domingo, 4 de dezembro de 2022

 

PACTO NACIONAL PELA  EDUCAÇÃO: OS DESAFIOS DO PRÓXIMO PRESIDENTE NA RECONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE DA SOCIEDADE BRASILEIRA

É possível que muitos ainda lembrem-se da expressão “Fraternidade e Educação: fala com sabedoria, ensina com amor”, que foi tema da ultima campanha da fraternidade que ocorreu entre os dias 02 de março a 17 de abril de 2022.   A partir de 2013 quando pontifício passou a ser comandado pelo papa Francisco os temas das campanhas da fraternidade lançadas anualmente passaram a abordar questões conflitantes da sociedade e seus impactos na própria estrutura da igreja católica.  Em 2016 diante do agravamento das crises ambientais globais, no Brasil, a CNBB decidiu trazer o assunto para o debate nos encontros de famílias. Nesse sentindo, naquele ano o tema da campanha escolhido foi “casa comum, nossa responsabilidade”.

Na esteira da campanha de 2016, em  2017 outro tema  relevante tomou corpo e dessa vez foi Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida. Tanto os temas de 2016, 2017 e 2022, ambas demonstraram ter havido uma forte repaginação do compromisso até então assumido pela igreja católica, mais focada na espiritualidade, na subjetivação que o acolhimento dos despossuídos. Com certeza o tema educação foi que mais levou o papa Francisco a viver a sua verdadeira essência de cidadão político, de admitir enfaticamente que para combater os males da sociedade contemporânea pode sim partir de uma nova economia, uma nova educação, do acolhimento, do compartilhamento, da solidariedade e da justiça social.

Afinal, por que estou trazendo à luz temas das últimas campanhas da fraternidade para a discussão e reflexão nesse momento?  A resposta tem sim relação com o futuro presidente da republica que assumirá o cargo em 01 de janeiro de 2023. Isso mesmo, o futuro presidente e as perspectivas de reconstrução de um país destroçado, desacreditado pelos quatro anos intermináveis das políticas homicidas executadas. Lembro que em textos escritos anteriormente, pós-derrota de Haddad para Bolsonaro em 2018, naquele momento fiz críticas pontuais ao partido dos Trabalhadores onde o culpei pelo insucesso eleitoral. Sempre afirmei que se o PT tivesse aplicado à risca, desde o primeiro mandato de Lula, a cartilha pedagógica revolucionária na educação básica, em 2018 a geração que nasceu em 2001, data da posse de Lula estaria completando 17 anos já aptos à votarem.

Havia uma expectativa de que assumindo o posto de presidente em 2001, Lula iria por em ação uma profunda revolução no campo da educação básica brasileira, que como sabemos foi e é a mola propulsora para o desenvolvimento de qualquer nação que desejar conquistar seu empoderamento econômico e social. O tempo ia passando e um sentimento de frustração passou a tomar os corações e mentes de milhares de educadores e até mesmo de militantes partidários petistas mais críticos. Aquela utopia revolucionária que tomou às ruas de milhares de cidades brasileiras de 1980 em diante, parece ter caído a ficha dos seus seguidores mais críticos quando veio a público o tamanho do PIBizinho para a pasta.

Toda a estrutura arcaica da educação básica fundamentada na corrente filosófica positivista permaneceu intacta, nem mesmo houve um incremento substancial de investimentos públicos como era previsível para mudar o cenário deprimente de milhares de escolas públicas sem o mínimo de condições de funcionamento. Todos devem lembrar-se da fatídica campanha de transferência de 10% dos royalties do pré-sal para a educação, promessa  que jamais foi concretizada. Nações que hoje são referências na educação básica sempre disponibilizaram fatias substanciais do PIB para esse segmento. Nessas sociedades, em nenhum momento seus habitantes levantavam hipótese de ter o dinheiro orçado para a educação escorrido pelo ralo da corrupção.

No Brasil, mesmo com parcos recursos do PIB disponíveis, parcela expressiva desse montante jamais chegou ao seu verdadeiro destino, muitos milhões foram perdidos nos ralos da burocracia, da corrupção quase que institucionalizada dos estados e municípios brasileiros. Imaginam que ainda deve estar fresquinho na cabeça dos brasileiros o caso envolvendo o ministro da Educação Milton Ribeiro, acusado de ter desviado recursos milionários do MEC para pastores aliados de gestores públicos no norte do Brasil. A expectativa que ora domina o imaginário de milhões de eleitores que depositaram o voto ao candidato do PT à presidente da república é que não sejam repetidos erros do passado, especialmente no campo da educação básica.

