RELATO DE UMA TARDE DE TERROR NA BARRA DO RIO ARARANGUÁ
Como
faço frequentemente aos finais de semana, tenho o hábito de pegar a bicicleta
ou mesmo a pé e deslocar até a barra do rio Araranguá. O caminhe sempre reserva
algumas surpresas agradáveis e às vezes desagradáveis. Hoje, 11 de abril de 2021
foi um daqueles dias que teria sido melhor ter ficado em casa. Quando cheguei à
orla do Morro dos Conventos me deparei com centenas de pessoas aglomeradas e
uma enormidade de automóveis estacionados irregularmente na orla, entre outros
que transitavam perigosamente entre o publico. Senti naquele instante que o passeio até a
barra não seria tão tranquilo, harmonioso como em outras oportunidades.
Seguindo
pela orla de bicicleta, em nenhum momento pude desviar o olhar do caminho para
apreciar as belezas do trajeto. O motivo foi o fluxo frenético de automóveis,
indo e vindo da barra. Cerca de quinhentos à frente, me deparei com uma
encantadora imagem, possível de ser vista em dois momentos a cada ano. Eram centenas
de pequenos pássaros migratórios que, agitados, beliscavam a areia da praia catando
o alimento necessário para a longa jornada até o hemisfério norte.
Nas
paragens, como no Morro dos Conventos, as batuíras, como são conhecidas,
necessitam de tranquilidade para poder se alimentar e obter energia suficiente
para concluir um voo de quase quinze mil quilômetros. Percebi que os pequenos pássaros
passavam mais tempo voando do que se alimentado, devido ao grande fluxo de
carros passando próximo aos pássaros. As batuíras têm um tempo muito curto para
descansar e se alimentar e alçar voo. É possível
que muitas das avezinhas que estavam ali tentando se alimentar jamais chegarão
ao destino por não terem se alimentado o suficiente devido aos automóveis.
Já
próximo a barra, um forte barulho de som automotivo quebrava a harmonia do
local, considerado por muitos como um santuário ecológico. Centenas de aves de
espécies distintas têm a foz e o seu entorno como habitat para reprodução e descanso.
Chegando mais perto da foz, os ruídos se tornavam mais intensos a ponto de não
poder ouvir nem mesmo a minha voz. Em vez de ter ido até o começo da barra pela
orla, cortei caminho através das dunas, pois ali percebi que estava o problema
que vem se repetindo sem que as autoridades consigam uma solução plausível.
Instalei-me
sobre um tronco de arvore seco e comecei a gravar algo que, contando, muitos
poderiam não acreditar. Durante os mais de trinta minutos que lá estive pude
presenciar cenas estarrecedoras. Desde a prainha de Ilhas até a ponta da barra,
margem esquerda do rio, contei mais de cem automóveis, incluindo motocicletas e
Jet Ski. Se cada automóvel transportasse duas ou mais pessoas, lá, nessa tarde
de domingo, deveria estar cerca de quinhentas pessoas.
Como
explicar um aglomero tão grande de pessoas, num local que fora transformado por
decreto em Unidade de Conservação Reserva Extrativista em 2016, com
dispositivos que vedam tais práticas tão degradantes ao ecossistema local. O curioso
foi que durante o período que lá estive não observei nenhum carro da polícia
militar fazendo patrulhamento e repreendendo as pessoas que descumpriam as
normas estabelecidas contra o COVID. Por que será que as pessoas estão agindo de maneira
tão displicente como se não tivéssemos vivendo um dos momentos mais críticos da
pandemia? Imaginam, os hospitais da região estão com as suas ocupações no
limite. Sem contar as UTI que há filas de espera para ter acesso ao tratamento
especial.
De
acordo com o portal UOL notícias do dia 11 de abril, o Brasil registrou nesse
domingo a segunda pior média de mortes da pandemia, 3.109 por dia. O portal G1,
bem estar, noticiou no dia 10 de abril, sábado, que a Fiocruz alerta para
cenário crítico da pandemia no sul e centro- oeste para as próximas semanas. Então
minha previsão não esta equivocada. Acredito que daqui no máximo 15 dias
teremos o agravamento dos casos de COVID e mortes na região.
Não
é possível que amanhã, segunda feira, 12 de abril, surja comentários de
radialistas ou pseudo jornalistas sem qualificação, querendo colocar a culpa
nessas pessoas que não estão se cuidando. Se há um decreto estadual o mesmo
deve ser cumprido, não é mesmo? E por que não é cumprido? O Estado e os municípios
deveriam dar exemplo criando estratégias para coibir, punir categoricamente aqueles
que insistem em descumprir o decreto. Quem estava hoje na barra do rio
Araranguá, certamente retornará na próxima semana, tendo a certeza de que nada
o impedirá de estar lá. Portanto, a única certeza que temos no momento é que
estamos vivendo num país, estado e município do faz de conta, onde o que
prevalece é o salve-se quem puder.
Prof.
Jairo Cesa
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