quarta-feira, 29 de agosto de 2018


MOSTRA CIENTÍFICA NAS ESCOLAS ESTIMULA ESTUDANTES  À PENSAREM SOLUÇÕES AOS PROBLEMAS DO COTIDIANO SOCIAL

O incentivo a atividades educacionais como mostras de ciências ou feiras interdisciplinares são exemplos de ações que podem fazer diferença na vida do/a estudante, pelo fato da escola se tornar o primeiro laboratório para pensar soluções aos problemas que afligem a sociedade. Tanto a LDB quanto as resoluções sancionadas depois como o Plano Nacional de Educação (PNE), ambos dão ênfase a iniciação à pesquisa a partir das primeiras fases do ensino infantil. Entretanto, o modelo educacional ora vigente, com raras exceções, não dá garantia que essas iniciativas sejam disseminadas como regra geral do processo aprendizagem.



Foto - acervo - Jairo

Foto - acervo - Jairo
Foto - acervo - Jairo

O que deveria ser prática diária nas escolas tornou-se exceção de um dia ou algumas horas, onde estudantes expõem suas produções científicas à comunidade. Embora ainda estejamos longe de uma educação ideal, as amostras científicas infelizmente refletem o abismo estratosférico entre escolas públicas e particulares.  Enquanto as escolas públicas padecem de infraestrutura mínima para o exercício da profissão docente, escolas particulares de excelência são vistas como verdadeiros tubos de ensaio, prelúdios para o ingresso de jovens às universidades e áreas de comando da economia e política.

Foto - acervo - Jairo

Foto - acervo - Jairo

Não é pela falta de recursos que as escolas públicas especialmente as estaduais vivem esse abismo. Em termos absolutos os recursos arrecadados pelo Estado seriam suficientes para assegurar educação de qualidade a cada cidadão brasileiro. Os vícios generalizados somados a falta de políticas de Estado, transformaram instituições públicas de ensino básico em ambiente desacreditado das populações mais pobres. O resultado disso é o seu próprio boicote, com a elevação das taxas de abandono anual. Baixa produtividade e salários menores alimentam o ciclo vicioso dessa pobre engrenagem que mantém o Brasil nas últimas posições no ranque educacional.  

Foto - acervo - Jairo

Foto - acervo - Jairo
São esses despossuídos que corroboram com a engrenagem da corrupção e do atraso secular mantendo o país nas últimas posições em quase todos os indicadores sociais.  Encontrar saídas às demandas não depende exclusivamente dos governantes, pois não são essas suas reais intenções.  São regimes ou governos que se alimentam dos desmandos, das negociatas, da corrupção. Uma feira de ciência pouco prestigiada como foi a da EEBA é uma prova de que governos e elites econômicas estão fazendo a sua parte para que seja realmente um fracasso. Isso desperta sentimentos de impotência e de descrédito da sociedade com tudo que é publico.

Foto - acervo - Jairo

Foto - acervo - Jairo

Diante de tantas dificuldades e boicotes típicos de escolas públicas espalhadas pelo estado e Brasil, os/as corajosos/as professores/as e estudantes da EEBA deram mostras de ousadia. Todos os anos a escola reserva um dia no calendário para que educadores/as e estudantes apresentem experiências relevantes que contribuem para o aprendizado e melhoria da qualidade de vida da sociedade. Uma escola com quase mil estudantes e mais de cinquenta profissionais era de se prever que, no mínimo, duas dezenas de trabalhos pudessem estar à mostra para a população. Não foi exatamente o que se viu no dia.

Foto - acervo - Jairo
Foram cerca de 10 trabalhos exibidos e 200 ou 300 indivíduos que transitaram pelos corredores da instituição, entre pais, estudantes, professores. É muito pouco para uma escola do nível da EEBA, respeitada, que foi referência no sul do estado na formação de profissionais de várias áreas, especialmente normalistas/professores/as. Até pode ser justificável o boicote à feira, pois a escola se encontra em situação deplorável, parte dela interditada por falta de segurança. Os demais cômodos, ginásios, quadras esportivas, banheiros, refeitórios, laboratórios e recursos pedagógicos, funcionam parcialmente. Sendo a escola pública, mantida com dinheiro dos impostos, a sociedade teria que assumi-la, abraçá-la, como se fosse seu lar. 

Foto - acervo - Jairo

Por que não o faz? Não o faz porque a escola continua muito distante do cotidiano da população mais desassistida, cujos filhos estão lá matriculados. Não vislumbram como caminho para superação individual, ascensão e realização profissional. Os governos, que representam a classe dos dominantes, executam políticas que reforçam as desigualdades. Quanto mais escolas depredadas, abandono/reprovação, baixo nível de aprendizagem, maior será o número de políticos descomprometidos eleitos para cargos importantes de decisão. Todos/as sabemos que uma feira interdisciplinar pouco impacto traz à solução dos problemas emergenciais de uma escola.

