domingo, 11 de outubro de 2020

 

A  IGNORÂNCIA E A MISÉRIA SOCIAL ALIMENTAM O CICLO VICIOSO DE ELEIÇÕES VENCIDAS POR GRUPOS OLIGÁRQUICOS   

O jornal Tribuna de Criciúma, edição do dia 06 de outubro de 2020, trouxe reportagem relatando o cenário sombrio de pobreza que atinge centenas de famílias residentes no município de Siderópolis. Destacou o jornal que o município há pouco tempo ostentava a terceira posição em IDH, na AMREC. Associada a pobreza está o tráfico, consumo de drogas e a violência que tornam famílias vulneráveis, muitas das quais sobrevivendo apenas com o auxílio do governo federal, a Bolsa Família.

O fato é que a exemplo de Siderópolis, a pobreza avassala mais da metade da população brasileira. É importante esclarecer que essa catastrófica realidade não se deve exclusivamente à Pandemia que ceifou milhões de postos de trabalhos. A pobreza no Brasil e no mundo inteiro não é algo intrínseco à existência humana, um destino, um castigo por desafeto aos desígnios divinos. Nada disso, a pobreza é resultado de um processo social, econômico, de subtração da mais valia pela exploração do trabalho, que é transformado em lucro.

Isso significa que quanto maior à pobreza, à miséria, maior será o acumulo de riqueza, capital, nas mãos de um punhado de abastados.  Como assim modelos de produção? Desde o aparecimento dos primeiros humanos, a subsistência se dava utilizando ferramentas de trabalho rudimentares na coleta de raízes, frutos e para a caça.  Com a agricultura e a domesticação de animais, houve o processo se sedentarização, ampliando o horizonte de percepção do mundo como um organismo concreto e abstrato.  

Pequenos agrupamentos humanos surgiram e, ao mesmo tempo, inovações na produção e no trabalho passaram a exigir regras mais sofisticadas de convivência. Onde antes, terras e produtos oriundos dela eram compartilhados igualmente entre os membros do grupo, com o aumento da população uma complexa estrutura de relação foi criada tendo como agente gestor o Estado. As terras antes coletivas, paulatinamente são cercadas e convertidas em produtos de troca.  

Com o advento da máquina, o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de salário. A criação de leis se torna necessária para o funcionamento “harmônico” dos meios de produção. Entretanto, tais regras são construídas por sujeitos eleitos pelo voto. No sistema capitalista os indicados para a elaboração de normas geralmente são oriundos das camadas abastadas da sociedade, os mesmos que detém o controle dos meios de produção.

É claro que além de criar as leis, também são os que decidem o que devem ser ensinado e aprendido nas escolas, pelo fato de coordenarem os órgãos responsáveis pela elaboração dos currículos e sistemas de avaliação. A escola, a religião, no sistema capitalista, ambas assumem tarefas estratégicas de reprodução das relações de dominação de uma classe sobre a outra. Olhando a atual realidade, onde milhões de pessoas vivem em condições subumanas, o papel dos aparelhos ideológicos do Estado, é fazer as pessoas acreditarem que somente com esforço, sacrifício e sofrimento são possíveis de superar as dificuldades.

No capitalismo, há premissas liberais que dominam os discursos de seus defensores, o progresso e crescimento econômico, que são vistos como únicos caminhos para a superação das crises econômicas. Ainda hoje proeminentes políticos e donos do capital reiteram discursos sobre a necessidade do crescimento do “bolo econômico” para posterior distribuição à população.  Num sistema econômico perverso, de forte exploração nas periferias do capitalismo, a exemplo do Brasil, o que sobra para a população marginalizada são apenas migalhas.

O bolsa família e outros benefícios assistenciais são estratégias bem sucedidas para dar sobrevida à força de trabalho necessária à acumulação capitalista. A própria população beneficiada interpreta tais caridades como ato benevolente dos governantes.  Na realidade, o parco recurso assistencial que chega às mãos de milhões de cidadãos/ãs marginalizados/as, é parte do que lhe são retidos pelos donos do capital, mês a mês, por meio da mais valia. É essa massa de despossuído, miseráveis, beneficiados com migalhas, são usados como massa de manobra necessária à continuidade do ciclo de dominação e exploração.

Durante as campanhas eleitorais esse contingente populacional é alvo das investidas de políticos oportunistas que barganham votos em troca de algum benefício. A perpetuação de um processo político eleitoreiro vicioso é alimentada a partir da ignorância de mais da metade da população brasileira. Ignorância se deve a pouca ou nenhuma escolaridade. Aqui, portanto, está à resposta à repetição desse terrível mal de mais de cinco séculos de existência e com tendências de permanecer por outros tantos séculos.

O atual cenário político, de um governo decidido em destruir as poucas conquistas sociais das últimas décadas, é quase ilusório acreditar que a realidade social irá melhorar substituindo governos sem rupturas profundas no modelo econômico. Como imaginar um país tão grande e rico como o Brasil, tendo milhões e milhões de pessoas sem onde morar e o que comer. Não queremos governos reformistas, entreguistas, privatistas, xenófobos, homofóbicos, genocidas. Queremos, sim, governos comprometidos com a transformação das estruturas, que desafie os poderosos, investindo em educação pública, construindo um grande exército de cidadãos críticos e livres.

Prof. Jairo Cesa.                   

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