segunda-feira, 2 de maio de 2022

 

MUSEU DE ARARANGUA EXPÕE FRAGMENTOS DE UM PASSADO CONTADO  PELOS TRILHOS DA ESTRADA DE FERRO DONA TERESA CRISTINA

Foto - Jairo


Uma das formas importantes de manter viva a memória de uma sociedade por gerações são os museus. Instrumentos de trabalho, de lazer, de transporte, de culinária, entre outros tantos que fizeram parte de uma ou mais culturas ajudam a compreender o modo de vida, hábitos, costumes, ritos, ao  longo da história. Importante observar que existem museus dedicados exclusivamente ao recolhimento, catalogação e exposição referentes às culturas extintas, além de vestígios, fósseis, por exemplo, de animais desaparecidos a milhões de anos. 

 

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Os grupos sambaquianos que habitaram a faixa costeira do estado de Santa Catarina são exemplos de cultura extinta e cuja presença pode ser comprovada nos depósitos de casqueiros, conchas de pequenos moluscos e outros objetos encontrados. Fragmentos de cerâmica, pontas de flechas, urnas funerárias, etc, também são vistos no interior de museus. São elementos materiais que revelam habilidades, hábitos alimentares e praticas ritualísticas de sociedades que ocupavam imensos e complexos territórios.

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Há também exemplos de museus “vivos”, ou seja, estruturas complexas montadas em um determinado espaço, representando o cotidiano de um grupo cultural especifico. Nesses ambientes o visitante pode interagir com os objetos, até mesmo manipulá-los do mesmo modo como faziam essas etnias no passado. O museu Princesa Isabel em Orleans tem essa característica. Uma estrutura erguida em um espaço aberto, um açude, uma balsa em miniatura, uma serraria, moinho, vinícola e casas com utensílios domésticos, tudo exposto conforme eram dispostos na época da chegada dos imigrantes italianos.  

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Atualmente são poucos os municípios que possuem espaço público, pequeno que seja para alojar pequenos fragmentos da cultura local. Muitas vezes cidadãos, apaixonados pela história, se empenham em montar seu próprio museu, desconsiderando metodologias e regras que a ciência museológica determina. No entanto, embora não sistematizado, esses espaços ajudam preservar memórias e sentimentos de pertencimento de uma família e até mesmo de toda uma geração.

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Para uma cidade como Araranguá, com quase trezentos anos de história, a existência de um museu ainda não foi assimilada pelos seus habitantes como ambiente de importância à revitalização da memória coletiva. Parcelas significativas dos frequentadores são de estudantes, levados por professores de história ou disciplinas afins. É inconteste afirmar que há mais frequentadores diários da igreja matriz católica que do museu, ambos distantes alguns metros um do outro.

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Não há qualquer intenção aqui fazer juízo de valor ou critica ao fato da igreja receber mais visitantes que o museu. O fato é que tanto um quanto o outro exercem grande importância na vida dos que aqui habitam. O próprio nascimento do município de Araranguá está intrinsecamente entrelaçado com o culto religioso católico. O erguimento de um templo religioso católico foi o acontecimento de fato relevante nos povoados após a ocupação portuguesa. O próprio nome paróquia faz jus ao espaço público ou praça pública onde a igreja estava edificada.    A não presença de uma estrutura estatal organizada nos povoados ou arraiais fazia com que a igreja acumulasse outros serviços excedentes além do espiritual. Funções como de recenseamento, casamento, registro civil, etc, passou a ser assumido pero pároco local.

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  O poder e a força exercida pela igreja e a padroeira no imaginário coletivo local e regional assumiu proporções inimagináveis desde a criação da paróquia nossa senhora mãe dos homens em 04 de maio de 1948. É tão simbólico que muitos políticos oportunistas ao longo dos tempos aproveitavam esses eventos para tirar algum proveito próprio. Virou regra durante os festejos da santa, políticos disputarem a condução do andor com a padroeira. 

 

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Não há duvida que a forte devoção a essa figura mitificada e devotada teve e tem reflexos diretos na consolidação de traços da personalidade da sociedade local. O fato é que a cidade cresceu no entorno da igreja, e até hoje centenas de pessoas transitam de um lado ao outro nas calçadas tendo ao lado a pujante torre do templo sagrado. Assim como se tem a padroeira como símbolo religioso, o rio que corta a cidade e a estrada de ferro foram símbolos da gênese econômica.

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Se conversarmos com os moradores antigos da cidade sobre algo que marcou suas infâncias, de pronto virá à mente o trem e a agitação na estação durante suas chegadas e partidas diárias. Quem residia um pouco mais distante da estação sempre teve suas vidas mediadas pelo apito do trem, que poderia ser ouvido bem antes de chegar à estação de Morretes, atual Maracajá. Relembrar um pouquinho desses tempos áureos, românticos, onde viajar, transportar mercadorias dependia quase que exclusivamente do trem a carvão, pode ser possível agora visitando o museu de Araranguá.

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Desde o início do mês de abril de 2022, alguns fragmentos da ferrovia como trilhos, um sino, um farol, um relógio ponto, uma maquete da locomotiva, dezenas de fotografias e outros tantos objetos que relembram essa época estão expostos em Araranguá. Em muitos municípios brasileiros o trem ou Maria fumaça foi revitalizado, transformando em um importante atrativo turístico. No sul de Santa Catarina, municípios como Siderópolis, Criciúma, Urussanga, Tubarão, Jaguaruna, que ainda mantém parte da ferrovia Teresa Cristina funcionando para o transporte de carvão e container, frequentemente oferecem pacotes turísticos para quem deseja fazer passeio com a antiga Maria fumaça.

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Para o município de Araranguá cujo trecho da ferrovia foi completamente desativado, ficando apenas uma construção da antiga estação no Bairro Barranca, quem visita o museu, é estimulado a ir até o antigo bairro e ver de perto onde o trem estacionava. Muito melhor seria se o passeio ou tour fosse realizado em grupo acompanhado por um monitor, discorrendo aspectos pitorescos do lugar, bairro Barranca, na época do trem.

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A não presença de ponte para agilizar o deslocamento de pessoas de um lado ao outro do rio Araranguá, abriu possibilidades para que algumas pessoas pudessem explorar os serviços de balsas puxadas manualmente. É inquestionável que o trem se notabilizou como um divisor de águas de uma Araranguá eminentemente agrária para uma cidade que ingressaria à modernidade.

Prof. Jairo Cesa

 

       

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