domingo, 17 de março de 2019


OS ARQUÉTIPOS DA VIOLÊNCIA SOCIAL ESTÃO NOS GESTOS E ATITUDES TRANSMITIDOS PELOS SEUS LIDERES

O ato violento ocorrido em uma escola pública na cidade de Suzano que vitimou 10 jovens não pode ser entendido como um episódio isolado, desconexo de outros episódios convergentes. Esse é o terceiro ocorrido no Brasil nos últimos anos, ao contrário dos Estados Unidos que está se tornando rotina. Interpretar tais ocorridos à luz das várias ciências como sociologia e a psicologia se torna quase uma necessidade. A pergunta é o que leva jovens entrarem em escolas e tirarem a vida de outros de um modo tão macabro como o de Suzano? 
Deixa explícito nas cenas exibidas que o ato cometido havia forte sentimento de ódio contra aquela escola. Sem entrar em detalhes se os jovens assassinos tinham ou não histórico bom ou ruim naquela escola, pois lá estudou, o que importa aqui é entender o que está acontecendo com a educação das crianças no campo doméstico e escolar. Onde está os nexos causais para tanta violência, tanta brutalidade?
Seria o ato, reflexo de um campo energético negativo que permeia o inconsciente coletivo?  A família, a frágil estrutura das escolas, os governos omissões no cumprimento de políticas educacionais como o PNE, são essas e outras tantas, demonstrações claras que o ambiente escolar vem se transformando no principal catalisador de uma crise social sem precedente.
Recorrer a certas teorias na tentativa de explicações a tais comportamentos insanos é o que deve acontecer para reverter possível patologia social que insiste em permanecer.  Vasculhar os escritos de Jung, trazendo à luz do debate os arquétipos simbólicos, tende a ser necessário para apontar explicações do modo como o inconsciente coletivo se manifesto no processo de individuação. Em todas as culturas, a atividade lúdica, ou seja, o brinquedo é um dos instrumentos utilizados para a sua representação do mundo real, onde contribui para o amadurecimento dos processos neurológicos e emocionais.
Ultimamente, esses ritos de passagem do campo lúdico (fantasia) para o real (adulto), está se tornando traumático com seqüelas neurológicas irreversíveis. As crianças já na tenra idade se vêem enclausuradas em seus cubículos domésticos, solitárias, recorrem a suportes artificiais para suportar as frustrações recorrentes. Paulatinamente vão construindo conceitos de mundo a partir de imagens e sensações captadas pelos órgãos dos sentidos, a exemplo dos olhos, órgão mais ativado dentre os demais. Na cultura do consumismo em massa, as crianças e adolescentes desde cedo são impelidas a idealizarem seus heróis e super-heróis fictícios, muitos dos quais forjados a partir de personagens aculturados.
Num mundo tumultuado e desacreditado, cuja violência prevalece com mais veemência em locais desassistidos pelo Estado, é claro que os heróis personalizados pelos desatentos jovens são moradores do próprio bairro, do morro, chefes de milícias, bandidos, traficantes, entre outros.  A criança, nesses espaços fétidos, sua infância é roubada já ao nascer. Em vez de objetos lúdicos, bolas, carrinhos, bonecas, etc, o contato são com fuzis, revolveres, drogas, tudo aquilo que mata, que devassa sua psique, sua família, sua educação. Se o seu mundo é permeado pela violência, por bandidos ostentando aquilo que não se terá no mundo real, é claro que a tendência desses meninos e meninas é querer se espelhar nesses arquétipos.
O futebol é sem dúvida o esporte onde crianças tendem a se espelhar em jogadores que simbolicamente os vêem como ídolos. No instante que esses ídolos assumem qualquer postura, positiva ou negativa, as crianças e os jovens tendem a repeti-los como uma extensão do seu eu simbólico. Na musica, na política, também é diferente. Um exemplo de irresponsabilidade e que ser um dos motivos de atos violentos replicados no país inteiro é o arquétipo/gesto criado pelo presidente da república quando ainda candidato.
O movimento dos braços e das mãos como se estivem empunhando arma de fogo passou a ser o gesto repetido principalmente pelas crianças. É possível que tais arquétipos não tenham qualquer relação com o que ocorreu em Suzano. Entretanto, devemos prestar atenção, principalmente aqueles que têm suas imagens largamente expostas ao público, de estar sempre atentos ao que expressam oralmente ou sob a forma de gestos. Por trás de pequenos e talvez ingênuos gestos, podem estar implícitos sentimentos de ódio, de rancor, que se transformam em estopins de atos bárbaros que esfacelam vidas humanas.
Prof. Jairo Cezar

Nenhum comentário:

Postar um comentário