Foto - acervo - Jairo
No entanto, poderia ser o momento oportuno para  refletirem a realidade social, discutir possibilidades e soluções sustentáveis e de baixo custo orçamentário às várias demandas econômicas e ambientais. Não é mesmo? Proposições como economia de energia e água, reciclagens, elementos da cultura local, imagens realçando cenários protegidos e antropisadas, saúde corporal, foram alguns dos trabalhos exibidos na mostra interdisciplinar da EEBA. Por ter sido definido o dia da feira como atípico, ou seja, sem a costumeira rotina das salas de aula, todos/as foram designados/as para estar na escola e prestigiar o evento.  Em culturas mais avançadas, espaços como da EEBA seriam pequenos para acomodar tanta gente ansiosa para conhecer o que cientistas mirins estão pesquisando, estudando, para tornar o mundo melhor.

Foto - acervo - Jairo
Não foi exatamente o que aconteceu na instituição de ensino. Havia expectativa de pequena participação dos pais, por ter sido o evento ocorrido numa quinta feira. Por outro lado, assustou quando mais da metade dos/as estudantes e um número expressivo de professores/as deixaram de prestigiar, atém mesmo solidarizar com os colegas profissionais e estudantes que dedicaram tempo de sua rotina para elaboração e organização de suas temáticas.

Foto - acervo - Jairo
Sabemos que não é conveniente fazermos comparações entre instituições de ensino, especialmente quando se trata de redes públicas com particulares. Não há dúvida que muitas escolas privadas os níveis de aprendizagem são relativamente melhores que as publicas devido a estrutura organizacional e do capital cultural acumulado pelos sujeitos antes de ir à escola. Outra diferença se dá no acompanhamento da família durante sua trajetória escolar.

Foto - acervo - Jairo
Quanto às atividades extraclasses, como mostras científicas, um exemplo que revela o abismo que separa tais redes de ensino foi constatada quando visitei uma escola em Caxias do Sul há poucos dias. Como acontece em todas as escolas, independentes das redes, ambas cometem os mesmos equívocos nas amostras científicas, que é o reduzido tempo para o público apreciar os trabalhos. Na escola de Caxias do Sul, me surpreendi com a avalanche de pessoas circulando por todos os lados conferindo de perto o que os estudantes haviam pesquisado.


Foto - acervo - Jairo


Foto - acervo - Jairo

 Numa das dependências da escola estavam distribuídos dezenas de pequenos stands com dois ou três estudantes ansiosos em querer demonstrar ao público a relevância de sua pesquisa. Em outra dependência, em um ginásio de esportes, outro turbilhão de pessoas disputava cada centímetro quadrado do local para ver e ouvir os relatos dos pesquisadores mirins. Ao todo, foram mais de 150 stands montados, com temas diversos, alguns tão complexos e instigantes que ocupavam longo tempo dos apresentadores.


Foto - acervo - Jairo


Foto - acervo - Jairo
É claro que embora me sentindo entusiasmado de estar ali acompanhando de perto a empolgação dos estudantes, certa tristeza ou decepção ainda tomava conta de mim. Isso porque há dois dias havia vivido experiência semelhante na escola onde leciono.  Outra surpresa foi perceber que nenhum trabalho apresentado na escola de Caxias do Sul requereu grandes investimentos.


Foto - acervo - Jairo


Foto - acervo - Jairo
A maioria dos protótipos foi utilizada materiais recicláveis para confecção. Porém, o destaque foi a organização, pois cada grupo exibia na mesa, cópia do projeto, apresentando objetivos, metodologia e fontes pesquisadas. Conversando com estudantes, ambos disseram que semanalmente a escola dispunha de uma ou duas aulas para se dedicar exclusivamente com a pesquisa. O uso da internet foi fundamental especialmente na pesquisa de fontes bibliográficas, muitas vezes recorrendo a fontes estrangeiras para fundamentar a investigação.


Foto - acervo - Jairo


Foto - acervo - Jairo

Não há dúvida que o a dinamização de uma sociedade se dá por meio da educação, sendo a pesquisa científica devendo ser estimulada a partir dos primeiros anos de vida. Quanto mais investimento nesse setor maior é a possibilidade de grupos sociais galgarem estágios mais elevados de desenvolvimento social. Poderia estar no quesito mostra científica um dos fatores preponderantes do grau de pujança que atingiu cidades do porte de Caxias do Sul, Gramado, Bento Gonçalves, etc, entre outras no estado catarinense. E Araranguá, quanto tempo levará para superação do atraso estrutural que o acompanha há décadas?
Prof. Jairo Cezar



















Nenhum comentário:

Postar um comentário