quinta-feira, 5 de outubro de 2023

 

DE AQUECIMENTO GLOBAL PARA FERVURA GLOBAL

https://olhardigital.com.br/2023/07/27/ciencia-e-espaco/onu-aquecimento-global-deu-lugar-a-fase-de-fervura-global/


Se fôssemos traçar uma Lina da evolução da terra num período de 24 horas, a presença humana teria ocorrido somente às 23 horas, cinquenta e oito minutos e quarenta e três segundos. Na realidade o planeta terra tem idade aproximada de cinco bilhões de anos, enquanto que a espécie humana o tempo estimado de sua presença ocorreu mais ou menos dois milhões de anos. As transformações ocorridas no planeta terra ao estágio de risco iminente de extinção da humanidade iniciaram a pouco mais de 250 anos, a partir da revolução industrial. Portanto, se a humanidade apareceu faltando um minuto e sete segundos para completar o ciclo das vente e quatro horas, a revolução industrial, século XVIII, deve ter iniciado no último segundo dessa escala de tempo, não é mesmo?

Tão pouco tempo e tanto estrago já cometido que põe a biosfera em uma condição de alerta máximo. Foi sim o carvão mineral uma das principais descobertas do século XVIII, sendo usado como combustível fóssil nas primeiras indústrias e nos sistemas de transportes, com destaques os navios e as locomotivas. O drama das cidades europeias, Inglaterra, França, Alemanha, entre outras era a expeça fumaça que cobria os céus tornando o ar quase irrespirável. Além do carvão, o petróleo veio a se configurar no século XX como matéria prima essencial na dinamização das economias do mundo inteiro.

O fato é que o preço ambiental desse dito progresso insano está sendo exageradamente caro e pago atualmente. Os sinais desse abismo ambiental já começavam serem sentidos nas décadas finais do século XX, com os progressivos esgotamentos das reservas naturais de matéria prima. Era necessário repensar urgentemente esse modelo de produção que além de predatório estava levando a humanidade a um caminho perigoso. Nessa direção o conceito de sustentabilidade passou a dominar os discursos das autoridades e segmentos produtivos em encontros multilaterais sobre desenvolvimento econômico.

Em 1972 aconteceu em Estocolmo, Suécia, a primeira conferência mundial sobre o meio ambiente. Inúmeras proposições sobre sustentabilidade foram cunhadas lá e que serviram de referência e inspiração para eventos futuros nessa perspectiva. O cinema, a televisão, muitos dos filmes, séries, novelas exibidos, procuravam abordar temáticas tendo como foco o meio ambiente. As series televisivas japonesas, exibidas no Brasil durante as décadas de 1970, 1980, como Ultrasevem, ultramen, atuavam sempre combatendo monstros vilões alienígenas que ameaçavam destruir o planeta terra. Em 1978, a globo saiu na frente exibindo a novela Sinal de Alerta que expunha a temática ambiental.

A década de 1980 se configurou em um divisor de águas importante de dois momentos distintos no cenário econômico planetário. Ou se adota medidas urgentes para mitigar a fúria do capital sobre os recursos naturais, petróleo e carvão, por exemplo, para dar sobrevida ao planeta, ou deixa tudo como está e ficamos a espera de um milagre dos céus. Diante dessa guinada frenética ao abismo humanitário cada vez mais real, as autoridades mundiais decidiram dar uma trégua admitindo que realmente as previsões futuras para o clima do planeta não eram nada otimistas. Veio nessa sequência a Conferência Ambiental do Rio em 1992, Rio-92; o encontro das partes em Kyoto, no Japão, em 1997, entre outras tantas, sendo, portanto, a mais significativa, a Conferência de Paris, em 2015.

O que mais se discutiu, com centenas de protocolos de demandas assinados pelas partes envolvidas foram proposições de difíceis execuções pelo fato que ambos os envolvidos, os países mais industrializados, deveriam mudar progressivamente suas matrizes energéticas. A intenção era fazer com que as emissões de gases do efeito estufa fossem reduzidas até o final do século XXI em níveis médios de 1.5 graus Celsius equivalente a década de 1990.  

Acontece que, desconsiderando as previsões de um planeta mais quente se as metas das COPS não fossem cumpridas, a temperatura média de 1.5 graus Celsius foi assustadoramente antecipada em mais de meio século, podendo atingir o pico preocupante por volta de 2030. Em 2019 a ONU foi forçada a substituir a terminologia aquecimento global por fervura global. O motivo disso foi exatamente o grau de calor acumulado e seus impactos devastadores nos ecossistemas do mundo inteiro.

Os anos de 2022 e 2023 vêm sendo interpretados pelos meteorologistas como os mais quentes já registrados. A cada mês em ambos os hemisférios, recordes são batidos de temperaturas medias máximas. No Brasil, nos últimos cinco anos, o numero de pessoas vitimadas por catástrofes do tempo vem superando marcas históricas. Frente a tudo isso governos ainda insistem em manter ou até mesmo elevar os percentuais de prospecção de combustíveis fósseis. E o Brasil se inclui nesse rol de nações, com projetos de exploração de petróleo na foz do amazonas, bem como a abertura de mais 19 novos poços na costa brasileira.

E não é de hoje que o PT vem se colocando como um partido que se mantém de costas as questões ambientais. A liberação dos transgênicos e obras estruturantes como a megabarragem de Belo Monte, no rio Xingu, são algumas das iniciativas de grave impacto aos ecossistemas brasileiros. Atualmente o bioma do serrado está sendo impactado com os desmatamentos em decorrência da forte pressão do agronegócio. Essa região do serrado intensamente devastada e onde estão às nascentes dos principais rios brasileiros é hoje conhecida como MATOPIBA, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Exceto Tocantins, os demais estados foram e são administrados por governos de esquerda, muitos dos quais integram hoje o governo do presidente Lula.

É muito fácil para Alemanha, Noruega, Suécia, etc, se postarem de bons mocinhos para o mundo na área ambiental, investindo em energias limpas, até mesmo liberando fundos bilionários para projetos ambientais, em especial na Amazônia. Acontece que grandes companhias desses países na área de exploração mineral e de petróleo, altamente degradantes ambientalmente, estão instaladas em países periféricos, África, América Latina, entre outros. Na Amazônia, são companhias norueguesas envolvidas na extração de minerais com elevados passivos ambientais.

Somando tudo, o resultado disso são as mudanças climáticas em curso que vem mudando a rotina de milhões de pessoas no mundo todo. No Brasil, ultimamente o que mais se ouve e se assisti são noticiários exibindo algumas tragédias advindas de chuvas intensas ou estiagens históricas. O que ocorreu recentemente no litoral norte de São Paulo e no Rio Grande do Sul, com dezenas de mortes decorrentes de deslizamentos e enxurradas deve ser interpretado como tragédia crime. Isso mesmo, crime, sendo passivo de punição para os responsáveis.

Tanto em SP quanto no RS as agencias de monitoramento do tempo vinham insistentemente alertando fortes precipitações sobre essas áreas sem qualquer tomada de medidas mais efetivas pelas autoridades, como a desocupação das áreas de riscos. Diante das incidências de episódios extremos, programas de adaptação devem ser incluídos nos planos diretores de todos os municípios brasileiros. Além disso, nas discussões sobre os orçamentos nos municípios, se faz necessária reservar boa fatia desse montante para programas de adaptação climática.

Prof. Jairo Cesa

 

 

    

 

             

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