sábado, 2 de abril de 2022

 

 

CORRUPÇÃO E TRÁFICO DE INFLUÊNCIA DOMINAM AS ESTRUTURAS DO MEC (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA)

Desde o instante que Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil há quase quatro anos, a país viveu e ainda vive um dos seus maiores retrocessos sociais e econômicos em mais de 130 anos de república. Cabe aqui destacar que o modo atabalhoado como Bolsonaro gerencia o Brasil não causa surpresa para muitos críticos que já vinham alertando a população antes mesmo do pleito eleitoral de 2018. Os alertas eram para que não votassem nele e outros candidatos do seu partido sob o risco de estarmos elegendo pessoas em escrúpulo que levariam o Brasil a bancarrota. O fato é que nem tudo no governo Bolsonaro pode ser considerado como ruim.

O que consideramos positivo em sua gestão foi o fato trazer à luz toda a podridão de uma estrutura política falida e de uma parcela reprimida da sociedade que cultua sentimentos de ódio. A pandemia do COVID 19 foi de certo modo um teste importante para mostrar que a escolha de um péssimo governo pode ser trágica para uma nação inteira. Desde o inicio da Pandemia, o governo Bolsonaro se colocou como um dos opositores às recomendações da OMS e demais organizações de saúde a não proliferação rápida do vírus.

Tal negacionismo criminoso contribuiu para que a metade das 650 mil vítimas fatais do COVID no Brasil tivesse sido ele o responsável quando defendia o contágio de rebanho e o uso de medicamentos comprovadamente não eficazes contra o vírus.  A escolha dos nomes para ocupar os postos de comando dos principais ministérios do governo Bolsonaro seguiram critérios políticos não muito republicanos, que levaram na quase completa destruição das estruturas do Estado Brasileiro. Nessa linha de desastres protagonizada pelo presidente da república não se excluiu uma das pastas mais importantes de qualquer nação séria, o ministério da educação. Mais uma vez não surpreendeu aos críticos os desdobramentos dessa importante pasta ocupada por pessoas desqualificadas à importância do cargo.

Em pouco mais de três anos de governo, quatro ministros revezaram o MEC deixando um passivo de entulhos administrativos. Falsários, golpistas, proselitistas, etc, são essas as definições que as futuras gerações terão desses mercenários alojados no MEC, um importante órgão que tem por premissa cultivar valores e a formação de cidadãos íntegros e éticos.  Para alcançar esses níveis de humanização, a educação deve ser laica, com escolas bem estruturadas e professores capacitados profissionalmente. Tudo parecia que importantes demandas educacionais reprimidas como a elevação do percentual do PIB para 10%, rapidamente se tornaria realidade com a promulgada a nova LDB, lei n. 9394/96.

Na década posterior à promulgação da nova legislação educacional, muitos foram os desafios enfrentados para que fosse possível consolidar o mínimo de conquistas, dentre elas a permanência e o fortalecimento de uma escola pública e laica.  A luta pela profissionalização com legislações que assegurassem um piso salarial nacional justo, além da gestão democrática, ambas são conquistas importantes que jamais deverão retroceder. Parece que não é exatamente o que pensam ou almejam os novos/velhos detentores do poder.   

Claro que não, quando se sabe que para assegurarem privilégios e certos sistemas de poderes falidos como é atualmente o legislativo, por exemplo, se munem em manter a população na ignorância absoluta. É consenso que é através da escola que são lançados os alicerces de uma boa ou má sociedade. Mudar conceitos, valores, estruturas de poder, entre outros, requer anos, décadas de investimentos e a continuidade de projetos que propiciem tais transformações.

Entretanto, tem-se a impressão de estar caindo em um profundo abismo, ressuscitando das catacumbas do passado longínquo tudo de errado cometido por gerações alucinadas por dogmas religiosos, tendo sido milhões de pessoas brutalmente mortas pelo simples fato de discordarem. O crescimento vertiginoso de templos neopetencontais no Brasil são prenúncios de que algo muito estranho está germinando, que resultará em monstros devoradores de mentes cegadas por discursos de falsos profetas. Quando lideranças nacionais adotam concepções contrarias ao que é designado pelo Estado republicano, como “Brasil acima de todos e Deus acima de tudo”, esse é o momento de atenção absoluta, pois tal expressão é repleta de simbologia não construtiva.   

