domingo, 10 de outubro de 2021

 

CORTES DE RECURSOS À CIÊNCIA E À PESQUISA APROFUNDARÃO AINDA MAIS NOSSO ABISMO EDUCACIONAL E CULTURAL  

Quando um norte americano é agraciado com o premio Nobel, independente da categoria, geralmente o contemplado é um imigrante naturalizado. É incrível como esse país já laureou tantos cientistas. Nos últimos sessenta anos, dos 74 premiados, 43 eram americanos. No último dia 04 de outubro a Fundação Nobel de Estocolmo informou os ganhadores do premio na área da medicina, mais uma vez foram dois americanos, sendo que um deles de origem Armênia, Ardem Potapoution, que fugiu do Líbano para os Estados Unidos aos 18 anos de idade.

Nos Estados Unidos Ardem passou a entregar pizza até arrumar emprego de pesquisador. Já o segundo ganhador foi David Julius, que estudou o ensino médio em Nova York. Relatou que começou a se interessar pela física a partir das aulas do seu professor de física, que antes de lecionar era jogador de basquetebol. Contou que nas aulas de física o professor utilizava a bola de basquete para analisar sua trajetória, que isso era para ele muito inspirador.

Na faculdade, Julius começou a estudar a atuação dos cogumelos alucinógenos no cérebro humano. A intenção era compreender como tudo na natureza influencia nosso sistema nervoso.  Os dois pesquisadores descobriram como sensações de frio são captadas pelo cérebro.  Com essas informações será possível desenvolver medicamentos capazes de combater a dor.  A mensagem que os dois americanos vencedores do prêmio deixaram ao mundo foi o seguinte: os caminhos tortuosos da criatividade amparados pelo rigor da ciência ainda são os mais curtos para construção coletiva que chamamos de civilização”.

Como é inspirador o que ambos relataram sobre a ciência, a pesquisa.  Ficou explicito na fala de Davis Julius, que deve ser considerado todo o processo de condução de um indivíduo ao seu resultado final, o sucesso profissional. Ou seja, os níveis infantis, elementares, médios e superiores. A presença de bons professores/as, criativos/as, como foi o seu professor de física, serão primordiais na construção do caminho de sucesso.

No mesmo instante em que a população mundial acompanha extasiada a divulgação dos laureados com o Nobel, corroborando com a certeza de que quanto mais investimentos em ciências, maiores retornos econômicos e possibilidades de superação de crises teremos, o governo brasileiro vem seguindo o caminho das sombras com corte de 650 milhões de reais do orçamento destinado à pesquisa.  Isso explica o fato de o Brasil jamais ter alguém contemplado com o Nobel em qualquer uma das áreas científicas. A realidade é que continuaremos por muito tempo excluído, isso se permanecermos elegendo governos e parlamentares que tratam a educação, a ciência, como políticas públicas sem muita importância.

Há muito tempo o Brasil vem amargando as ultimas posições na avaliação do PISA (Programa Internacional e Avaliação de Alunos) entre os quase cem países que integram a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento). A tendência é que perderemos mais posições considerando a atual realidade onde estudantes abandonaram a escola em decorrência da pandemia. O ensino remoto se constituiu como principal ferramenta para o acompanhamento das aulas. Entretanto esse novo formato de ensino professor aluno excluiu milhões de crianças e adolescentes por não terem a disposição boas conexões de internet.

Os que tinham ou tem acesso sofreram e sofrem com a baixa qualidade do que é ensinado, agravado ainda mais pela cultura do desleixo ou desinteresse das famílias no acompanhamento dos filhos na escola. O quadro educacional brasileiro se já era decadente antes da pandemia, hoje se apresenta como caótico. Em três anos de governo Bolsonaro desfilaram pelos corredores do MEC quatro ministros da Educação. Incrível que, todos, incluindo o atual, mantiveram e mantém uma postura de negação à ciência, à pesquisa, ou seja, de ataque frontal as instituições públicas de ensino superior.  

No momento em que o ministro da economia, Paulo Guedes, cortava 92% dos recursos destinados à pesquisa e transferia para outros ministérios, o mesmo credenciava a continuidade da subserviência da pobre nação brasileira às potencias econômicas que investem parte expressiva do PIB em ciência. Essa posição anti-ciência do ministro da economia e parte expressiva do congresso nacional se encaixa perfeitamente com o projeto moralista, autoritário, repressor, fascista, protagonizado pelo presidente e sua horda de apoiadores.

Uma educação pautada na lógica do mercado como quer o MEC implementar, elevará ainda mais o grau de atraso científico e tecnológico. Sem grandes investimentos no ensino básico, com escolas bem estruturadas e professores bem remunerados, jamais nos tornaremos uma nação autônoma. Autonomia poderá nos garantir empoderamento, ou seja, consciência e poder para a tomada de decisões livres de manipulações.

Não é o caso da nossa educação, profundamente contaminada por ideias e conceitos fabricados por grupos de interesses e presentes nos currículos. As escolas públicas que deveriam ser espaços de instigação e construção de um saber crítico e transformador viraram campos de massificação coletiva. Rebelar-se contra tudo que massifica e oprime no ambiente escolar é algo a ser estimulado. O espaço e o tempo das aulas devem ser utilizados para refletir as contradições sociais produzidas por um sistema econômico que consome nossa força de trabalho.

Com tais rupturas e um novo currículo construído no sentido de, em primeiro lugar, mostrar que indivíduos são sujeitos históricos em permanente transformação, será possível almejarmos um novo país com amor incondicional à bandeira e aos demais símbolos nacionais.  Porém, sabemos que tudo isso são caminhos desafiadores e difíceis que teremos que trilhar. Acreditar que por meio de um pleito eleitoral nossos problemas serão solucionados inclusive a educação, é acreditar em papai Noel e coelhinho de páscoa.

Somente isso não resolve. É necessário reestruturar as bases dos movimentos sociais como instrumentos de mobilização e pressão aos futuros governantes, mesmo aqueles oriundos das bases populares.  O fato é que teremos dias muito difíceis pela frente. Temos que agir conforme descreveu Antônio Gramsci em uma de suas obras escritas. Nossa luta é uma guerra de trincheiras, cada passo ou etapa vencida se deve cavar uma trincheira e lá se instalar, sem recuar um passo.

Prof. Jairo Cesa                           

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário