CONHECENDO O DESTINO DO LIXO DE CADA DIA
PRODUZIDO PELA POPULAÇÃO DE ARARANGUÁ
Aos 11 dias do mês de setembro de 2018, estudantes e
professores da EEBA participaram de atividade de campo visitando a empresa RAC responsável
pela coleta do lixo doméstico e industrial de 26 municípios do sul de Santa
Catarina e norte do Rio Grande do Sul. Na chegada, o grupo foi acomodado numa
sala, onde receberam informações detalhadas sobre a empresa, legislações e
políticas públicas de saneamento básico, incluindo a coleta e destinação de
resíduos sólidos. Informou a palestrante (com formação em engenheira
sanitarista e ambiental) que a RACLE recebe grande volume de estudantes do
ensino fundamental, médio, universitários e pesquisadores todos os anos.
O município de Araranguá produzia 35 toneladas/dia de
lixo doméstico e industrial que tinham o aterro sanitário como destino. Somente
o município de Criciúma era recolhido 140 toneladas/dia. Agora, somando
Araranguá, Criciúma e os demais 24 municípios, o volume de lixo recolhido
diariamente alcançava as 550 toneladas. Todo esse resíduo irá totalizar dois
milhões de toneladas em 2020, acomodado em um aterro piramidal de quase 30
metros de altura, abrangendo área de 16 hectares. Um dado curioso acerca do
aterro. Quando foi construído, havia a previsão de 20 anos de vida útil, ou
seja, os dois milhões de toneladas previstos seriam completados nesse prazo. Entretanto,
o que não previram os proprietários do empreendimento foi o crescimento
abrupto do volume de lixo produzido pela população.
De 350
toneladas estimadas diariamente, o volume chegou a 550 toneladas, quase a
metade a mais do previsto. Além da RAC que é responsável pelo recolhimento de rejeito
sólido, existia a RACLI, que atuava na coleta de resíduos sólidos, que eram
transportados até a uma associação e uma cooperativa de coletores nos
municípios de Içara e Criciúma, onde eram realizadas as triagens. A palestrante
informou que o município de Criciúma realizava a coleta seletiva em 75% do seu
território. Isso equivalia a 110 toneladas/mês. Era pouco se comparado as 140
toneladas/dia enviadas ao aterro sanitário.
Outro agravante observado na coleta seletiva em
Criciúma era a precariedade nos procedimentos de limpeza do lixo seletivo. As
legislações em vigor recomendavam que os municípios tivessem seus planos de
saneamento básico aprovados, dentre eles o plano de coleta seletiva. Porém,
eram poucos os municípios que possuíam
os planos concluídos e em execução. A alegação dos administradores à inexistência
dos planos era o não repasse de recursos do governo federal para projetos
simples. Comentou a palestrante que a partir de 2003 nenhum município de Santa
Catarina seria permitido ter lixões. Cada um deveria se responsabilizar pelos
resíduos produzidos.
Por ser dispendiosa a construção de aterros, a RAC tomou
à dianteira e implantou esse sistema no município de Içara, que cobrava do
poder público, por cada quilo de lixo recolhido. Na época visita, a palestrante
comentou que existiam no Brasil cerca de
40% de lixões, que contaminavam ecossistemas em seu entorno, principalmente os
lençóis freáticos. O aterro sanitário administrado pela RAC recebia rejeitos
industriais de classe II, ou seja, não perigosos ao ambiente. No estado de
Santa Catarina, na região norte estava os aterros que recebiam rejeitos
industriais classe I, aqueles que causavam riscos enormes ao ambiente.
Quanto ao aterro no município de Içara, no qual recebia
até 2018 aproximadamente 600 toneladas
de resíduos e rejeitos diariamente, desse total, 40% poderiam ter outro destino,
longe dos aterros. O fato é que o lixo, tanto os resíduos quanto os rejeitos
coletados nos 26 municípios, ambos são acondicionados no mesmo recipiente e
transportado para o aterro. Os 40% dos resíduos sólidos, quase 250 toneladas,
poderiam resultar em emprego e renda para milhares de pessoas, bem como a
economia de água e outras matérias primas na produção de novos produtos.
Disse que era necessário mudar o conceito sobre lixo,
que o mesmo tem valor econômico. Informou que uma universidade da região, havia um grupo de
pesquisadores na área de Engenharia Ambiental desenvolvendo seu TCC voltado à
sensibilização acerca do lixo. Que muitas das respostas dos entrevistados
demonstravam desconhecimento sobre o tema. Um dos resíduos mais comuns produzidos
no aterro sanitário era o chorume, disse na época a palestrante.
Que a construção do empreendimento seguiu normas
técnicas rígidas. Motivo pelo qual levou a empresa contratar profissionais da
cidade de São Paulo, com experiências em projetos mais complexos. A palestrante
mostrou para o grupo, pedaço de lona de polietileno, material de alta densidade,
usada para impermeabilizar o solo. O produto além de resistir a fortes impactos
poderia durar cerca de 300 anos. Relatou que deveria ser o motivo do seu valor elevado, quase 30 reais
o metro quadrado.
No aterro existiam dezenas de drenos com
tubulações de 60 cm de diâmetro que transportavam o chorume para piscinas
de decantação. Eram 10 m³/h, ou seja, 10 caixas de 1000 litros escorriam para
as piscinas. O total eram 240 caixas de mil litros cada uma, despejado diariamente
na piscina. O produto era tratado, a água despejada em um córrego próximo, que por
sua vez era lançada ao Rio dos Porcos, afluente do Rio Araranguá. Além do
chorume, o aterro produzia quantidade expressiva de gás metano. Ressaltou a
palestrante que no mundo vinha se fazendo campanha contra a emissão de
CO2 na atmosfera, gás responsável pelo aquecimento global. O gás metano,
produzido nos lixões, é 21 vezes mais poluente que o CO2.
Para evitar sua emissão à atmosfera, nos aterros ele
era queimado quando expelido à atmosfera por tubulações verticais, transformado
em água e CO2. Em 2017, disse a palestrante, que um estudante de engenharia
ambiental desenvolveu projeto para o reaproveitamento do gás metano na RAC, convertido
em energia elétrica. Que a empresa aproveitava o gás liberado pelo aterro, convertido
em energia elétrica para movimentar os aeradores das piscinas de decantação de
chorume. Com essa pequena usina de produção de energia elétrica, havia uma economia
mensal de 20 mil reais com a CELESC. Em quatro em quatro meses, técnicos das
universidades faziam inspeção ambiental de toda a área do aterro, verificando
se o mesmo estava em conformidade com as legislações em vigor.
Prof. Jairo Cezar
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