sexta-feira, 15 de julho de 2022

 

O AGRAVAMENTO DA CRISE EM QUASE QUATRO ANOS DE GOVERNO BOLSONARO

Quem acompanhou todas as etapas de tramitação das reformas trabalhista e previdenciária no congresso nacional deve ter percebido que o argumento usado pelos parlamentares há cinco anos para engambelar a população sobre a necessidade dessas reformas foi de que ambas elevariam a oferta de emprego e renda. Com a redução de direitos e encargos trabalhistas no setor produtivo reteria para o empresariado maior fatia de capital para investir na produção, que teoricamente reverteria no crescimento da oferta de trabalho. Talvez esse raciocínio pudesse ter resultados em outras sociedades, menos o Brasil com um sistema produtivo forjado na escravidão do trabalho.  

Após a homologação dessas reformas no governo golpista de Temer, a situação da economia só tendeu a degringolar nos anos seguintes, beirando a uma catástrofe humanitária durante o governo genocida de Jair Bolsonaro.  O indicativo de pessoas sem qualificação para ministérios importantes como educação e meio ambiente, somada a pandemia e as repetidas confusões protagonizadas pelo presidente e sua trupe só fez piorar o quadro da pobreza e da violência social.

O resultado dessa tragédia social foi confirmado a partir da divulgação pela FGV, do Mapa da Pobreza no Brasil no final do mês de maio de 2022. O documento comprovou que 125,2 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar, ou seja, 58,7% da população. Em 2021 cerca de 63 milhões de brasileiros possuíam uma renda per capta de 497 reais/mês, totalizando 29,6% da população, um aumento de 10 milhões de pessoas em comparação a 2019.

Para uma população que além de miserável carece de compreensão crítica da realidade fica mais confusa ainda quando houve alguém do governo dizer que o Brasil vem batendo recordes anos após anos em grãos colhidos. Como assim? Um país considerado o celeiro do mundo na produção de grãos onde mais da metade da população tem algum grau de deficiência alimentar? A resposta a essa dicotomia está no modelo produtivo no qual o país está inserido, latifúndio exportador.

Desde a sua formação há mais de quinhentos anos o Brasil sempre foi um grande latifúndio que se especializou em produzir para exportar. Começou com o pau Brasil, depois veio à cana, algodão, café, milho, arroz, soja, etc. Sem contar outras riquezas como recursos minerais, ouro, prata, minério de ferro, etc, que ajudaram a formatar as principais economias européias.

Como entender a atual relação entre o grande exportador de grãos e o campeão em número de pessoas sem ter o que comer? A resposta é simples, dolarização velada da economia. Grãos exportados são pagos em dólares pelos importadores. Uma hiper valorização da moeda estrangeira impacta diretamente a economia local inflando os preços dos alimentos e dos serviços. Incrível é que o Brasil é quase que autossuficiente na produção de grãos e petróleo, que poderia lhe garantir soberania e status de poder de decisão entre as demais nações industrializadas.

Mas não é de fato o que acontece, quando mais produzimos, quanto mais quebramos recordes em produção de grãos, petróleo e outros minerais, mais miseráveis ficam os brasileiros. É tão perverso esse modelo econômico onde o Brasil está inserido, que regiões como o sul de Santa Catarina que produz quase 70% de todo o arroz cultivado no estado, tem cidades pujantes como Criciúma, a quinta ou sexta mais rica, com quase cinco mil famílias vivendo na extrema pobreza.

O curioso é a concatenação dos discursos apresentados pelos gestores públicos e demais políticos de tendências conservadoras que insistem em por a responsabilidade dessa tragédia na crise global, no aumento da inflação. Percebam que é a mesmo argumento da época das reformas cuja culpa do desemprego, da fome, era elevada carga de obrigações recaídas ao setor produtivo e ao Estado. Na aprovação da PEC emergencial no Senado que permite ao Estado gastar acima da meta estabelecida, que na realidade é uma estratégia eleitoreira. O curioso nisso são os discursos dos parlamentares favoráveis a PEC, todos, sem exceção comungam com a mesma ideia, a fome não pode esperar.

Se a preocupação fosse realmente com a fome essa proposta poderia ter sido aprovada há muito mais tempo, pois a fome já e mostrava uma realidade brasileira. Acontece que deixaram para aprovar faltando três meses para as eleições, num momento em que a popularidade do presidente despenca vertiginosamente. Qualquer individuo com o mínimo de raciocínio consegue compreender que essa é uma manobra literalmente eleitoreira, pois têm prazo de validade, 31 de dezembro. E depois como ficará?   

Prof. Jairo Cesa

 

 

 

 

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