quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 

FRAGMENTOS DOS DESDOBRAMENTOS DOS CONFLITOS ENVOLVENDO ISRAELENSES E PALESTINOS - TEXTO ESCRITO EM 2015


No entanto, o quadro de instabilidade política e social que se instalou tanto dentro como fora das fronteiras do território israelense deve ser analisado considerando a importância geopolítica, que desde o século XIX, é palco de ocupações e disputas, patrocinadas por grandes potências interessadas principalmente nas grandes reservas de petróleo da região. Além dos episódios que marcaram o final do século XX como as guerras do golfo, Iraque e Afeganistão, o século XXI, a região continuou sobre forte tensão social, entrando no circuito dessa vez, países como a Síria, que vive forte convulsão social, e Israel, que sob o guarda chuva protetor dos EUA continua com sua política de ocupação e extermínio dos palestinos que habitam a faixa de gaza.

O problema na faixa de gaza como nas demais cidades que juntas constituem o território palestino, os conflitos que vem se seguindo datam da segunda metade do século XIX quando os judeus espalhados pela Europa e Rússia, devido às políticas antissemitas, passaram a ocupar Israel constituindo colônias agrícolas. Antes da criação do Estado Judeu em 1947, a região esteve sob o domínio do império Otomano e britânico, isso proporcionou uma maior ou menor leva de emigrantes judeus para a região. Na época dos otomanos, território governado pelos palestinos, dos 3.177 milhões que lá chegaram apenas 60 mil foi para palestina. Realidade essa que em nada se compara à época do domínio britânico, dos 1.750 milhão que emigraram 487 mil se deslocou para palestina.

Com o fim do domínio britânico da região e com o holocausto do pós-guerra, a ONU intercedeu na região tomando partido na partilha do território, fundando o estado judeu, sem consultar a população árabe. O modo como foi dividido o território em nada agradou os palestinos que ali habitavam há séculos. A partilha favoreceu escancaradamente os judeus, com uma população muito menor que a palestina. As tensões entre os dois povos a cada dia ficavam mais violentas, cujo resultado foi a guerra dos seis dias quando Israel incorpora ao território a península do Sinai, faixa de gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã, que pertenciam a Síria.

Diante dessa situação vexaminosa para os palestinos, surgem movimentos tanto dentro como fora de Israel em defesa da criação do estado palestino. Dentre o mais importante foi o FATAH, partido criado pelo líder Yasser Arafat que defendia luta armada contra os israelenses. Em 1964, surgiu a OLP (Organização de Libertação da Palestina). Os impasses e as tentativas de negociações não avançavam. A situação ficou ainda pior, quando em 1982 milicianos cristãos invadiram campos de refugiados de Sabra e Chatila, matando cerca de dois mil pessoas. Segundo informações confirmadas na época, o responsável pela abertura dos campos de refugiado for Ariel Sharon, que se tornaria mais tarde primeiro ministro de israel.

Durante a década de 1990, as negociações que rumavam para um possível acordo de criação de um estado palestino, chancelado pelo presidente Ytzhak Rabin, voltaram a estaca zero quando um extremista ultradireitista judeu assassina Rabin. As revoltas de palestinos se estendem por toda parte, porém, por não possuir armamentos capazes de combater em pé de igualdade com o exército israelense, como alternativa utilizam pedras atirando-as contra os solados. Esse levante foi batizado de Intifada, sendo a primeira ocorrida em 1987.

Na época quando vinha se discutindo a possibilidade da criação de um estado palestino, na verdade, tudo não passou de um simples jogo de cena criado pelos israelenses para continuar promovendo os assentamentos. Jamais foram colocadas em prática acordos como a retirada de assentados de áreas palestinas. O que aconteceu e vem acontecendo é o aperto do cerco, com o bloqueio das estradas e a construção de enormes muros mantendo os palestinos confinados como na faixa de gaza, uma área de aproximadamente 400 km quadrados, onde cerca de dois milhões de pessoas vivem em condições subumanas. Durante quase um mês a região foi alvo de ataques aéreos israelenses, matando cerca de duas mil pessoas, na maioria crianças, cujo objetivo de destruir lideranças pertencentes ao grupo armado Hamas, pró-estado palestino independente. 

A Síria é também outro país que como Israel sempre esteve envolto em disputas internas ou de potencias econômicas. A partir do início do século XX quando o império otomano perdeu sua hegemonia sobre a região, a chancela de divisão dos territórios antes dominados ficou entre Inglaterra e França. A França passou a tutelar a Síria e o Líbano desconsiderando aspectos importantes desses dois países como suas histórias e culturas. Em 1946, finalmente a Síria conquista sua independência, porém, continuou envolvida em guerras contra seus vizinhos, pois sua intenção era conquistar a supremacia da região, num momento que a região estava sendo alvo de influência das duas superpotências EUA e URSS interessadas nas grandes reservas de petróleo da região.

As tensões aumentaram ainda mais quando na guerra dos sete dias Israel anexa ao seu território as colinas de Golã. No entanto tais ofensivas israelenses na região eram respaldadas pelos EUA, que naquele momento mantinham uma política de amizade com o Irã. Com a revolução cultural iraniana, e a deposição do governo pró-EUA, o tabuleiro geopolítico da região muda completamente, a Síria passa a receber apoio dos países que se opõem aos EUA - pró-Israel, como Rússia, Irã, e hoje, a própria China.   

Em 1963 o partido Baath de tendência socialista conquista o poder na Síria contribuindo ainda mais para uma aproximação com os soviéticos. Oito anos depois da criação do partido, o poder político na Síria é conquistado por Hafez Al Hassad, pai do atual presidente Bashar Al Hassad. O governo de Hafez já começou conturbado quando instalou um governo cujos postos administrativos passou a ser controlados por representantes da minoria Xiita, 10% da população Síria. Além da aproximação com o Irã, procurou estreitar os laços políticos com o Hezbollah, grupo armado do sul do Líbano, que faz oposição a Israel. A partir de 2001, com os atentados das Torres Gêmeas, o panorama geopolítico do oriente médio muda radicalmente. Os EUA lançam uma ofensiva contra os países ditos pertencentes ao eixo do mal, ficando de fora a Síria.

Com a primavera árabe que alterou os regimes de países como Tunísia, Egito, entre outros, a esperança agora das potências era fazer com que a revolução atingisse outras monarquias como a da Síria, acreditando que com a queda de Bashar Al Assad, poderia enfraquecer o regime iraniano, mantendo-o isolado.  A tentativa de derrubar Al Assad do poder se manteve mediante disponibilização de recursos e armamentos para as milícias contrárias ao governo que vem se defrontando com as forças do governo.

Uma possível intervenção armada na Síria já foi descartada com o veto da Rússia e da China no conselho de segurança da ONU. A própria China vem se eximindo de lançar apoio aos movimentos contras às monarquias, pois pode incitar reações da população chinesa contra o próprio regime. Atacar militarmente a Síria, como se pretende, poderá resultar no apoio iraniano, russo e Chinês à AL Assad, bem como expandir o conflito para a Turquia e Israel contando com o apoio do Hezbollah. 

Prof. Jairo Cesa

 

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