O AGRAVAMENTO DA CRISE EM QUASE QUATRO
ANOS DE GOVERNO BOLSONARO
Quem
acompanhou todas as etapas de tramitação das reformas trabalhista e
previdenciária no congresso nacional deve ter percebido que o argumento usado
pelos parlamentares há cinco anos para engambelar a população sobre a
necessidade dessas reformas foi de que ambas elevariam a oferta de emprego e
renda. Com a redução de direitos e encargos trabalhistas no setor produtivo
reteria para o empresariado maior fatia de capital para investir na produção, que
teoricamente reverteria no crescimento da oferta de trabalho. Talvez esse
raciocínio pudesse ter resultados em outras sociedades, menos o Brasil com um
sistema produtivo forjado na escravidão do trabalho.
Após
a homologação dessas reformas no governo golpista de Temer, a situação da
economia só tendeu a degringolar nos anos seguintes, beirando a uma catástrofe
humanitária durante o governo genocida de Jair Bolsonaro. O indicativo de pessoas sem qualificação para
ministérios importantes como educação e meio ambiente, somada a pandemia e as
repetidas confusões protagonizadas pelo presidente e sua trupe só fez piorar o
quadro da pobreza e da violência social.
O
resultado dessa tragédia social foi confirmado a partir da divulgação pela FGV,
do Mapa da Pobreza no Brasil no final do mês de maio de 2022. O documento
comprovou que 125,2 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança
alimentar, ou seja, 58,7% da população. Em 2021 cerca de 63 milhões de
brasileiros possuíam uma renda per capta de 497 reais/mês, totalizando 29,6% da
população, um aumento de 10 milhões de pessoas em comparação a 2019.
Para
uma população que além de miserável carece de compreensão crítica da realidade
fica mais confusa ainda quando houve alguém do governo dizer que o Brasil vem
batendo recordes anos após anos em grãos colhidos. Como assim? Um país
considerado o celeiro do mundo na produção de grãos onde mais da metade da
população tem algum grau de deficiência alimentar? A resposta a essa dicotomia
está no modelo produtivo no qual o país está inserido, latifúndio exportador.
Desde
a sua formação há mais de quinhentos anos o Brasil sempre foi um grande
latifúndio que se especializou em produzir para exportar. Começou com o pau
Brasil, depois veio à cana, algodão, café, milho, arroz, soja, etc. Sem contar
outras riquezas como recursos minerais, ouro, prata, minério de ferro, etc, que
ajudaram a formatar as principais economias européias.
Como
entender a atual relação entre o grande exportador de grãos e o campeão em
número de pessoas sem ter o que comer? A resposta é simples, dolarização velada
da economia. Grãos exportados são pagos em dólares pelos importadores. Uma
hiper valorização da moeda estrangeira impacta diretamente a economia local
inflando os preços dos alimentos e dos serviços. Incrível é que o Brasil é
quase que autossuficiente na produção de grãos e petróleo, que poderia lhe
garantir soberania e status de poder de decisão entre as demais nações industrializadas.
Mas
não é de fato o que acontece, quando mais produzimos, quanto mais quebramos
recordes em produção de grãos, petróleo e outros minerais, mais miseráveis
ficam os brasileiros. É tão perverso esse modelo econômico onde o Brasil está
inserido, que regiões como o sul de Santa Catarina que produz quase 70% de todo
o arroz cultivado no estado, tem cidades pujantes como Criciúma, a quinta ou
sexta mais rica, com quase cinco mil famílias vivendo na extrema pobreza.
O
curioso é a concatenação dos discursos apresentados pelos gestores públicos e
demais políticos de tendências conservadoras que insistem em por a
responsabilidade dessa tragédia na crise global, no aumento da inflação.
Percebam que é a mesmo argumento da época das reformas cuja culpa do desemprego,
da fome, era elevada carga de obrigações recaídas ao setor produtivo e ao
Estado. Na aprovação da PEC emergencial no Senado que permite ao Estado gastar
acima da meta estabelecida, que na realidade é uma estratégia eleitoreira. O
curioso nisso são os discursos dos parlamentares favoráveis a PEC, todos, sem
exceção comungam com a mesma ideia, a fome não pode esperar.
Se
a preocupação fosse realmente com a fome essa proposta poderia ter sido
aprovada há muito mais tempo, pois a fome já e mostrava uma realidade
brasileira. Acontece que deixaram para aprovar faltando três meses para as
eleições, num momento em que a popularidade do presidente despenca
vertiginosamente. Qualquer individuo com o mínimo de raciocínio consegue
compreender que essa é uma manobra literalmente eleitoreira, pois têm prazo de
validade, 31 de dezembro. E depois como ficará?
Prof.
Jairo Cesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário