O POUCO EMPENHO DOS GESTORES PÚBLICOS NO CUMPRIMENTO DAS METAS DO PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO EM ARARANGUÁ
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Foto - Jairo |
Na
última terça feira, 23 de novembro, um jornal de circulação regional trouxe
importante reportagem tendo como manchete: “Criciúma avança na reciclagem e no
sustento de dezenas de famílias”. No atual momento em que somente uma fração
das milhares de toneladas de descartados em aterros no Brasil são
reaproveitados, nada mais conveniente que os movimentos sociais e a sociedade
civil unissem esforços pressionando os gestores municipais no cumprimento das
legislações relativas ao saneamento básico.
A
inexistência de legislações ou resoluções que possam dar direcionamento a tais
ações não são mais justificativas convincentes. Em 2007 o governo federal
sancionou a lei n. 11.445/07 onde foi criado o Plano Nacional de Saneamento Básico. Com base nessa lei, todos os municípios
brasileiros teriam prazos determinados para elaborarem seus planos de
saneamento. O envolvimento da sociedade na sua montagem era uma condição
elementar no plano. O Município de Araranguá teve o seu plano concluído em 2014.
Dentre as demandas inseridas no documento está a instalação de sistemas de
coleta e tratamento do esgotamento sanitário.
Duas estações de tratamento foram colocadas em funcionamento entre 2016 e 2017. Ainda hoje a demanda de esgoto tratado pelos enormes cilindros se mantém ociosa devido ao reduzindo número de imóveis conectadas à rede. Uma forma de comprovar que o sistema de esgotamento não está cumprindo com sua real finalidade que é quase zerar o despejo de esgoto ao rio Araranguá é só visitar o córrego que atravessa a Avenida 15 de Novembro, nas proximidades do Ginásio de Esportes Bolha.
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A
promessa dos gestores que passaram pelo paço municipal e o SAMAE eram de que as
residências e demais ocupações no perímetro urbano onde passa a rede seriam
rapidamente conectadas à rede. Se realmente essa promessa se concretizou não se
sabe, o fato é que muito esgoto e lixo ainda são observados correndo nos leitos
dos córregos que cortam o perímetro urbano da cidade. Lembro que há cinco anos
mais ou menos fiz junto com os estudantes da EEBA inspeção da qualidade dá água
no córrego que atravessa a Av. Getúlio Vargas, em frente ao supermercado
ABIMAR.
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Todos
ficaram perplexos com o trágico cenário. A água mais parecia uma pasta densa,
tamanha a quantidade de gorduras e outras tantas substâncias nocivas aos
ecossistemas. Na época ainda não estava em funcionamento as duas estações de
tratamento de esgoto. Afinal como estaria hoje o córrego com a confirmação de
que as tubulações da rede de coleta de esgoto passavam pela respectiva avenida?
Nada
melhor que conferir em loco. E lá fui eu. Embora não havendo possibilidades de
descer o córrego, o forte odor e a cor escura da água exibiam um cenário
desolador, igual ou pior do que foi visto há cinco anos. De repente, por meio
de uma tubulação conectada ao córrego começou a escorrer uma densa espuma
branca contendo também forte odor. As autoridades competentes do município de
Araranguá já deveriam ter tomado medidas duras para conter crimes ambientais
como esse. Toda essa sujeira que escorre pelos córregos e deságua no rio Araranguá
são ligações clandestinas de esgotos.
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Seria
muito fácil descobrir quem está infringindo regras ambientais, e por que não
fazem? Órgãos ambientais a exemplo da FAMA antes de se engajar em campanhas de
limpeza de rios, etc, deveria cumprir dispositivos descritos em seu estatuto, como
fiscalizar e punir quem joga esgoto e lixo no rio Araranguá. É importante
frisar que a culpa por tais infrações ambientais não é exclusividade da
fundação ambiental. O Poder executivo, legislativo e o ministério público,
também são cúmplices com tais descasos. Qualquer cidadão que transita pelas
vias da cidade margeando córregos percebe de imediato que existe algo de
irregular acontecendo ali.
