MUSEU
DE ARARANGUA EXPÕE FRAGMENTOS DE UM PASSADO CONTADO PELOS TRILHOS DA ESTRADA DE FERRO DONA TERESA
CRISTINA
Foto - Jairo |
Uma das formas importantes de manter viva a memória de uma sociedade por gerações são os museus. Instrumentos de trabalho, de lazer, de transporte, de culinária, entre outros tantos que fizeram parte de uma ou mais culturas ajudam a compreender o modo de vida, hábitos, costumes, ritos, ao longo da história. Importante observar que existem museus dedicados exclusivamente ao recolhimento, catalogação e exposição referentes às culturas extintas, além de vestígios, fósseis, por exemplo, de animais desaparecidos a milhões de anos.
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Os
grupos sambaquianos que habitaram a faixa costeira do estado de Santa Catarina
são exemplos de cultura extinta e cuja presença pode ser comprovada nos
depósitos de casqueiros, conchas de pequenos moluscos e outros objetos
encontrados. Fragmentos de cerâmica, pontas de flechas, urnas funerárias, etc,
também são vistos no interior de museus. São elementos materiais que revelam
habilidades, hábitos alimentares e praticas ritualísticas de sociedades que
ocupavam imensos e complexos territórios.
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Há
também exemplos de museus “vivos”, ou seja, estruturas complexas montadas em um
determinado espaço, representando o cotidiano de um grupo cultural especifico.
Nesses ambientes o visitante pode interagir com os objetos, até mesmo
manipulá-los do mesmo modo como faziam essas etnias no passado. O museu
Princesa Isabel em Orleans tem essa característica. Uma estrutura erguida em um
espaço aberto, um açude, uma balsa em miniatura, uma serraria, moinho, vinícola
e casas com utensílios domésticos, tudo exposto conforme eram dispostos na
época da chegada dos imigrantes italianos.
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Atualmente
são poucos os municípios que possuem espaço público, pequeno que seja para alojar
pequenos fragmentos da cultura local. Muitas vezes cidadãos, apaixonados pela
história, se empenham em montar seu próprio museu, desconsiderando metodologias
e regras que a ciência museológica determina. No entanto, embora não sistematizado,
esses espaços ajudam preservar memórias e sentimentos de pertencimento de uma
família e até mesmo de toda uma geração.
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Para
uma cidade como Araranguá, com quase trezentos anos de história, a existência
de um museu ainda não foi assimilada pelos seus habitantes como ambiente de
importância à revitalização da memória coletiva. Parcelas significativas dos
frequentadores são de estudantes, levados por professores de história ou
disciplinas afins. É inconteste afirmar que há mais frequentadores diários da
igreja matriz católica que do museu, ambos distantes alguns metros um do outro.
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Não
há qualquer intenção aqui fazer juízo de valor ou critica ao fato da igreja
receber mais visitantes que o museu. O fato é que tanto um quanto o outro exercem
grande importância na vida dos que aqui habitam. O próprio nascimento do
município de Araranguá está intrinsecamente entrelaçado com o culto religioso
católico. O erguimento de um templo religioso católico foi o acontecimento de
fato relevante nos povoados após a ocupação portuguesa. O próprio nome paróquia
faz jus ao espaço público ou praça pública onde a igreja estava edificada. A não presença de uma estrutura estatal organizada
nos povoados ou arraiais fazia com que a igreja acumulasse outros serviços
excedentes além do espiritual. Funções como de recenseamento, casamento,
registro civil, etc, passou a ser assumido pero pároco local.
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O poder e a força exercida pela igreja e a padroeira no imaginário coletivo local e regional assumiu proporções inimagináveis desde a criação da paróquia nossa senhora mãe dos homens em 04 de maio de 1948. É tão simbólico que muitos políticos oportunistas ao longo dos tempos aproveitavam esses eventos para tirar algum proveito próprio. Virou regra durante os festejos da santa, políticos disputarem a condução do andor com a padroeira.
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Não
há duvida que a forte devoção a essa figura mitificada e devotada teve e tem
reflexos diretos na consolidação de traços da personalidade da sociedade local.
O fato é que a cidade cresceu no entorno da igreja, e até hoje centenas de
pessoas transitam de um lado ao outro nas calçadas tendo ao lado a pujante
torre do templo sagrado. Assim como se tem a padroeira como símbolo religioso, o
rio que corta a cidade e a estrada de ferro foram símbolos da gênese econômica.
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Se
conversarmos com os moradores antigos da cidade sobre algo que marcou suas
infâncias, de pronto virá à mente o trem e a agitação na estação durante suas
chegadas e partidas diárias. Quem residia um pouco mais distante da estação sempre
teve suas vidas mediadas pelo apito do trem, que poderia ser ouvido bem antes
de chegar à estação de Morretes, atual Maracajá. Relembrar um pouquinho desses
tempos áureos, românticos, onde viajar, transportar mercadorias dependia quase
que exclusivamente do trem a carvão, pode ser possível agora visitando o museu
de Araranguá.
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Desde
o início do mês de abril de 2022, alguns fragmentos da ferrovia como trilhos, um
sino, um farol, um relógio ponto, uma maquete da locomotiva, dezenas de
fotografias e outros tantos objetos que relembram essa época estão expostos em
Araranguá. Em muitos municípios brasileiros o trem ou Maria fumaça foi
revitalizado, transformando em um importante atrativo turístico. No sul de Santa
Catarina, municípios como Siderópolis, Criciúma, Urussanga, Tubarão, Jaguaruna,
que ainda mantém parte da ferrovia Teresa Cristina funcionando para o
transporte de carvão e container, frequentemente oferecem pacotes turísticos
para quem deseja fazer passeio com a antiga Maria fumaça.
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Para
o município de Araranguá cujo trecho da ferrovia foi completamente desativado,
ficando apenas uma construção da antiga estação no Bairro Barranca, quem visita
o museu, é estimulado a ir até o antigo bairro e ver de perto onde o trem estacionava.
Muito melhor seria se o passeio ou tour fosse realizado em grupo acompanhado
por um monitor, discorrendo aspectos pitorescos do lugar, bairro Barranca, na
época do trem.
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A
não presença de ponte para agilizar o deslocamento de pessoas de um lado ao
outro do rio Araranguá, abriu possibilidades para que algumas pessoas pudessem
explorar os serviços de balsas puxadas manualmente. É inquestionável que o trem
se notabilizou como um divisor de águas de uma Araranguá eminentemente agrária
para uma cidade que ingressaria à modernidade.
Prof.
Jairo Cesa
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