segunda-feira, 13 de agosto de 2018


DIA “D” DO DESEMBARQUE DOS/AS PROFESSORES/AS FRENTE A ARMADILHA PRIVATISTA DA BNCC ARTICULADA PELO MEC, CNE E CONSED


Na véspera do dia D, data em todas as escolas do ensino médio brasileiro cessaram suas atividades para “discutir” a BNCC, cujo texto continua no CNE (Conselho Nacional de Educação) para adequações, a SBPC (Sociedade Brasileira para Pesquisa e Cidadania) encaminhou carta ao congresso nacional, presidente da república, ministro da educação e ao conselho nacional de educação, solicitando a revogação da lei sobre o ensino médio e a revisão profunda do texto da BNCC.[1] De acordo com representante da SBPC, a decisão de encaminhamento do documento ocorreu durante a realização do 70° Congresso Nacional da entidade, em Maceió, evento no qual concluíram que o documento da base como está tem caráter excludente, onde intensificará ainda mais as desigualdades sociais. Na carta também consta o pedido de cumprimento das vinte metas do PNE  cujo prazo expira em  2024.

É necessário que o documento da base seja devolvido ao MEC para se fazer ampla discussão com estudantes, professores, demais trabalhadores do setor, gestores e entidades científicas.  A decisão tomada pela SBPC certamente deverá receber o respaldo da população que tem seus filhos matriculados nas escolas públicas brasileiras, pois muitos dos dispositivos contidos no projeto impactam diretamente com a qualidade do ensino.  A certeza de que a “Base” ampliará as desigualdades na educação básica brasileira foi comprovada no encontro do DIA D, quando, por todo um dia, milhares de professores se reuniram para discutir a sorrateira proposta, tão complexa e controversa, onde muitos/as educadores, mesmo tendo ouvido falar da proposta, jamais tiveram contato das proposições ali sistematizadas.

Na realidade o encontro nas escolas teria por objetivo que todos conhecessem integralmente o documento e propusessem sugestões. Que todas as contribuições serão absorvidas e homologadas pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e enviados ao CNE.  Conforme leitura do texto encaminhado à analise, nas cinco áreas de conhecimento, seriam necessários, no mínimo, dois ou três dias para que fossem feitas reflexões profundas somente das questões elencadas em todas as áreas de conhecimento. Quando no documento introdução e orientações está escrito que todos/as conhecem com profundidade o documento da BNCC, se faz necessário desafiar os integrantes do CONSED, CNE e MEC, para que promovam enquete com os/as profissionais da educação no Brasil para comprovar se realmente são conhecedores/as da proposta, bem como do texto relativo ao ensino médio.  

No instante que o grupo das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas iniciou a leitura das 75 questões relativas às competências e habilidades, no semblante de cada um espelhava angústia e apreensão, pois estava havendo dificuldades para compreender o próprio enunciado da pergunta, como encaixá-las corretamente nas 5 escalas indicadas na legenda (clareza e pertinência) e respondê-las de modo convincente. É claro que o grupo da área de humanas, como das demais ciências de uma das escolas da rede pública estadual envolvida no desafio do DIA D são profissionais experientes, de longa trajetória no magistério, a maioria pós graduados ou mestres. Entretanto, toda essa experiência e formação acadêmica não foram suficientes para minimizar dúvidas e chegar a um consenso rápido de 13 habilidades estudadas, das 75 contidas no texto.   

Foi consenso no grupo a opinião de que os mentores intelectuais das questões tinham o propósito de dificultar ao máximo a discussão integral do documento. Na expectativa de que não haverá o envio completo das proposições pelas escolas, o governo poderá criminalizar os educadores por negligência, irresponsabilidade, dando-lhe abertura, que é exatamente sua intenção, para homologar a proposta oficial da Base Nacional Curricular sem alterações significativas.

Para justificar os argumentos dos professores que insistiam em afirmar que o documento em discussão era uma armadilha preparada para servir de justificativa estatística, destaquemos aqui a questão 12 - HABILIDADE 5 (EM13CHS105), assim redigida:  Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicando as ambigüidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.

É óbvio que uma questão de tamanha complexidade como citada acima poderia sim ser respondida sem problema, porém, quem a elaborou deveria ter sensibilidade que os proponentes quando a lessem teriam de dispor de um tempo maior para sua interpretação. Como tínhamos já disponibilizando quase uma tarde inteira para discutir e responder somente 12 das 75 questões foi decidido cessar o processo e junto com as proposições concluídas, elaborar nota de repúdio a ser enviada ao CONSED e ao MEC, denunciando o modo nada construtivo como foi tratada a educação básica brasileira nesse momento.

Dentre as questões elencadas na carta de repúdio estariam: o texto, no seu todo, está sendo referenciado na aplicação das teorias, sem qualquer senso de criticidade, apenas solução exclusiva de problemas; falta de embasamento científico em abordagens relacionadas às questões da atualidade; debate inconsistente devido a fragmentação das escolas (cada escola de ensino médio estão isoladas em seus debates); aplicação de pesquisas, enquetes, questionários, que não sejam concebidas para promover a exclusão, discriminação e o preconceito, referendando o pensamento vigente da BNCC; exclusão de temas relevantes como fontes de violência e discriminação social, cultural e moral; pouca clareza, falta de objetividade dos textos e dificuldade de entender os objetivos de forma clara; interpretação dos textos abertas a numerosos questionamentos sem o devido encaminhamento científico e pensamento hegemônico dos setores ultraconservadores infiltrados em certos seguimentos de poder, como no congresso nacional.

Quando se teve notícia que membros da SBPC haviam encaminhado carta aos diferentes poderes, recomendando uma profunda revisão na BNCC e supressão da lei relativa ao ensino médio, foi decidido não enviar as respostas já elencadas, bem como a moção de repúdio, permanecendo no aguardo dos acontecimentos. Por que tanta urgência na conclusão da base nacional se no próximo mês de outubro, menos de dois meses, ocorrerá novo pleito eleitoral, onde serão eleitos presidente da república, governadores e congressistas, federais e estaduais.  É claro que a intenção é finalizar tudo a toque de caixa, pois para o Banco Mundial, eleição de governos e parlamentares mais a esquerda, podem comprometer as reformas educacionais em curso.
E não estamos sozinhos nessa empreitada de combate as forças reacionárias alojadas no MEC, CNE e CONSED que tentam nos enfiar “guela baixo” um projeto de educação que não interessa aos educadores. A revista eletrônica Carta Capital, do dia 07 de agosto, no caderno Carta Educação, publicou artigo chamado “Dia do desmanche da educação pública”, onde  manifestou ásperas críticas ao governo federal, por se apropriar de uma nomenclatura adotada na segunda guerra mundial, o dia D, do desembarque ou ataque, para atropelar, coagir os professores a preencher formulários e responder questões que, no fundo, lhes tirarão direitos e transformará a educação em um balcão de negócios.[2]    

Prof. Jairo Cezar                          





[1] http://www.vermelho.org.br/noticia/313634-1
[2] http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/o-dia-do-desmanche-da-educacao-publica/

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