Acompanhando superficialmente os desdobramentos relativos ao processo de transição política e de possíveis nomes cogitados a ocuparem importantes ministérios como o da educação, há indícios que essa pasta poderá ser ocupada por alguém vinculado as organizações educacionais sem fins lucrativos, como Todos pela Educação. No Site da organização a resposta vinda do grupo que participa da equipe técnica de transição, é de que não indicará nomes para a pasta do MEC. Embora não indique, é fato que a entidade, entre outros do segmento, terão enorme peso na decisão final.

Na hipótese de o MEC vir a ser ocupado por qualquer um que abrace as causas defendidas por essas organizações, cairá por terra toda a esperança de rupturas desse modelo mercantilista de ensino presente na nova Base Nacional Curricular de Ensino. A própria Reforma do Ensino Médio implantado a goela baixo pelo ex-presidente Temer, certamente não vai ser tocada se confirmada a escolha para ocupar a pasta do ministério algum representante do segmento do mercado educacional.

Na verdade o Brasil poderia ser o signatário de uma grande revolução na educação que certamente replicaria na América Latina e outros tantos países espalhados pelo mundo. A figura de Paulo Freire tão menosprezado pelos brasileiros e mais ainda pelo atual governo que durante os seus quatro anos de mandato procurou desmoralizá-lo. Incrível é que Paulo Freira suas experiências e metodologias de ensino transformadoras foram aplicadas em países da América Central, África até mesmo na Europa. A Finlândia, por exemplo, é uma dessas nações que vem aplicando o método pedagógico Paulo Freire criado pelo patrono da educação brasileira, principalmente para crianças e adultos. O método se baseia no aproveitamento das experiências vividas pelos estudantes em seus espaços de convivência.

É preciso recuperar urgentemente toda a vasta bibliografia deixada pelo educador Paulo Freire. Se pretendermos mesmo recuperar o tempo perdido e transformar profundamente o país, não há maneira de alcançar tal propósito, sem investimentos e sem considerar os ensinamentos e experiências deixadas pelo Papa Francisco, Paulo Freire, Leonardo Boff, Frei Beto, Antônio Gramsci, Vygotsky e tantos outros ícones do pensamento crítico no campo da educação.

Não há mais tempo à perder. O futuro presidente tem de elaborar junto com a sua equipe de transição propostas ousadas para a educação para os próximos quatro anos. Dentre as proposições estão: avaliar os equívocos cometidos no passado, inserido dessa vez conceitos teóricos e filosóficos dos intelectuais listados acima; revisar retrocessos cometidos na construção da BNCC, na qual foi pensada seguindo recomendações dos organismos financeiros internacionais, a exemplo do Banco Mundial. Outro compromisso importante do próximo governo é rever a caduca lei sobre a reforma do ensino médio, sancionada em 2016 no governo de Michel Temer.

O não enfrentamento do próximo governo nesses dois e outros nós educacionais de caráter privatistas sancionados pelos ex-presidentes Temer e Bolsonaro, por meio de articulações com o capital, é seguramente a continuidade do perverso modelo de educação excludente, que reproduz as relações de poder e subjugação social. A leitura e compreensão das encíclicas lançadas pelo Papa Francisco, a primeira, Laudato Si (Louvado Sejas, sobre o cuidado da casa comum, em 2013); a Laudato Si (louvado sejas) em 2015 e Fratelli Tutti (todos irmãos), em 2020, são imprescindíveis para auxiliar na construção dos programas voltados a economia sustentável e Educação do acolhimento. Devemos prestar ação também na próxima campanha da fraternidade para 2023, cujo tema escolhido será Fraternidade e Fome: daí-lhes vós mesmos de comer.

Prof. Jairo Cesa           

          

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/160-cepat/616534-pacto-educativo-global-o-cuidado-como-palavra-chave

https://www.geledes.org.br/metodo-paulo-freire-de-alfabetizacao-as-lembrancas-emocionadas-da-1-turma/?amp=1&gclid=CjwKCAiAhKycBhAQEiwAgf19eqnIqmUUTkBXW66CM6JZS4SOMQfr6ETvenr8egyOweKFrFAixSTNLRoCa5QQAvD_BwE

https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2021/09/4950357-paulo-freire-100-anos-como-o-legado-do-educador-brasileiro-e-visto-no-exterior.html

https://www.ebiografia.com/quem_foi_paulo_freire_pedagogia/

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/10/17/interna_politica,1408153/quem-foi-paulo-freire-criticado-por-bolsonaro-no-debate-na-band.shtml

https://www.cartacapital.com.br/opiniao/a-derrota-eleitoral-de-bolsonaro-e-so-o-comeco/

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-05/papa-francisco-mensagem-video-plataforma-de-acao-laudato-si-21.html

 

 

 

 

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