregou de construir um discurso maniqueísta, transformando  Israel em mocinho, e a Palestina no bandido.

Claro que se formos ouvir a opinião das pessoas leigas acerca do ocorrido, sem dúvida haverá um consenso, a condenação sumária do Hamas, por considerá-lo “terrorista”, e a canonização de Israel por ter sido agredido, digamos, de “surpresa”. É obvio que ninguém aqui está querendo defender as ações dos militantes Palestinos pelas dezenas, centena de mortes de civis israelenses durante as investidas dos militantes do Hamas. É inadmissível aceitar as mortes brutais de civis inocentes como de fato aconteceu. É preciso investigação e que os culpados, independente de quem o tenha cometido, seja punido com veracidade.

Após o ocorrido em Israel comecei a acompanhar os noticiários dos principais jornais, telejornais, sites,  internacionais e nacionais. O inacreditável é que todos, sem exceção, apresentam narrativas defendendo do estado israelense e a condenação  sumaria da Palestina/Hamas. O que mais se escreveu e se noticiou foi de ter havido um ataque terrorista de surpresa contra civis israelenses. Os mais atentos devem  saber que o território palestino é atacado todos os dias, principalmente a faixa de gaza, cercada e vigiada vinte quatro horas por forças israelenses. O pequeno território do tamanho de Araranguá/Distrito Federal é uma grande prisão a céu aberto.

Lembro-me de que quanto estive em Israel/Palestina em 2014, em visita  a cidade de Jericó, toda murada, guaritas com soldados israelenses  fortemente armadas, diariamente cidadãos/ãs palestinos/as são forçados/as a apresentarem documentos de identificação para entrar e sair do território. Essas  revistas diárias também acontece em Jerusalém antiga, a caminho das Esplanadas das Mesquitas, um dos locais sagrados dos muçulmanos. Nesse lugar está a AL ALQSA, considerada a terceira mesquita mais importante do islamismo. Nessa ocasião toda a região estava sob forte tensão, pois a Faixa de Gaza havia sido fortemente bombardeada pelo exército insraelense há poucos meses.

Para se ter ideia da importância desse local sagrado, para os muçulmanos a presença de qualquer autoridade ou força militar israelense nas esplanadas é interpretado como ato de profanação. Eu mesmo presenciei na época mulheres muçulmanas repudiando autoridades israelenses que transitavam pelas imediações das mesquitas. Raros foram os órgãos noticiosos ocidentais de terem abordado em seus telejornais e colunas escritas que há pouco tempo a mesquita de AL ALQSA vinha sendo alvo de profanação, além é claro o aumento da violência contra cidadãos palestinos.  Somente esse ano foi registrado quase 150 cidadãos palestinos mortos ou por forças militares ou em ataques de judeus extremistas.  

 Acordos no passado haviam sido assinados entre representantes de ambos os territórios para  que fosse respeitadas as fronteiras. Acontece que  Israel com sua determinação de querer criar um estado único vem  incentivado colonos judeus a expandirem suas áreas sobre os territórios palestinos. Muitos críticos interpretam as ações dos colonos sobre possessões palestinas como verdadeiros ataques deliberados.

Embora não vistos como atos violentos, todos os dias os palestinos estão sendo violados, negligenciados pelas potencias ocidentais, se mantendo indiferentes às atrocidades cometidas pelos  governos extremistas de Israel. Outra expressão bastante divulgada pela impressa ocidental nesses últimos dias foi a seguinte: “comunidade internacional condena os ataques terroristas do regime do Hamas a Israel”. Chegaram ao extremo de comparar o 8 de outubro, data da ação do Hamas, ao 11 de setembro, quando houve os ataques ao world traid Center em Nova York por militantes da AL QAIDA.

Também na época dos ataques as Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, a imprensa internacional, pró ocidente,  jamais ousou em explicitar toda a complexidade geopolítica do oriente média, as incursões dos Estados Unidos e de seus aliados no Iraque, Afeganistão, Kuwait, usando como justificativa a libertação desses territórios de regimes autoritários. Na realidade o objetivo das ações era remover todos os obstáculos para ter acesso as fontes de petróleo. Todos devem se lembrar do Iraque, quando ocupado pelos americanos, cuja desculpa pela incursão era a remoção do cargo e  prisão de Saddan Rosseain  por estar escondendo um grande suprimento de  armas químicas, porém, jamais encontradas.