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Foto - Jairo |
Conviver
com córregos que outrora corria água
limpa e hoje tomada por esgotos fétidos parece ser algo compreendido pela população
como natural, ou seja, intrínseco a sua própria existência. Rios, lagos,
lagoas, córregos, são bens naturais públicos, que pertencem a todos, e também
responsáveis para mantê-los limpos para que as próximas gerações possam
usufruir. O fato é que nossos córregos e sangas permanecem no imaginário dos
nossos pais e avós como locais repletos de vida.
Trabalhar
esse imaginário repleto de vida com as crianças e adolescentes pode ajudar na
superação de conceitos equivocados do nosso cotidiano, que de tanto repetir
assume identidade própria como sendo natural. Lixo espalhado, poluição do ar,
córregos, lagos, rios contaminados, etc, são exemplos de realidades adversas
cuja humanidade se acostumou a conviver.
Se
embora precariamente o município cumpriu minimamente do plano no quesito
esgotamento, já quando o assunto é coleta seletiva de resíduos, por exemplo,
permanecemos muito atrasado comparado com municípios da própria AMESC, como
Maracajá e Turvo. Quase todo lixo descartado em Araranguá como plásticos,
vidros, papéis e resíduos orgânicos, ambos são recolhidos por empresa
terceirizada e transportados ao aterro sanitário no município de Içara.
Com
o funcionamento do programa coleta seletiva de resíduos sólidos, o município
poderia estar hoje economizando cifras expressivas de dinheiro com a empresa
terceirizada. Além de economizar, o município estaria contribuindo para a criação
de dezenas ou centenas de postos de trabalho às famílias que vivem sem qualquer
renda. Quem se desloca às áreas centrais da cidade deve ter observado pessoas recolhendo
papelões e outros materiais possíveis de serem reaproveitados.
Muitas
pessoas não têm noção da difícil jornada dos/as catadores/as, geralmente
transportam os produtos recolhidos em bicicletas ou carrocinhas até suas
residências. Os municípios melhores estruturados no segmento resíduos sólidos,
a atuação dos poderes legislativos e executivos tem se mostrado indispensáveis.
A formalização de leis especifica a coleta seletiva e destinação tende a
garantir mais celeridade e segurança aos envolvidos nessa atividade. Causa
estranheza no município de Araranguá a total omissão do legislativo em demandas
ambientais como coleta seletiva.
Pesquisando
os arquivos da câmara municipal, me deparei com o projeto de lei ordinária n.
0015/2011, do ex-vereador Roni da Rosa, no qual instituiu em 2011 o Programa de
Coleta Seletiva de Lixo no município de Araranguá. Se o projeto foi votado e
aprovado na câmara e sancionado posteriormente pelo executivo, não se tem
informações. Entretanto é conveniente que os atuais legisladores tenham acesso ao
documento e discutam conjuntamente nas sessões ordinárias da câmara.
O fato é que o tema coleta seletiva tem de ser assumido como prioridade pelos gestores municipais. Envolver a sociedade, em especial as unidades escolares nos debates sobre essa demanda requer planejamento e postura política. Reciclar por reciclar sem um aprofundamento crítico do modelo de produção e consumo que se alimenta da exploração do trabalho não resolve. Reciclar deve ir além da sua dimensão econômica, como pretende o capital. Reaproveitar, reutilizar, reciclar são adjetivos que tendem a modelar concepções de mundo e de homem integrados como forças sinérgicas, que se interagem reciprocamente.
Prof. Jairo Cesa
file:///C:/Users/LOJA349/Downloads/silo.tips_prefeitura-municipal-de-ararangua-sc.pdf
https://leismunicipais.com.br/a1/plano-diretor-ararangua-sc
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