As inúmeras vezes em que Bolsonaro apareceu com congressistas religiosos em oração e outras vezes defendendo a indicação de um ministro terrivelmente religioso para o STF, tudo isso são prenúncios de uma possível guinada a regimes teocráticos. O fato é que o presidente não está só nessa enfadonha empreitada.  Além de uma poderosa bancada evangélica sitiada no congresso nacional, o governo brasileiro vem pavimentando seu terreno ideológico extremista apoiando e financiando a abertura de escolas cívico-militar em todo o Brasil. A criação de uma tríade Deus, Pátria e Família, ambos são carregados de ideologias ultraconservadoras. Essa foi a mesma tríade que fez convergir milhares de pessoa em passeata defendendo o golpe militar de 1964.

Não é de hoje que os polpudos recursos do ministério da educação vêm sendo golpeado por um punhado de aventureiros, mal intencionados, chancelados pelo próprio chefe da pasta.  São quase 50 bilhões o orçamento administrado pelo MEC, o maior entre os demais ministérios. Entretanto, mesmo com toda essa grana, o país se desponta como um do piores do ranque em quase todas as áreas entre os que compõem a OCDE. Nos três anos de governo Bolsonaro a pasta do MEC foi ocupada por quatro ministros, todos, portanto, sem o mínimo de competência e postura ética à altura do cargo.  

O primeiro dessa corja de malfeitores foi o colombiano naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodrigues. Ficou pouco mais de um ano, sendo demitido devido a disputas dentro do próprio ministério, envolvendo grupos opositores interessados no cargo. Um dos fatos considerados polêmicos em seu curto mandato foi querer interferir no conteúdo de livros didáticos. O caso mais emblemático foi querer mudar a forma como o golpe militar de 1964 era ensinado na escola, ou seja, mostrar que não houve golpe e sim uma revolução, cujos militares seriam lembrados como heróis e não como algozes.  

No lugar de Rodrigues, Bolsonaro indicou um tal de Abrahan Veintraub,  considerado o ministro linha dura e fiel escudeiro do chefe do executivo.  Durante o pouco tempo que ficou no cargo, Veintraub procurou levar à frente as políticas de desmontes na educação.   O fato que reverberaria em sua demissão foi uma reunião no palácio do planalto com outros ministros em 2021, onde atacou o STF afirmando que poria todos na cadeia. No lugar de Veintraub Bolsonaro indicou Carlo Decotelli. Permaneceu cinco dias a frente da pasta. O motivo do pouco tempo foi pelo fato de ter mentido em relação a sua formação acadêmica.

Diante da vacância do cargo de Ministro da Educação era de se esperar que o próximo a ocupar essa importante pasta não se distinguiria ao nível dos anteriores.  No entanto quase todos/a os críticos queimaram a língua, pois o nome escolhido foi um professor de uma conceituada universidade brasileira, a Mackenzie de São Paulo. A dúvida que permeou o imaginário de todos era como um professor, pastor presbiteriano, se comportaria frente a um Estado Laico? Não precisou muito tempo para que o novo ministro destilasse todo o seu ódio aos diferentes. Chegou ao cúmulo em afirmar que o homossexualismo era resultado de famílias desajustadas.

O ápice da demissão de Ribeiro foi noticias veiculadas pela imprensa de estar favorecendo deputados evangélicos, onde intermediavam com prefeituras aliadas a liberação de verbas do MEC para projetos voltados à educação. Um áudio vazado apareceu o ministro falando com um tal Deputado Pastor Gilmar. Afirmou o ministro no áudio que o pastor e seus amigos teriam prioridade em liberação de verbas do ministério a pedido do presidente da república.  

O caso é tão nefasto que esses deputados e seus amigos pediam propina aos prefeitos para que os recursos oferecidos fossem liberados. Há relatos de ter havido solicitação de pagamentos em barras de ouro. Observe o triste cenário que foi transformado o MEC, um ministério que deveria ser tratado como a prioridade das prioridades, virou um antro de malfeitores, corruptos, a serviço de eu chefe maior, o presidente da república.   

Tudo isso explica por que no Brasil ainda se elege governos que transformam ministérios em currais eleitorais. O dinheiro do MEC que deveria ser para a construção/reformas de escolas e fomentar programas de formação de professores são desviados para beneficiar pastores, construir igrejas e azeitar campanhas eleitorais de políticos corruptos. Tirar dinheiro para a compra de merenda, materiais pedagógicos, bem como dar um pouco de alento aos milhares de professores e estudantes submetidos a ricos diários de prédios escolares virem abaixo, é um escárnio à dignidade humana.   Até quando teremos que conviver com tamanhas aberrações?

Prof. Jairo Cesa              

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