terça-feira, 6 de outubro de 2020

 

CONHECENDO O DESTINO DO LIXO DE CADA DIA PRODUZIDO PELA POPULAÇÃO DE ARARANGUÁ

Aos 11 dias do mês de setembro de 2018, estudantes e professores da EEBA participaram de atividade de campo visitando a empresa RAC responsável pela coleta do lixo doméstico e industrial de 26 municípios do sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul. Na chegada, o grupo foi acomodado numa sala, onde receberam informações detalhadas sobre a empresa, legislações e políticas públicas de saneamento básico, incluindo a coleta e destinação de resíduos sólidos. Informou a palestrante (com formação em engenheira sanitarista e ambiental) que a RACLE recebe grande volume de estudantes do ensino fundamental, médio, universitários e pesquisadores todos os anos.

O município de Araranguá produzia 35 toneladas/dia de lixo doméstico e industrial que tinham o aterro sanitário como destino. Somente o município de Criciúma era recolhido 140 toneladas/dia.  Agora, somando Araranguá, Criciúma e os demais 24 municípios, o volume de lixo recolhido diariamente alcançava as 550 toneladas.  Todo esse resíduo irá totalizar dois milhões de toneladas em 2020, acomodado em um aterro piramidal de quase 30 metros de altura, abrangendo área de 16 hectares. Um dado curioso acerca do aterro. Quando foi construído, havia a previsão de 20 anos de vida útil, ou seja, os dois milhões de toneladas previstos seriam completados nesse prazo. Entretanto, o que não previram os proprietários do empreendimento foi o crescimento abrupto  do volume de lixo produzido pela população.

 De 350 toneladas estimadas diariamente, o volume chegou a 550 toneladas, quase a metade a mais do previsto. Além da RAC que é responsável pelo recolhimento de rejeito sólido, existia a RACLI, que atuava na coleta de resíduos sólidos, que eram transportados até a uma associação e uma cooperativa de coletores nos municípios de Içara e Criciúma, onde eram realizadas as triagens. A palestrante informou que o município de Criciúma realizava a coleta seletiva em 75% do seu território. Isso equivalia a 110 toneladas/mês. Era pouco se comparado as 140 toneladas/dia enviadas ao aterro sanitário.

Outro agravante observado na coleta seletiva em Criciúma era a precariedade nos procedimentos de limpeza do lixo seletivo. As legislações em vigor recomendavam que os municípios tivessem seus planos de saneamento básico aprovados, dentre eles o plano de coleta seletiva. Porém, eram  poucos os municípios que possuíam os planos concluídos e em execução. A alegação dos administradores à inexistência dos planos era o não repasse de recursos do governo federal para projetos simples. Comentou a palestrante que a partir de 2003 nenhum município de Santa Catarina seria permitido ter lixões. Cada um deveria se responsabilizar pelos resíduos produzidos.

Por ser dispendiosa a construção de aterros, a RAC tomou à dianteira e implantou esse sistema no município de Içara, que cobrava do poder público, por cada quilo de lixo recolhido. Na época visita, a palestrante comentou que  existiam no Brasil cerca de 40% de lixões, que contaminavam ecossistemas em seu entorno, principalmente os lençóis freáticos. O aterro sanitário administrado pela RAC recebia rejeitos industriais de classe II, ou seja, não perigosos ao ambiente. No estado de Santa Catarina, na região norte estava os aterros que recebiam rejeitos industriais classe I, aqueles que causavam riscos enormes ao ambiente.

Quanto ao aterro no município de Içara, no qual recebia até 2018  aproximadamente 600 toneladas de resíduos e rejeitos diariamente, desse total, 40% poderiam ter outro destino, longe dos aterros. O fato é que o lixo, tanto os resíduos quanto os rejeitos coletados nos 26 municípios, ambos são acondicionados no mesmo recipiente e transportado para o aterro. Os 40% dos resíduos sólidos, quase 250 toneladas, poderiam resultar em emprego e renda para milhares de pessoas, bem como a economia de água e outras matérias primas na produção de novos produtos.

Disse que era necessário mudar o conceito sobre lixo, que o mesmo tem valor econômico. Informou que  uma universidade da região, havia um grupo de pesquisadores na área de Engenharia Ambiental desenvolvendo seu TCC voltado à sensibilização acerca do lixo. Que muitas das respostas dos entrevistados demonstravam desconhecimento sobre o tema. Um dos resíduos mais comuns produzidos no aterro sanitário era o chorume, disse na época a palestrante.

Que a construção do empreendimento seguiu normas técnicas rígidas. Motivo pelo qual levou a empresa contratar profissionais da cidade de São Paulo, com experiências em projetos mais complexos. A palestrante mostrou para o grupo, pedaço de lona de polietileno, material de alta densidade, usada para impermeabilizar o solo. O produto além de resistir a fortes impactos poderia durar cerca de 300 anos. Relatou que deveria ser  o motivo do seu valor elevado, quase 30 reais o metro quadrado.

No aterro existiam  dezenas de drenos com tubulações de 60 cm de diâmetro  que transportavam o chorume para piscinas de decantação. Eram 10 m³/h, ou seja, 10 caixas de 1000 litros escorriam para as piscinas. O total eram 240 caixas de mil litros cada uma, despejado diariamente na piscina. O produto era tratado, a água despejada em um córrego próximo, que por sua vez era lançada ao Rio dos Porcos, afluente do Rio Araranguá.  Além do chorume, o aterro produzia quantidade expressiva de gás metano. Ressaltou a palestrante que no mundo vinha se fazendo campanha  contra a emissão de CO2 na atmosfera, gás responsável pelo aquecimento global. O gás metano, produzido nos lixões, é 21 vezes mais poluente que o CO2.

Para evitar sua emissão à atmosfera, nos aterros ele era queimado quando expelido à atmosfera por tubulações verticais, transformado em água e CO2. Em 2017, disse a palestrante, que um estudante de engenharia ambiental desenvolveu projeto para o reaproveitamento do gás metano na RAC, convertido em energia elétrica. Que a empresa aproveitava o gás liberado pelo aterro, convertido em energia elétrica para movimentar os aeradores das piscinas de decantação de chorume. Com essa pequena usina de produção de energia elétrica, havia uma economia mensal de 20 mil reais com a CELESC. Em quatro em quatro meses, técnicos das universidades faziam inspeção ambiental de toda a área do aterro, verificando se o mesmo estava em conformidade com as legislações em vigor.

Prof. Jairo Cezar

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