A IGNORÂNCIA E A MISÉRIA SOCIAL ALIMENTAM O CICLO VICIOSO DE ELEIÇÕES VENCIDAS POR GRUPOS OLIGÁRQUICOS
O
jornal Tribuna de Criciúma, edição do dia 06 de outubro de 2020, trouxe
reportagem relatando o cenário sombrio de pobreza que atinge centenas de
famílias residentes no município de Siderópolis. Destacou o jornal que o
município há pouco tempo ostentava a terceira posição em IDH, na AMREC.
Associada a pobreza está o tráfico, consumo de drogas e a violência que tornam famílias
vulneráveis, muitas das quais sobrevivendo apenas com o auxílio do governo
federal, a Bolsa Família.
O
fato é que a exemplo de Siderópolis, a pobreza avassala mais da metade da
população brasileira. É importante esclarecer que essa catastrófica realidade
não se deve exclusivamente à Pandemia que ceifou milhões de postos de
trabalhos. A pobreza no Brasil e no mundo inteiro não é algo intrínseco à
existência humana, um destino, um castigo por desafeto aos desígnios divinos. Nada
disso, a pobreza é resultado de um processo social, econômico, de subtração da
mais valia pela exploração do trabalho, que é transformado em lucro.
Isso
significa que quanto maior à pobreza, à miséria, maior será o acumulo de
riqueza, capital, nas mãos de um punhado de abastados. Como assim modelos de produção? Desde o
aparecimento dos primeiros humanos, a subsistência se dava utilizando
ferramentas de trabalho rudimentares na coleta de raízes, frutos e para a caça. Com a agricultura e a domesticação de animais,
houve o processo se sedentarização, ampliando o horizonte de percepção do mundo
como um organismo concreto e abstrato.
Pequenos
agrupamentos humanos surgiram e, ao mesmo tempo, inovações na produção e no
trabalho passaram a exigir regras mais sofisticadas de convivência. Onde antes,
terras e produtos oriundos dela eram compartilhados igualmente entre os membros
do grupo, com o aumento da população uma complexa estrutura de relação foi
criada tendo como agente gestor o Estado. As terras antes coletivas,
paulatinamente são cercadas e convertidas em produtos de troca.
Com
o advento da máquina, o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de salário.
A criação de leis se torna necessária para o funcionamento “harmônico” dos
meios de produção. Entretanto, tais regras são construídas por sujeitos eleitos
pelo voto. No sistema capitalista os indicados para a elaboração de normas
geralmente são oriundos das camadas abastadas da sociedade, os mesmos que detém
o controle dos meios de produção.
É
claro que além de criar as leis, também são os que decidem o que devem ser
ensinado e aprendido nas escolas, pelo fato de coordenarem os órgãos responsáveis
pela elaboração dos currículos e sistemas de avaliação. A escola, a religião,
no sistema capitalista, ambas assumem tarefas estratégicas de reprodução das
relações de dominação de uma classe sobre a outra. Olhando a atual realidade,
onde milhões de pessoas vivem em condições subumanas, o papel dos aparelhos ideológicos
do Estado, é fazer as pessoas acreditarem que somente com esforço, sacrifício e
sofrimento são possíveis de superar as dificuldades.
No
capitalismo, há premissas liberais que dominam os discursos de seus defensores,
o progresso e crescimento econômico, que são vistos como únicos caminhos para a
superação das crises econômicas. Ainda hoje proeminentes políticos e donos do
capital reiteram discursos sobre a necessidade do crescimento do “bolo econômico”
para posterior distribuição à população.
Num sistema econômico perverso, de forte exploração nas periferias do
capitalismo, a exemplo do Brasil, o que sobra para a população marginalizada
são apenas migalhas.
O
bolsa família e outros benefícios assistenciais são estratégias bem sucedidas para
dar sobrevida à força de trabalho necessária à acumulação capitalista. A
própria população beneficiada interpreta tais caridades como ato benevolente dos
governantes. Na realidade, o parco recurso
assistencial que chega às mãos de milhões de cidadãos/ãs marginalizados/as, é
parte do que lhe são retidos pelos donos do capital, mês a mês, por meio da
mais valia. É essa massa de despossuído, miseráveis, beneficiados com migalhas,
são usados como massa de manobra necessária à continuidade do ciclo de
dominação e exploração.
Durante
as campanhas eleitorais esse contingente populacional é alvo das investidas de
políticos oportunistas que barganham votos em troca de algum benefício. A
perpetuação de um processo político eleitoreiro vicioso é alimentada a partir
da ignorância de mais da metade da população brasileira. Ignorância se deve a
pouca ou nenhuma escolaridade. Aqui, portanto, está à resposta à repetição
desse terrível mal de mais de cinco séculos de existência e com tendências de
permanecer por outros tantos séculos.
O
atual cenário político, de um governo decidido em destruir as poucas conquistas
sociais das últimas décadas, é quase ilusório acreditar que a realidade social
irá melhorar substituindo governos sem rupturas profundas no modelo econômico.
Como imaginar um país tão grande e rico como o Brasil, tendo milhões e milhões
de pessoas sem onde morar e o que comer. Não queremos governos reformistas,
entreguistas, privatistas, xenófobos, homofóbicos, genocidas. Queremos, sim,
governos comprometidos com a transformação das estruturas, que desafie os
poderosos, investindo em educação pública, construindo um grande exército de
cidadãos críticos e livres.
Prof.
Jairo Cesa.
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