Claro que não há outra solução para o problema na região que não seja o reconhecimento do território palestino e o estado judeu, e que ambos possam viver em paz. Porém há problemas entre ambos os lados. Israel que desconhece a legitimidade dos palestinos sobre suas terras, e do lado Palestino, que sofreu uma fratura política entre dois grupos, o Fathar, grupo mais moderado que controla a Cisjordânia, e o Hamas, agrupamento político mais exaltado que tem jurisdição política sobre a faixa de gaza. Porém nem um nem outro tem consenso majoritário entre os palestinos, que divergem de suas estratégias em relação ao que pensam e defendem sobre os territórios.

É possível que com o recrudescimento do conflito, ambas os grupos se aproximem construindo planos conjuntos de ações de resistência. Na hipótese de sucesso de aproximação e na   ocorrência de uma possível ocupação militar israelense na faixa de gaza, a região poderá se transformar em um Vietnã, durante a sua ocupação pelos Estados Unidos.  Estou me referindo aqui o domínio americano desse território do sudeste asiático entre 1965 a 1975, cuja intenção era derrotar forças vietcongues e impor um governo pró ocidente de base capitalista.

O que não imaginavam os americanos era de o Vietnã do norte impor uma resistência brutal contras as forças invasoras, que resultou em uma retirada vaxaminosa  dos soldados e da população civil, permitindo assim a unificação definitiva do território. É possível que a Palestina passe por situação semelhante. Lembre-se que os Estados Unidos eram considerados uma das maiores potências militares da época, assim mesmo foram derrotadas pelas práticas  de guerrilhas adotadas pelos vietcongues. A construção de centenas de km de túneis e o forte conhecimento do território foram um dos motivos da derrota dos invasores.

É possível que na Faixa de Gaza ocorra o mesmo, em uma possível ocupação pelo exército israelense. Talvez pouco ajudará toda a tecnologia disponível à habilidade e astúcia das forças rebeldes e da resistência dos civis nos labirintos e ruas estreitas do pequeno território. Vivendo o cotidiano de Israel e territórios palestinos ocupados, se sabe que os israelenses vem impondo a 75 anos  verdadeiro apartheid aos cidadãos palestinos, visto como sendo mais repressivos que o da África do Sul, por quase cinqüenta anos. Há restrições até de palestinos transitarem em estradas consideradas exclusivas para cidadãos judeus. Outro caso gritante, se uma criança ou adolescente atirar pedras em soldados ou cidadãos israelenses o mesmo será julgado por uma corte militar. Agora se a ação for de uma criança ou adolescente  judaica, o julgamento será realizado por uma corte de civis.

Insisto em reafirmar, tudo que acontece na região do oriente médio não se dá de forma isolada, sempre tem  atores esternos envolvidos, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, China, Irã, Arábia Saudita, Turquia, entre outros. O cenário atual, no entanto, é um pouco mais complexo, pois Israel conseguiu construir relações de aproximações diplomáticas com nações árabes historicamente aliados e defensores da causa palestina. Emirados Árabes Unidos foi o primeiro a reatar relações com o país judeu. Também foram reatadas relações com o Marrocos, Sudão e tratativas em curso com Arábia Saudita, que poderá melar com a incursão israelense em gaza.

Esses acordos e reativações diplomáticas têm uma explicação bem clara, enfraquecer ainda mais o projeto de estado palestino. Algo novo surge no cenário do oriente médio ultimamente, que é a presença da china mais ativa na mediação de conflitos. Claro que o que está por trás disso é todo um jogo de cena com propósito de impulsionar ainda mais seu poder comercial na região através das novas rotas comerciais batizadas de Rotas da Seda. Algo que seria inimaginável até algum tempo, tornou-se possível com a intersecção da China, que foi a reaproximação diplomática entre o Irã e a Arábia Saudita.  O governo chinês também há pouco tempo recebeu a visita do representante da autoridade Palestina, cuja discussão foi buscar soluções negociáveis à questão palestina.    Quem sabe agora com esse novo ator no cenário teremos novos desdobramentos na redução das tensões e conflitos nessa região.

Claro que não e exatamente essa a intenção do atual premiê israelense, que demonstra explicitamente sua intenção de varrer os palestinos da região. A Assembleia  Geral da ONU, do dia 22 de setembro último, cujo presidente Lula fez a abertura, o primeiro ministro reafirmou essa intenção. Durante o seu discurso mostrou um mapa do oriente médio onde não aparecia o território  palestino. As mídias corporativas ocidentais não fizeram qualquer menção ou critica ao ocorrido. Essa postura escancara sua posição de manutenção do apartheid contra o povo palestino, além de cometer vários crimes, como a violação da carta da ONU que reconhece o território palestino, bem como o acordo de OSLO, em 1993, onde foi acordada, entre outras proposições, a retirada de forças israelenses da faixa de gaza.

Prof. Jairo Cesa       

               

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